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Cicloturismo: Travessia Paraná Leste-Oeste (731km)

Cicloturismo: Travessia Paraná Leste-Oeste (731km)
Foto: acervo pessoal José Sérgio Franco

Por José Sérgio Franco

Sempre fui apaixonado pelo ciclismo, especialmente o mountain bike. Desde a adolescência em Guaíra (onde nasci e residi até o ano de 2003), pedalava todos os dias a distância de 50 km. Tínhamos uma turma animada e que levava muito a sério esse esporte. Em 1992, meu cunhado Rogério e o tio dele Sr. Manoel, resolveram fazer uma viagem de bike entre Guaíra e Curitiba.

Em apenas três dias estavam chegando á capital do Estado. Foi de fato um atrevimento, afinal apenas no primeiro dia pedalaram 280 km debaixo de chuva até Maringá. Quando retornaram á Guaíra, muitos foram os relatos das estórias ocorridas durante a viagem. Eu com meus 13 anos de idade fiquei encantado com os acontecimentos daquela aventura.

A vontade de um dia viver algo parecido marcou em mim. No entanto, a vida toma outros rumos e por muitos anos deixei a magrela encostada. Porém, o que nunca deixou de existir foi a paixão pelo esporte.

Em 2009 já residindo em São José dos Pinhais, voltei a pedalar o que despertou em mim novamente toda a vontade de fazer uma viagem de bicicleta, ainda maios lendo blogs de cicloturismo como o de Nelson Neto (cicloturismo selvagem). Em 2011 iniciei os preparativos, porém por motivos alheios á minha vontade, fui obrigado a desistir antes mesmo de começar os treinos preparatórios.

Já em Abril de 2012 com a intenção de uma vez por todas fazer a tão sonhada viagem, convidei o Pedro, um amigo de pedal. Para minha surpresa, ele não pestanejou para responder que topava participar da empreitada. Decidimos fazer a viagem no começo do mês de julho, época de férias.

Pedro estava otimamente condicionado. Eu nem tanto, pois fiquei até o final do mês de março de 2012 praticamente sem treinar, em razão de uma lesão ocorrida em dezembro de 2011 (quando estava em ótima forma). Nesse período, por ter enfiado o pé na jaca no quesito alimentação, também ganhei peso.

Eu tinha os meses de abril, maio e junho para me preparar. Assim, retornei para a musculação e meus pedais passaram a visar mais a ganhar resistência para longa distância e eliminar peso do que necessariamente ganhar velocidade. Tinha que eliminar pelo menos seis quilos até a viagem.

Além da musculação, pedaladas e cuidados com alimentação, eu também coloquei na minha planilha alguns dias dedicados à corrida a pé. Semana por semana eu percebia o resultado, tanto na questão de ganho de resistência quanto na eliminação de peso. Também incluí na rotina de treino um pedal longo, entre 100 e 120 km todos os sábados, tenho certeza que isso colaborou bastante.

Fixamos como data para a partida o dia 01 de julho de 2012 e quanto mais essa data se aproximava, nós tínhamos que acelerar na organização de detalhes como roteiro, decidir o que levar durante a viagem, comprar bagageiro etc.O mês de abril já havia se esgotado e mais um corajoso topou fazer parte da equipe, o grande parceiro de sempre Waldemar. Porém, ele iria se desgarrar do grupo quando chegássemos em Cascavel, já no quarto dia. De lá ele partiria para Foz do Iguaçu, com um trecho de 145 km. Eu e Pedro iríamos para Guaíra (que também faz fronteira com o Paraguai), a 150 km de Cascavel. Ou seja, curiosamente iríamos percorrer praticamente a mesma distância.

Travessia Paraná Leste-Oeste (731km) – O Roteiro

Planejamos o trajeto para cinco dias, através da rodovia BR 277 com a seguinte ordem:
1º dia: São José dos Pinhais até Irati: 170 km
2º dia: Irati até Guarapuava: 112 km
3º dia: Guarapuava até Laranjeiras do Sul: 110 km
4º dia: Laranjeiras do Sul até Cascavel: 150 km
5º dia: Cascavel até Guaíra: 150 km

Eu particularmente decidi levar apenas duas mudas de roupa para usar no hotel e outras sobressalentes para pedalar. Também uma jaqueta impermeável para o caso de chuva. Fora isso, levamos itens como kit reparo, câmara de ar, remédios para dor de cabeça, lanternas na bike, manchão, protetor solar, escova dental, bandana, carregador de celular dentre outras quinquilharias necessárias que no total deram praticamente 7 quilos de bagagem. Já fiz inúmeros pedais com até 130 km, porém nunca uma viagem onde longas distâncias teriam que ser pedaladas por dias seguidos, no caso, por cinco dias. Não há como negar que isso gera certa ansiedade.

