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[Resenha de livro]: Transpatagônia, de Guilherme Cavallari

[Resenha de livro]: Transpatagônia, de Guilherme Cavallari

[Resenha de livro]: Transpatagônia, de Guilherme Cavallari

Por Vitaly Costa

Primeiro li tudo de uma vez só. Como naqueles pedais afobados onde acabamos perdendo o fôlego, a fim de chegar logo no destino. Eu queria terminar logo o livro, subir na bike e sair por aí. Depois, comecei tudo de novo, a fim de apreciá-lo enquanto obra literária de aventura. E achei melhor ainda do que na primeira leitura.

O livro Transpatagônia, de Guilherme Cavallari é uma bela obra de aventura sobre o pedal. Uma tremenda epopeia de 6 meses de aventura, quase 6000km pedalados, além de mais de 500km de trekking. E é mais ainda do que isso.

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Durante o percurso acabei descobrindo um tremendo quintal chamado Patagônia. O autor rodou por toda a região, tanto do lado chileno quanto do lado argentino, chegando até a Terra do Fogo e à Ilha Navarino, além de ter passado por longo trecho da sonhada Carretera Austral. Passou ao largo de montanhas imponentes, campos de gelo e fazendas recheadas de histórias. Pude acompanhá-lo por bosques úmidos e planícies secas, por subidas intermináveis e descidas friorentas sob a chuva, noites estreladas e manhãs congeladas.

No caminho fui encontrando personagens de diversos naipes: grandes escritores de aventuras, desbravadores de mar e terra, nativos resistentes ao frio, ermitões esperando visitas, turistas que entupiam cidades, moradores de lugarejos de meia dúzia de casas, militares em defesa da nação, deslocados sociais em busca de isolamento e todo tipo de ciclistas.

Pude observar na viagem dele aspectos que sempre observei nos meus passeios (mais curtos obviamente). O nervosismo anterior ao desafio (vou conseguir?). O planejamento (esqueci alguma coisa?). As estradas que parecem planas mas que escondem subidas quase imperceptíveis (só quem percebe é a panturrilha). Outro aspecto que todo ciclista vai se identificar: viajar de bicicleta confere uma certa magia, algo que acaba refletindo na forma como o viajante é recebido por onde passa. Largos sorrisos, orientações, desejos de boa sorte, ofertas de água e comida e a frase de sempre: “vocês ciclistas são meio malucos” (quem nunca ouviu essa?).

Ponteado de impressões e reflexões sobre os caminhos percorridos na bike e na vida, o livro de Cavallari é também filosófico. Inspirador. Com indagações incômodas, o autor questiona uma época em que a grande maioria dos seres humanos abdica de seu próprio habitat em nome de ambientes “climatizados”, recusam-se a caminhar juntos e preferem se engalfinhar por um espaço no trânsito caótico das cidades, vendem seu tempo para acumular quinquilharias e, no fim das contas, se matam para se manterem vivos. Não é somente sobre viajar de bicicleta. O livro vai repercutir em todos aqueles que refletem sobre formas alternativas de se relacionarem com a passagem do tempo e com a posição do ser humano espaço.

Transpatagônia – pumas não comem ciclistas – Editora Kalapalo (link para o livro)

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