500 Jalapão Bikepacking

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jalapão bikepacking
Foto: Edinho Ramon

Por Edinho Ramon Sua Casa é o Mundo

Poucos meses antes do reveillon de 2015 para 2016 resolvemos organizar um projeto audacioso, o Ponto Alto 10. Consistia em subir os dez pontos mais altos do Brasil, no intervalo de um ano, registrar tudo e montar um circuito de palestras e exposições em escolas sobre a importância de cuidar e preservar a natureza. Naquela virada de ano começamos pelo Monte Roraima e o plano era terminar no Pico da Neblina no reveillon de 16 para 17. Mas como eu disse, era!

Aprendendo com o Até Onde deu pra ir de Bicicleta

jalapão bikepacking
Foto: Edinho Ramon

Poucos dias antes da Adventure Sports Fair de 2016 recebemos a resposta negativa. Era impossível, legalmente, passar a virada do ano no Pico da Neblina. Decepcionados com o projeto frustado e ávidos por aventura chegamos na referida feira em Sampa e assistimos três palestras que mudaram o rumo da prosa: a palestra do André aqui do Até onde deu pra ir de bicicleta, do Fábio do Pedal Nativo e da galera do clube do cicloturismo.

No mesmo dia, 12 de outubro, compramos nossa passagem Rio – Palmas. Estava decidido que iríamos percorrer o Jalapão de bike. E pra valer a viagem, o faríamos gravando um filme. Eu, Edinho Ramon fotógrafo e filmmaker, minha esposa Bia Carvalho e o amigo Rodrigo Leão que ficou com a tarefa de fazer as imagens aéreas.

A logística para chegar lá não é muito simples.Voamos para Palmas, de onde fizemos o translado de Palmas até Ponte Alta de carro. O mesmo carro que nos resgataria em Novo Acordo para levar de volta à Palmas. De bike o nosso roteiro definido foi Ponte Alta, Pedra Furada, Cachoeira do Soninho, Cachoeira da Fumaça; Ponte Alta, Canion Sussuapara, Mata Nova, Rio Vermelho, Cachoeira da Velha, Prainha, Frito Gordo, Rio Novo, Dunas, Serra do Espírito Santo, Mateiros; Fervedouro Buriti, Fervedouro do Ceiça, Povoado Mumbuca, Encontro das Águas, Camping do Vicente, Cachoeira do Formiga; Fervedouro Bela Vista, São Félix, Catedral, Camping do Camilo e Novo Acordo.

Como o nosso objetivo era gravar o filme 500 Jalapão Bikepacking, as bikes estavam bem pesadas, assim deixamos o calendário bem folgado para ter margens para mudanças. O que foi ótimo pois nossa trip diminui um dia e decidimos evitar a Cachoeira da Velha e a prainha do Rio Novo.

Imprevisto antes do primeiro giro do pedal

Chegamos em Palmas fizemos um briefing com o Alex, da Jalapão Extremo, que se mostrou muito solícito e desde o primeiro momento nos auxiliou bastante. Em seguida demos uma pedalada por Palmas para ajustar os últimos detalhes. O Rodrigo chegou depois, nos encontramos direto no aeroporto e seguimos para Ponte Alta – TO, portal sul do Jalapão.

Chegando em Ponte Alta fomos para a pousada Águas do Jalapão e esticamos as redes pra começar na manhã seguinte. Na hora de deixar as bikes no jeito pra sair cedinho a surpresa, durante o transporte no avião a bike do Lion quebrou a gancheira. Como não era o caso improvisar uma bike sem trocas de marchas para encarar o Jalapão, no dia seguinte ele teve que voltar para Palmas e eu e Bia seguimos sem ele.

 

Relato detalhado da viagem

Dia 1
Cachoeira do Soninho, no Jalapão.
Às margens da Cachoeira do Soninho, no Jalapão. Foto: Edinho Ramon

Eu e Bia saímos com o destino incerto. Sem saber o quanto renderíamos as opções eram seguir para a Cachoeira da Fumaça ou se não rolasse parar na Cachoeira do Soninho. Na fase de planejamento eu já tinha deixado a Fumaça de lado, mas o Alex insistiu que valia a pena visitá-la pois estaríamos a apenas 18 km de lá.