Quando comentávamos com as pessoas sobre nossa odisseia, ouvíamos: “vocês estão loucos, sem juízo”. Outros já incentivavam e diziam achar a legal. Não importa a reprovação das pessoas, você deve seguir o seu coração e o meu sempre desejou sentir o gosto da liberdade e do desafio que é uma viagem como essa.

Quando faltavam exatos 14 dias para o dia determinado para a nossa saída, fiquei muito apreensivo, pois em um dos treinos senti uma dor no joelho esquerdo, justo o que me deixou parado por quase três meses no começo do ano. Não poderia acreditar que o projeto de meses iria ser abortado por conta de uma lesão.

Decidi então não pedalar nestes últimos 14 dias, para evitar qualquer complicação. No dia 30 de maio, ou seja, um dia antes da viagem, pedalei alguns poucos quilômetros e não senti nenhuma dor, porém, confesso que estava com muito medo de ter que desistir no meio do trajeto por conta da tal dor aparecer.

Travessia Paraná Leste-Oeste (731km) – 1º DIA

Mas o grande dia chegou e partir era preciso. Exatamente ás 05h30minh da manhã, dei um beijo e um abraço em minha esposa e junto com os demais partimos rumo ao nosso objetivo.
Posto agora, algumas frases que representam muito aquele momento de despedida e partida:

‎”Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.” Fernando Pessoa.

O ser humano precisa ter uma experiência autentica na sua vida. Amyr Klink.
Um dia é preciso parar de sonhar e, de algum modo, partir.
Amyr Klink

Confesso que no momento da partida fiquei muito emocionado, pois como diz o navegador Amyr Klink: O maior medo do navegador é o de nunca partir. E eu estava partindo, na intenção de que tudo desse certo e dias depois estivesse junto novamente de minha família e amigos.

Porém, eu tinha certeza que cinco dias depois, aquele já seria outro, transformado pelas experiências que uma aventura como essas podem proporcionar em todos os sentidos. Saímos exatamente ás 05h30min de minha casa no centro de São José dos Pinhais, com a total animação do trio. Logo estávamos no contorno de Curitiba e com 20 km de pedalada, o primeiro pneu furado, na bike do Pedro. O que aliviou um pouco é que paramos num posto de gasolina. Demoramos em torno de 30 minutos nesta troca e seguimos viagem.

Ao começarmos a subir a serra de São Luiz do Purunã, já estava dia. Paramos no pedágio para tomar um café, alguns speedeiros que lá estavam ficaram curiosos sobre nossa viagem, um pessoal bom de papo. Quando fomos sair para continuar, mais um pneu furado, desta vez do Waldemar e dele manutenção, porém após a troca percebemos que a nova câmera de ar havia sido danificada quando da troca. Putz grilo! Fazer o que, mãos a obra novamente. Com apenas 60 km percorridos, já tínhamos três pneus furados.

Após termos percorrido praticamente 100 km, o Rodolfo irmão do Waldemar nos alcançou de carro e fez algumas imagens. Batemos um papo, mas nossa empreitada deveria continuar e nos despedimos. Valeu Rodolfo pelo apoio. Era em torno de 13 horas, quando paramos numa lanchonete que fica próxima à cidade de Palmeira, onde fizemos um lanche. E como estava bom aquele lanche! Serviu de almoço e também aproveitamos para recarregar a bateria da lanterna. A sensação de estar na estrada, em direção ao nosso destino, era muito boa.

Já havíamos pedalado 170 km, estava noite e nada de chegar a Irati, nosso destino neste primeiro dia. Sem contar que os últimos 40 km eram de subidas intermináveis e com descidas leves. Mas logo avistamos a entrada da cidade, uma avenida sem fim para quem já estava há horas na estrada. Era hora de procurar um hotel e nada melhor do que perguntar para algum transeunte. Perguntei para um senhor que caminhava pela calçada e para nossa surpresa ele se ofereceu para nos guiar de carro até um hotel. Registro aqui o nosso agradecimento ao Sr. Adalberto, pois foi uma mão na roda!

