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[Entrevista] Pedarilhos: Cicloturismo pela América do Sul

[Entrevista] Pedarilhos: Cicloturismo pela América do Sul
Praia dos Carneiros

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Por Raphael Araújo

Olá amigos leitores do Até Onde Deu Para Ir De Bicicleta!

Nessa última semana, tive o prazer de abrigar os viajantes Pedarilhos, durante sua passagem por Salvador/BA. Histórias foram contadas, informações compartilhadas e aproveitei para fazer uma pequena entrevista sobre como está sendo o retorno deles a terra nacional. Muita informação interessante para quem pretende viajar de bike pela América do Sul e quer saber que tipos de diferenças irão encontrar pela frente.

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Boa viagem André e Ana! Que bons ventos os levem a seus destinos!

Em Mangue Seco
Em Mangue Seco

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1 – Raphael Araújo: Quase 650 dias de viagem, +19.000km pedalados pela América do Sul e já estão de volta ao Brasil. Quais as principais diferenças sociais e naturais que vocês perceberam ao retornar ao nosso país?

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Pedarilhos: Quando retornamos ao Brasil, estávamos há mais de um ano em países cujo idioma é o espanhol, quando atravessamos a fronteira tivemos um grande prazer ao andar na rua e ouvir as pessoas falando português, entrar num local e as pessoas falarem seu idioma, foi a primeira coisa que nos deixou felizes em estar de volta.

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Outro aspecto que estávamos esperando, mas que foi muito acima de nossa expectativa, foi a hospitalidade. Desde os primeiros 10 minutos ao pisarmos em solo brasileiro, já tivemos a oportunidade de experimentar da solidariedade de nosso povo. Não que em outros países não fôssemos bem recebidos, é claro que tivemos muitas lindas experiências de gente boa nos recebendo em outros países. Mas aqui “em casa”, o acolhimento é bastante caloroso, e não precisamos de muito esforço pra descolar um quintal pra passar a noite, também não foram raras ás vezes em que mudamos os planos só para aceitar um convite para almoçar ou dormir na casa de alguém.

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Depois foi a comida. Pegos pelo estômago! Entramos num supermercado, já em Assis Brasil, no Acre, uma cidadezinha relativamente pequena. Uma variedade incrível de itens à nossa disposição, coisa que no Peru e na Bolívia era raro acontecer. Por estes países, encontrar um supermercado, só em cidades maiores. Geralmente as cidades pequenas contavam só com mercearias com itens de primeira necessidade e comida enlatada, muita gente vendendo alimentos frescos em banquinhas espalhadas na rua, ou nos mercados públicos, mas com uma variedade bem menor. Foi bom demais encontrar couve, feijão preto, farinha de mandioca, muitos vegetais frescos e goiabada! Ah, e quanto quiabo fresco, quanto tempo! Fazia muito que tínhamos saudade e desejo por uma comida tipicamente brasileira: arroz, feijão, farofa, e couve refogada. Então foi a primeira coisa que cozinhamos no Brasil.

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A paisagem natural não mudou tanto ao entrarmos no Brasil, pois o trajeto que escolhemos, a Interoceânica, passa por um pedaço de floresta amazônica peruana. O que mais nos impressionou, no entanto, foi como o homem modificou esta paisagem de maneira diferente nos dois países. Por exemplo, no Peru, a mata ainda é mais conservada nas margens da estrada, porém, há mais relatos de poluição oriunda da mineração ilegal nos rios. Já do lado brasileiro, o desmatamento para dar lugar às pastagens e monoculturas é gritante, era difícil encontrar uma sombra para fazer um lanche, ou uma parada de descanso no meio do dia. Sem falar na desolação de ver aquela imensidão de gramíneas, onde antes haviam árvores imensas com um potencial enorme de nos fornecer alimento, agora fica o gado, a se espremer debaixo de poucas palmeiras que lhes fornecem sombra, e a soja para servir de ração ao mesmo gado (e eu antes achava que só o pasto bastava!). Vimos muito mais castanheiras no lado peruano, do que em todo o trajeto que percorremos pela Amazônia do lado do Brasil (Acre, Rondônia, Amazonas e Pará). Este aspecto nos deixou muito preocupados, pois dá a impressão de que o progresso que chega quer apenas usar um determinado espaço para implantar atividades vindas de outros lugares, sem levar em conta os aspectos regionais daquela população ou que a própria natureza já tem de abundante. Não há um esforço no sentido de descobrir o que a terra já possui, seja de produtos nativos, seja do que a população local tem de costumes, há diversas reservas que usam a terra sem desmatá-la, através do extrativismo, como por exemplo, a mais conhecida delas A Reserva Extrativista Chico Mendes. Nossa impressão é de que pessoas de outros estados compram grandes extensões de terra na Amazônia porque são mais baratos que em outras partes do país, com a intenção de fazer dinheiro com gado e soja.

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2- RA: Depois de tanto tempo na estrada, muita coisa incrível deve ter acontecido, mas com certeza, alguns grandes desafios cruzaram o caminho de vocês. Quais os últimos “perrengues” que vocês passaram nesse retorno ao solo nacional?

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Pedarilhos: Por incrível que pareça, no Brasil, não temos tido muitos perrengues. Bom, talvez alguns. Estávamos esperando muito mais dificuldades na transamazônica, mas tivemos poucos dias de chuva por lá, o desafio fica por conta do relevo. O cara fica esperando pedalar na “planície amazônica” e se depara com uma sequência sem fim de ladeiras super inclinadas em uma estrada com grande extensão não pavimentada. Perrengue mesmo é enfrentar a maneira como os brasileiros conduzem nas rodovias e nas cidades grandes. Para evitar situações de risco temos o cuidado de evitar rodovias de maior movimento e procuramos entrar nas capitais no início do dia.

