Adoro mostrar aqui no Até Onde Deu pra Ir de Bicicleta as histórias, causos e projetos dos nossos leitores com as bicicletas. Hoje apresento a vocês a Bike Carruagem Alice, projeto lindo feito pelo Luciano Zandavalli, de Florianópolis.
Ele conta que a ideia de transformar uma bike de carga em uma carruagem surgiu quando sua filha Alice ficou grande para a sua bicicleta anterior, a Ventania (outro lindo projeto que já mostramos aqui neste post).
Confira as belíssimas fotos dessa bike, e logo abaixo os detalhes do projeto:
– bicicleta de carga houston
– banco dianteiro estilo banco de fusca/kombi antiga
– cinto de segurança traseiro de celta
– os apoios de braço são a garupa da bicicleta, que cortei ao meio.
– punhos costurados a mão
– selim confort maior de molas e recapado com curvin
– paralamas recapados com curvin (não é pintado, foi todo reencapado colando em etapas para não ficar enrugado. Segundo o Luciano, levou mais tempo fazer os paralamas que costurar o selim!)
– pedais e campainha retrô
– todos os parafusos e porcas são de aço inoxidável e cabeça Allen
– e a cereja é o farol dourado de led, que foi preciso ser “remontado” para que ficasse preso ao contrário
Luciano diz que transforma bicicletas por hobby, e que além da Alice e da Ventania, já executou outros dois projetos: uma Caloi Ceci 77 estilo retrô e uma Caloi Ceci 81 estilo new vintage. Quem sabe em breve elas não aparecem aqui no Até Onde Deu pra Ir de Bicicleta!
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E se você tem algum projeto ou história legal com a bicicleta e quer ver ele publicado aqui no blog, conheça nossa seção Até onde você Foi
Renata Aiala conta sua experiência em pedalar na Massa Crítica de Roma que ocorreu em julho de 2015 e narra um pouco da história do movimento pro-bike na capital italiana.
Por Renata Aiala
Temos o hábito de comparar o Brasil com os Estados Unidos e com a Europa em diversos aspectos, dentre os quais a mobilidade urbana, assunto muito em voga ultimamente. Quem viaja pela Europa, com olhar atento, percebe claramente que não há uma homogeneidade quando se trata de mobilidade urbana. Experienciei diversidades, particularidades, níveis e nuanças na utilização da bicicleta e de outros meios de transporte. Aprendi que em Amsterdam (Holanda), em Copenhague (Dinamarca) e em Bremen (Alemanha), por exemplo, há um excelente sistema de transporte público e uma estrutura cicloviária invejável. Paris (França), por sua vez, tem investido cada vez mais em políticas públicas para incentivar o uso da bicicleta. Mas, engana-se quem pensa que todo o velho continente é assim.
Roma é uma cidade linda, com suas construções em tons de terracota e suas ruinas milenares que contam a história da nossa civilização. Mas o trânsito…! Ah! Faz jus ao estereótipo: é um caos. É visível que a prefeitura de Roma não tem colocado em prática políticas públicas significativas em favor da mobilidade urbana sustentável. Soube que há um grande número de acidentes fatais envolvendo pedestres, ciclistas e motociclistas anualmente. Não se percebe sinais de investimentos para melhorar a estrutura viária da cidade. Roma conta com aproximadamente 3 milhões de habitantes e possui apenas cerca de 200 km de ciclovias. Ao fazer uma pesquisa, aprendi que os italianos (66%) e os romanos (71%) usam diariamente o carro particular como meio de transporte para executar suas tarefas cotidianas. Na Itália em geral, apenas 13% da população usa o transporte público, enquanto que em Roma esse número sobe para 21%¹ (1 C.f. http://www.slideshare.net/svenjagolombek1/sustainable-mobility-and-the-role-of-cycling-rome-italy).