Seguimos na direção sul de Ponte Alta e rapidamente chegamos no asfalto. Foram 17 km até a saída para a estrada de terra. Uma estrada tranquila, com poucas e pequenas costelas de vaca. Mais 11 km e avistamos, de longe, a Pedra Furada. Uma linha de eucaliptos, margeando uma estrada de areia fina e branca indicava o caminho. Mas deixamos pra passar lá quando estivéssemos voltando.

Seguimos por um trecho de areia bem fininha, um pedal difícil, bem diferente do que estávamos encontrando. Progredir na areia estava bem complicado e começamos a empurrar a bike em vários trechos. Quando me dei conta, erramos a entrada e teríamos que voltar 1km. Voltamos e constatamos que foi um erro aceitável. A trilha que deveríamos seguir estava coberta por mato, dando dicas de que há muito não era utilizada.

Seguimos progredindo por esse difícil caminho, revezando entre pedalar no mato e empurrar a bike. Quanto mais a gente avançava mais fechado ficava o caminho e mais pegadas de animais a gente via. Após 2,5 km uma surpresa. A ponte que cruzava o rio estava quebrada. Caminhei pela margem procurando algum ponto para descer e atravessar as bikes e vibrei ao encontrar um trecho que dava vau.

Após mais 2km de perrengue e muito cansaço chegamos na estrada de terra da qual tínhamos saído. Após checar o caminho vibrei muito ao descobrir que faltavam 12 km para a Cachoeira do Soninho mas ficava a dúvida de como seria a estrada. Com a água fresca e a estrada melhor, pedalamos sem maiores problemas e chegamos na área de camping junto com o pôr-do-sol.

O astral acampando às margens da Cachoeira do Soninho foi incrível. Completamente isolados, sem ver ninguém a algum tempo, nos sentimos muito conectados com a natureza. Nadamos de noite e de dia e a Bia viveu um fato curioso. Quando foi buscar água no rio o feixe de luz da lanterna de cabeça iluminou dois olhos na outra margem do rio. Ficou a curiosidade de descobrir que animal estava lá.

Dia 2
Foto: Rodrigo Leão

No segundo dia, recuperados do pedal do dia anterior mas receosos com o tracklog para a cachoeira da Fumaça, decidimos seguir para a queda mais forte da Cachoeira do Soninho, abastecer a água e seguir para a Pedra Furada para encontrar o Lion. Os 36 km a mais para a Cachoeira da Fumaça foram abortados.

A Cachoeira do Soninho tem uma força e uma energia bem forte. Bia aproveitou para praticar um pouco de Yoga e seguimos rumo a Pedra Furada.

Porém, na volta, seguimos pela estrada de terra. No km 12 viramos a esquerda e na bifurcação 4 km à frente, viramos a direita seguindo a placa para Ponte Alta. Sem erros e sem estresse chegamos num riozinho ideal para uma pausa no km 24. Banho, águas plenas e comida. Revigorados seguimos o caminho.

A gente já estava quase chegando na Pedra Furada quando paramos um carro para pedir informações sobre a cachoeira da Pedra Furada. O motorista nos disse que também estava procurando mas não tinha achado. Perguntou do nosso caminho e não acreditou que não tínhamos ido à Cachoeira da Fumaça. Nos convidou para pegar uma carona com ele e ir até lá. Não gostamos muito da ideia, queríamos ver o pôr do sol da Pedra Furada. Ele insistiu dizendo que daria tempo, disse pra deixarmos as bikes no mato e seguir com ele.

Pegamos o material de hidratação e lá fomos nós, clicar a cachoeira da Fumaça, reabastecer as águas e voltar para as bikes.

A Cachoeira da Fumaça no Jalapão. Foto: Edinho Ramon

Percorrer o caminho que acabamos de completar de bike, no carro, nos fez constatar uma verdade. O Jalapão é bruto! E nossa jornada mal estava começando. De volta às bikes, pedalamos rumo à Pedra Furada onde reencontramos o Lion e tivemos o prazer de ser fotografado pelo fotógrafo da região Clovis Cruvinel.

Pôr do Sol incrível, camping na areia de frente para a Pedra Furada e um astral incrível com a equipe completa! Deu tudo certo com a gancheira e o Lion estava pronto pra trip!

