Por Jeanne Braga
1º. Dia – Saint Jean Pied de Port a Roncesvalles
36 km – Ascendência 920 m – Saída 12:20 – Chegada 15:40
Nosso caminho começou em Saint Jean Pied de Port, ponto de partida preferido de quem faz o Caminho Francês. Saint Jean é uma charmosa cidadezinha que foi reerguida após ter sido destruída pelo exército do rei Ricardo Coração de Leão. Lá ainda está a muralha que cercava as antigas cidades medievais. Próximo à fronteira da Espanha, a cidade fica aos pés dos Pirineus, cadeia de montanhas e principal obstáculo daquele primeiro dia de pedal.
As vieiras são um símbolo do caminho. Diz a lenda que chove muito no caminho e no passado os peregrinos se cobriam de vieiras para se proteger. Elas estão por todo o caminho nos indicando a direção correta.
Subimos os Pirineus devagar enquanto apreciávamos a paisagem de montanha e floresta. Ao final da subida, já na Espanha, descemos para Roncesvalles onde passamos a primeira noite.
Nosso plano era dormir em Espinal. No entanto, Roncesvalles é um lugar é tão interessante que resolvemos ficar. Lá assistimos uma missa celebrada em latim, ao som de belíssimos cânticos gregorianos. Foi um mo-mento inesquecível. No início da missa os sacerdotes citaram o número de pessoas e nacionalidade, dos que estavam ali a caminho de Santiago. Ficamos orgulhosos por sermos nós naquele dia representando o Brasil. Ao final da missa recebemos uma benção e depois fomos jantar.
2º. Dia – Roncesvalles a Puente La Reina
2º. dia – 66 km – Ascendência 898 m – Saída 9:20 – Chegada 17:00
A igreja Colegiada da Santa Maria de Roncesvalles é um conjunto de construções antigas, próximo à Burgete. Nos hospedamos no confortável hotel administrado pela igreja. O antigo prédio foi reformado e teve suas instalações modernizadas conservando na parte externa a sua linha original. A história do local é marcada pela batalha do ano 778, na qual o exército de Carlos Magno, em campanha no território espanhol, foi derrotado.
O pedal deste dia foi longo com belos trechos de single track dentro das matas. Depois de passarmos por Pamplona subimos o Alto do Perdão, um morro onde no topo encontram-se grandes esculturas em chapa de aço em referência aos peregrinos. De lá descemos até Puente la Reina. No fim deste dia já eram visíveis as mudança no relevo e na vegetação.
Todas as pessoas com as quais cruzávamos nos cumprimentavam desejando ‘buen camino’.
3º. Dia – Puente La Reina a Viana
62 km – Ascendência 1005 m – Saída 9:20 – Chegada 15:30
Puente la Reina ou Ponte da Rainha é uma cidade que homenageia Dona Mayor, esposa do Rei Sancho III, que mandou construir a linda ponte em arcos sobre o Rio Arga para a passagem dos peregrinos. A cidade é a primeira após o encontro dos caminhos Francês e Aragonês.
O pedal seguiu passando por vinhedos e pequenas e belas cidades como Cirauqui e Los Arcos onde fizemos estratégicas paradas para lanches e fotos. Chegamos bem em Viana onde pela primeira vez comemoramos, na praça, o fim do pedal com cerveja, gesto que repetiríamos até Santiago de Compostela.
4º. Dia – Viana a Santo Domingo de la Calzada
59 km – Ascendência 1250 m – Saída 9:50 – Chegada 16:10
A cidade de Viana foi fundada no século XI e como uma cidade medieval conserva suas muralhas e seu centro antigo por onde se pode passear e apreciar a arquitetura de forte influência gótica. Na Praça Coso sentimos o ritmo da cidade com a presença das pessoas locais e suas famílias que descontraídas curtiam o fim de tarde.
Pela manhã aprontamos e seguimos para nosso quarto dia de pedal. Pelo caminho passamos por Logroño, uma bela cidade com muitas praças, parques e sua ponte em arcos, Navarrete e Nájera. À tarde chegamos a Santo Domingo de la Calzada cidade da curiosa lenda do galo que cantou depois de morto. Após o jantar, assistimos a apresentação de um coral na Catedral.
