Por José César Navarro
Movidos pelo espírito aventureiro do Mountain Bike (MTB), presente quando buscamos superar alguns limites em nossas vidas, embora sem grandes pretensões, iniciamos nossa jornada de bicicleta rumo a Porto Seguro (BA), partindo de Montes Claros, no Norte de Minas Gerais, cidade onde residimos. Havia uma expectativa própria se conseguiríamos completar o percurso, uma vez que, não obstante já praticarmos MTB há algum tempo, não contávamos com a força da juventude a nossa favor. Eu, José César, aposentado da Cia. Energética de Minas Gerais, relator da viagem, à época contava com 59 anos de idade, a dois meses de completar 60 anos, o mais velho do grupo. Carlinhos Mourão, representante comercial, 55 anos e Marco Luiz (Lalá), também representante comercial, o mais novo, com 52 anos, ou seja, todos éramos “over 50”.
A decisão de realizar a viagem surgiu de repente, muito embora sonhássemos com ela já há algum tempo. Havia uma vontade muito grande de realizá-la de minha parte e do Carlinhos Mourão. Ambos gostávamos de Porto Seguro como um lugar especial para passar férias com a família. Montes Claros, por sua localização geográfica, tem facilidade de acesso ao Sul da Bahia, apesar das estradas nem sempre estarem em boas condições. Em sua maioria são pavimentadas, porém com trechos ainda de terra, quando se opta por passar pelo Vale do Jequitinhonha, região que apesar das adversidades e pobreza econômica é rica culturalmente e detentora de uma beleza muito peculiar. Ir a Porto Seguro de bicicleta significava um desafio às nossas idades e para a prática do nosso esporte, além de possibilitar um retorno àquela bela cidade turística.
Nos nossos encontros semanais de mountain bikes eu e o Carlinhos nos questionávamos sobre uma provável data, porém nunca definíamos e ficávamos apenas no desejo, no sonho, sem contudo concretizá-lo. Particularmente, considerava ser conveniente irmos com o mínimo de três ciclistas, por questões de logística, em caso de eventual necessidade. Já o Carlinhos na sua habitual empolgação, comentava: “vamos só nós dois mesmo Césão”, tipo assim, “já que ninguém mais topa, vamos só nós dois mesmo”. Num belo dia o Lalá comprou a ideia de ir conosco e, mais ainda, convidou-nos a marcar uma data. Eu, empolgado, comentei que não poderíamos perder a companhia dele e imediatamente marcamos: 22 de novembro de 2014, num sábado.
Tendo definida a data efetuamos um breve planejamento da viagem, sem muita complexidade: levantamos as distâncias e o perfil planialtimétrico dos trechos, através do site: www.cycleroute.org, muito útil para verificação do nível de dificuldade de cada trecho. O nosso planejamento, conforme anexamos mais adiante, previa a execução do percurso considerando duas alternativas: ir em seis ou oito dias, com um intervalo de descanso após o terceiro ou quarto dia, dependendo da opção escolhida. Durante o trajeto optamos pela execução em oito dias, porém não houve necessidade do intervalo de descanso mencionado. Essa alternativa previa uma média de cerca de 100km/dia. Na nossa opinião e face às nossas condições, nem pouco nem muito. O nosso propósito era tornar a viagem agradável, com um esforço físico relativo, porém sem a necessidade de muito desgaste físico. Sabemos que muitos vão num tempo inferior, porém esse não era o nosso propósito. Também optamos por não ter um carro de apoio. Preparamos as bikes com bagageiro (muito útil) e selecionamos aqueles itens essenciais: roupas de reposição, protetores solar, cereais, remédios, celulares, etc.
Parafraseando Luiz de Camões: ”Preparada a nau só nos restava singrar aos mares rumo ao Porto Seguro”.
Primeiro Dia: Montes Claros – Itacambira
Tudo pronto, partimos de Montes Claros rumo ao primeiro objetivo: Itacambira, ainda no Norte de Minas, localizada no sentido do Vale do Jequitinhonha.