Dia 3
Jalapão Bikepacking
Jalapão Bikepacking – Sombra da bike na Pedra Furada. Foto: Edinho Ramon

O amanhecer na Pedra Furada foi incrível. Para começar fomos acordados por uma revoada de maritacas. Incontáveis maritacas dançavam no céu, voando da Pedra Furada, percorrendo um grande círculo e voltando cantando muito. O sol quando apareceu iluminou a Pedra com aquela cor incrível da hora mágica da fotografia.

Pedra Furada no Jalapão
A Pedra Furada no Jalapão. Foto: Edinho Ramon

A felicidade de estar ali era nítida nos três. Organizamos as coisas, tomamos café e encaramos os 2,5 km de areia até a estrada de terra.

Chegando na cidade uma surpresa por negligência. Andando com o pneu traseiro um pouco vazio quando passei pelo desnível da ponte com o asfalto ele furou. Descobrimos que no jogo de deixa-que-eu-deixo ninguém tinha levado espátula. (rsrsrsrs) A sorte é que eu estava com um pneu 2.2 e a ferramenta não é tão fundamental. Não foi muito difícil trocar a câmara.

Dia 4
Canion Sussuapara no Jalapão
Canion Sussuapara. Foto: Edinho Ramon

Depois de 15 km rodados desde Ponte alta, à esquerda uma pequena trilha de aproximadamente 100 metros leva ao primeiro atrativo do trecho. O Cânion Sussuapara para quem está viajando de bike é quase um Oásis. A água fresquinha era tudo o que eu estava precisando. Mais 15 km e encontramos a casa de uma agradável família às margens do Mata Nova. Curiosamente quando chegamos um dos integrantes estava tomando banho no rio e uma criança correu para avisar que iríamos mergulhar. Foi o primeiro contato com os nativos do Jalapão. O povo da região é incrível. Super solícitos, agradáveis e atenciosos. Do primeiro ao último contato, não temos nada do que nos queixar. Na saída, deram uma garrafa pet congelada que a Bia colocou no bolso das costas da camisa e ficou durante um bom tempo agradecendo em voz alta. Hhahahaha

Após Mata Nova, pedalamos mais 30 km e chegamos ao Rio Vermelho, onde acampamos às margens do rio. Um rio estreito, porém bem fundo. O primeiro que na hora de mergulhar não conseguimos tocar o fundo. O Rio Vermelho é um ponto estratégico da trip de bike, pois após ele o próximo ponto d’água está a 40km.

Dia 5
Jalapão Bikepacking
Foto: Edinho Ramon

Abastecemos todas as garrafas e mochilas de hidratação, tomamos um banho bem cedinho e saímos para superar os 40km. Analisando o Mapa da região é possível identificar a mancha branca indicando longo trecho de areia fininha e fofa. São vários os pontos onde pedalar é impraticável. Empurrar a bike pesada na areia fofa é uma árdua tarefa de força e desenvolvimento da paciência.

Claro que é possível e não tem nenhum mistério. Mas com o sol castigando, as águas esquentando é um trecho que a brincadeira não é tão divertida Hahahhaa.

Subimos a Serra da Muriçoca assim. Caminhando, empurrando, subindo na bike, pedalando poucos metros, atolando, descendo, caminhando, empurrando… vivendo esse ciclo.

Quando o mapa mudou de branco para verde vibramos muito. Só mais 2km de subida e 10km de descida até o Frito Gordo.

Um rio que ganhou esse nome por ser ponto de parada dos tropeiros num passado distante quando conduziam as tropas de gado.

Mais 18 Km de pedal, sem muita variação de altimetria e sem areia. Chegamos na Comunidade no fim do dia. Montamos as barracas na praia do Sr Abelo, um jovem senhor de 106 anos.

Dia 6
Jalapão Bikepacking
“500 Jalapão bikepacking” nas Dunas do Jalapão. Foto: Rodrigo Leão.

O sexto dia prometia areia, mas a distância a ser percorrida não era muito grande, apenas 13 km. Acordamos às margens do Rio Novo com o sol nos saudando entre nuvens. Curtimos a praia do Sr Abelo, batemos um papo com ele e nos preparamos pra partir.

O caminho entre o Rio Novo e a entrada para as Dunas do Jalapão apesar de apenas 13 km é uma longa e suave subida. São 90 metros de variação vertical. Com trechos de areia pesada. Por estar na estação da chuva a areia estava um pouco compactada em alguns trechos e isso facilitava muito a nossa vida.

