[Entrevista] Pedarilhos: Cicloturismo pela América do Sul

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Por Raphael Araújo

Olá amigos leitores do Até Onde Deu Para Ir De Bicicleta!

Nessa última semana, tive o prazer de abrigar os viajantes Pedarilhos, durante sua passagem por Salvador/BA. Histórias foram contadas, informações compartilhadas e aproveitei para fazer uma pequena entrevista sobre como está sendo o retorno deles a terra nacional. Muita informação interessante para quem pretende viajar de bike pela América do Sul e quer saber que tipos de diferenças irão encontrar pela frente.

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Boa viagem André e Ana! Que bons ventos os levem a seus destinos!

Em Mangue Seco
Em Mangue Seco

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1 – Raphael Araújo: Quase 650 dias de viagem, +19.000km pedalados pela América do Sul e já estão de volta ao Brasil. Quais as principais diferenças sociais e naturais que vocês perceberam ao retornar ao nosso país?

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Pedarilhos: Quando retornamos ao Brasil, estávamos há mais de um ano em países cujo idioma é o espanhol, quando atravessamos a fronteira tivemos um grande prazer ao andar na rua e ouvir as pessoas falando português, entrar num local e as pessoas falarem seu idioma, foi a primeira coisa que nos deixou felizes em estar de volta.

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Outro aspecto que estávamos esperando, mas que foi muito acima de nossa expectativa, foi a hospitalidade. Desde os primeiros 10 minutos ao pisarmos em solo brasileiro, já tivemos a oportunidade de experimentar da solidariedade de nosso povo. Não que em outros países não fôssemos bem recebidos, é claro que tivemos muitas lindas experiências de gente boa nos recebendo em outros países. Mas aqui “em casa”, o acolhimento é bastante caloroso, e não precisamos de muito esforço pra descolar um quintal pra passar a noite, também não foram raras ás vezes em que mudamos os planos só para aceitar um convite para almoçar ou dormir na casa de alguém.

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Depois foi a comida. Pegos pelo estômago! Entramos num supermercado, já em Assis Brasil, no Acre, uma cidadezinha relativamente pequena. Uma variedade incrível de itens à nossa disposição, coisa que no Peru e na Bolívia era raro acontecer. Por estes países, encontrar um supermercado, só em cidades maiores. Geralmente as cidades pequenas contavam só com mercearias com itens de primeira necessidade e comida enlatada, muita gente vendendo alimentos frescos em banquinhas espalhadas na rua, ou nos mercados públicos, mas com uma variedade bem menor. Foi bom demais encontrar couve, feijão preto, farinha de mandioca, muitos vegetais frescos e goiabada! Ah, e quanto quiabo fresco, quanto tempo! Fazia muito que tínhamos saudade e desejo por uma comida tipicamente brasileira: arroz, feijão, farofa, e couve refogada. Então foi a primeira coisa que cozinhamos no Brasil.

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A paisagem natural não mudou tanto ao entrarmos no Brasil, pois o trajeto que escolhemos, a Interoceânica, passa por um pedaço de floresta amazônica peruana. O que mais nos impressionou, no entanto, foi como o homem modificou esta paisagem de maneira diferente nos dois países. Por exemplo, no Peru, a mata ainda é mais conservada nas margens da estrada, porém, há mais relatos de poluição oriunda da mineração ilegal nos rios. Já do lado brasileiro, o desmatamento para dar lugar às pastagens e monoculturas é gritante, era difícil encontrar uma sombra para fazer um lanche, ou uma parada de descanso no meio do dia. Sem falar na desolação de ver aquela imensidão de gramíneas, onde antes haviam árvores imensas com um potencial enorme de nos fornecer alimento, agora fica o gado, a se espremer debaixo de poucas palmeiras que lhes fornecem sombra, e a soja para servir de ração ao mesmo gado (e eu antes achava que só o pasto bastava!). Vimos muito mais castanheiras no lado peruano, do que em todo o trajeto que percorremos pela Amazônia do lado do Brasil (Acre, Rondônia, Amazonas e Pará). Este aspecto nos deixou muito preocupados, pois dá a impressão de que o progresso que chega quer apenas usar um determinado espaço para implantar atividades vindas de outros lugares, sem levar em conta os aspectos regionais daquela população ou que a própria natureza já tem de abundante. Não há um esforço no sentido de descobrir o que a terra já possui, seja de produtos nativos, seja do que a população local tem de costumes, há diversas reservas que usam a terra sem desmatá-la, através do extrativismo, como por exemplo, a mais conhecida delas A Reserva Extrativista Chico Mendes. Nossa impressão é de que pessoas de outros estados compram grandes extensões de terra na Amazônia porque são mais baratos que em outras partes do país, com a intenção de fazer dinheiro com gado e soja.