Engarrafamento em Roma. Fonte: http://yogui.co/10-cidades-com-maior-numero-de-engarrafamentos-mundo/
Apesar dessa estatística surpreendente e alarmante, o número de ciclistas tem aumentado consideravelmente em Roma. Nessa mesma pesquisa, aprendi que 73% dos entrevistados simpatizam pelo uso da bicicleta como meio de transporte e optariam pelo modal caso fosse mais seguro e houvesse uma melhor estrutura para acolhe-los. Percebi que, diferentemente de Amsterdam, Copenhague, Bremen e até mesmo de Paris, em Roma há ainda muito o que ser feito. Ao visitar Roma, tive a felicidade de conhecer muitos ciclistas engajados, que lutam por uma cidade mais humana e sustentável.
Segundo alguns participantes da Massa Crítica desde seus primórdios, Roma conta com uma contracultura forte e com grupos cada vez maiores propostos a lutar em prol da bicicleta. É sabido que, onde há mais opressão, o movimento de resistência e reivindicação é maior. Em Roma, há grupos como a Pedalata de la luna e a Critical Mass Rome (como eles chamam), que existe há aproximadamente doze anos. Como na maior parte do planeta, ela ocorre na última sexta-feira de cada mês. Paris é uma exceção, já que a Vélorution acontece no primeiro sábado de cada mês. Para aqueles que ainda não conhecem, a Massa Crítica é um evento cujos “principais objetivos são divulgar a bicicleta como um meio de transporte, criar condições favoráveis para o uso deste veículo e tornar mais ecológicos e sustentáveis os sistemas de transporte de pessoas, principalmente no meio urbano.”² [² https://pt.wikipedia.org/wiki/Massa_Cr%C3%ADtica_(evento)]
Tive o prazer de participar da Critical Mass em Roma no dia 31 de julho de 2015. Estava super ansiosa para conhecer de perto o evento. Como havia alugado uma bicicleta de um vizinho de uma amiga italiana alguns dias antes para rodar e explorar bem a cidade, seus pontos turísticos e suas ruelas, já estava preparada para pedalar na Massa. Eram 19 horas e o sol de verão ainda estava alto no céu. Quando chegamos na Piazza Vitorio – ponto de encontro da Critical Mass –muita gente já estava alí reunida. Cumprimentei os amigos que já conhecia e fui apresentada a outros tantos. O ambiente era bastante descontraído e alegre, talvez contagiado também pelo belo pôr-do-sol próprio do verão. As pessoas bebiam (cerveja gelada e água), visto que o calor estava demais, fumavam (cigarro e canabis) tranquilamente. Cada qual arrumava sua bandeira com dizeres engajados nas hastes acopladas às bikes. Através de uma poderosa caixa de som instalada em uma das bicicletas, ouvíamos excelentes músicas que animavam ainda mais a galera. Nos sentíamos felizes, nos abraçávamos, sorríamos e atualizávamos as novidades das férias de verão. Éramos cerca de 100 ciclistas na piazza.
Massa Crítica de Roma. Piazza Vitorio (Foto Renata Aiala)
Às 19:30hs fomos ao encontro de um outro grupo também engajado nas questões relativas à mobilidade – Pedalata de la luna –, que nos esperava na Piazza del Popolo. Ficamos ali mais alguns minutos. Estava extasiada com o enorme número de ciclistas – mais de 150 estavam nos esperando. Durante a pedalada, mais gente se juntou ao grupo. A diversidade de pessoas, bicicletas, estilos, idades me impressionava. Havia um número considerável de crianças, adolescentes e idosos. Alguns patinadores também nos acompanharam por um longo momento. Havia até cachorro acompanhando seu dono ciclista, e não era apenas um… Foi com grande satisfação que percebi que essa grande massa de ciclistas é heterogênea, composta por pessoas que convivem harmoniosamente, respeitando as diferenças. Ninguém se incomodava com modelo/valor da bicicleta do outro, com o que o outro estava vestindo, se o outro estava usando capacete ou não, respeitando mutuamente os estilos. Estávamos todos ali para um único maior e mais nobre: reivindicarmos juntos uma cidade mais humana e acolhedora.
