Por Gilberto Barbosa Cunha
Aquela canção adoçava meu espirito enquanto o carro descia levemente a Serra de Itaara. Enquanto isso, um jovem subia pedalando a sua bicicleta montanha acima. A cena era interessante e logo me arremessou para outro tempo. Um tempo em que os jovens também eram apaixonados pelos pedais. Então me perguntei: “O que há por de trás dos jovens que amam os pedais?”
Naquele tempo havia uma sede pela liberdade e os jovens, longe do mundo em guerra, procuravam se encontrar com novos ambientes que lhes trouxesse uma nova inspiração de vida. Alegres, desbravavam lugares e venciam distancias, enquanto seus espíritos se purificavam de uma época em que as ideias fervilhavam, da filosofia existencialista de Sartre ao apelo hippie da paz e do amor. Havia uma razão para pedalar, havia o que procurar nas voltas dos pedais…
Mas o que havia naquele jovem que conduzia a sua bicicleta estrada acima? Os pedais rodavam em causa de quem? O que poderia haver de comum entre esse jovem e os jovens do passado?
Essas questões me levaram a pensar o que poderia haver no coração daquele jovem. Fui ao encontro do seu próprio coração. No meu diálogo interno não consegui responder se o pedal é que movia o seu coração ou o coração é que o levava ao pedal. Mas o que eu sei é que nos jovens há um eterno desejo: o desejo de procurar um lugar que os tragam para o sentido da vida e que, de preferencia, esse sentido chegue ao seu coração com a brisa mansa em seu rosto, afinal de contas, a brisa do vento é que embriaga a alma de quem se aventura nos mistérios da vida…
Se eu tivesse um filho ciclista eu me daria o direito de duas coisas: que me desenhasse a rota a ser percorrida, ou pelo menos que me fizesse conhecer a sua diagonal e que tentasse me dar as razões do pedalar. Talvez eu pudesse entender o meu sonho de também acionar os pedais…
Enquanto isso, montanha abaixo, eu escutava minhas músicas dos anos sessenta…