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Texto e ilustrações: Humberto Brito
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* Esse é o primeiro texto das aventuras de Zeca, ciclista urbano recém chegado às ruas, personagem das crônicas do colunista Humberto Brito. Para acompanhar os outros textos, clique aqui.
Eureka! Nasce um ciclista urbano!
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O dia amanhece normal. Tudo igual, como há dezenas de quarta-feiras que não eram de cinzas mas de muito trabalho. Dia cheio, tranquilo somente do ponto de vista de compromissos. Zero reunião na parte da manhã, zero documentos com prazo de entrega máxima para esse dia. Ótimo banho matinal, compondo-se posteriormente com tranquilidade na escolha da roupa. Café da manhã com primeiras notícias do dia. A essa altura, José de Alencar já está com inveja de tantos detalhes na descrição do moderno e simples ritual diário de aprontar-se para sair para o trabalho.
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Pois bem. Eis que é chegada a grande hora para Zeca. Grande porque ele ainda não sabe o tamanho da mudança que ocorrerá em sua vida quando, ao levantar de sua cadeira habitual, desligar os equipamentos, a televisão, alcançar as chaves do carro, descer o elevador, entrar no carro, colocar a chave e quê? como assim? como pode o carro não funcionar? óleo? ok. água? ok. Estando incapacitado para ir além, Zeca não vê outra saída a não ser ligar para o seguro. A atendente, pela experiência ou pela repetição, rapidamente dá o diagnóstico, sem entonação, emoção ou sequer, cuidado. Senhor sua bataria deve ter acabado. Precisa fazer chamado para a assistência técnica e eles demoram até duas horas. !
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Zeca, irritado, diz que não pode esperar e depois liga de novo. A irritação faz lembrar que na infância, quando algo saia errado, Zeca saía a andar, a correr, a subir em árvore a fazer qualquer coisa que o impedisse de explodir e se põe a caminhar em direção ao trabalho. Caminho é curto demais e aproximadamente dois quilômetros e meio depois do início da caminhada e passados vinte minutos, um corpo cheio de endorfina chega ao trabalho.
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O dia passa como se fossem minutos. E a caminhada de volta se revela inevitável. É esse o grande momento! Zeca caminhando, menos estressado com a atendente do seguro, vê as plantas na rua, passa por pessoas, por cartazes, por grafites, alguns cheios de arte, e sobretudo percebe uma conexão com o mundo exterior ao para-brisa do carro que estava, no mínimo, abandonada. Volta a racionalidade e anota que sua caminhada leva, na prática, o mesmo tempo que o trajeto de carro. Sem estresse e engarrafamento, imagina que de bicicleta o tempo seria reduzido pela metade ou ainda mais!
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Se Zeca fosse Arquimedes, correria pela rua, pelado, gritando Eureka, Eureka, Eureka. Com certeza iria! Ainda bem que era mesmo Zeca e não Arquimedes. Contudo, com tudo isso e como toda ideia, Zeca se via agora com uma série de necessidades e questionamentos. E o primeiro era qual bicicleta comprar. Isso, porém, é assunto para outras pessoas, mais especializadas, pois durante as conversas com Zeca, o que menos me interessava era os detalhes técnicos das bicicletas.
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A partir de tudo isso, Zeca começou um processo de mudança de estilo de vida que afetou todo o pensar, agir, fazer, querer. Também afetou índices orgânicos, pressão, colesterol, visão, audição, olfato, tato, e, juro, paladar!!
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Isso, porém, é assunto para os próximos capítulos.
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* Esse é o primeiro texto das aventuras de Zeca, ciclista urbano recém chegado às ruas, personagem das crônicas do colunista Humberto Brito. Para acompanhar os outros textos, clique aqui.