Massa Crítica de Roma. Piazza del Popolo (Foto Renata Aiala)
Seguimos festejando e pedalando devagar pelas maravilhosas ruas de Roma. Com a noite, veio o frescor; estava muito agradável pedalar pela cidade. Mais ciclistas se juntaram a nós e acredito que chegamos a quase 400 pessoas reivindicando o direito de ir e vir de bicicleta em segurança. O grupo era muito animado e fazíamos muito barulho com gritos e palavras de ordem, apitos e músicas. Uma bicicleta com uma banda em cima nos encontrou no caminho. Ficamos alucinados com a performance dos animados músicos da Arts on bike³ (³ 3 https://www.facebook.com/Arts-On-Bike-968415853221761/timeline/).
A organização do grupo era incrível. Como toda Massa Crítica deve ser, não havia líderes, pois não há hierarquia. Nessa sexta-feira, houve um movimento natural daqueles que estavam na frente do grupo. Outra coisa que me impressionou foi a atitude positiva e bem humorada dos “bloqueadores” dos cruzamentos na rolhagem. Eles batiam papo com os motoristas, muitos deles curiosos em saber o que estava acontecendo nas ruas. Não houve nenhum incidente naquela noite, apenas alguns motoristas que insistiam em não respeitar o cortejo. Nesse caso, os ciclistas pediam com educação e gentileza que se esperasse um pouquinho: “approfittate di una piccola pausa per guardare la luna” como ouvi um ciclista dizer a um motorista (algo mais ou menos como: aproveite um instante para admirar a lua).
Nosso destino final era um squat em um bairro popular na periferia de Roma. Em linhas gerais, um squaté um imóvel abandonado pelo governo e ocupado pela população para diversos fins, algumas vezes residenciais, outras culturais. A Casetta Rossa é uma linda casa ao lado de um parque enorme. Ela estava abandonada pela prefeitura e então foi ocupada pelos moradores do bairro em 2002 e restaurada por eles para servir de centro cultural e de encontro da comunidade local. A casa possui uma cozinha comunitária e acontecem cursos, como de fotografia de de costura, há grupos de leitura para crianças, dentre várias outras atividades especialmente destinadas às famílias. Soube, através de amigos, que há uma batalha com a prefeitura que quer desocupar a casa e a associação dos moradores está na justiça para mantê-la, visto que estava abandonada e agora, restaurada, os moradores do bairro usufruem de todas as maravilhas que a casa pode oferecer.
Ficamos ali por horas. Bicicletas foram sendo estacionadas, prendidas, amontoadas e deixadas em todos os cantos! Havia uma mesa de ping-pong e uma de totó muito disputadas. O pessoal do som continuava a animar a festa. Nos foram oferecidos petiscos e a cerveja local foi vendida a preços módicos. O dinheiro arrecadado era destinado a pagar o advogado de defesa da associação dos moradores e também para a manutenção da casa. Foi passada uma caixinha para aqueles que quisessem e pudessem contribuir com algum valor…
Casetta Rossa (Foto Renata Aiala)
Depois de beber, comer, dançar, conversar, conhecer gente nova, era hora de voltar para casa… Pequenos grupos se formaram e seguiram em segurança.
Após ter participado dessa Massa Crítica em Roma, dessa celebração, cheguei à conclusão de que a Europa é composta de realidades distintas e que precisamos parar de acreditar que ela é a fonte de todo o conhecimento e começar a ver que temos todos, europeus e brasileiros, muito o que aprender uns com os outros e um longo caminho a percorrer… e se assim for, que seja de bike, então! 😉
16 de maio de 2015 inicia mais uma viagem de bicicleta pela America latina. Dessa vez o destino é LA PAZ – Bolívia. Assim como outras viagens que fiz: Santa Rosa a Montevideo – Uruguay; Santa Rosa a San Pedro de Atacama – Chile; Santa Rosa a Buenos Aires – Argentina pela costa uruguaya; Santa Rosa a Valparaiso – costa do pacifico Chile.
Abro o portão de casa e vou… nesse pedal vou pedalar no Brasil, Argentina, Paraguay e Bolivia – esses dois últimos pela primeira vez. O roteiro que me leva a conhecer algumas cidades como Encarnacion e Assuncion no Paraguai, Tarija, Potosi, Oruro entre outras na Bolívia.