Pouco depois de meio dia chegamos ao Bar da Dona Benita. Quase todos os relatos sobre o Jalapão tem o nome dela. Curioso por conhecê-la chegamos perguntando por ela. Cintia Valéria, sua filha, disse que os mantimentos tinham acabado e a mãe tinha ido a Mateiros para repor o estoque.

Nesse momento o tempo virou, uma chuva torrencial começou e raios e trovões se aproximavam do bar cada vez mais. A coisa ficou feia quando um raio soou pertinho, os fios da energia fizeram um barulho enorme e a luz acabou. Aguardamos ansiosos passar o tempo ruim. Coisa que não costuma demorar muito na região. Enquanto isso, escrevemos na camisa do Sua Casa é o Mundo, colocando o troféu da nossa trip no hall da fama de D. Benita.

Valéria, nos orientou a não ir de bike para as Dunas. Pois era só areia fofa. Decidimos seguir a pé e pedir carona se alguém passasse. Fizemos o cadastro na portaria e em poucos metros embarcamos na carroceria do Rufus. Um simpático MTB de Pouso Alegre – MG. Em poucos minutos chegamos nas Dunas.

Na volta ficamos na D. Benita, batemos um bom papo, experimentamos a cachaça local e esticamos as redes.

Foto: Rodrigo Leão
Dia 7
Foto: Acervo Sua Casa é o Mundo

O sétimo dia foi o dia da alvorada na madrugada. A missão do dia era subir a Serra do Espírito Santo para curtir o sol nascendo. Há quem diga que a subida da serra é difícil, assustadora e perigosa. Não foi o que encontramos. É uma subida desgastante, sim. Da base até o primeiro mirante não da 1 Km, porém é bem íngrime, e são mais de 200 metros de variação vertical. Pra completar resolvemos subir com uma bike para fazer algumas imagens.

Pedalamos 8 km do bar até a entrada da trilha, 500 m de areia até a base da Serra e revezamos, eu e Lion, para subir a magrela. Chegamos na hora. Pisamos no mirante e o sol apontou no horizonte.

Em todo trajeto contamos com a companhia especial de Lamparina e Cadeado, cachorros da D. Benita. Quando saímos do bar não observamos que eles estavam nos seguindo. Durante o caminho tentei mandá-los embora, mas não teve jeito. Subiram a Serra nos seguindo e Cadeado, o mais novinho, estava exausto. Parei para dar água pra ele e ele bebeu com uma velocidade incrível.

Preocupados com o destino das ferinhas só relaxamos ao descobrir que D. Benita tinha parentes em Mateiros e poderíamos deixar lá. O que nem foi preciso. Ao descer a Serra a encontramos desesperada em busca dos cãezinhos.

Sorrimos da história e seguimos 23 km até a cidade de Mateiros. Chegamos por volta das 14 horas e fomos direto para o restaurante da Dona Rosa. Uma pessoa maravilhosa, boa de papo e cozinheira de mão cheia.

Dia 8

Fervedouro do Jalapão. Foto: Rodrigo Leão

Com um pãozinho com ovo e café preto da D. Rosa iniciamos mais um dia. A expectativa era grande pois era dia de conhecer os Fervedouros do Jalapão. 14 km de estrada de terra em direção a São Félix. A diferença era notável. A estrada de Mateiros em diante já era bem melhor, o pedal começava a fluir mais tranquilo. Mas no km 14 ao sair para a esquerda mais areia fina e fofa.

Longos 7km nos separaram do Fervedouro do Buriti, mas observamos uma estradinha ao lado e resolvemos pegar o “atalho” aumentando de 7 para 9 km de areia. Pelo menos em alguns trechos a gente avançava pedalando em trilhas na vegetação ao lado da estrada, porque naquela areia só dava mesmo para empurrar.

O Fervedouro do Buriti foi uma ótima primeira impressão. O fenomeno dos fervedouros acontece porque a água brota com muita força e o fundo das nascentes é de areia. Aí os pequenos grãozinhos ficam de jogando pra cima, não deixando você afundar. Mas por outro lado entra areia em todos oríficios. =D

Além do fervedouro tem uma cacoeirinha bem gostosa também. A água é mais geladinha, ótima para refrescar.