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2- RA: Depois de tanto tempo na estrada, muita coisa incrível deve ter acontecido, mas com certeza, alguns grandes desafios cruzaram o caminho de vocês. Quais os últimos “perrengues” que vocês passaram nesse retorno ao solo nacional?

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Pedarilhos: Por incrível que pareça, no Brasil, não temos tido muitos perrengues. Bom, talvez alguns. Estávamos esperando muito mais dificuldades na transamazônica, mas tivemos poucos dias de chuva por lá, o desafio fica por conta do relevo. O cara fica esperando pedalar na “planície amazônica” e se depara com uma sequência sem fim de ladeiras super inclinadas em uma estrada com grande extensão não pavimentada. Perrengue mesmo é enfrentar a maneira como os brasileiros conduzem nas rodovias e nas cidades grandes. Para evitar situações de risco temos o cuidado de evitar rodovias de maior movimento e procuramos entrar nas capitais no início do dia.

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Agora no Nordeste, escolhemos pedalar sempre que possível pelas praias e por estradas ao leste, evitando justamente as estradas de grande movimento. A falta de informações neste trajeto tem nos colocado em algumas situações complicadas. Como há muitas travessias de rios entre uma praia e outra, muitas vezes não encontramos informação na internet, e nem com os moradores locais, acabamos indo parar em lugares onde não haviam barcos para nos atravessar, ou muitos barqueiros se aproveitam dos turistas e cobram preços abusivos nas travessias. Por conta disso tivemos de atravessar diversos rios com a bicicleta acima dos ombros, e até uma ponta de praia coberta de pedras onde só foi possível passar desmontando todas as bagagens e levando cada bicicleta em duas pessoas. São dificuldades, mas não chegam a ser perrengues ou perigos à nossa integridade física. Além do mais, foram em lugares assim, de difícil acesso, que tivemos as melhores paisagens e os campings selvagens mais bonitos em solo brasileiro.

Praia dos Carneiros
Praia dos Carneiros

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3- RA: Dois aspectos que muitas pessoas admiram em sua viagem é a fidelidade que vocês mantêm ao vegetarianismo e as deliciosas receitas que vocês publicam. Quais as últimas aventuras gastronômicas?

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Pedarilhos:  Ah, no Brasil tem sido um deleite. A disponibilidade de frutas e verduras tem sido abundante, o que dá muita margem à criatividade. Sem falar nos costumes culinários regionais. Estamos descobrindo em cada estado onde estamos pedalando, uma quantidade enorme de receitas vegetarianas, que possivelmente passariam despercebidas se fôssemos onívoros. Mas sem dúvida nenhuma, os subprodutos da mandioca são os que mais somos fãs. A nossa receita de café da manhã preferida sem dúvida nenhuma é a tapioca com coco seco raladinho na hora. É algo que nos faz acordar mais cedo pela manhã para preparar, mas que se tornou um grande prazer. Não tem sido nada difícil manter uma alimentação vegetariana estrita no Brasil (não ingerimos carnes, leites, ovos e derivados), principalmente com uma ajudinha de vários pacotes de castanha de caju e amendoim torrado, sempre disponível para uma emergência, dentro dos alforjes.

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4- RA: Atualmente, vocês se encontram em Salvador/BA, em pleno carnaval. Quais as expectativas?

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Pedarilhos: Foi uma coincidência que estávamos muito temerosos. Como não planejamos muito à frente os nossos trajetos, quando chegamos a Recife e olhamos para o mapa, começamos a ficar com medo de chegar a Salvador perto do carnaval. Como havia a possibilidade de ficarmos na casa de um amigo de André, cogitamos chegar antes das festividades começarem, aí teríamos como ficar refugiados dos bêbados ao volante e da alta astronômica nos preços de hospedagens ou campings. Mas estamos descobrindo outro lado de nós mesmos com essa coincidência. Tem sido divertido até, estamos bem no miolo do Pelourinho, não há como escapar da música contagiante entrando pela janela, lá em baixo as bandinhas que passam desfilando na rua. Pedalar nesta época está fora de cogitação. Como diz o ditado popular “Tá no inferno? Abraça o capeta!”, então quem sabe não nos flagram pulando atrás do trio elétrico?

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5- RA: Não falta muito para vocês estarem de volta em casa. Como tem sido lidar com a falta dos amigos e familiares e quais os planos para o futuro?

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Pedarilhos: No início da viagem a falta dos amigos e familiares foi bastante forte, porque não sabíamos quando estaríamos de volta. Agora já chegando perto de casa, fica bem mais fácil lidar com as saudades, ficou também muito mais fácil se comunicar com a família.
Não temos muitos planos, porque com a viagem, aprendemos que nossas vontades mudam muito rapidamente, ideias novas surgem a cada dia. Só sabemos que por um tempo iremos viver no campo, no meio da viagem surgiu à oportunidade de trocar o apartamento na cidade onde vivíamos por um pedaço de terra no interior que já produz muita comida, está cheio de araucárias e outras árvores frutíferas, sentimos saudade de uma bela sapecada de pinhão na grimpa! Se dermos sorte, chegaremos pro final da época dos pinhões.