Hotel bom para o nosso propósito e preço interessante (R$45,00). Nesta primeira noite decidimos pegar um quarto triplo. Levamos as bikes para o quarto e após um banhão nos acabamos de comer em um rodízio de pizza. De volta ao hotel fomos dormir. Neste primeiro dia, não haviam dores musculares e nem a bunda estava a incomodar tanto, apenas o cansaço natural de termos percorrido 186 km no total e por isso Imaginamos que iríamos desmaiar para dormir, ledo engano. Waldemar começou a roncar. Como disse o Pedro, era na ida e na volta. Um verdadeiro trator rs.

Ainda no meio da noite, fui á recepção do hotel para verificar se havia outro quarto, porém a recepção estava sem ninguém. O jeito foi voltar ao quarto e encarar mais esse desafio rs. Só consegui dormir depois das 3 horas da manhã, quando ele relaxou e parou com aquele ronco desesperador. Uma lição: quarto triplo NÃO MAIS rs.
Concluir esse primeiro dia foi excelente, afinal no quesito distância este era o dia mais desafiador. Estávamos felizes!

Travessia Paraná Leste-Oeste (731km) – 2º DIA

O segundo dia nos reservava 112 km entre Irati e Guarapuava, porém iríamos enfrentar a Serra da Boa Esperança com 10 km de extensão. Acordamos por volta de 7 horas e fomos tomar o café oferecido pelo hotel. Antes de pegar a rodovia 277 paramos para registrar a Santa de Irati, que rendeu uma bela imagem em meio à neblina.

Ainda dentro da cidade, numa subida extremamente íngreme o power link da corrente de minha bike abriu, dando um susto, porém foi resolvido rápido. Waldemar percebeu que eu estava chateado com aquela situação logo no primeiro km de pedal daquele dia e resolveu fazer um vídeo e para completar, ainda ficou cornetando pelo fato de eu ter dito que até aquele momento minha bike não tinha furado nenhum pneu. Faz parte rs.

O dia estava lindo, com céu aberto sem qualquer nuvem, exatamente como no dia anterior. Na estrada paramos em um chalé, onde é vendido vários tipos de doces. Muito bom, afinal uma glicose era muito bem vinda, além de o lugar ser extremamente simpático. Depois de alguns quilômetros pedalados, a bunda começou a dar sinais de cansaço e de possível assadura. Chegamos ao pedágio e pausa para um café. Aproveitamos para passar pomada, assim poderíamos prevenir assaduras. Neste pedágio havia uma poltrona onde sentei para descansar e olhe que foi difícil levantar daquela maravilhosa e macia poltrona.

Depois de uns 20 minutos de descanso, decidimos partir e adivinhe: o pneu da bike do Waldemar simplesmente explodiu com a bike ainda parada. Não adianta lamentar, o negócio é meter a mão na roda. Era o quarto pneu furado. Reparo feito, partimos em direção a subida da Serra da Boa Esperança, com seus 10 km de extensão e inclinação parecida com a da Serra do Mar entre Curitiba e o litoral. Nesse trecho, destaque para o visual do Morro do Chapéu, que rendeu boas fotos.

Com muita paciência vencemos a serra, sempre com Pedro á frente. Apesar de o dia ter apenas 112 km, o final foi cansativo. Guarapuava não chegava, mas ainda assim, ainda era dia quando chegamos. Waldemar se informou sobre um hotel a beira da BR277. Foi o melhor hotel (HOTEL SOLEDADE) e surpreendentemente o mais barato (R$32,00 com direito a TV).
Neste dia, numa tentativa de afugentar as dores que começavam a aparecer, certas frases viravam bordões como: “aqui o sistema é bruto”, ou “ai minha bundaaaa” e “se fosse fácil não teria graça”…rs. E ainda o bordão do Pedro: “uhhh maravilha!!!”. De fato, o bom humor e companheirismo foram pontos fortes de nossa viagem.