Saímos às 03:00h da manhã. Como era esperado, Itacambira foi um dos trechos mais difíceis face à sua topografia (ver perfil acima): considerando o deslocamento urbano, foram 104,75 km.
Montes Claros fica a cerca de 630m de altitude ao nível do mar, já Itacambira está acima dos 1050m, com alternâncias de aclives e declives bastante acentuados, o pico máximo chega a 1365m, com dois subidões de “doer”. Excelente desafio para testar o nosso condicionamento já no primeiro dia.
Viagem agradável por uma região muito bonita, esforço físico considerável, porém compensado com banhos de rio e ajudados pela temperatura amena naquele dia. O fato pitoresco desse trecho foram as quedas do Carlinhos Mourão. Ele usava pela primeira vez pedais de encaixe e eventualmente esquecia que estava preso aos mesmos, foram várias quedas, felizmente sem maiores consequências.
Chegamos a Itacambira por volta das 16:20 horas, 8:36h efetivas de pedal (sem considerar as paradas), média de 12km/h. Agradecemos a Deus e a Nossa Senhora de Lourdes (gruta na chegada daquela cidade) e comemoramos com frango caipira, cerveja e aperitivo, com moderação. Aqui cabe uma ressalva: alguns podem estranhar o consumo de bebida alcoólica durante o percurso, incompatível com a prática de esportes, porém, quando nos propusemos a viajar de bicicleta o nosso propósito não era fazê-lo num ritmo de competição e preciosismo, onde devêssemos nos privar daquilo que fazíamos normalmente. Não obstante a entrega física, a viagem teria que ser agradável, é lógico, que, dentro de um nível de responsabilidade, para que não afetasse o nosso desempenho. Assim, sempre que chegávamos e cumpríamos um objetivo, a empolgação nos permitia degustar uma cervejinha e uns golinhos de cachaça, bem de leve. O Lalá, no segundo dia, chegou até a transportar um resto de pinga boa do Norte de Minas, obtida em Itacambira, preocupados que estávamos de não encontrar semelhante iguaria na próxima parada, hehe!
Segundo Dia – Percurso Itacambira – Caçaratiba – Posto do Vicente (BR-367)
Em Itacambira hospedamos na pensão da Dª Graça, uma simpática senhora que nos tratou muito bem, ofertou-nos quartos simples, porém limpos e aconchegantes, bem como nos preparou um belo jantar de comida caseira. Pela manhã tomamos café e seguimos rumo a Caçaratiba, um povoado que pertence a Turmalina. Saímos por volta das 07:00 horas, bastante animados e descansados. A exemplo do trecho anterior, este também seria difícil, tendo em vista cerca de 55 km de estradas de terra com subidões íngremes e mais 15km de asfalto até o objetivo final, o Posto do Vicente, já na BR-367, onde iríamos pernoitar. Uma particularidade é que fomos aconselhados a não transpô-lo à noite, ou seja, não poderíamos atrasar. Segundo o que nos foi informado, por se tratar de uma região de mineração eram frequentes assaltos por bandidos. Felizmente não tivemos problemas, apesar de lamentavelmente termos sido abordados em duas ocasiões por motoqueiros que nos questionaram se não teríamos drogas para fornecê-los, retrato triste de um país onde o consumo de drogas se alastra aos mais longínquos rincões, onde antes não se imaginava.
