Por Edu Standerski
Cicloturismo: de Praia Grande (SP) a Paranaguá (PR)
Diário de Bordo: dia 1
Trecho: São Paulo, Praia Grande, Mongaguá, Suarão, Itanhaém e Peruíbe.
Distância: 73 Kms
De casa até o Jabaquara a gambiarra do pezinho da bike já quebrou logo na primeira parada para checar o pedal que também estava abrindo o bico. Toquei até o Terminal de ônibus do Jabaquara. Embarquei sem problemas em um ônibus expresso da Viação Breda rumo a Praia Grande, o que eu não sabia era que ele vai para o terminal da Vila Mirim e não para o terminal próximo a Ponte Pencil e Forte, de onde eu pretendia iniciar o pedal. Menos uns 10 kms. Acho que no fim das contas acabei ganhando, depois que o mecânico da bicicletaria me deu o toque de que eu não deveria ir pela praia e acelerar sentido Mongaguá, por causa da minha segurança, pois a bike equipada como estava chamaria muita atenção. Abortei a etapa de praia da Praia Grande e cheguei em Mongaguá pela Av Kennedy mesmo. Rapidão estava na areia da praia finalmente.
Naquelas condições, baixa temporada, a praia de Mongaguá estava com um visual bem bonito. Depois de passar pela plataforma de pesca tive que parar em uma barraca de praia, que estava fechada, pra colocar a capa corta vento pois começou a chover. Enquanto me preparava vi duas corujas tirando a maior onda na chuva, tomando um banhão!! E depois disso a presença de corujas pelo caminho tornou-se bem frequente até o final.
Cheguei em Itanhaém e optei por almoçar ali de frente pra praia mesmo pois não queria passar pela praça, Igreja e etc. O PF muito bom em um restaurantezinho legal montado em uma casa centenária. A decoração também conta com a participação dos clientes que pra lá levam seus projetores Super 8, celular Motorola PT550 e muitas outras coisas.
Animadão que iria chegar em Peruíbe, peguei uma rua de paralelepípedos e num desses solavancos o bagageiro se soltou e caiu sobre o câmbio traseiro e a roda e arrebentou os dois. Sem qualquer chance de conserto. Ambos deveriam ser substituídos.
Na outra esquina encontrei a bicicletaria da loira, que logo me deu o orçamento do aro e cambio novos e começaram o conserto. Duas horas e meia depois, e isso já umas 4 e meia da tarde, e 100 reais a menos no budget da viagem, parti sentido areia da praia pra chegar logo em Peruíbe. Mas não sem antes ter que trocar pneu e câmara de ar traseiros, porque quando o bagageiro caiu deve ter machucado o pneu de alguma forma e ele explodiu. Guardei pneu e câmara de ar pra jogar no lixo mais tarde. Faltavam uns 10kms para chegar e mais uma parada para remontar o cambio “XiiiiMano”, vendido pela Loira da Bicicletaria, pois ele estava soltando os parafusos pelo caminho, por sorte consegui achar. Montei tudo de novo, e enfim……Peruíbe!
Dia 2
Trecho: Peruíbe a Iguape
Distância: 121 kms
Mais uma vez acordei as 5 da manha, tal qual os dias que antecederam o inicio da trip, dei uma geral na bike e reapertei tudo que foi parafuso e lubrifiquei, claro que traumatizado pelo dia anterior onde a quebradeira foi forte. Café da manhã tomado, fui atrás de conseguir uma barco para atravessar de Peruíbe a Jureia. Fui no mercado do peixe, liguei pra Toshio San mas realmente e coisa era bem mais complicada do que imaginei: além de ser longe pacas ficava caro igual.
A alternativa era subir 40 kms até Miracatu, pegar 12 kms da Régis Bitencourt e depois mais 55 kms até Iguape. Isso já eram 10 horas da manhã, teria que acelerar o passo pra estar o mais próximo possível de Iguape, pois já sabia que pedalaria de noite. Até a Régis tudo bem, descansei no posto Fazendeiro e toquei pra SP222. Fiz uma pausa no inicio e logo continuei. Foi quando encontrei a subida mais longa de todas que já vi na vida! 6 kms pra cima! Devagar em sempre consegui chegar lá em cima, e o visual do Vale do Ribeira do Iguape valeu a pena.