Dessa vez optamos por quartos individuais rs. Jantamos num restaurante ao lado do hotel. De volta ao quarto do hotel, até tentei assistir uma tela, mas desmaiei de sono. No outro dia, Pedro nos contou um fato curioso que ocorreu com ele durante aquela madrugada. Havíamos combinado de nos encontrar no café da manhã ás 6 horas. Disse ele que acordou e por uma fresta da cortina percebeu que já havia amanhecido e levantou assustado, afinal estaria atrasado. Arrumou seus apetrechos o que demora um pouco, preparou a bike e vestiu a roupa de ciclismo e inclusive passou protetor solar. Quando já estava a sair do quarto com a bike, olhou no computador de bordo e percebeu que eram ainda 3 horas da manhã! Putz! Olhou pela janela e percebeu que a claridade vista por ele na tal fresta, era por conta de luzes do estacionamento do hotel e não do amanhecer. Segundo ele, caiu na risada sozinho num quarto de hotel, as 3 da madruga. O jeito foi voltar a dormir.

Neste dia (segundo dia) o DESAFIO PARANÁ LESTE-OESTE completava 300 km percorridos e estávamos muito felizes.

Travessia Paraná Leste-Oeste (731km) – 3º DIA

O dia amanheceu e estava lindo mais uma vez. Arrumei as coisas e desci para tomar o café da manhã com Pedro e Waldemar. Não tem coisa melhor do que encontrar seus parceiros no ouro dia pela manhã e a primeira coisa que se vê é um baita sorriso e plena animação para mais um dia, assim foram todos os dias.

O percurso seria entre Guarapuava e Laranjeiras do Sul, num total de 110 quilômetros. Ao subir na bike, as dores musculares, bem como a dor na bunda era um fato, para todos. Mas com alguns quilômetros percorridos, elas eram amenizadas pelo aquecimento do corpo.

Esse foi um dia muito interessante por dois motivos: um que estaríamos vencendo mais da metade do desafio e outro pelo fato de que apesar de ainda estarmos há mais de 400 km do final da aventura, pela primeira vez avistamos uma placa que indicava em conjunto os dois destinos da equipe (Pedro e eu rumo á Guaíra e Waldemar rumo a Foz do Iguaçu), bem como indicava ainda a cidade onde teríamos que nos separar no último dia (Cascavel). De fato a emoção tomou conta de todos e fizemos um belo registro daquele momento.

Os primeiros 60 quilômetros do trajeto deste dia foram de imensas retas e com subidas longas, porém leves. Mas não foi só molezinha, o restante até chegar a Laranjeiras do Sul, foi de subidas bem fortes. Descobri que meus parceiros eram viciados em laranja. Acho que apenas neste dia paramos nuns cinco pés destas frutas. No final das contas, até eu que não sou fã dessa fruta in natura, me rendi a umas laranjas. Pedro chegou a fazer suco rss. Ah sim, a galera atacou também um pé de suculentas ameixas.

A única ponte em arco de todo o trajeto, no rio Cavernoso é uma obra muito bonita e não poderíamos deixar de registrá-la. Eventualmente quando queríamos nos refrescar, o que não faltavam eram pequenas quedas de água ou ainda minas a beira da rodovia. Ah que alivio! Apesar de em alguns momentos nos distanciarmos uns dos outros, estávamos sempre no visual, afinal éramos uma equipe. Sempre depois de uma subida forte nos reagrupávamos e seguíamos todos juntos novamente, o nosso destino.

Travessia Paraná Leste-Oeste (731km) -
Travessia Paraná Leste-Oeste (731km) – Foto: acervo pessoal José Sérgio Franco

Em Virmond eu e Waldemar paramos em uma lanchonete a beira da rodovia para comprarmos um isotônico, estava fazendo falta. Em dado momento ouvi um estalo, depois parei e verifiquei. Quebrou um raio da roda traseira.

Ao chegarmos a Laranjeiras do Sul, tiramos uma foto com um imenso trator movido a vapor, muito interessante que fica na entrada da cidade. Ficamos no hotel Lipinski ao custo de R$45,00, valor caro pelo estilo de acomodação. Jantamos em um restaurante ao lado do hotel, após eu e Pedro fomos ao banco, pois la plata havia acabado. Como eu havia levado minha bolsa de gel, nessa noite fiz um gelo em meu joelho que estava um pouco dolorido. Neste dia ainda o Marcelo Catarina entrou em contato via fone, bem no momento que antecedia nosso jantar. Valeu Marcelo, pelo apoio!

