Por Caroline de Barba
Nossa aventura começou dia 25 de dezembro após farta ceia natalina. A trupe era composta de 4 intrépidos ciclistas. Sendo eles: Rodri, vulgo ‘preciso beber’; Fábio, vulgo ‘preciso comer’, Clau, vulgo ‘preciso parar’ e eu, Carol, vulgo ‘preciso seguir’.
E assim, com necessidades tão diferentes, percorremos os 415 km de Estrada Real entre Ouro Preto e Diamantina em 7 dias de pedal.
A promessa era de um pedal pra lá de pedreira. Mas no primeiro dia fomos agraciados por uma longa descida de asfalto até Mariana e uma estradinha brilhante para Camargos. Tudo muito tranquilo em vista do que esperávamos. Chegamos à charmosa Catas Altas transbordando otimismo.
No segundo dia saímos da Estrada Real para conhecer a RPPN Caraça, já que Dom Pedro II assim recomendava. O sol estava de rachar o côco. O calor era dos infernos. Mas a promessa era de que chegaríamos ao céu. Após subirmos 10 km escaldantes chegamos ao Santuário. Porém não tínhamos forças para conhecer muita coisa. O céu para nós naquele momento se chamava banho e cama!
No terceiro dia de pedal a Estrada Real mostrou sua verdadeira face. Subidas intermináveis, descida em trilha, areia fina nos parcos planos e muita pedra solta. O senhor ‘preciso comer’ nos fez almoçar cedo e a tarde foi longa demais. Chegamos exaustos e imundos em Senhora do Carmo. Dona Maria nos recebeu muito bem na pousada e lavou nossas emporcalhadas roupas na mão. Filamos a janta que ela havia feito para os outros hóspedes. Não tínhamos energia para mais nada.
Assustados com o dia anterior, resolvemos partir cedo. “Para miiiiiiinha alegriaaaaaa…”. Parece que já sabíamos: seria o pior dia da viagem. O calor castigava logo cedo. As paisagens eram belíssimas! Mas a mãe natureza cobrava seu preço para quem quisesse desfrutá-la. Andamos no topo do mundo! Que visual incrível! Porém, nenhuma sombra… Sem qualquer vivente por perto, passamos sede. Chegamos a Morro do Pilar estrupiados. E tivemos que encarar mais uma morreba para conseguir almoço. Parecíamos refugiados de guerra agarrando litros de refri ao entrrar, mas éramos apenas fugitivos do sol. Meu Garmin chegou a marcar 52,2º Célsius! Descansamos bastante no belo restaurante. Acho que Fábio chegou a cochilar no sofá. 15h partimos anestesiados acho, e chegamos a Conceição do Mato Dentro na hora do rush. Comemos pizza antes de ir para a Pousada. Porque sabíamos que de lá só sairíamos no dia seguinte.
Esgotados fisicamente fomos de táxi conhecer a Cachoeira do Tabuleiro. O pedal ficou para o fim do dia, num clima abençoadamente freso de pós-trovoada. Percorremos 20 deliciosos e planos quilômetros até Córregos. Onde passamos a virada do ano dormindo ao som dos festejos da cidade. Não sem antes jantar na casa de uma vivente dali. Façanha conquistada por nosso querido ‘preciso comer’.
Primeiro dia de 2015. Acordamos cedo. Mas todos pareciam querer dormir até mais tarde hoje. Foi difícil pagar a conta no mercadinho que o senhor ‘preciso beber’ fez ontem ao chegar à cidade. Foi difícil acordar o moço responsável pelo carimbo em Tapera. Todos apareciam sonolentos, ainda tchucos da festa de ontem. A paisagem continuou deslumbrante e o calor escaldante. Numa dita “rodovia”, comemos quilos de pó vermelho: era nosso Coloral, pois assávamos lentamente. Chegamos esgualepados a Serro. Saímos para comer pulando de sombra em sombra tamanha ferocidade dos raios ‘ultraviolentos’.
Último dia na Estrada Real! E a altimetria mais difícil: foram 65 km com 2.000 m de acumulado. Chega-se praticamente escalando em Milho Verde. Até lá existe asfalto, mas a cidade é toda de areia e terra. Hã? O clima era de pós Woodstock. Havia muita gente e muitos carros zanzando nas ruas poeirentas… Logo partimos para São Gonçalo, onde o senhor ‘preciso comer’ nos fez almoçar. Muito pó, muitos carros e muita gente novamente. Com o feijão a meio caminho do estômago, partimos novamente. Mas não fomos muito longe. O calor de matar nos fez parar 6 km à frente num botequim num local chamado Vau. A estrada continuava casca grossa e o Fábio conseguiu quebrar o bagageiro… Rodri deu uma de Magaiver e conseguiu consertar. Ufa!
O céu ficou apocalíptico quase chegando à Diamantina. Esperamos São Pedro se acalmar e chegamos sequinhos como todo santo dia da viagem. Essa foi a única chuva real que pegamos… Cheguei empurrando a bicicleta sem pompa nenhuma. Oh “calçamentozinho” ruim. Mas daí foi só alegria! Banho, pizza e taxi para buscar o certificado de conclusão da Estrada Real- Caminho dos Diamantes.
Encontramos alguns diamantes? Sim! Muitos! Fomos muito bem recebidos em todos os lugares por onde passamos. Pousadas, restaurantes, botecos, pontos de carimbo, mercadinhos, etc. Todo dia uma alma bondosa lavou nossas encardidas blusas brancas. E não pagamos nadinha por isso, mesmo quando insistimos. Não pegamos nenhum dia de chuva ou tempo feio. Não furamos nenhum pneu! 8 rodas, 415 km e nenhum pneu furado! Até a empresa de ônibus nos tratou bem na hora de embarcar as 4 bikes no bagageiro para voltar!
Encontramos muitas pedras também, mas essas, somente no chão das estradas que formam a Estrada Real.
Essa e outras histórias estão no livro “Cicloviagens 2014” disponível em: https://clubedeautores.com.br/book/181848–Cicloviagens_214#.VOyOvel0yHt
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Parabéns ao grupo.
Gostei muito do relato em seu livro Cicloviagens 2014 – Estrada Real- Caminho dos Diamantes, Costa Verde e Mar, Circuito das Araucárias, Afredo Wagner e Campo Alegre
Mostrou de forma bem clara e com muito bom humor as suas aventuras. a equipe “preciso beber”, “preciso parar”, “preciso comer” e “preciso seguir” deu um show no pedal.
Poxa que poxa! Que grandeza, viu!? Realmente, os diamantes estão por toda parte!