Esfriou bem a partir daí e acelerei o passo ladeira abaixo. Anoiteceu, me equipei com todas as luzes que eu tinha o lugar é escuro! Mas muito escuro mesmo!!! A noite estava linda, céu limpo e lua e acho que todas as estrelas que eram possíveis de serem vistas estavam lá. Mas ainda faltava 40 kms. O subidão foi logo no começo da estrada, tinha ainda toda a parte de planalto até chegar em Iguape. Pra descontrair a pedalada, quando estava chegando perto da cidade horas depois, me grita um louco do meio do mato “Óiaaa! é a bicicreta da pulicia!” Eu honestamente nunca seria capaz de saber onde ele estava com aquela escuridão, mesmo equipado com luzes o suficiente pra parecer uma ambulância do SAMU!
Dei umas boas risadas e logo comecei a avistar as luzes da cidade naquele breu. O pessoal do posto de gasolina me indicou a Pousada dos Lampiões, no Centro de Iguape. Instalada em uma casa centenária com decoração que remetem a época, deixando o ambiente muito bom. Pousada excelente com atendimento e preços também.
Sobre Iguape dizem: Para o Cristão, que em agosto acontece a segunda maior festa católica do Brasil, em homenagem ao Bom Senhor Jesus de Iguape, perdendo apenas para Aparecida do Norte! Para o Pagão, que o carnaval de lá é espetacular!! Mais de 80 mil pessoas pelas alamedas e ruazinhas, gastando os paralelepípedos.
Dia 3
Trecho: Iguape, Ilha Comprida, Cananéia, Comunidade do Marujá na Ilha do Cardoso e Barra do Ararapira/PR.
Distância: 64 kms
Na noite anterior, eram 10 da noite, escutei sinos soando bem alto, achei estranho mas inocentemente concluí que deveria se tratar apenas de um capelão um pouco mais empolgado com o vinho. Que nada, às 5 da manha lá estavam eles de novo soando em alto e bom som. 5 toques para as 5 horas, 6 para as 6 e assim foi, com aquela confirmada a cada meia hora.
Levantei então e fui para a tradicional geral na bike e logo em seguida fui “levantar acampamento”, pois a esta altura eu já havia aprendido que parte das horas das minhas pousadas eram para tirar e recolocar as coisas nos alforges e de volta na bike. Felizmente quando pensei como eles deveriam ser recheados, tomei a decisão de que um deles teria conteúdo “social”e o outro de “trabalho”. Achei que foi uma boa estratégia porque agilizou muito as minhas manhãs.
Rapidinho estava na ponte que separa Iguape da Ilha Comprida e ali decidi que não faria o extremo norte da Ilha por causa do tempo com cara de chuva. Mais tarde fui perceber que a minha decisão era a mais certa, apesar do motivo não ser o certo, pois o sol até apareceu mais lá pro sul da Ilha. Com isso a Barra do Rio Ribeira, Ponta do Icapara e Praia da Juréia ficam pra uma próxima visita.
Pedal muito tranquilo e com vários encontros pelo caminho. Gaviões Carcará, Maçaricos, Gaivotas, Botos, pescadores, de bike, de boa e assim foi até chegar na entrada da comunidade de Pedrinhas. Parei no quiosque da pernambucana Jô, que me disse ali ser o melhor lugar do mundo pra se viver. Conversando com ela e com o filho Jr, descobri que deveria me apressar para chegar logo a entrada de estrada da balsa pra Cananeia, pois a maré estava subindo e rápido. Se eu tivesse ido até o extremo norte da Ilha eu não teria tido tempo de chegar até a estrada da balsa, pois a maré teria subido e acabado com a faixa de areia pedalável da praia, único meio possível de se chegar lá. Mirei no que vi e acertei no que não vi!!
Pedalzinho suave até a balsa onde abasteci meu suprimento de cocadas, quebra-queixo e outras gordices.
Chegando a Cananeia a bordo da Balsa, vi uma galera carregando um barquinho com dois bujões de gás e imaginei que eles poderia estar indo para alguma Ilha e com alguma sorte seria a do Cardoso. Falei com os caras e dito e feito. Moravam no Marujá/Ilha do Cardoso e partiriam pra lá em uma hora. Acertei com eles que iria junto e fui comer alguma coisa.