Completamos 415 km percorridos. Estávamos extremamente felizes.

Travessia Paraná Leste-Oeste (731km) – 4º DIA

Nem é preciso dizer sobre o cansaço acumulado por percorrer esses 415 km em dias seguidos, contudo pedalar era preciso e depois do café da manhã, saímos em torno de 07h30minh da manhã. Quando ainda estávamos na cidade, veio nos cumprimentar, o Thiago, proprietário da Lodi – Casa do Ciclista de Laranjeiras do Sul. Tiago nos passou o telefone da loja e disse que se fosse necessário algum socorro, bastaria ligar. Valeu Thiago!

Tínhamos pela frente 150 km entre Laranjeiras do Sul e Cascavel, incluindo a pedalada até o hotel. Segundo relatos de pessoa da região, o começo do trecho (em torno de 70 km) seria de muitas subidas fortes e que após uma longa descida (8 km) o segundo trecho seria mais fácil com longas retas. Dito e feito.

O quarto dia nos reservou também lindas paisagens. Passamos ainda pelo aldeamento indígena, onde fiz um registro de algumas crianças. A rotina de caça á laranjas continuou rs. Pedro pegou trauma daquelas placas indicando começo da terceira pista, afinal isso indicava que viria uma subida forte.

Antes um pouco de Ibema, paramos no pedágio para um descanso, tomar um café e alongamentos. Após as intensas subidas por mais de 70 km, de fato as retas próximas a Cascavel apareceram, porém pedalamos por mais de 30 km com um vento contra, extremamente forte. Aquilo castigou bastante, pois a pedalada além de ser desgastante, não rendia e Cascavel não chegava.

Mas o trevo cataratas era uma realidade, bem como o intenso movimento de Cascavel. Nem imaginávamos que nossa aventura naquele dia estava longe do fim. Como havia uma feira na cidade, vários hotéis que procuramos estavam lotados, depois de rodar dentro da cidade por praticamente uma hora, já durante á noite, nos foi indicado uma pensão. E lá fomos nós. O local não era lá aquelas coisas (“pulgueiro”), mas como estávamos exaustos, resolvemos ficar ali mesmo.

Banho tomado, fomos num rodízio de pizza. Hum e como estava bom! Pizzaria Piratas vale a pena se você for em Cascavel, ambiente temático e agradabilíssimo. A caminhada de volta da para o pulgueiro digo, pensão, foi complicada, as dores musculares estavam extremamente fortes, para subir escada então rs, era um Deus nos acuda.

Eu e Pedro ficamos em quarto duplo, pois não havia outros quartos individuais, apenas um que deixamos para o Waldemar (por que será? kkk) Como fiquei na parte de cima do beliche sem escada, subir nela era outra odisseia por conta das dores nas pernas. Não gemer era impossível.

Nessa noite o cansaço era tanto, que troquei as pomadas. Ao invés de passar a pomada para assaduras, passei a pomada de diclofenaco. Percebi algo diferente. Tive que tomar banho e passar a pomada correta. Pedalamos neste dia 150 km.
Assim completamos o acumulado de 565 km e não havia furado nenhum pneu de minha bike. Eita amarelinha velha de guerra!
Estávamos completamente felizes!

Travessia Paraná Leste-Oeste (731km) – 5º E ÙLTIMO DIA

Exatamente ás 6h da manhã meu celular tocou o despertador, era hora de levantar para enfrentar o último dia. Acordei o Pedro e também dei uma batida na porta do quarto do Waldemar. Não podíamos nos atrasar neste dia, afinal tínhamos pelo menos 150 km pela frente.

Infelizmente o pulgueiro, onde ficamos não servia café da manhã e tivemos que ir a uma panificadora, ainda estava escuro. Após nos alimentarmos bem, seguimos em frente pelas ruas de Cascavel até o trevo cataratas, na saída da cidade.

Lá paramos e fizemos um vídeo com um breve relato, afinal ali infelizmente o trio que dividiram tantas emoções nesses últimos quatro dias, iria em parte se separar. O grande amigo Waldemar iria com destino a Foz do Iguaçu. Eu e Pedro iríamos para Guaíra. Então nos despedimos e combinamos de manter contato durante o trajeto final.

