Bons Ventos: um processo de auto-convencimento!

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Texto e ilustração: Humberto Brito

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* Esse é o segundo texto das aventuras de Zeca, ciclista urbano recém chegado às ruas, personagem das crônicas do colunista Humberto Brito. Para acompanhar os outros textos, clique aqui.

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Bons Ventos: um processo de auto-convencimento!

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Zeca já tinha decidido adotar a bicicleta como transporte diário para o trabalho, mesmo com tantas dúvidas. Saiu à compra de sua bicicleta e depois de umas vinte horas de pesquisa na internet e consultoria de vendedores opta por uma bicicleta híbrida, urbana, que não chama muito a atenção e um pouco mais barata. Já que é uma experiência e como todas, pode ser interrompida por várias questões.

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A compra da bicicleta não necessariamente marca a transição. À medida que se afasta a possibilidade de não ter uma bicicleta como desculpa para já não estar indo e vindo sobre pedais, apresentam-se novas dificuldades. O trajeto não é só o trabalho e a viagem tem que necessariamente incluir o terceiro turno, a faculdade. Como bom brasileiro prevenido, talvez isso seja uma contradição, faz-se uma pesquisa de possibilidade de guarda da bicicleta nos locais de parada. No trabalho, bicicletário previsto e pouco usado. Na faculdade, permissão para estacionar a bicicleta no estacionamento dos professores, interno e vigiado.

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Parece que os problemas estão selecionados, mas cabe uma reflexão. O bicicletário, quando existe, dá sempre a impressão de ser algum arremedo para se livrar da insistência de algum bicho-grilo, ecochato ou biodesagradável que inventa essa coisa de andar de bicicleta só para tirar o sossego da administração predial. Não haveria no mundo um projeto de bicicletário que não amontoasse umas bicicletas nas outras e fizesse despencar tudo justamente na sua? Zeca se lembra de que as empresas, em Amsterdã, possuem gaiolas individuais para a bicicleta, de uso coletivo, com o cadeado pessoal, que tamanha a segurança, é raramente usado.

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Nós precisamos nos dedicar a valorizar mais a opção saudável e sustentável de alguns colegas. Precisamos nos dedicar mais para resolver o problema coletivo, mas isso é um assunto profundo, pensa Zeca.

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O fato é que não a desculpa do local para guardar a bicicleta foi superado. Zeca criou outra. A segurança do ciclista no trânsito é desprezível, ou seja, tende a zero. Isso é uma bomba em cima da idéia de Zeca. Reflexivo, Zeca começa a pensar nas possibilidades de caminho, menos movimentadas, as travessias e chega em casa, liga a televisão já tarde da noite, para ouvir um punhado de notícias antes de dormir. Noticiário para Zeca é um vício. Ironia do destino, no último bloco de um jornal é exibida uma matéria do ganho que as ciclovias estão proporcionando aos ciclistas urbanos.

Um processo de auto-convencimento

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Zeca para. assiste e pensa que se um morador de uma cidade satélite de Brasília, que é distante do centro, roda vinte quilômetros diários para vir trabalhar e mais vinte para voltar para casa e elogia que agora tem ciclovia por todos os lugares, porque ele acha que não é possível para ele fazer três? Essa pergunta ecoa até o próximo sábado, quando Zeca vai buscar a bicicleta na loja. Voltando para casa pensa em fazer simulações de caminho, no final de semana, para quando começar, ter mais segurança.

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Zeca se vê enrolado, pela falta de desculpas para não começar. Mal sabe ele que mesmo inconsciente, ele ainda procura outras desculpas.

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Encontrará? Conto nos próximos capítulos.

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* Esse é o segundo texto das aventuras de Zeca, ciclista urbano recém chegado às ruas, personagem das crônicas do colunista Humberto Brito. Para acompanhar os outros textos, clique aqui.

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