Por Carlos Eduardo de Carvalho Filho
Viajar de bicicleta é sempre transformador. Saber que somente com seu esforço físico e mental você é capaz de cruzar não apenas cidades, mas países e até mesmo continentes é uma lição pessoal e para as pessoas com quem você cruza nos caminhos. É um estímulo enorme para que todos possamos romper nossos limites.
Escolhi essa foto pois quando decidi cruzar a Cordilheira dos Andes, de Mendoza a Valparaíso, fui considerado louco e inconsequente por muitas pessoas com quem trabalho e convivo. Acreditavam que fazer tal trajeto era muito perigoso, desgastante e alguns até o consideravam impossível. Após algumas conversas, eu e meu companheiro de aventura, Giuliano, decidimos partir de Mendoza, Argentina caminho à Valparaíso, Chile. Dessa maneira subiríamos 3100 metros pelo lado argentino que é mais longo e menos íngreme e evitaríamos subir os temidos Caracoles.
Pedalamos dois dias até chegar ao topo, encontramos muitas pessoas fazendo o mesmo trajeto e isso era uma fonte de motivação para continuarmos. Encontramos inclusive um senhor de 63 anos que faz esse percurso todos os anos, dessa vez acompanhado de seu sobrinho e três americanos que tinham saído do Alasca e iam em direção à Ushuaia, na Terra do Fogo. Esses encontros foram ampliando nossa noção de impossível e eu imaginava a reação de cada um daqueles que viam tanta dificuldade na minha viagem ao escutar esses relatos de superação.
Minutos após fazer essa foto, descendo os Caracoles, avistamos no acostamento do outro lado da pista duas bicicletas paradas e decidimos parar para conversar com esses ciclistas. Um deles puxava um pequeno reboque e fiquei muito impressionado com o fato dele estar subindo os Caracoles com tanto peso, porém o maior ensinamento de toda a viagem, e porque não dizer, da minha vida, foi descobrir o segundo ciclista. A bicicleta dele era reclinada, o que já apresenta maior dificuldade e resistência em trechos de subida, à medida que me aproximava percebia que não era uma simples bicicleta reclinada. Aquele homem beirando seus 50 anos de idade, tinha as pernas atrofiadas; muitos o considerariam incapaz de usar uma bicicleta. Com sua bicicleta adaptada, ele vinha pedalando com as mãos pelo caminho que no auge da minha forma física eu não tive coragem de fazer.
Lágrimas escorreram no meu rosto e aqueles cinco minutos parados no acostamento tiveram o poder de me ensinar a maior lição da minha vida; limites são como horizontes, enquanto alguns os vêem como barreiras, outros, como caminhos. Quanto maior sua determinação, mais ele se amplia e mais belas as paisagens que você vê.
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