Apesar de nos exigir muito fisicamente foi bastante agradável fazê-lo. Região bonita cortada pelo rio Jequitinhonha e vários outros riachos. Um fato agradável foi o café que tomamos na Fazenda do Sr. Paulo Librelon, família que ficamos conhecendo no caminho, de certa forma ajudados pelo “espírito criativo” do Marco Lalá. Passando próximo à Fazenda avistou uma mangueira carregada. Solicitou à proprietária permissão para apanhar algumas mangas, alegando que estava até aquela hora sem tomar café (hehe!). A senhora não só nos ofertou mangas como nos preparou um belo café, com biscoitos caseiros e suco de manga, coisas da hospitalidade mineira. Seguimos em frente e chegamos a Caçaratiba por volta das 15:00h, bastante cansados. Mais uma vez prevaleceu o espírito hospitaleiro do povo norte mineiro. Fomos ao principal restaurante da cidade e àquela hora não dispunha mais de almoço completo, faltava ao prato principal, arroz. O proprietário solicitou que fosse providenciado um arroz fresquinho. Almoçamos satisfatoriamente e ainda, quando fomos pagar alegou que não iria cobrar a comida só as bebidas, não obstante a nossa insistência. Completamos o percurso e chegamos no início da noite ao Posto do Vicente, onde iríamos dormir. Não foi um percurso longo (69,8km) mas nos exigiu bastante, face ao trecho de terra.
Terceiro Dia – Trecho Posto do Vicente/Virgem da Lapa
Neste trecho, face às particularidades, podemos dizer que vivemos uma verdadeira saga. Foram cerca de 111,2 km (média de 14,2km/h) de pedal sofrido e a dificuldade foi devido ao fato de ter sido um dos trechos onde deparamos com chuvas torrenciais, que veio a cair justamente no trecho de terra, próximo ao município de Virgem da Lapa. As bicicletas, mesmo com redobrado esforço físico não conseguiam andar. As rodas atolavam no areal e lamaçal que se formou. Oh, sofrimento! Assim, tivemos que caminhar por cerca de seis quilômetros empurrando as bikes, com chuva caindo sobre nós, já no final da tarde, quase noite, roupas molhadas e o cansaço acumulado do percurso anterior se fazendo presente. Penso eu se tivéssemos um carro de apoio, com certeza teríamos todos optado por subir nele e completado o trecho de carro. Porém, acho que também não conseguiríamos, pois deparamos com vários carros atolados, parados sem poder ir em frente, nos dois sentidos. Daí vem-nos à mente o descaso das autoridades com os moradores locais, um pequeno trecho e sem asfalto. Felizmente, numa iniciativa de minha parte na fase de planejamento, elogiada pelos companheiros, tivemos a prevenção de embalar com sacos plásticos todas as nossas mochilas, o que nos permitiu dispor de roupas secas ao chegar ao Hotel, em Virgem da Lapa. O fato pitoresco deste trecho foi quando a chuva começou a “apertar” muito e tivemos que nos abrigar numa loja de produtos agrícolas, num povoado próximo ao município. O Lalá, mais uma vez, dando uma de “João sem braço” questionou ao proprietário se ali havia um lugar onde poderíamos comprar café já pronto. Este prontamente pediu a sua empregada para fazer. Assim, tomamos um café quentinho bem providencial, graças mais uma vez à “criatividade” do Lalá. Chegamos a Virgem da Lapa por volta das 20:30 horas da noite. Deus, na sua infinita grandeza, além de nos permitir chegar bem, em retribuição talvez ao sofrimento do percurso, permitiu-nos um bom Hotel e um ótimo restaurante, com ótima comida e cozinheira muito simpática, que nos atendeu muito bem. Degustamos talvez os melhores tira-gostos da viagem (peixe frito, dobradinha e fígado de boi acebolado, hehehe!). Isso tudo acompanhado de uma cervejinha e uma pinguinha, é claro, volto a repetir, com responsabilidade.