A rodovia entre Cascavel e Toledo é duplicada e sem muitas subidas, muito boa para desenvolver certo ritmo, porém o vento contra, logo deu as caras o que causou muito desgaste. O pior é que ele apenas parou quando estávamos muito próximos á Guaíra.
Após termos percorrido algo em torno de 20 km, Pedro percebeu o pneu traseiro furado. E foi uma trabalheira danada, que nos consumiu uns 30 minutos. Manutenção feita, tocamos em frente e Cascavel ficou para trás.

Com exceção do vento contra, tudo transcorreu bem até Toledo onde entramos na cidade para pegarmos a rodovia que nos levaria até Marechal C. Rondon. Aproveitei para fazer uma ligação referente ao trabalho. A ciclovia de Toledo e bikes a disposição para aluguel me chamou a atenção. Parabéns para a cidade!

Já o trecho entre Toledo e Marechal Candido Rondon é com acostamento muito ruim e trânsito intenso de caminhões, o que deixou a pedalada bem estressante. A fome bateu forte, principalmente no Pedro e a vontade de chegar logo em M. Rondon só aumentava. Quando faltavam 10 km para chegar em Marechal recebemos um mensagem do Waldemar, ele já estava em Medianeira.

Ufa! Mais algumas pedaladas e chegamos a Marechal Cândido Rondon, cidade de colonização alemã. Procuramos um lugar para almoçarmos, mas pelo horário (após 13h) encontramos dificuldade e conseguimos um PF num simples restaurante. Aquele almoço foi como jogar água numa planta desidratada. Restabeleceu todas as energias. Ficamos um pouco em uma praça no centro da cidade para digestão e observei como os rondonenses utilizam a bike no seu cotidiano. Pessoas de todos os perfis. Acho que todo rondonense ganha uma bike quando nasce, faz parte da cultura da cidade. A prefeitura faz sua parte com a implantação de ciclovias. Como diz o Pedro: que maravilha!

Depois de um breve descanso, partimos rumo á última cidade do desafio, Guaíra distante 65 km. Este trecho está com obras na rodovia, além do que em alguns quilômetros não há acostamento o que atrapalha em muito a viagem. O vento, ah este ainda era o terceiro elemento, assumiu o lugar do Waldemar.

Em determinado momento, Pedro foi obrigado a sair para o acostamento ruim e para não perder a prática, teve seu pneu furado, após controlar a bike em meio aos buracos.

Logo chegamos ao rio Guaçu, onde para minha surpresa e alegria nos encontramos com meu cunhado Rogério (biker) que veio nos encontrar. Faltavam apenas 35 km. Passamos por mais um trecho (3 km) em obras na rodovia que exigiu bastante atenção de nossa parte, porém os últimos 20 km foram de rodovia com acostamento perfeito. Já era noite quando avistamos no horizonte, as luzes da cidade. Avisei ao Pedro que tínhamos apenas uma subida para vencer e estaríamos em Guaíra.

Em todos esses dias de pedaladas, meu joelho teve altos e baixos no quesito dor, porém ao final praticamente sem dor. Agradeço muito a Deus por isso.

Após uma rotatória enfim o centro da cidade, havíamos concluído nossa aventura, a emoção tomou conta, o sorriso e comemoração eram constantes, fiz um breve vídeo para registrar aquele momento único.

Até ali foram 730 km em 36 horas pedaladas em cinco dias. Paramos para um registro fotográfico e para fazer uma ligação para o amigo Waldemar. Este já estava em Foz do Iguaçu, feliz da vida com 737 km percorridos. Depois de percorrer mais alguns quilômetros chegamos á casa de minha mãe, fechando aí 731 km, onde o resto da família nos aguardava. Desafio 100% concluído!.

Estávamos em estado de êxtase!
WALDEMAR PLANETA EXTREMO

Grande Waldemar, que em Foz estava um tanto quanto ocioso, sem nada pra fazer, então o cara resolveu participar da Meia Maratona de Foz do Iguaçu, apenas três dias depois de ter percorrido os 737 km de bike até Foz. E fez bonito, concluiu os mais de 21 km de corrida a pé em 2h28min. Parabéns Waldemar.

IMPRESSÕES

Por mais que eu tente descrever em palavras, fotos, vídeos ou por mais que eu fale, eu jamais conseguirei expressar exatamente como é emocionante fazer uma viagem como essas.

