Por Alessandra Arriada
A gente não sabe a força que a gente tem. A verdade é essa. A gente se joga, treina, a gente pensa, racionaliza, se prepara. Mas no fim a gente não sabe se aguenta mesmo, se reage e como reage. A gente acha que vai desabar, chorar e nem conseguir tentar. A gente imagina nem sair de casa, pensa em pedir ajuda, pensa que deveria ter juízo, pensa em companhia, pensa em não estar só, pensa em impossibilidades, limitações. A gente se olha frágil, se olha menor, humana, minoria, limitada.
Mas a força vem. De um lugar escondido onde moram todas as forças escondidas desse planeta. Quando abrimos o coração, a mente, as ideias, elas surgem e nos levam a um estado búdico de felicidade plena, acima do limite físico, acima do entendimento. Simplesmente vemos que podemos ir além, ser o que quisermos, chegarmos onde queremos.
A viagem surgiu de uma ideia de retomar viagens. O sentimento de amizade único nos unia, nos levou a querer estar junto, a se divertir junto, a agregar mais, a aprender e a se divertir. O pedalar, o vento no rosto, os risos me apertavam o coração de saudade. Queria mostrar as rochas o lugar e o estar entre os meus. O sol, o esforço, a água, as decisões acertadas e desacertadas, o companheirismo, a liberdade plena, a chegada, a partida, a rocha, as limitações esquecidas, as experiências únicas. O hedonismo puro me move. O amor entre as pessoas, em minha vida, o entender, o viver, sem deixar pra lá, sem esmorecer, sem amornar, o intenso, o novo, o alegre, é a minha essência.
Contabilidade: 72km de bicicleta, sendo 25 empurrando a carga, 2 pneus furados, 10 amigos novos, 1 via encadenada acima do grau, 7 vias curtas encadenadas com alegria,1 projeto, 5 amigas escalando juntas, 1 lugar maravilhoso.
Já haviam acontecido outras duas viagens, as melhores da nossa vida, ambas para o Uruguai. Muito imprevisto, sonho riso, muita amizade, onde acampamos, pedalamos sem equipamento nenhum, conhecemos muita gente e chegamos em Valizas com a alma e coração lavados. Mas essa última é especial pois marca um fim de uma história. Mostra uma analogia muito verdadeira com a vida, uma viagem de bicicleta, assim como uma amizade, como uma dor e um amor, eles tem começo, meio e fim. E tem um monte de coisa no caminho. Tem toda uma trama até o desenlace. E não necessariamente o desenlace importa e até mesmo muitas vezes é o menos importante. A amizade se foi, divergências como pneus furados, não se podem prever. Mas esse caminho simples, de Caçapava do Sul até Minas do Camaquã nos mostrou muito mais do que simples pedriscos, cantorias, cansaços. Abraços ao pôr do sol, banhos de rio, barraca compartilhada, bicicletas encostadas e mãos sujas da escalada em rocha. O primeiro momento do resto de nossas vidas.
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