Apresentações de “shows de samba” durante provas de Granfondo na Itália expõem imagem estereotipada e preconceituosa da mulher e da cultura brasileira. Não está na hora do esporte evoluir?
Nessa semana fui tomado de surpresa por uma situação chata dentro do esporte que tanto amo. Algumas importantes provas de Granfondo na Itália tem incorporado “shows folclóricos” de samba na organização das suas provas.
Isso pode ser constatado em provas como o Granfondo Squali – do qual já tive a oportunidade de participar – e também o Granfondo Nove Colli, uma das mais tradicionais provas que neste ano contou com a participação de cerca de 12 mil ciclistas.
O assunto foi trazido a discussão por minha amiga Cecília Rocha Mendes, proprietária da Italy Bike Tour, que é responsável por levar inúmeros ciclistas brasileiros para as provas de granfondo na Itália. A discussão já começa a ganhar alguns veículos de comunicação da do país, como a revista InBici.
Apresento o assunto também aos ciclistas brasileiros, pois na minha opinião é algo relevante e que está diretamente ligado à nossa imagem no mundo.
A cultura de Granfondos na Italia
Os Granfondos são um dos pontos fortes da cultura do ciclismo na Itália. Conectam os milhares de amadores e profissionais em torno desse esporte que é um dos símbolos da identidade nacional do Italiano. Mais do que isso, suas provas atraem milhares de turistas de todo o mundo durante a temporada de corridas.
Com isso as provas de Granfondo na Itália tem um importante papel econômico: movimentam o turismo e o esporte; envolvem muitos patrocinadores e dinheiro; oferecem aos participantes não só uma experiência esportiva como também serviços, confraternização e entretenimento.
Por todo esse valor, os ciclistas brasileiros tem cada vez mais procurado provas de Granfondo na Itália, aliando a experiência esportiva de desempenho ao turismo.
O caso em discussão: qual (NÃO) deve ser a visão de entretenimento de um Granfondo?
Por tudo que foi exposto sabemos da importância do Granfondo e do entretenimento para os ciclistas que participam de uma prova.
Mas longe de qualquer falso moralismo deixo a pergunta: qual é o sentido e o significado de uma apresentação dessas em uma prova de ciclismo?
Vivenciar o samba e sua rica cultura no contexto do Carnaval é uma coisa. Mas e no contexto esportivo? Alguém que olha essas imagens realmente acha que o sentido dessas apresentações é divulgar a cultura brasileira na Itália?
Cecília ainda levanta outros pontos importantes:
- As apresentações são pouco respeitosas com as mulheres e com os ciclistas brasileiros que participam das provas.
- Não existe nada de característico na rica cultura italiana para ser mostrado aos estrangeiros?
Ponto final: pela evolução do ciclismo
Não podemos mais andar na contramão de tudo que vem acontecendo no mundo. O ciclismo – sempre caracterizado por um esporte majoritariamente masculino – deve evoluir. Deve compreender que não cabem mais atitudes sexistas e preconceituosas no esporte.
Que o Granfondo Italiano possa fazer essa correção de rumos e continuar reinando com o exemplo de amor, dedicação e respeito às pessoas e ao esporte.