Foram 23 dias de viagem e 2800 km até chegar no destino final da jornada. De todas as viagens que fiz de bike essa teve um sabor especial: pedais muito desafiantes na parte física e mental, a saída de casa já foi com chuva, e tive a companhia até Posadas do amigo Jaime Kafer, que retornoaria de lá.
Expedição La Paz – Pedalando no Paraguai
Em Encarnacion faço o cambio das moedas, do real pro guarani, e também pra outras moedas que usaria na viagem. Tive que me ambientar com o fuso horário paraguaio e boliviano que tem uma hora a menos.
As longas retas e planas estradas do Paraguay me faziam pedalar ate 220 km em um dia, apesar da carga de 50 kg com a bike.
Conheci Assuncion, bela cidade as margens do rio Paraguay. O povo paraguaio também muito gentil e receptivo me deixava tranquilo mesmo longe de casa. Lá tive alguns dias de chuva, voltei a sentir o calor do chaco. As estradas do Paraguay são perfeitas, exceto 120 km de muitas crateras que levei 12 horas pra cruzar,onde levaria 6 horas normalmente. A trans chaco é desafiadora,retas infinitas, pouco recurso ou quase nada. Ali dizem,”se tiver água no chaco tu tem tudo”
Conheci muitas pessoas interessantes no Paraguay,trouxe belas imagens de lá. Tive um grande susto no chaco: me vi dentro de uma nuvem de gafanhotos! Parecia filme de ficção, chegou a fazer sombra em um dia ensolarado e quente. Por 2 kms foi uma mistura de espanto, medo e admiração de algo que nunca havia presenciado.
Na estrada muitos graxains, animal comum por lá, inclusive em um anoitecer me vi cercado de alguns, que curiosos me observavam. Vi muitos animais e aves no percurso. O Paraguay tem muitos lugares pra conhecer e desfrutar, belas e conservadas ruínas jesuítas, a natureza, o folclore, pesca desportiva, músicas típicas, algumas praças do Paraguay tem WI FI grátis,etc.
Expedição La Paz 2015. Foto: acervo pessoal Jeferson Rossi Furtado
Expedição La Paz 2015 – Pedalando na Bolívia
Depois que entrei na Bolívia tive um inicio muito plano, uma estrada de 50 km perfeitamente reta e sem curvas. No inicio da Bolívia tive mais de 200kmts de estradas de chão pela selva e montanhas lindíssimas. Nunca havia passado em lugares tão fascinantes. Foi difícil pois teve chuva, nevoeiro, barro, penhascos, abismos, kit completo. Mas valeu a pena ter conseguido transpor aquele trajeto.
As subidas fortes com até 35 km foram constantes em todo percurso, ate chegar aos 4000 metros de altitude. A falta de ar é muito sentida, principalmente nas longas subidas. Respiração ofegante, o calor nas subidas e o frio das descidas…
As pessoas da Bolívia também me receberam muito bem. O cuidado dos motoristas na estrada, respeito geral. Nesta viagem tive muitos momentos congelantes nas montanhas, pela manhã e a noite é muito frio. Teve um dia que estava tudo congelado,tive que escovar os dentes com minha água mineral da bike que não ficou no relento. As estradas tinham gelo nos barrancos e pequenos rios. As montanhas bolivianas são muito lindas, emocionava ver algumas com seu dourado em contraste com o absurdo azul do céu.
A cada trecho um motivo para parar a bike e tirar algumas fotos. Mesmo levando barraca e material de camping, agradecia quando conseguia um lugar melhor para dormir,tomar um banho quente e me alimentar. As vezes em bons hotéis, as vezes hospedagens sem nenhuma estrutura, somente pra dormir mesmo. Alguns costumes dos bolivianos, como mascar folha de coca é comum em todo pais. As lhamas também,muitas em meu caminho,lindas e engraçadas.
Não posso deixar de lembrar dos cães, que se incomodavam com minha presença. Aliás, alguns quase me derrubaram da bike, mas tava acostumado – toda viagem é a mesma coisa.
