O ciclista sem mãos

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Montagem: acervo pessoal Daniel Dias Auer

Por Daniel Dias Auer

Olá amigos primeiramente quero lhes dizer que é uma honra participar. Sou Daniel José Dias Auer, ( O CICLISTA SEM MÃOS ) sou da cidade de Ponta Grossa-PR.

Nasci sem as duas mãos, deficiente físico devido ao talidomida, (um medicamento criado em 1954 na Alemanha, comercializado no Brasil na década de 1970). Este medicamento era receitado pelos médicos para evitar enjoos em gestantes, utilizado também como sedativo. Hoje o talidomida é indicado para o tratamento de doenças como AIDS, lupus; doenças degenerativas. Causando deformidade em várias crianças nascidas naquela época, o medicamento foi proibido no Brasil para mulheres em idade fértil e foi receitado pelo médico da minha mãe, em 1974.

Desde pequeno sou amante de esportes e principalmente ciclismo. Jamais fui tratado como coitadinho pela minha família, muito pelo contrário. Sempre me incentivaram a realizar minhas próprias tarefas e com isso, aprendi a me virar sozinho e fazer de tudo sem depender dos outros – “claro que com certas dificuldades”.

Em todos os aniversários e Natal eu implorava para minha mãe pedindo uma bicicleta de presente. Mas devido a superproteção de mãe e pensando no meu bem estar, ela mesmo com grande aperto no coração sempre procurou me distanciar deste sonho de criança, deixando frustrações até em meu irmão. Porque se ele ganhasse eu também teria direito, e a cada ano que se passava ela sempre encontrava uma boa desculpa para não me dar o tal presente.

Porém na minha época de mulecagem, tempo em que eu morava em Osasco-SP, adorava ficar correndo ao lado dos seus amiguinhos que tinham bicicleta tentando sentir a emoção de como seria estar sentado sobre uma bike, pedalando e sentindo o vento soprar em seu rosto. O tempo foi passando e aos 12 anos, um belo dia quando brincava de  esconder pelas ruas e andando por toda parte foi então que encontrei uma bicicleta jogada em um terreno baldio, ela estava bem velha, suja, enferrujada, sem pneus e com as rodas tortas, e o pior de tudo, sem freios, estava destruída.

Pois então esse foi o grande dia pra mim, teria caído do céu a minha tão sonhada bicicleta, fui pra casa todo sorridente empurrando a bike , mesmo com seus amiguinhos tirando sarro e me dizendo: “Você vai levar esse lixo para casa Daniel?”. Chegando em casa, minha mãe quase caiu de costas quando viu aquilo, somente sendo mãe para saber o que ela pensou naquele momento, e nessa bicicleta velha e destruída foi o que bastou pra eu aprender a pedalar, lógico, depois de muita persistência e inúmeros tombos.

O tempo passou e minha família voltou pra terra natal (Ponta Grossa PR). E aos 33 anos de idade, quando trabalhava em uma Associação de Esportes para Deficientes, com o fruto do meu trabalho que consegui comprar uma bicicleta, sendo que a mesma teve que ser adaptada as minhas necessidades. Não é uma bicicleta própria para viagens, e também foi preciso aprender a fazer manutenção na bicicleta como por exemplo: regular marchas, freio, trocar pneus, etc… pois quando saio para fazer viagens sozinho ou em dias de treinos, acontecem imprevistos, dai então preciso me virar sozinho. Portanto sempre levo na mochila umas ferramentas para não ficar na estrada.

Montagem: acervo pessoal Daniel Dias Auer
Montagem: acervo pessoal Daniel Dias Auer

Em 2006 realizei outro sonho, fiz uma viagem de 350Km com minha bicicleta, de Ponta Grossa-PR pra ir até a cidade de Itajaí / SC. A viagem durou 5 dias deixando minha mãe super preocupada.
Passei por Curitiba-PR, Campo Largo-PR, Joinvile-SC, Barra Velha-SC e finalmente Itajaí-SC. Chegando na cidade de destino, fui recebido pelo Prefeito e a banda da cidade. também lá uma palestra para centenas de pessoas que ali estavam aguardando sua chegada, até ganhei uma bike de presente do Prefeito.

Essa viagem foi de grande importância, pois consegui transmitir uma energia boa por onde passava, juntando muitas pessoas para me conhecer e tirar fotos em restaurantes, postos de gasolina, lanchonetes etc. Eu sempre era arrodeado de pessoas que queriam ver a adaptação da minha bicicleta. E até pediam para dar uma volta nela.

Com isso tudo,” consegui transformar olhares de compaixão, em olhares de admiração”. A primeira viagem foi bem destacado em jornais do Paraná e Santa Catarina. A partir disso passei a ser é convidado a ministrar palestras de motivação em escolas, universidades, empresas etc… “ Sinto-me um herói ao perceber o carinho com que sou tratado em todos os lugares que frequento, e principalmente pelas crianças, e em especial minha mãe, percebi que ela ficou muito orgulhosa de mim, fazendo questão de contar da minha façanha para os meus parentes e amigos de longe quando ligavam ou visitavam minha casa. Meu sonho não parou aqui, em 2008 minha mãe estava doente, e no meu retorno de Itajaí-SC fiz uma promessa de ir até o Santuário Nacional de Nossa Senhora de Aparecida – SP e rezar para que ela se recuperasse de sua doença. Mas infelizmente ela estava com Câncer e faleceu no dia 19 de junho, um dia após o meu aniversário. Então minha promessa foi uma Homenagem para Valderez Dias Auer.

Percorri uma distância bem maior – 822 Km. Essa viagem realizei em 12 dias na estrada, pedalando no calor de 40 graus e distancias de mais de 100 km por dia. Passou pelo centro de São Paulo-SP saindo as 3 :00 AM de madrugada para evitar o trânsito, uma das maiores dificuldades.

Saí de Ponta Grossa no dia 01 de outubro, chegando lá no dia 12 do mesmo mês. Agora estou me preparando para o meu terceiro projeto que será subir a Serra do Rio Rastro em SC, com a altitude de quase 1500 metros, e 20 Km só de subidas. Este desafio vai acontecer mas ainda não tem data definida. Essa será a minha próxima grande aventura, mas dependo de conseguir um patrocínio pra isso.

Meu objetivo é chamar a atenção da população em geral para a prática de um esporte ou alguma outra atividade física, através de um exemplo de superação por parte de um para-atleta, com a intenção de desmistificar qualquer preconceito e mostrar que não existem barreiras quando se tem um objetivo, peço que seja dado oportunidades as pessoas com deficiência, todos podem trabalhar e correr atras dos sonhos.

‘DANIEL DIAS AUER ( TRANSFORMANDO OLHARES DE COMPAIXÃO EM OLHARES DE ADMIRAÇÃO”)

Meus contatos: Facebook – Ciclista Sem Mãos, Daniel Dias Auer
Fone 42 9983-8788

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