Eu, Pedro e Waldemar, nos transformamos em irmãos nestes dias que passamos juntos, mais exatamente em três crianças livres, com seus brinquedos tendo a rodovia como nosso parque de diversões.

É ótima a sensação de estar conquistando cada quilometro, de ver as pessoas nos cumprimentando por onde passávamos e motoristas dando buzinadas de incentivo. Em Cascavel, por exemplo, um transeunte de longe bradou: E aí cicloturistas! Com muita satisfação, acenamos.

Sim, pedalar com bagagem é um informativo sobre o perfil do ciclista. Percebemos bem essa diferença, até pelo respeito com que sempre fomos tratados pelos motoristas, seja na rodovia ou dentro das cidades.

Outro ponto interessante neste tipo de aventura é o contato com as pessoas, que sempre ficam curiosas. De onde será que esses três estão vindo e para onde irão? Assim, a bike abre oportunidades de conhecer e conversar com as pessoas. Não foram poucos que não aguentaram a curiosidade e quiseram saber sobre a aventura. Surpreendem-se sempre.

Não me esqueço da frase dita pelo Danilo, um gente boa, dono de uma borracharia próximo á Laranjeiras do Sul, quando soube detalhes da aventura: “Vocês tem barulho de carroça na cabeça!” O que nos fez dar boas risadas. Também me lembro de um motorista das Casas Bahia que nos encontrou num pedágio próximo a Cascavel e em conversa disse ter nos visto ainda em Curitiba e estava entusiasmando pela distância que já havíamos percorrido.

Contemplar a natureza é outro ponto forte, a cada momento um visual diferente. Uma montanha diferente como o morro do chapéu, uma queda d’água e ao chegar a Cascavel, a terra de cor vermelha era evidente. Quando passamos de carro não temos como perceber os detalhes, de bike tudo tem outra dimensão.

Recordo-me ainda de um senhorzinho que se mostrou todo preocupado com a nossa segurança, nos aconselhou sobre como atravessar a ponte em arcos, sobre o rio cavernoso. Depois o vimos vencendo, pedalada por pedalada uma imensa subida, sobre sua bike simples, estilo barra forte.

Após pedalar por 731 km divididos em cinco dias, a chegada durante á noite em Guaíra, minha cidade natal foi emocionante, contagiante, estávamos realizados. Não há palavras. Um filme passou pela minha mente, com lembranças desde a ideia de fazer tal desafio, os treinos, preparação e realização.

Já não somos os mesmos de cinco dias antes, agora estávamos transformados pela nova experiência, pelo desafio pessoal concluído, do aprendizado sobre aspecto físico e psicológico de nossos corpos, além da experiência adquirida sobre a pedalada de longas distâncias em rodovia, sem carro de apoio.

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Junior da Bike Shop, que me cedeu uma roda traseira de bike, pois uma peça de manutenção da roda original de minha bike não chegou a tempo. Valeu Junior.

Agradeço á minha esposa, pelo apoio á minha participação no desafio. Esse apoio é fundamental!

Agradeço aos meus amigos Pedro e Waldemar, por terem topado me acompanhar e pelo companheirismo durante toda a viagem.

Agradeço a Deus por ter guiados nossos passos.

Agradeço ainda á todos àqueles que durante o trajeto nos ajudaram de alguma forma.

NÚMEROS CURIOSOS

Em cinco dias foram:

  • 22.000 calorias gastas durante as pedaladas
  • 36 horas pedaladas
  • 7 pneus furados (3 Pedro e 4 Waldemar)
  • Em torno de R$350,00 com hotéis, jantar, almoço e outros.
  • 731 km pedalados (Pedro e Sérgio)
  • 737 km pedalados (Waldemar)
  • Média total (computador zerado em São J. dos Pinhais e verificado apenas em Guaíra): 20 km/h.
  • 6 kg foi o peso médio de bagagem da cada um.

VÍDEOS

Dicas de Hospedagem

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1 COMMENT

  1. Parabéns, aventura emocionante bem relatada no texto e excelentes vídeos com lindas imagens que estou acostumado ver desde a infância inclusive de bike até Toledo, sou natural de Cascavel Pr. e moro nas proximidades da BR277 por onde provavelmente passou o Waldemar a caminho de Foz do Iguaçu Pr.

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