Desci algumas rampas quilométricas, genial andar a quase 80 km por hora escutando aquela musica preferida nos fones, desafiando as curvas mortais e ultrapassando caminhões. De problema mecânico tive apenas um pneu furado. Minha bike é uma guerreira da marca GT modelo ALL TERRA que esta com 86.000 km rodados.
O cair da noite no altiplano é algo único também. Emociona a lua cheia atrás das montanhas como um gigante farol.
Conheci nessa viagem as maiores igrejas, centenárias, lindíssimas na arquitetura. Não vem ao caso agora o que penso que representou a colonização da America para essas civilizações indígenas cruelmente mortas pelos colonizadores e religiosos em prol da sua ganância pelas riquezas. O povo boliviano e paraguaio e quase todo católico, mas também vi templos do Edir Macedo por lá.
Lembro muito das sopas que tomei, dos chás de anis entre outros hábitos do povo que experimentei, maravilha.
LA PAZ é diferente de tudo. O trânsito é caótico, mas se entendem. Uma cidade muito linda, a noite devido ao seu relevo,parece que foi derramado ouro e prata por seu brilho e ao fundo um vulcão nevado. Fiz passeios de teleférico, sensacional. Lá tem muito turistas, há muito lugares pra conhecer. Adorei La Paz e fiquei 4 dias lá.
Sobre a Expedição La Paz
A Expedição La Paz foi minha segunda viagem. Achei que teria problemas pra lidar com a solidão na estrada, mas o dia é muito rico, pessoas que se conhece, paisagens fantásticas, cidades interessantes, minhas musicas fazem companhia também. Acho que entra o instinto de sobrevivência nesses momentos, e a internet quando tinha me deixava mais perto dos meus familiares e amigos. Meus bons pensamentos que me motivavam a continuar, diferente de outras viagens que fiz que não havia tanto recurso tecnológico.
Adorei o jeito de ser dos bolivianos, levam a vida mais leve e simplória. Qualquer coisa impressiona eles, como vi no centro de LA PAZ mais de 100 pessoas em uma praça central que riam de um palhaço que brincava com os transeuntes que passavam por ele. Acho que perdemos um pouco disso. Povo admirável, mesmo na estrada eram muito simpáticos, me cumprimentavam sempre, além do respeito com a distância da bike.
Na estrada encontrei alguns ciclistas viajantes. Americanas, franceses, entre outros. Mas tive a grata companhia de PETER, alemão de Munique que me fez companhia nos dois últimos dias de viagem. Também passei o dia com Jose Rubio, mexicano da cidade do México. Fantástica companhia na minha visita ao lago Titicaca, lugar místico onde viviam os incas.
Claro que isso é um pequeno resumo, pois cada dia me reservava momentos pessoais únicos, onde o complicado se resolvia, o que pensava que tinha dado errado era pra dar certo, tudo se modelou pelo melhor e agradeço por tudo. “Soy loco por ti America”
Fazer parte do ambiente que se está, mesmo longe da nossa casa. Batalhas diárias e olhar para trás e ver que tudo valeu a pena. Essa viagem, essa vida, que como se diz: a vida é uma aventura que morremos no final. Então, que venham outras aventuras, lutar até o final, desistir nunca.
AGRADECIMENTO AOS MEUS APOIADORES NA EXPEDIÇÃO LA PAZ 2015
LOJAS ZUK
LABORATORIO DENTARIO,JAIME KAFER E VIVIAN
CLINICA DALLA VINCI-DR RENATO DALLAGNESE
ESCRITORIO ZIMMERMANN
METALURGICA ELOS METAL
CASA DOS CONSERTOS
EDELSTAHL
HEY PEPPERS
GUIA FATO
MEGA METAL
E todos que me acompanharam nessa jornada através do facebook me dando apoio com palavras de incentivo
Nome-Jeferson Rossi Furtado
Idade-48 anos
Cidade natal-santa rosa
Dicas de Hospedagem nesse Roteiro
Você pode reservar hotéis, pousadas, hostels e até casas de hóspedes através do Booking.com. Assim terá muitas opções para comparar e escolher a que vai te atender da melhor forma.
