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Cicloturismo: Caminho de Santiago de Compostela de Bicicleta

Cicloturismo: Caminho de Santiago de Compostela de Bicicleta
Foto: acervo pessoal Carla Cristina Magalhães

Por Carla Cristina Magalhães

O ciclismo é para todos, até para mim. Hoje olho para trás e vejo o quanto fiz em tão pouco tempo: foram anos sem andar de bicicleta e, em pouco mais de 5 meses após meu retorno, fiz o caminho de Santiago de Compostela de bicicleta sozinha.

Eu sempre fui aquela menina nada atleta: odiava as aulas de Educação Física na escola, começava vários esportes e parava por não ter afinidade, me matriculava na academia e ficava meses sem aparecer. Nada me atraia muito, trocava qualquer atividade física por ficar deitada no sofá da sala vendo TV.

Um dia fiz um negócio e uma bicicletinha dobrável (daquelas de evento- nightbikers) usada veio como parte do pagamento. Olhei para ela, ela para mim, e resolvi dar uma volta na ciclofaixa de lazer no domingo, depois de muitas horas entediantes vendo TV. No começo foi bem desagradável, bicicleta de ferro e pesada, pneus pequenos, banco nada confortável; foram 4 ou 5Km muito suados. Na semana seguinte fui até a Avenida Paulista e foi como um grande momento para mim: uns 6Km desde a minha casa, andar naquela avenida enorme e linda, com várias pessoas na ciclofaixa, foi como uma realização pessoal. Na semana seguinte fiz 10Km, na outra uns 20Km…

Meu marido vendo aquilo resolveu me presentear com uma bicicleta aro 26, uma Mountain Bike daquelas de segunda mão reformada que vende na bicicletaria da esquina. E aí conheci um grupinho de pessoas que andavam de bicicleta e fiz minha primeira trilha na semana seguinte. Fiquei sem palavras depois de pedalar 25Km de subidas e descidas, num dia quente, sem parar em faróis e tudo mais. Vi muita gente como eu, que começou a pedalar a pouco tempo e estava se empolgando como eu. Aí foram algumas outras trilhas, pequenas viagens de 40 a 50 Km, passeios noturnos com grupos… De repente me senti pronta para algo que nunca imaginei fazer: uma cicloviagem.

Desde o ano passado (2014) pus na cabeça que um dia faria o caminho de Santiago, mas não tenho tempo livre, pois são pouco mais de 3 semanas de caminhada no caminho que eu escolhi. Me faltava tempo, pois na correria do dia-a-dia, tirar 3 semanas de folga é muito luxo. Mas e se eu fosse de bicicleta? De bicicleta conseguiria fazer o mesmo trajeto em apenas 6 dias. Fiz uma simulação de preços e consegui passagens aéreas com um preço super em conta. Nem acreditei, seriam 12 dias de viagem ao todo, exatamente a quantidade de dias de folga que eu teria para tirar, ainda iria conhecer cidades e países novos.

O Caminho de Santiago de Compostela de Bicicleta

E lá fui eu: pouca bagagem e muita expectativa. Cheguei no Porto e fiquei encantada, Portugal é um país super agradável e bonito. Aluguei a bike com alforges e tudo mais, conheci alguns museus e lugares lindos no Porto e iniciei a viagem em 2 dias. Logo no primeiro dia encontro um monumento com a seguinte frase: “farto de dores com que o matavam, foi em viagens por esse mundo”. Frase esta de autor desconhecido atribuída a António Nobre, inscrita numa pedra, na Praia da Boa Hora em Leça. Foi como uma mensagem para mim, naquele momento me identifiquei com a frase, com a paisagem, com o caminho e me senti renovada e pronta.

Foram dias intensos, em geral com chuva, frio, em pleno inverno europeu, com ventos norte; subidas intermináveis, descidas perigosas, 2 pares de pastilhas de freio totalmente gastas, mas também teve dois dias de sol e clima agradável para compensar e pedaladas agradáveis a beira mar. Me senti uma peregrina de verdade, encontrei muita gente a pé no caminho, de todo o mundo, mas em todo o caminho eu era a única “bicicrina”, pelo menos não encontrei nenhum, apenas algumas marcas de pneu em duas ocasiões.

E no dia estimado, sob muita chuva e frio, ao anoitecer, eu chego em Santiago de Compostela. Estava escuro e eu muito molhada, apesar das capas de chuva e tudo mais, o vento intenso fez a água entrar pelos minúsculos buracos da jaqueta e costuras, então me contentei em ir direto para o hotel e tomar um banho quente de banheira por algumas horas até a água ficar fria. Dormi bem e acordei com vontade de continuar a jornada, mas ela já havia acabado. Deixei a bagagem no hotel e fui até a Catedral de Santiago com a bicicleta, numa manhã agradável e ensolarada. Chegar na praça do Obradoiro foi uma emoção incomparável, pegar a Compostela na mão, ver toda aquela grandiosidade e beleza, tantos peregrinos reunidos ali, de toda nacionalidade, de todas as classes sociais, todas idades, que chegaram a pé, de bicicleta, de cavalo…

Caminho de Santiago de Compostela de Bicicleta
Foto: acervo pessoal Carla Cristina Magalhães

Desde então a bicicleta não sai da minha vida: uso para ir e voltar do trabalho, para viagens, passeios… Já ganhei uma bike nova do maridão, que viu que estava na hora de um “upgrade” no equipamento. Já estou me preparando para o próximo pedal e pensando em voltar para fazer todo o caminho francês desde a SJPP. Para mim a felicidade veio a duas rodas e tenho certeza que a bike jamais vai sair da minha vida, porque é como se o vento no rosto que sinto todos os dias me fizesse ver o mundo com outros olhos!

[Nota do blog:] se você vai pedalar pelo Caminho da Santiago de Compostela, pode conferir uma lista de albergues e campings aqui

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3 COMMENTS

  1. Parabéns Carla. VC foi só. Tem muita coragem. Um dia vou fazer um turismo de bike mas no Brasil.

  2. Oi, Marco Poggi! Só hoje tive tempo de passar aqui na página! heheh Olha, acho que começar por aqui é legal, mas pra viagens longas e solitárias ainda me sinto mais segura lá fora, o que é uma pena. Boa sorte no pedal e depois mande as histórias aqui que aposto que eles publicam. Abraços!

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