5º. Dia – Santo Domingo de la Calzada a Burgos
74 km – Ascendência 900 m – Saída 8:50 – Chegada 16:10
Santo Domingo de la Calzada é parada obrigatória no Caminho de Santiago. A cidade recebeu o nome do Santo, pois este construiu pontes e estradas calçadas para ajudar a peregrinação dos que por ali passavam. A cidade preserva em seu centro antigo belas construções seculares. Os milagres realizados pelo Santo são recordados nas esculturas em seu túmulo na Catedral, onde há um galinheiro com um galo e uma galinha, vivos, recordando um dos seus milagres mais famosos.
6º. Dia – Burgos a Catrojeriz
39 km – Ascendência 280 m – Saída 13:10 – Chegada 15:50
A magnífica Catedral de Burgos, dedicada à Virgem Maria, é o principal cartão postal da cidade. Lá está o corpo de Rodrigo Diaz de Bivar, conhecido como El Cid, lendário cavaleiro que lutou pela reunificação da Espanha.
Já na Idade Média, Burgos era uma cidade importante por estar na rota dos caminhos ao norte da Espanha. Hoje é um centro cultural, cidade ativa e cercada por indústrias. No centro da cidade passeios largos às margens do rio de água claras.
A partir de Burgos, e pelos próximos dias, o pedal seguiria por trechos muito áridos numa região pouco ha-bitada. As casas de pedras e a cor de terra caracterizam os pequenos povoados por onde passamos. Che-gamos em Castrojeriz, ou Bedrock como a chamamos. Jantamos ao ar livre acompanhado de vinho e curtindo um belo fim de tarde.
7º. Dia – Catrojeriz a Sahagun
79 km – Saída 8:30 – Chegada 16:00
Datado da Idade do Bronze, Castrojeriz é um pequeno povoado com construções rústicas de pedras ao pé de um morro onde no alto ergue-se um castelo que de muito longe pode ser visto. Devido sua longa história, o povoado foi ocupado por conquistadores em diversas épocas, romanos, árabes, até ser reconquistado pelos cristãos. Em Castrojeriz percebemos que quanto menor a cidade melhor a recepção, estávamos muito à vontade circulando pela cidade onde parece que o tempo parou.
Naquele dia começamos a pedalar com o nascer dos primeiros raios de sol. Logo à frente uma longa subida nos desafiava. Seguimos pedalando numa paisagem de uma só cor passando por pequenos povoados em-poeirados e suas ruas de pedras até chegarmos a Sahagun.
8º. Dia – Sahagun a Leon
55 km – Saída 8:55 – Chegada 13:00
Sahagun é uma pequena localidade na zona rural de Leon. A fundação da cidade, no Caminho de Santiago, está ligada a motivos religiosos. Dentre suas mais antigas e importantes construções estão igrejas, conventos e monastérios. O arco no centro da cidade é o que restou da abadia de San Benito de Sahagun. Hoje transformado num pórtico, o arco era a entrada sul da Basílica.
Pela manhã iniciamos o ritual a que já estávamos acostumados, pegamos nossas bikes e seguimos para mais um dia de peregrinação. Passamos por lugares interessantes como Mansilla de las Mulas e ao final da tarde chegamos na bela cidade de Leon com suas praças e cafés com mesas nas calçadas.
9º. Dia – Leon a Rabanal del Camino
73 km – Ascendência 460 m – Saída 8:30 – Chegada 15:30
A cidade de Leon teve sua origem nos acampamentos das legiões romanas em suas incursões através da Península Ibérica. Leon hoje é um rico polo econômico, uma cidade bonita com seu centro histórico preservado, ruas fechadas em passeios públicos onde as pessoas transitam entre construções antigas e modernas.
Pela primeira vez, desde o começo do caminho, iniciamos o pedal sob uma chuva fina e muito frio. Neste dia passamos por algumas das mais belas cidadezinhas com suas ruas de pedras como Hospital de Órbigo e Santa Catalina de Somoza, até chegarmos a Rabanal del Camino, onde tivemos mais um jantar regado a vinho e com direito a música celta, ao vivo.
10º. Dia – Rabanal del Camino a Vega de Valcarce
74 km – Saída 9:15 – Chegada 18:00
As construções feitas de pedras, incluindo os telhados das casas, fazem de Rabanal del Camino um exemplo da arquitetura maragata. No passado o local era de grande interesse romano devido a exploração de ouro. Ainda hoje se vê vestígios das minas romanas. Atualmente a aldeia vive do turismo e do artesanato.
Naquele dia começamos o pedal bem cedo, tínhamos que vencer a subida do morro da Cruz de Ferro. Na descida passamos por lugares de incrível beleza como El Acebo, Molinaseca e Ponferrada.
