Por Patricia Barcellos
Minha paixão pela bicicleta começou tarde. Sou gaúcha, mas moro em Florianópolis desde 1995. Em 1999, quando tive a primeira filha, após a separação, comprei uma bicicleta, que seria meu meio de transporte. Com ela ia trabalhar, fazer compras, visitar os amigos e até ir à praia. Colocava tudo nela. A cadeira de bebê, um balde com brinquedos, guarda-sol preso no quadro. E na mochila, cheia de coisas de bebê, ainda amarrava a cadeira. E assim, ia, feliz da vida curtir a Praia de Moçambique, que ficava há 03 km de onde eu morava.
Anos depois, mudei de bairro, e já com duas filhas, trabalhando em um hotel em frente de casa, usava pouco a bicicleta. Acabei vendendo. Minha energia ligada ao mar me levou a fazer cursos de mergulho e era o que preenchia meus dias de folga. Ir para o mar, passar os dias mergulhando. Conheci muitos mergulhadores e o pessoal das escolas de mergulho. Sempre saia com o barco que ficava perto de casa, mas pra variar, resolvi conhecer outros picos de mergulho, e uma das escolas ficava a 25 km de casa. Sem carro e sem horários de ônibus compatíveis com o horário de saída do barco, resolvi pensar em encarar a distância de bicicleta, em prol dos meus mergulhos.
Comprei a bicicleta do vizinho que estava jogada num canto da garagem. Bicicleta de ferro, meio enferrujada, tinha que fazer alguma manutenção, trocar algumas peças. Ficou boa pra uso. Então era só isso, pegar todo o equipamento de mergulho, jogar nas costas, amarrar na bike e encarar algumas subidas e descidas do percurso. E eu já feliz da vida encarando 50 km toda vez que ia mergulhar.
Daí comecei a observar (como eu tinha que sair muito cedo) o sol nascer de outra perspectiva, o trajeto com outro olhar. E ao invés de só ir para a base de mergulho, eu também olhava pro lado, pra cima, para o caminho. E no percurso tem uma reserva florestal e eu ia sentindo o ar gostoso da manhã, e quando voltava do mergulho, toda zen com o pensamento no fundo mar, curtindo as belezas da ilha, pedalando.
Em 2010 conheci meu atual marido. Ele, carioca, triatleta, fazia três anos estava morando na ilha. Viu minha bike e falou: “nossa, como você consegue carregar todo esse peso, numa bike que pode até causar tétano!” Eu não entendia nada de bike…
Então, investi numa nova bicicleta. Capacete, sapatilha e ferramentas para troca de pneu. Ele me ensinou a trocar pneu, consertar câmara, limpar a bike. E começamos a passear juntos. Eu, cada vez pedalando distâncias maiores e me sentindo cada vez mais confortável.
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Liberdade é a primeira palavra que me vem à mente para definir o que é pedalar.
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Seis meses depois, em agosto de 2011, viagem planejada. De carro, com as bikes no suporte, fomos acampar em Cumuruxatiba – BA. Percorremos toda a região de Prado com as bicicletas. Mar, praias, falésias, fazendas, estradas de chão e asfalto sem fim, coqueirais. Giramos aproximadamente 250 km naqueles 10 dias, coisa que eu jamais supunha fazer. Retornando pra casa, de carro pela BR 101 e empolgados com a nossa aventura, vínhamos planejando o que seria nossas férias do ano seguinte: ir de Florianópolis até Niterói, de bike, claro!
Então, nos meses seguintes, planejamos a viagem. Aos poucos, pesquisando o percurso, adquirindo utensílios e muito mais que passear pela ilha, saíamos para treinar. E com a experiência dele, como triatleta, montamos planilhas. A partir daí, já casados, e eu, morando há 10 km do trabalho, usando a bicicleta como meio de transporte e treinos, pedalando todos os dias 30/40 km. E durante os finais de semana nossos percursos mais longos, conhecendo cantos da ilha.
Data marcada, 03 de agosto de 2012. Mas chovia muito, e no dia 05 descobrimos uma janela de sol e o tempo prometia ficar muito bom por todo mês de agosto. Na manhã deste dia, partimos para nossa cicloviagem, cheia histórias pra contar, pessoas que conhecemos, que nos receberam, momentos incríveis, paisagens lindas.
Foram 1.560 km desde a porta da nossa casa, até a casa da mãe dele, em Niterói. Todo o percurso pelo litoral de Santa Catarina e Paraná. Subimos a Serra da Graciosa e, pela Régis Bitencourt voltamos para o litoral de São Paulo e Seguimos pela Rio-Santos até chegar ao Rio pela Barra e atravessar de barca para Niterói. O retorno, de avião, porque as férias estavam acabando.
Em 2011, depois que voltamos da Bahia, fomos convidados a participar de um Audax 200 km. Encaramos o desafio e gostamos. Em 2012 Fiz o 200 km novamente e o 300 km. Em 2013, resolvi fazer a série até 400 km, mas não tinha jeito, estava gostando muito de pedalar longas distâncias e acabei concluindo toda série até 600 km.Este ano percorri 3.800 km em provas de Audax. Concluindo a série até 1000 km, meu marido e eu. Detalhe: eu, com uma MTB, aro 26.
Foram mais de 6.000 km pedalados incluindo ir e vir do trabalho e treinos de final de semana. Os quais nos levaram a conhecer lindas cidades e recantos de Santa Catarina e da Ilha de Florianópolis. Além disso, conhecer muitos ciclistas.
Como eu disse, minha paixão pela bicicleta começou tarde. Aos 39 anos eu nunca imaginaria participar de provas de longa distância e viajar de bicicleta. Até esta idade, ir de um bairro até o outro, só de carro ou ônibus. A perspectiva do meu mundo mudou e melhorou muito.
Liberdade é a primeira palavra que me vem à mente para definir o que é pedalar.
Até onde dá pra ir de bicicleta… Até onde a gente quiser!
Cicloviajando eu aprendi que longe é um lugar que não existe quando a gente se determina. Participando de provas de Audax aprendi que a mente é que faz o limite. Foco, treino e determinação nos levam a atingir o objetivo. E ainda, descobrir que podemos mais ainda.
E o território vai ficando pequeno, mas o nosso mundo vai se tornando grande!