O projeto Até Onde VOCÊ Foi recebe histórias de todos os tipos e tamanhos, inclusive algumas bem pequenas, mas ainda assim, muito legais. Pensando nisso, resolvemos agrupar algumas pequenas histórias em textos coletivos, para que a leitura fique mais interessante. Confira abaixo 4 histórias.
1 – De Sorocaba (SP) ao Cristo Redentor – Por Orlando Câmara Júnior
Fui em de Sorocaba ao Rio de Janeiro. Mas precisamente Cristo Redentor. Meu parceiro de viagem foi meu primo Vik. Levamos 7 Dias, rodando média 100km dia. Escolhemos um caminho mas longo, porém mais bonito, pelo litoral, via Rio x Santos, saímos de Sorocaba, em direção a São Paulo, passamos por Mogi das Cruzes em direção à Caraguatatuba e depois Ubatuba, Paraty, Angra dos Reis até chegar ao Rio pela região Sul e andarmos por todo o litoral carioca até a praia de Copacabana . No último dia enfrentamos a grande subida do Cristo 16km e concluímos nosso objetivo.
Olá pessoal, me chamo Fabiane e comecei a pedalar em fevereiro deste ano (2015) para acompanhar meu marido nos finais semana. E peguei gosto pelo ciclismo, comecei com trajetos de 26km (só asfalto) e fomos aumentando gradativamente. Meu marido Fabio José Fontana é Educador Físico e sempre foi muito rigoroso com os treinamentos, sempre ressaltando que a melhora no pedal é uma consequências dos treinos. Até que no dia 05/09 encarei meu primeiro desafio para longa distância, tinha pedalado até então 70km, a meta era fazer a chamada “voltinha” Cascavel-Toledo-Tupassi-JS-Cascavel, com aproximadamente 120km e 1400m de elevação em 6 horas. Desafio vencido, saímos de Cascavel as 14h e retornamos as 20h30, com 113,5km – 1445m elevação – em 5h45min. Tive a companhia de meu marido, e mais dois colegas de grupo.
3 – De São Paulo a Mairiporã – Por Flávio Santana
Com 18 anos fui duas vezes de SP a Mairiporã. Adoro bike levo minha magrela em vários lugares e vou passeando, trabalho, praia, interior, parques e etc.
Tenho duas bikes: uma speed e uma mountain bike. Gostaria de ir de SP para Aparecida do Norte entre outras que tenho vontade de ir.
4 – Ponte do Colibri em Atibaia (SP) – Por Carlos Roberto dos Santos
Gente hoje eu consegui atravessar pelo que resta da antiga ponte que estão reformando aqui na minha cidade Atibaia – SP. Essa ponte liga vários bairros ao centro, é usada diariamente por muitos veículos, motos, bicicletas… Tiveram que derrubar essa velha ponte para construir uma nova, para ajudar a fluir o trânsito pelo local. Até ai tudo bem, existem várias opções para os veículos, motos e bicicletas desviarem do local, todos com um trajeto um pouco mais longo, até que está funcionando.
Alerta de spoiler: esse texto não trata a bicicleta como a máquina que vai salvar a humanidade de todas as suas mazelas.
Esse texto trata a bicicleta como um veículo (instrumento, objeto da nossa cultura…) que pode contribuir para a educação das sensibilidades. E de como podemos nos aproveitar disso para melhorar a vida nas cidades.
Tenho falado sobre o assunto aqui no blog, nas minhas aulas e em diversos espaços, sempre que tenho a oportunidade. A bicicleta está aí como a conhecemos há pouco mais de 150 anos, o que considero um tempo considerável. São alguns anos a mais do que o próprio automóvel. Apesar disso, nossas cidades – e muitas vezes, nossas sensibilidades – não estão preparadas para a bicicleta. E o que é pior, para as pessoas que estão pedalando.
Compartilhe a Rua | Foto: Clarissa Pacheco | 02.07.2011 – Via clarissapacheco.com
Insensível, eu?