Quarto Trecho: Virgem da Lapa/Itinga
Quarto dia de pedal, agora o nosso objetivo era chegar a Itinga, no Vale do Jequitinhonha. Devido a necessidade do Carlinhos executar alguns serviços bancários em Virgem da Lapa, aproveitamos para descansar um pouco mais, uma vez que a jornada do dia anterior tinha sido pesada. Assim, saímos já um pouco tarde, por volta das 11:00 horas. Tão logo começamos a pedalar a chuva começou a cair e, embora abençoada, começou a nos incomodar, devido ao corpo ainda frio. Assim tivemos que nos abrigar até que ela amenizasse. Prosseguindo, no meio do caminho, antes de Araçuaí, fomos contatados pelo Chapinha, ciclista de Araçuaí, que nos interceptou de moto. Ele também tinha ido a Porto Seguro de bike, partindo de Araçuaí e tomou conhecimento da nossa passagem por Virgem da Lapa. Neste trecho foi bom ver mais uma vez uma placa indicando a distância até Porto Seguro. Toda vez que víamos uma placa destas aumentava a nossa motivação e renovávamos a nossa expectativa de alcançar o nosso destino final. Chegamos a Araçuaí por volta das 14:45h horas. Durante o almoço o Chapinha, juntamente com outros ciclistas de Araçuaí, apareceu para nos cumprimentar. Foi muito legal a confraternização e confortante saber que, embora distantes de casa, haviam pessoas que comungavam com o mesmo hobbie. Neste dia fiquei preocupado com um barulho no selim da bike e imaginei que caso o parafuso de sustentação quebrasse teria grandes dificuldades em prosseguir. Assim, procuramos uma loja de bicicleta. Não consegui um parafuso substituto, mas demos uma regulada e aproveitamos para melhorar a sinalização das bikes, tendo em vista que havia uma previsão de pedalarmos à noite e chegarmos tarde a Itinga. Sem “fazer o quilo” após o almoço partimos de Araçuaí por volta das 16:45 horas (tarde) e chegamos a Itinga às 20:45 horas da noite (84,17km, média 16,2km/h). Mais um dia cumprido. Felizes por termos chegado bem e alcançado quase metade do percurso. No dia seguinte partiríamos para Jequitinhonha, igualmente no Vale do Jequitinhonha e para mais um dia de aventura.
Quinto dia: Itinga/Jequitinhonha
Em Itinga hospedamos num hotel razoável e ainda tivemos ânimo para um “tour” por um restaurante local. Tomamos café pela manhã e iniciamos nossa jornada rumo a Jequitinhonha. A previsão era pedalar cerca de 100km, uma distância razoável não fosse o fato do sol naquele dia estar escaldante. Embora no início do trecho termos consumido bastante frutas, água de coco e tivéssemos tomado todas as precauções em relação ao consumo de isotônicos e abastecimento de água, não foi suficiente, eles logo acabaram. Para completar, no restante do trecho até Jequitinhonha a infraestrutura de postos de combustíveis ou até mesmo de uma simples vendinha pra comprar água era praticamente inexistente.
Assim, sentimos muito os efeitos do sol, o que tornou a viagem bastante sofrida, foi o único trecho onde pedimos água em fazendas em duas ocasiões. Mais ou menos no meio do caminho chegamos a uma “vendinha”, do Sr. Didi, pessoa humilde e boa daquela região. Não era uma vendinha do tipo padrão que conhecemos. Com o objetivo de talvez melhorar o orçamento, numa região pobre, afetada pela seca e precária em estabelecimentos comerciais, ele transformou a sua humilde casa em uma vendinha. Identificamos, devido a um cartaz de propaganda de refrigerante afixado na parede. Chegamos ao local e questionamos se havia ali água mineral ou refrigerante. Havia apenas uma lata de refrigerante gelado e algumas quentes. Dividimos a que estava gelada entre nós três. O Sr. Didi sugeriu que aguardássemos um pouco até que as outras ficassem geladas. Num gesto de boa vontade, típico de pessoas humildes e solidárias daquela região, deslocou-se até um vizinho próximo para ver se conseguia água ou refrigerantes gelados para nos atender (sem sucesso). Em determinado momento a sua esposa nos questionou se queríamos que fizesse café (agradecemos e dispensamos).
