[Causo]: “O dia em que uma ‘mentirinha’ me colocou no ciclismo”

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Por Kiko Molinari

Dizem que uma mentira contada várias vezes acaba se tornando uma verdade. Bem, o meu primeiro “causo” a seguir é mais um menos isso

Minha primeira bike - editado
Minha primeira bike, já com as modificações para começar a competir

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Muitos daqui já sabem que sou um tanto fanático por bicicletas (meu último “bike memes” já comprova isso), já que não podia investir em carros por serem obviamente mais custosos e, naquela época, não passar apenas de um sonho.

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Voltando as bikes: tinha 15 anos nessa época e via amigos/vizinhos do bairro iniciando no ciclismo. Eu ficava a olhar eles passando em frente a rua de casa e me imaginando no lugar deles. Uma mistura de fascínio e desilusão pois nem em sonho eu poderia ter uma bike daquelas (e nem era uma Speed, mas sim Mountain Bikes adaptadas para rodar no asfalto). Algum tempo depois, numa tarde de inverno (que estava mais pra verão de tão quente e seco que estava para a época) em Junho, recebo meu “primo postiço” e seu amigo em casa. Eles eram da cidade de Primeiro de Maio (cidade esta que vivi por 9 meses, e que também tem alguns “causos” que serão postados em breve) e estavam em Arapongas para participar da regional dos Jogos Escolares, onde a cidade era a sede da regional norte.

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Conversamos muito, desde as novidades da cidade deles até as aventuras passadas nas duas semanas de jogos que aconteciam na cidade. E falando em esportes, o amigo desse meu primo vira pra mim e pergunta: “e você, que esporte pratica?” E eu respondi “faço ciclismo. A bike nem tá aqui, tá lá na oficina fazendo revisão”. Nunca havia mentido tanto em uma frase! Eles ficaram surpresos e me perguntavam algumas coisas a respeito, como se era perigoso antar na rodovia e se eu usava aquelas “roupinhas de gay” (se referindo aso roupas justas de ciclismo). Disse que estava começando e que ainda não tinha todo o equipamento necessário (e mais uma vez mentindo descaradamente!)

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Terminada a conversa, eles voltaram para a escola onde eles estavam alojados, e eu entro pra casa com aquele pensamento: “Mas que m#$% que eu disse?!” Eu ficava a pensar como iria começar no ciclismo, sendo que nem pro lanche da escola o dinheiro sobrava. Nessa época, a única bike que tinha acesso era a Monark Ranger Afrikan do meu pai, mas ele a usava para ir trabalhar e eu raramente andava com ela. Foi uma época sofrida, pois encarava todos os dias o ônibus lotado tanto pra ir quanto para voltar da escola (por várias vezes ia a pé pra escola, chegando poucos minutos antes do ônibus, mas nem sempre era assim), e eu não trabalhava (tinha dois motivos pra isso: não gostava mesmo de trabalhar, e as opções que restavam era vender sorvete empurrando um carrinho de sorveteiro ou capinar. Não tinha muita opção)

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Mais ou menos um ano depois, naquele domingo nublado de inverno (e nesse ano fazia frio de verdade), minha avó materna me disse que seu irmão havia comprado uma bicicleta e iria revender. Naquela época, eu havia conseguido trabalho de aplicador de adesivos publicitários em lixeiras (!!!) e com isso pude juntar alguns trocados. Nessa época também, meu pai já possuía um carro, e eu finalmente abandonei o “busão” pra ir para a escola de bicicleta. Voltando a aquele domingo: um dia antes, quando minha avó falou da bike, cheguei pro meu pai e disse: “Me leva lá pra Rolândia pra pegar a bike?” (Rolândia fica a +/- 15 km de Arapongas), e ele prontamente me levou de carro no dia seguinte.

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Mal chego na casa das minhas “tias” (era como eu chamava as irmãs de minha avó) e pergunto sobre a bicicleta. Elas obviamente não sabiam de nada e ficaram com aquela cara de paisagem. Não era pra menos: eu estava muito ansioso para pegar aquela bicicleta e sair pedalando! Tive que esperar algumas horas até o irmão de minha avó chegar com a bicicleta. Passado esse tempo, escuto o portão se abrindo: era ele! Abro a porta da sala e vejo ele com a tal bike: uma Mountain Bike em aço carbono, toda cromada, e com uma aparência até boa, mas longe do que eu imaginava (muita expectativa achando que seria uma bike em alumínio… #chatiado).