Em setembro de 2011 foi inaugurada em Belo Horizonte a ciclovia da Savassi, obra tão esperada da nova geração das ciclovias da cidade. Eu esperava ansiosamente pela obra, e logo nos primeiros dias fui lá pedalar. Fui com a alegria de um ciclista urbano que pedalava há 10 anos na cidade e nem sabia o que era ciclovia. Voltei pensando que seguiria pedalando junto aos carros, como sempre fiz. Ainda no calor da pedalada, escrevi aqui no blog um artigo com as minhas impressões (que pode ser lido aqui). Nele, eu já mencionava a falta de sensibilidade das pessoas para a bicicleta e para aquele novo espaço da cidade:
Como pode uma pessoa que mora, trabalha ou estuda na região, que sempre transitou por ali, não perceber que o asfalto cinza escuro de antes agora convive com um caminho lindo, colorido de verde e vermelho? E mais, como ficar indiferente a isso?
Eu via pessoas paradas conversando em cima da ciclovia, mamães empurrando carrinhos de bebê, vi um vendedor que tinha uma calçada bem larga mas preferiu colocar seu carrinho de frutas na ciclovia. Sensação de frustração total.
Afinal, não é bom pedalar e também fazer a feira?
A despeito de todos os problemas que encontrei na época, percebo hoje que a minha sensibilidade sobre aquele novo espaço também precisava melhorar. Eram os primeiros dias, e posso utilizar esse contexto tanto pro vendedor de frutas – que está de volta à calçada – quanto pra mim, que estou de volta à ciclovia 🙂
A novidade e a sensibilidade
Machado de Assis era cronista do jornal Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, e escreveu diversos textos sobre a chegada do bonde elétrico na cidade (que você pode ler aqui). Em alguns demonstrava saudosismo pelo bonde de tração animal, e em outros, desconfiança sobre o moderno carro elétrico. Num deles, em 23 de outubro de 1892 disse:
Um precioso amigo meu, hoje morto, costumava dizer que não passava pela frente de um bond, sem calcular a hipótese de cair entre os trilhos e o tempo de levantar-se e chegar ao outro lado. (Machado de Assis)
De fato, a chegada dos bondes elétricos fez aumentar o número de acidentes – inclusive com mortes – na cidade. E o mais impressionante: a velocidade dos primeiros bondes dificilmente ultrapassava os 20km/h. 20km/h! Éramos felizes e não sabíamos.
Eis então o X da questão: muitas novidades podem despertar sensibilidades que não desenvolvemos. Em uma das primeiras exibições de cinema dos irmão Lumiére, muitos da platéia saíram correndo da sala de exibição ao verem as imagens da chegada do trem na estação. Da mesma forma, um bonde a 20km/h em 1892 era uma velocidade muito alta!
https://www.youtube.com/watch?v=b9MoAQJFn_8
E sobre os tempos atuais nas grandes cidades brasileira eu digo: a bicicleta, essa senhora de 150 anos, é uma grande novidade no trânsito e em todos os demais espaços que foram construídos e pensados apenas para a circulação dos automóveis.
Uma cidade sensível à bicicleta: o caminho da alteridade
No último BiciRio – evento para discutir a mobilidade sobre bicicletas na cidade – o holandês Hans Nijland (especialista em políticas de transportes sustentáveis e mobilidade urbana do
Netherlands Environmental Assessment Agency – PBL) partilhou um pouco de sua experiência. No momento de perguntas da plateia, alguém perguntou a ele sobre como a Holanda trabalhava os conflitos por espaço no trânsito entre motoristas e ciclistas. Ele disse com tranquilidade:
É que na Holanda, a imensa maioria dos motoristas é também ciclista
É isso. Tão simples pra ele, tão lindo pra mim. Tão necessário para nossas cidades.
Somos insensíveis ao que desconhecemos, ao que não experimentamos. É difícil se colocar no lugar do outro quando não vivemos o que o outro vive. Daí nossa dificuldade com o outro, com o que não conhecemos, com o que é diferente.
Está na hora dos motoristas serem também ciclistas. Conhecerem as bicicletas de verdade. Segurar, subir em uma. Pedalar até o trabalho, a escola, a casa de um amigo. Sentir o vento no rosto, sentir a rua de uma forma diferente.