Após um bom papo (rimos bastante sobre o apoio deles a um político conhecido, de Montes Claros), tomamos mais alguns refrigerantes (que esfriaram um pouco nesse meio tempo) agradecemos, pagamos a conta e seguimos em frente. Detalhe, mesmo na pobreza aparente, o Sr. Didi não queria cobrar um pacote de bolachas consumido pelo Carlinhos (não concordamos), que, como sempre, andava com muita fome (hehehe!). Depois das dificuldades deste dia chegamos a Jequitinhonha à tardinha (17:40h): 101,25km rodados, média de 15,9km/h.
Sexto Dia: Jequitinhonha/Jacinto
Em Jequitinhonha tivemos um dos momentos que podemos chamar de “mordomia”, talvez para compensar o sufoco da viagem até então: hospedamos em um bom hotel e assim que chegamos fomos nos hidratar na piscina do hotel(providencial!). Combinamos com o garçom que a cada 30 minutos nos levasse uma latinha de cerveja à beira desta, até que pedíssemos para parar (hehehe!). Neste dia saímos à noite para encontrar um local apropriado para assistir à final da Copa do Brasil, jogo entre Cruzeiro e Atlético. Eu e o Carlinhos, cruzeirenses, e o Lalá atleticano, diga-se, um bom atleticano, pois apesar do resultado que lhe foi favorável, pegou leve na gozação (hehehe). Após Jequitinhonha a nossa expectativa só aumentava, pois sentíamos que a divisa entre os estados de Minas Gerais e Bahia se aproximava. No dia seguinte chegaríamos a Itagimirim e dali Porto Seguro, nosso objetivo final.
Saímos por volta das 8:25h de Jequitinhonha rumo a Jacinto, seriam cerca de 108 km e chegamos às 19:50h. Passando por Almenara foi providencial a parada no Ponto Comercial do Erinaldo, onde degustamos um delicioso açaí (nunca fui muito a fim, mas naquela ocasião pareceu ser a coisa mais maravilhosa do mundo, até hoje comentado pelo grupo, talvez devido ao estado de desidratação que nos encontrávamos) e tomamos um boa ducha natural. Almoçamos uma boa comida e mais uma vez sem “fazer o quilo” seguimos em frente. Neste percurso transitamos por um trecho de asfalto inacabado, diga-se, fruto do descaso do governo mineiro, que há muitos anos executou parte da obra e não concluiu.
Sétimo e penúltimo dia de viagem: Jacinto/Itagimirim
Se em Jequitinhonha tivemos uma certa mordomia, em Jacinto, ao contrário, tanto hotel, quanto restaurante eram muito precários. Saímos por volta de 7:40 horas de Jacinto rumo a Itagimirim, após um café da manhã muito simples. Iríamos enfrentar cerca de 50km de estrada de terra até o município de Salto da Divisa (na divisa dos estados) e depois mais 50 km de asfalto até Itagimirim, já na Bahia. Trecho difícil, sol quente, a altimetria indicava vários aclives após a divisa, sendo agravado pelo cansaço dos dias anteriores cada vez mais presente em todos nós.
Porém a expectativa de que Porto Seguro se encontrava cada vez mais próximo nos animava. Antes de Salto da Divisa encontramos uma lagoa e nos esbaldamos nela, para amenizar o calor e tentar combater a desidratação de nossos corpos (maravilha!). Chegamos a Salto da Divisa bastante cansados, muito desidratados ainda, ao ponto de eu não ter apetite para comer e só pensar em ingerir líquidos (faltou uma boa preparação/orientação nessa questão de perda de líquidos, ponto falho do planejamento). Em determinado momento uma senhora nos permitiu que deitássemos num reservado de sua sorveteria e ainda providenciou um ventilador para amenizar o calor (eta povo bom!).