Do Buriti seguimos de volta para a estrada principal por outro caminho pegando um atalho de verdade e giramos para o Fervedouro do Ceiça. O primeiro fervedouro a ser visitado turisticamente no Jalapão. O Ceiça é um senhor muito simpático e inteligente. Nos explicou a história do fervedouro, o fenômeno da ressurgência e diversas curiosidades sobre o Buriti. Por fim, acabamos seguindo para o Camping dele para esticar as redes.

Dia 9
Jalapão Bikepacking
Foto: Edinho Ramon

O destino do nono dia foi a Comunidade do Mumbuca. Distante 9 km do camping o pedal foi tranquilo. A Comunidade é uma pequena vila de quilombolas onde surgiu o artesanato com Capim Dourado.

O que não foi tranquilo foi saber a história da ponte queimada. Tinha uma ponte na estrada para o povoado que o ligava com a estrada de terra que conduz a Mateiros. Um belo dia incendiaram essa ponte interditando o acesso à Comunidade.

Existem duas versões. Uma diz que foi alguém do Mumbuca, revoltado com o descaso do governo, pois a ponte precisava de manutenção. Outra versão é que artesãos de capim dourado de fora do Povoado destruíram o acesso para que o turismo comprasse o artesanato dos produtores de fora da comunidade.

Um dos objetivos visitando o Mumbuca era conhecer o Maurício Ribeiro. Artista que produz viola de Buriti e compõe belas músicas. Infelizmente não o encontramos, falamos com ele pelo telefone e pedimos para usar a música dele no filme. Devidamente autorizados trouxemos um CD com as canções dele e o resultado nos agradou muito.

De lá seguimos para o encontro das águas do Rio Formiga com o Rio Soninho. Chegamos pelo lado do Povoado do Mumbuca, passando pelo Fervedouro do Mumbuca e cruzando o rio até o encontro das águas. Nadamos bastante e nos divertimos com a mudança de temperatura das águas. O Rio Formiga tem a água mais quente e o Rio Soninho uma água mais fria. É bem interessante.

Dali voltamos para a Comunidade e almoçamos uma comidinha caseira deliciosa, para seguir estrada voltando pelo mesmo caminho e seguindo direto para o camping do Vicente, outra lenda viva da região.

Chegamos no Camping do Vicente perto do fim da tarde. Era o dia do aniversário dele e ele já estava se recuperando do porre de mais cedo. Conversamos um pouco e esticamos as redes de dormir.

Jalapão Bikepacking
Foto: Edinho Ramon
Dia 10
cachoeira do formiga no jalapão
Cachoeira do Formiga. Foto: acervo Sua Casa é o Mundo

O décimo dia era o último do ano. 31 de dezembro. Saímos do Camping do Vicente até a Cachoeira do Formiga. O lugar mais incrível de toda a viagem. Só 6 km de pedal e pronto, férias das férias. Passamos o dia feito crianças. Nadamos, fotografamos, brincamos, pulamos e nos divertimos a valer. A cor da água é incrível, a temperatura maravilhosa.

O reveillon foi incrível. Fomos convidados por uma família para integrar a ceia deles e comemos um risoto delicioso. Descemos à noite para a cachoeira e vivemos bons momentos de banho, reflexões e boas energias, começamos o ano de alma lavada.

Dia 11
Fervedouro Bela Vista jalapão
Fervedouro Bela Vista. Foto: Rodrigo Leão

Começamos o dia com um bom banho na Cachoeira do Formiga e saímos cedinho. O dia era longo. 6 km até a estrada e de lá mais 55 km até o Fervedouro Bela Vista.

Com 8 km de pedal encontramos uma tendinha aberta. Era o ponto de parada do ônibus e imaginamos que seria tranquilo de encontrar comida. Qual não foi nossa surpresa, apenas refrigerante e um biscoitinho água e sal. Sem opção, mandamos pra dentro e voltamos para a estrada. Na ânsia de chegar e sem vontade de parar e cozinhar fomos seguindo e esfomeados chegamos no Bela Vista próximo do entardecer.

O Fervedouro Bela Vista foi o melhor atendimento que encontramos em todos os atrativos turísticos da região. Na entrada de São Félix, uma saída para a esquerda e após 3km de estrada boa chegamos lá. Uma comida maravilhosa completou o bom atendimento e foi uma das melhores noites da trip. Mais uma na rede.