Embarcados seguimos rumo a ilha do Cardoso por uma paisagem inacreditável da Serra do Mar e das Montanhas da Ilha do Cardoso. Conversando com os caras, fiquei sabendo que por conta da maré alta, que naquele dia muito mais alta do que o normal, eu não conseguiria pedalar pela praia da Ilha do Cardoso por não haver faixa de areia pedalável. Renegociamos e seguiria de barco então até o objetivo final do dia, a Barra do Ararapira/Ilha do Superaguí, do lado do Paraná. Do lado de fora do mar de dentro fica a Ilha do Cardoso/SP e do lado de de dentro do mar de dentro fica a Ilha do Superaguí/PR.
Dei um tempo lá no Marujá até eles descarregarem o barco. Aí conversei com uma galera que trabalha lá como monitores ambientais. Fora da temporada a Ilha serve com o lugar do estudo do meio, levando alunos as escolas estaduais e particulares para um fim de semana monitorado na Ilha, para conhecer os diversos ecossistemas que existem ali: mangue, montanhas, praia, restinga e outros que nem me lembro agora. Tudo monitorado com cronograma, programa e conteúdo a serem seguidos. Achei muito bom e organizado.
Mas estava anoitecendo e comecei a ficar cabreiro de que teríamos que descer até o sul da Ilha já de noite. Não deu outra. Anoiteceu e estávamos no meio do mar de dentro e no meio do caminho para a Barra do Ararapira. Apesar de ter feito antes, fiquei bem tenso. Finalmente chegamos ao píer e desembarquei naquela escuridão de forma meio estabanada e lá se foi meu amado GPS pro mar!
Me instalei na casa do Dico, em uns quartinhos que ele tem pra alugar, jantei com ele e a familia, afinal de contas não haveria qualquer outra chance de conseguir comida alí.
Foram muito gentis e o jantar estava ótimo mesmo. Ainda inconformado com a perda do GPS voltei no píer e como a maré já tinha baixado, achei!!! Fiquei muito aliviado e consegui dormir tranquilo.
Dia 4
Como de costume acordei as 5 da manhã e logo pulei da cama e fui para o pier ver o nascer do sol. Foi um dos pontos altos da trip. Lindo! Dei um tempo lá com os pescadores que ainda decidiam se sairiam pra pescar ou não e assisti o espetáculo do dia amanhecendo ali. Fui tomar um café com torta de banana, pois o Fernando e Beto, já me esperavam para uma carona até a parte pedalável da Ilha do Superagui.
Mas antes de embarcar, dei uma passada na casa da Associação das Mulheres produtoras de Cataia. Uma erva que nasce no mato e que mergulhada na cachaça durante 7 dias, torna-se o “uísque”do caiçara. Diz a lenda que na década de 60, o primeiro cara que tentou esta receita, foi o pai do Dico, o dono do quartinho que passei a noite. Comprei dois pacotes da danada da erva e me mandei pro barco. Travessia rapidinha de barco e logo estava na areia da praia. O lugar é realmente espetacular! E conhecido por todos como a praia deserta do Superaguí. E assim seria até quase na Vila do Superagui. Uma praia deserta mesmo, não encontrei ninguém durante uns 30 km, a não ser duas boias de sinalização desprendidas do mar e atoladas na areia da praia.
Já chegando no fim da praia deserta, alguns pescadores e lagoas de água doce. Pedalei por ali um pouco e logo fui pra Vila pois queria muito chegar a essa altura. Me instalei, enganei a fome com algumas porcarias pois não havia almoço disponível em lugar nenhum. Nem na minha pousada. Acertei com o dono do mercadinho, Toninho, uma carona até Paranaguá logo as 7 da manhã, racharíamos a gasosa e eu economizaria uma hora e meia de viagem. Topei na hora! Dei umas caminhadas, fiquei de preguiça, dormi, jantei, mais umas caminhadas e cama!!
5 da manhã de pé de novo, fui ver o sol nascer na praia mas na verdade fui mesmo é passar um frio do cacete, pois o sol demorou bem pra aparecer aquele dia e tive que voltar pra pousada e pegar o barco pra Paranaguá. O caminho pra Paranaguá também merece um destaque especial aqui, pois é espetacular! A vista da Serra da Graciosa e das Montanhas da Ilha do Cardoso são impressionantes.
Em Paranaguá me despeço do amigo Toninho, tomo uma café e embarco no busão sentido Curitiba, com todas essas histórias pra contar e muitas fotos.
[Nota do blog:] se você vai pedalar pelas cidades desse roteiro, pode consultar campings, hostels, pousadas e hotéis nos links abaixo:
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