Alcançamos a divisa dos estados por volta das 17 horas neste dia. Embora tivéssemos que pedalar ainda cerca de 35 km até Itagimirim ainda, era só alegria! Carlinhos a todo momento exclamava: estamos na Bahia Césão! Estamos na Bahia! Foi muito emocionante e de muita alegria para todos nós, tanto quanto a chegada a Porto Seguro. Um fato pitoresco deste trecho foi a quebra definitiva do bagageiro do Lalá, após a gambiarra que fizemos. O Carlinhos, cabe ressaltar, num gesto solidário e por dispor naquele momento de maior energia, dividiu o conteúdo do bagageiro com ele e com o próprio Lalá (gesto muito bonito, companheiro é companheiro!!!). A perspectiva era de chegarmos bem tarde a Itagimirim. No percurso, já noite, encaramos um subidão e paramos num lugarejo chamado “Mata-boi”, onde ingerimos cerca de 03 litros de refrigerantes, tamanha era a sede e a desidratação que nos encontrávamos. Enfim chegamos a Itagimirim às 18:50 horas da noite (total de 98,10km, média de 13,70km/h). No dia seguinte rumaríamos para Porto Seguro, oitavo e último dia de pedal (muito felizes!).
Oitavo e último dia de Pedal, rumo a Porto Seguro (Maravilha!)
Finalmente o último dia de viagem chegara, apesar do cansaço e de estarmos quase no nosso limite, a empolgação era total. Após um boa noite de sono em Itagimirim saímos pela manhã, por volta das 08:30 horas, mais um vez sem pressa e agora rumo ao objetivo final, Porto Seguro. Face ao estado de desidratação em que nos encontrávamos, logo no início ingerimos bastante suco e a cada possibilidade de ingestão de líquidos fazíamos. Placas indicando Porto Seguro apareciam por todos os lados (felicidade!).
Apesar de asfalto e região de trânsito intenso, a viagem foi tranquila, chegamos bem a Eunápolis e dali seguimos em frente rumo a Porto Seguro. No meio do caminho paramos para almoçar, eu como continuava sem apetite, comi apenas algumas panquecas e fomos adiante. Nesse trecho aconteceu o único furo de pneu durante toda a viagem (da minha bicicleta) e de acordo com a lei de Murph o pior também aconteceu, das três bombas existentes, nenhuma delas funcionou para encher uma câmara reserva (incrível!). Eu logo pensei, acabo de chegar empurrando a bike, mas não pego carona (faltavam uns 25km). A nossa sorte é que furou em frente a uma fazenda e o proprietário possuía bomba para nos emprestar.
Já a noitinha chegamos a Porto Seguro, por volta das 19:15 horas. Embora cansados ao extremo pelos vários dias de pedal a alegria foi contagiante e cada um comemorou à sua maneira, lembro do Carlinhos, por exemplo, pegando o celular e ligando para a família, estávamos de fato muito felizes, pois finalmente haviamos chegado! A expectativa de não alcançarmos o objetivo, findara! Foram oito dias de “entrega” total. Só quem viaja de bike consegue explicar: o “eu” próprio e o “tempo” deixam de ser importantes (inexistem) você apenas pensa em seguir adiante, vencer o próximo obstáculo e chegar.
Aproveito para agradecer a todos que torceram por nós, aos que nos contataram por telefone, pelas redes sociais, às nossas famílias que compreenderam o sentido do nosso objetivo e entenderam as nossas ausências por cerca de 10 dias. Agradecemos a Deus pela saúde, bem como às pessoas anonimas que nos cederam água e foram solidárias conosco durante o percurso, nos momentos em que mais precisávamos (show!). Um agradecimento especial aos companheiros Carlinhos Mourão e Lalá (grandes companheiros, em nenhum momento discordamos ou discutimos uns com os outros, prevaleceu a cooperação mutua, espetacular!) agradecer aos amigos pela receptividade e festa na chegada (também show). Enfim, foi maravilhoso, a única experiência que modestamente podemos passar é sugerir a cada um de vocês, que dê uma chance a si próprios de realizar algo parecido: de bike ou do jeito que melhor convierem……hehehe! Obrigado!
[Nota do blog:] se você vai pedalar pelas cidades desse roteiro, pode consultar campings, hostels, pousadas e hotéis nos links abaixo:
Dicas de Hospedagem nesse Roteiro
Você pode reservar hotéis, pousadas, hostels e até casas de hóspedes através do Booking.com. Assim terá muitas opções para comparar e escolher a que vai te atender da melhor forma.