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Enquanto minha avó e ele conversavam, eu fui analisar o produto: o quadro era em aço carbono, caixa de centro 45 mm e direção Standard, de 1 polegada. Olho para as rodas e vejo aros folha simples em alumínio e cubos em alumínio (já achei interessante), mas estava montada com raios grossos, o que deixava a bike pesada. A bike era de 18 marchas, mas os câmbios dianteiro e traseiro eram os Shimano TY22, indexados. Os freios eram cantilever em aço e os manetes em nylon (precisão de frenagem “zero”). Dei uma volta com a bike: não poderia esperar muita coisa dela, mas senti que estava pronta para uma “pequena viagem” (ou seja, ir pedalando de Rolândia até Arapongas com ela). Logo no inicio já notei que o aro traseiro estava avariado, fazendo que a bike pulasse feito um cabrito.

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A empolgação era tanta que o “bocó” aqui esqueceu de trazer a grana pra pagar o tio, mas minha vó disse que resolveria o caso. De posse da minha primeira bike, pego o rumo da BR 369 sentido Arapongas e sigo em frente. Já na reta do bairro Vila Nova, ainda em Rolândia, avisto um garoto com uma Mountain Bike semelhante. ao me ver, ele aperta o passo e tenta abrir vantagem, mas eu não me daria por vencido e acelerei, o que foi uma boa oportunidade para ver o comportamento da bike em velocidades elevadas. Quando me dei por conta, havia distanciado consideravelmente e mantendo um ritmo bom, mas a bike não ajudava muito e chegando a me dar um susto: os pneus da bike, um par de Pirelli BM85 Demon, estavam altamente desgastados e o pneu traseiro soltou uma lasca , fazendo com que a lona ficasse aparente! (e só notei isso já em casa, muitos quilômetros depois!).

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Chegando em casa, meus colegas e amigos, (que sempre ficam na rua mesmo em dias frios por não ter o que fazer no domingo) me viram chegando com a nova bike. Logo já vieram a mim perguntar se era minha, quanto paguei e de onde estava vindo com ela. Muitos se espantaram assim que disse que tinha vindo de Rolândia pedalando (o curioso é que, ao menos metade deles nesse momento, estavam de posse de suas respectivas bicicletas, infinitamente melhores se comparado a bike que comprei. Talvez seja esse o espanto: vir de tão “longe” com uma bike ruim!)

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Bom, esse “causo” termina aqui, mas a história está apenas no começo…

Texto e edição: Kiko Molinari Originals® 

Foto – William Souza

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Meu nome é Cristiano Correa Molinari, mas sou mais conhecido como “Kiko Molinari” (ou simplesmente “Cris” para os mais chegados). Desde pequeno apaixonado por carros, e por volta dos 8 anos já gostava de bikes, mas só aos 15 anos foi que me dei conta que a paixão seria ainda maior. Fiquei conhecido no Orkut em algumas comunidades como “Caloi Oficial”, “Cicloturismo”, “Mecânicos de Bicicleta” e “Bicicleta – o melhor transporte”, devido ao meu empenho em ajudar os mais novatos sobre os vários assuntos acerca das “magrelas”, além de prestar consultoria no meu perfil e no extinto MSN, e assim conquistando muitas amizades durando até hoje. Anos mais tarde, fui editor do blog Bizarrices Automotivas desde a sua criação, por 3 anos a fio, e assim pude aprender a como ser um blogueiro. Com isso, tenho o meu blog chamado Carros Raros BR, focando em modelos considerados raros nas ruas brasileiras. Hoje, faço parte do site Até Onde Deu Pra Ir de Bicicleta, aliando meus conhecimentos adquiridos nos blogs automotivos com os conhecimentos sobre bicicletas que conquistei até hoje. Abraços e bons giros o/

2 COMMENTS

  1. Hola, me podrias conectar con un grupo de ciclistas en Belo Horizonte, planeo viajar a esta bella ciudad en Junio al mundial de futbol. Practico la Road bicicleta, de carreras, entreno todos los dias 60-80 kms y necesito segur mi programa todos los dias. GRACIAS.
    Diego jaramillo

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