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Agora no Nordeste, escolhemos pedalar sempre que possível pelas praias e por estradas ao leste, evitando justamente as estradas de grande movimento. A falta de informações neste trajeto tem nos colocado em algumas situações complicadas. Como há muitas travessias de rios entre uma praia e outra, muitas vezes não encontramos informação na internet, e nem com os moradores locais, acabamos indo parar em lugares onde não haviam barcos para nos atravessar, ou muitos barqueiros se aproveitam dos turistas e cobram preços abusivos nas travessias. Por conta disso tivemos de atravessar diversos rios com a bicicleta acima dos ombros, e até uma ponta de praia coberta de pedras onde só foi possível passar desmontando todas as bagagens e levando cada bicicleta em duas pessoas. São dificuldades, mas não chegam a ser perrengues ou perigos à nossa integridade física. Além do mais, foram em lugares assim, de difícil acesso, que tivemos as melhores paisagens e os campings selvagens mais bonitos em solo brasileiro.

Praia dos Carneiros
Praia dos Carneiros

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3- RA: Dois aspectos que muitas pessoas admiram em sua viagem é a fidelidade que vocês mantêm ao vegetarianismo e as deliciosas receitas que vocês publicam. Quais as últimas aventuras gastronômicas?

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Pedarilhos:  Ah, no Brasil tem sido um deleite. A disponibilidade de frutas e verduras tem sido abundante, o que dá muita margem à criatividade. Sem falar nos costumes culinários regionais. Estamos descobrindo em cada estado onde estamos pedalando, uma quantidade enorme de receitas vegetarianas, que possivelmente passariam despercebidas se fôssemos onívoros. Mas sem dúvida nenhuma, os subprodutos da mandioca são os que mais somos fãs. A nossa receita de café da manhã preferida sem dúvida nenhuma é a tapioca com coco seco raladinho na hora. É algo que nos faz acordar mais cedo pela manhã para preparar, mas que se tornou um grande prazer. Não tem sido nada difícil manter uma alimentação vegetariana estrita no Brasil (não ingerimos carnes, leites, ovos e derivados), principalmente com uma ajudinha de vários pacotes de castanha de caju e amendoim torrado, sempre disponível para uma emergência, dentro dos alforjes.

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4- RA: Atualmente, vocês se encontram em Salvador/BA, em pleno carnaval. Quais as expectativas?

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Pedarilhos: Foi uma coincidência que estávamos muito temerosos. Como não planejamos muito à frente os nossos trajetos, quando chegamos a Recife e olhamos para o mapa, começamos a ficar com medo de chegar a Salvador perto do carnaval. Como havia a possibilidade de ficarmos na casa de um amigo de André, cogitamos chegar antes das festividades começarem, aí teríamos como ficar refugiados dos bêbados ao volante e da alta astronômica nos preços de hospedagens ou campings. Mas estamos descobrindo outro lado de nós mesmos com essa coincidência. Tem sido divertido até, estamos bem no miolo do Pelourinho, não há como escapar da música contagiante entrando pela janela, lá em baixo as bandinhas que passam desfilando na rua. Pedalar nesta época está fora de cogitação. Como diz o ditado popular “Tá no inferno? Abraça o capeta!”, então quem sabe não nos flagram pulando atrás do trio elétrico?

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5- RA: Não falta muito para vocês estarem de volta em casa. Como tem sido lidar com a falta dos amigos e familiares e quais os planos para o futuro?

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Pedarilhos: No início da viagem a falta dos amigos e familiares foi bastante forte, porque não sabíamos quando estaríamos de volta. Agora já chegando perto de casa, fica bem mais fácil lidar com as saudades, ficou também muito mais fácil se comunicar com a família.
Não temos muitos planos, porque com a viagem, aprendemos que nossas vontades mudam muito rapidamente, ideias novas surgem a cada dia. Só sabemos que por um tempo iremos viver no campo, no meio da viagem surgiu à oportunidade de trocar o apartamento na cidade onde vivíamos por um pedaço de terra no interior que já produz muita comida, está cheio de araucárias e outras árvores frutíferas, sentimos saudade de uma bela sapecada de pinhão na grimpa! Se dermos sorte, chegaremos pro final da época dos pinhões.

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6- RA: Qual o próximo destino?

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Pedarilhos: De Salvador vamos em direção a Chapada Diamantina. De lá, ainda temos muito que viver e aprender pra depois decidir o caminho, só sabemos que estamos indo para o sul outra vez.

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“Gostaríamos de agradecer demais a hospitalidade e solidariedade das pessoas que tem cruzado nosso caminho, com certeza absoluta, essa é a melhor parte de estar pedalando pelo Brasil! E a generosidade não para por aí, além de teto, os novos amigos que temos feito não raro nos dão água mineral, comida, frutas, e se não bastasse, ainda por cima temos sido abordados diversas vezes por pessoas que querem nos dar um trocado, assim, na beira da estrada, nos param no acostamento e enfiam cinco, dez, vinte reais na nossa mão. Por isso agora estamos com um punhado de fotos postais da viagem, uma maneira de retribuir os presentinhos das pessoas na estrada. “

– Aos que querem acompanhar a viagem é só curtir nossa Fanpage: http://www.facebook.com/pedarilhos
– Fotos e relatos completos em: http://www.pedarilhos.com.br/blog
– Boa parte dos equipamentos utilizados em nossa viagem podem ser encontrados em nossa Loja Virtual, que segue em funcionamento. Por sinal qualquer compra feita por lá nos ajuda a permanecer na estrada por mais tempo: http://www.pedarilhos.com.br/loja

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2 COMMENTS

  1. Raphael Araujo agradeço pela feliz idéia de entrevistar a Ana e o André. Eles são exemplos de determinação e superação.

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