Olá José Cézar! Encontrei o relato da cicloviagem que vocês fizeram até Porto Seguro-BA, Fiquei admirado com a determinação e também com o planejamento de vocês. Somos conterrâneos, pois sou de Montes Claros, mas atualmente moro em Luiz Eduardo Magalhães-BA. Aqui sempre faço pequenas viagens ! e sou um amante do cicloturismo. Um grande abraço e otimas pedaladas pra vocês. E quando tiverem dúvidas se devem ou não viajar com as bikes, subam nela e pedalem, não existe coisa melhor. Abraços
Fantástico Cezão, Mourão e Lalá!!!
É um privilégio ter vocês como amigos e companheiros de pedal. Exemplo de amizade, companheirismos e determinação. Não esperava nada de diferente de vocês. O mérito é todo de vocês e de mais ninguém. Vitória e conquista para ser guardada para sempre na mente e no coração. E que venha outras mais…
Um grande abraço
Tallys Couto
Caro amigo.
Parabéns pelo seu magnifico relato, li com bastante afinco e atenção, e em alguns momentos, fiquei apreensivo pelos obstáculos e vibrei de alegria pelas vitórias.
Também tenho este sonho de um dia viajar de bike com amigos, quem sabe entre no bando com vcs.
Sucesso a todos da equipe, e que vocês continuem sonhando e superando suas proprias vidas sempre.
Deus abençoe.
Eduardo Soares
Muito bom, pessoal!
Estou desenhando uma viagem com minha esposa, saindo de Almenara e descendo o vale do Jequitinhonha até a foz em Belmonte. De lá seguir até Porto Seguro.
Em breve, quem sabe, aparece o relato por aqui 🙂
Bacana demais
Parabéns
Amizade , aventura e muito pedal
Parabéns… adorei as fotos… o relato.. tudo de bom!!! cicloabraços
Uma verdadeira saga que mostra a todos nós até onde a determinação pode nos levar, independente da idade.
Caro, li todo o relato com muita atenção e alegria. Já senti quase o mesmo na pele em um cicloturismo Salvador – Itacaré. Foi emocionante, assim como vejo que foi para vocês também. Um abraço.
Caro primo Dedé (José Cesar),
Li o seu relato sobre essa aventura fantástica. Realmente, incrível. Eu, também, pedalo. Mas, o meu maior percurso foi de 72 km (Moc a Capitão Enéas pela estrada da produção). Atualmente pedalo 25 km, três vezes por semana.
É preciso ter muito preparo físico e psicológico para enfrentar uma maratona dessas. Não é para qualquer um. Parabéns a você e seus colegas de viagem.
Grande abraço.
Cezar (filho de Dala)
Excelente relato, rico em detalhes e recheado de boas fotos. Que aventura! E a hospitalidade do povo mineiro, tão aclamada e conhecida por todo o país, pôde ser comprovada várias vezes. Parabéns ao grupo pela coragem e pela disposição. Também sou de Montes Claros e praticante de MTB.
Caros, vocês realizaram algo que sempre sonhei em fazer, em 2014 tentei realizar essa façanha. Sai sozinho de Montes Claros, as 18:00 da noite, sentido Francisco Sá, passei a noite pedalando, chegando perto de Salinas, desisti, pois o fluxo de caminhões era absurdo… muito perigosa a estrada Salinas… Vendo seu relato, me deu forças para tentar novamente, irei planejar melhor a pedalada. Abraços…
Caracas jará, fiquei com inveja de voces, mas, aqui pra nós, não tenho mais idade de fazer uma loucura dessas, então prefiro ir aquele paraíso com minha bike (nave espacial) FOX
mas, porém, contudo, todavia, entretanto,no entanto, ainda sonho, nesta geração? de acompanhar a galera voando com meu velho fox ok?
Seu jará José César