Num dos dias mais longos de pedal, passamos por Villafranca del Bierzo e finalmente chegamos em Vega de Valcarce, quando a temperatura já começava a cair.
11º. Dia – Vega de Valcarce a Sarria
50 km – Saída 9:45 – Chegada 17:00
Vega de Valcarce é um pequeno vilarejo num vale cortado por um riacho de água transparente. O local foi escolhido para pernoitarmos por estar na base do Cebreiro, o último grande obstáculo até Santiago.
Iniciamos nossa subida ao Cebreiro pela manhã com uma temperatura agradável. No alto da montanha uma pequena capela e vestígios da cultura celta que ocupou aquele local em outros tempos. Pedalamos no topo por alguns quilometros até iniciarmos um longo trecho de descida até Triacastela. Após uma breve pausa para lanche, seguimos direto para Sarria, já na Galícia. Famosa por seus frutos do mar, experimentamos o pulpo (polvo) marinado.
12º. Sarria a Melide
52 km – Saída 9:00 – Chegada 14:30
Fundada por Alfonso IX com o nome de Villanova de Sarria a cidade se desenvolveu às margens do Rio Sarria. Algumas de suas atrações são o Castelo de Sarria, que atualmente em ruínas só se pode ver a torre e o Mosteiro de Maria Madalena, construído no século XIII. O relevo e a paisagem estavam novamente modifi-cados.
Neste dia pedalamos por propriedades rurais onde predominam pequenos pecuaristas. Com uma vegetação densa, passamos por longos trechos de florestas e single track com belas descidas por entre as matas. Se-guimos sem pressa até Melide já pensando no fim da nossa peregrinação. À noite jantamos frutos do mar e vinho e nos preparamos para o último dia de pedal.
13º. Dia – Melide a Santiago de Compostela
52 km – Saída 9:15 – Chegada 16:00
A recente história da cidade de Melide desenvolve em torno da agricultura, indústria e exploração mineral. A cidade é um pequeno polo econômico da Galícia.
Em nosso último dia de pedal curtimos cada momento sabendo que a jornada terminaria. Passamos por pequenas vilas e cidades galegas onde tipicamente a criação de gado é uma das principais atividades eco-nômicas. Seguimos rumo ao nosso destino. Na tarde do décimo terceiro dia de pedal entramos na Praça do Obradoiro e em frente à Catedral de Santiago de Compostela agradecemos pelo sucesso da jornada. Foi uma sensação especial de realização e espiritualidade. Ultréya!
Buen Camino!
Para ver os vídeos dessa viagem, clique aqui
[Nota do blog:] se você vai pedalar pelo Caminho da Santiago de Compostela, pode conferir uma lista de albergues e campings aqui.
Dicas de Hospedagem nesse Roteiro
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Vamos la Eduardo!! Esta bolsa é sua!!
Viagem fantastica, paisagens maravilhosas. Todos deveriam fazer.
Fantástica a viagem!! Parabéns a essa turma animada!! Tem que gostar muito de pedalar para encarar tantos dias!!!
Gostei muito dos relatos e das fotografias. Estao otimas. Parabens.
fantástica viagem! o sonho de todos que pedalamos é fazer algo parecido em um lugar tão espetacular quanto!
congratulations dear friends!
Uma pedal pra guardar para sempre num lugar especial. Uma experiência e tanto.
Jeanne,
Adorei o relato! Essa é uma viagem para a alma! Parabéns!
Que bom que vcs gostaram! Pena que os vídeos do podem ser vistos no computador. Vou verificar como fazer para ver do smart Phone. Obrigada a todos!
Jeanne,
A viagem foi fantástica! Uma mistura perfeita de cultura, natureza, esporte e fé. Parabéns a vocês e obrigada por compartilhar esses momentos!
Jeanne, mais uma vez obrigada pela oportunidade de viajar no seu pedal!adorei! beijinhos…
Jacque, vamos pedalar também!
Jacque, vamos pedalar também!
Jacque, vem pedalar conosco!
Oi gente, que demais! Também somos um grupo e já estamos nos preparando para percorrer o caminho em setembro/2016. No facebook somos Bicigrinas de Compostela.
Parabéns pelo post e pelas fotos.
Muito legal. Você tem alguma publicação com os detalhes (planejamento, trechos aéreos, mapas, roteiro, pontos de interesse a serem visitados, etc) dessa viagem? Se tiver, por favor me indique onde posso encontrar, pois estou me preparando para fazer esse roteiro de bike.
Adorei!
Aprendi a pedalar agora e tenho como meta um passeio deste!