A bicicleta e a educação das sensibilidades
Esse é o caminho para a mudança. Pensar na educação das sensibilidades é o caminho para melhorar a vida nas cidades. Do ponto de vista da bicicleta, algumas instituições já perceberam o caminho. A principal delas, na minha opinião, é o Bike Anjo, que faz um dos mais belos trabalhos de educação das sensibilidades para a bicicleta nas cidades.
Escola Bike Anjo em Belo Horizonte. Foto: Thiago Tiganá
Além deles, as campanhas educativas que colocam os motoristas no lugar dos ciclistas também são fundamentais. Abaixo um exemplo feito com motoristas do ônibus da Grande Recife.
Inserção de conteúdos sobre a bicicleta nas provas de legislação de trânsito, redução da velocidade nas vias, zonas 30, traffic calming… tudo vale a pena. Diminuir (e zerar) as mortes no trânsito, economizar grana na área de saúde, tudo isso são boas consequências de algo maior: pessoas mais sensíveis ao espaço da cidade e as diversas formas de estar nela.
[Resenha de livro]: Transpatagônia, de Guilherme Cavallari
Por Vitaly Costa
Primeiro li tudo de uma vez só. Como naqueles pedais afobados onde acabamos perdendo o fôlego, a fim de chegar logo no destino. Eu queria terminar logo o livro, subir na bike e sair por aí. Depois, comecei tudo de novo, a fim de apreciá-lo enquanto obra literária de aventura. E achei melhor ainda do que na primeira leitura.
O livro Transpatagônia, de Guilherme Cavallari é uma bela obra de aventura sobre o pedal. Uma tremenda epopeia de 6 meses de aventura, quase 6000km pedalados, além de mais de 500km de trekking. E é mais ainda do que isso.
Durante o percurso acabei descobrindo um tremendo quintal chamado Patagônia. O autor rodou por toda a região, tanto do lado chileno quanto do lado argentino, chegando até a Terra do Fogo e à Ilha Navarino, além de ter passado por longo trecho da sonhada Carretera Austral. Passou ao largo de montanhas imponentes, campos de gelo e fazendas recheadas de histórias. Pude acompanhá-lo por bosques úmidos e planícies secas, por subidas intermináveis e descidas friorentas sob a chuva, noites estreladas e manhãs congeladas.
No caminho fui encontrando personagens de diversos naipes: grandes escritores de aventuras, desbravadores de mar e terra, nativos resistentes ao frio, ermitões esperando visitas, turistas que entupiam cidades, moradores de lugarejos de meia dúzia de casas, militares em defesa da nação, deslocados sociais em busca de isolamento e todo tipo de ciclistas.
Pude observar na viagem dele aspectos que sempre observei nos meus passeios (mais curtos obviamente). O nervosismo anterior ao desafio (vou conseguir?). O planejamento (esqueci alguma coisa?). As estradas que parecem planas mas que escondem subidas quase imperceptíveis (só quem percebe é a panturrilha). Outro aspecto que todo ciclista vai se identificar: viajar de bicicleta confere uma certa magia, algo que acaba refletindo na forma como o viajante é recebido por onde passa. Largos sorrisos, orientações, desejos de boa sorte, ofertas de água e comida e a frase de sempre: “vocês ciclistas são meio malucos” (quem nunca ouviu essa?).
Ponteado de impressões e reflexões sobre os caminhos percorridos na bike e na vida, o livro de Cavallari é também filosófico. Inspirador. Com indagações incômodas, o autor questiona uma época em que a grande maioria dos seres humanos abdica de seu próprio habitat em nome de ambientes “climatizados”, recusam-se a caminhar juntos e preferem se engalfinhar por um espaço no trânsito caótico das cidades, vendem seu tempo para acumular quinquilharias e, no fim das contas, se matam para se manterem vivos. Não é somente sobre viajar de bicicleta. O livro vai repercutir em todos aqueles que refletem sobre formas alternativas de se relacionarem com a passagem do tempo e com a posição do ser humano espaço.