Dia 12
Jalapão Bikepacking
Foto: Edinho Ramon

Acordamos bem cedinho para fazer algumas imagens com o Fervedouro vazio e nos surpreendemos com a beleza das imagens. Mais um mergulho pela manhã e pedal para São Félix para reabastecer o estoque e garantir comida pra pernada final.

Esse era o último dia do 500 Jalapão Bikepacking. Chegar no Jalapão Ecolodge completaria os 500 km de bikepacking terminando o filme.

São Pedro entendeu o recado e nos garantiu sol no começo da tarde e uma chuva torrencial no entardecer. Foi só pousar o drone após gravar as imagens da Catedral, uma formação rochosa que lembra uma igreja, que o tempo fechou e a chuva veio.

Descemos o trajeto da estrada até o Ecolodge com uma velocidade incrível e água, muita água.

A catedral Ecolodge é um espaço legal, pensado na preservação ambiental, na conscientização das pessoas e no mínimo impacto ao meio ambiente. Ficamos impressionados com o capricho das coisas e curtimos um bom jantar de encerramento dos trabalhos.

Dia 13
Jalapão Bikepacking
Pedal pela estrada de Catedral. Foto: Rodrigo Leão

Terminadas as preocupações com o filme agora só nos restava pedalar para voltar a Novo Acordo. Da Catedral em diante a estrada já era muito boa e a medida que se aproximava de Novo Acordo melhorava mais e mais. Saímos da Catedral em direção ao Rio Novo, quando de repente o tempo mudou. Mais uma chuva torrencial se aproximava com muitos raios e trovoadas. Não costumava temer esses eventos mas depois que o nosso amigo Serginho Tartari nos contou do raio que o pegou no Canadá redobrei meus cuidados.

Paramos o pedal, nos abrigamos as margens da estrada e aguardamos aproximadamente 1 hora para prosseguir sem chuva. Após 20 km chegamos ao Rio Novo e de lá mais 30km até o Camping do Camilo. Outra figura que merece a visita.

Camilo é um proprietário de terra da região que só entrou para o turismo após muito insistência do pessoal do rafting. Todo ano batiam na porta dele pedindo para montar acampamento. Com o tempo ele abriu um bar na beira da estrada e uma área de camping que atende perfeitamente ao cicloturistas. Ganhando fama na rede como um ótimo ponto de parada.

Dia 14
Jalapão Bikepacking
Foto: Edinho Ramon

Encerrando a Expedição, 70 km de estrada boa (ainda de terra mas um tapete comparado aos dias anteriores). Saímos com o sol e fizemos a melhor média da viagem. Algo entre 15 e 20 km/h. Hahahahahaha. Parece pouco, mas para fazer isso fizemos bastante força. Ficamos felizes e concluímos um projeto que foi incrível.

Um filme sobre bikepacking

500 Jalapão Bikepacking from Sua Casa é o Mundo on Vimeo.

O conceito do bikepacking é a união do espírito do cicloturista com o do mochileiro (backpacking). Um estilo livre, autônomo e minimalista. Fazer um filme sobre isso não me parece algo complexo, mas fazer um filme vivendo isso o é. Viajamos com um roteiro aberto, com a intenção de documentar a viagem (nossa primeira experiência viajando nesse estilo) e sem saber ao certo o que encontraríamos no Jalapão. O resultado superou demais as nossas melhores exectativas. O 500 Jalapão Bikepacking (trailler acima) passou nos melhores festivais de cinema outdoor do nosso país. O Rock Spirit, o Rio Mountain Festival e o Mountain Festival de São Bento de Sapucaí. Até agora foi selecionado em cinco festivais na gringa: na Rússia, Romênia, Sérvia, Paquistão e Eslovênia. Já foi exibido em dois deles. Mas muito mais importante que essa seleção são os feedbacks que recebemos. Voltamos na Adventure Sports Fair e palestramos sobre o filme pra retribuir a inspiração do ano anterior que acabou culminando com o filme e reafirmei a crença de que uma das maiores felicidades é compartilhar o amor pelas aventuras.

Quem quiser e puder assistir 500 Jalapão Bikepacking está no vimeo on demand, clique aqui, desfrute e nos conte o que achou.

Abraços, bons giros e ótimos ventos!

Edinho Ramon

Sua Casa é o Mundo

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