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6- RA: Qual o próximo destino?

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Pedarilhos: De Salvador vamos em direção a Chapada Diamantina. De lá, ainda temos muito que viver e aprender pra depois decidir o caminho, só sabemos que estamos indo para o sul outra vez.

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“Gostaríamos de agradecer demais a hospitalidade e solidariedade das pessoas que tem cruzado nosso caminho, com certeza absoluta, essa é a melhor parte de estar pedalando pelo Brasil! E a generosidade não para por aí, além de teto, os novos amigos que temos feito não raro nos dão água mineral, comida, frutas, e se não bastasse, ainda por cima temos sido abordados diversas vezes por pessoas que querem nos dar um trocado, assim, na beira da estrada, nos param no acostamento e enfiam cinco, dez, vinte reais na nossa mão. Por isso agora estamos com um punhado de fotos postais da viagem, uma maneira de retribuir os presentinhos das pessoas na estrada. “

– Aos que querem acompanhar a viagem é só curtir nossa Fanpage: http://www.facebook.com/pedarilhos
– Fotos e relatos completos em: http://www.pedarilhos.com.br/blog
– Boa parte dos equipamentos utilizados em nossa viagem podem ser encontrados em nossa Loja Virtual, que segue em funcionamento. Por sinal qualquer compra feita por lá nos ajuda a permanecer na estrada por mais tempo: http://www.pedarilhos.com.br/loja

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Infinity Pedal: novo sistema de pedal clip para sapatilhas de ciclismo

Mais uma ideia que promete revolucionar o mercado das bicicletas: um novo sistema de pedal clip para sapatilhas de ciclismo.

O engenheiro Sam Hunter começou a praticar mountain bike hé 5 anos, e sentiu grande dificuldade em se adaptar ao sistema de pedal clip para o uso das sapatilhas. Segundo ele, havia muita dificuldade em “clipar e desclipar” nos trechos mais técnicos de trilha. No trânsito, ele também perdia muito tempo – e segurança – usando o sistema.

Foi então que ele resolveu desenvolver junto com a Mobius Cycling o Infinity Pedal, um sistema de pedal clip para sapatilhas muito mais eficiente.

Sapatilhas de ciclismo
Infinity Pedal. Foto: Kickstarter
Sapatilhas de ciclismo
Infinity Pedal. Foto: Kickstarter

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Segundo o seu criador, ele tem algumas vantagens comparado ao sistema tradicional:

1 – É menor, e se ajusta à maioria dos tênis do mercado. Isso permitiria que o ciclista pudesse usar também a sapatilha pra caminhar, empurrar a bike etc, sem arranhar o taquinho no chão (eu acho isso muito útil!).

2 – Um sistema mais intuitivo e simples de encaixe e desencaixe: mais rápido, sem precisar eventualmente ficar olhando pra baixo pra conferir ou encaixar a sapatilha no pedal.

3 – É mais leve: todo o conjunto pesa apenas 236 gramas, nas primeiras versões que foram feitas em aço. Versões em titânio ou outras ligas podem ser ainda mais leves.

Pra quem ainda curte pedalar com estilo, o sistema vem em várias cores diferentes (veja o vídeo abaixo). A ideia tem agradado muitas empresas e pessoas ligadas ao ciclismo. O projeto está no site de financiamento coletivo (crowdfunding) Kickstarter, e já ultrapassou o mínimo para o início da produção. Ou seja, o projeto vai sair e em breve veremos o sistema em funcionamento!

Veja o vídeo para saber mais sobre o Infinity Pedal.

Eu utilizo o sistema tradicional de clipagem, e me acostumei com ele. Mas confesso que deu vontade de experimentar essa novidade.

Se você pensa em começar a pedalar com sapatilha de ciclismo, pode dar uma olhada neste artigo que fizemos para te ajudar a conhecer os diferentes modelos. E se você ainda não sabe se é a hora de começar a pedalar de sapatilha, pode conferir esse outro artigo do blog.

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[Causo]: “O dia em que uma ‘mentirinha’ me colocou no ciclismo”

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Por Kiko Molinari

Dizem que uma mentira contada várias vezes acaba se tornando uma verdade. Bem, o meu primeiro “causo” a seguir é mais um menos isso

Minha primeira bike - editado
Minha primeira bike, já com as modificações para começar a competir

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Muitos daqui já sabem que sou um tanto fanático por bicicletas (meu último “bike memes” já comprova isso), já que não podia investir em carros por serem obviamente mais custosos e, naquela época, não passar apenas de um sonho.

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Voltando as bikes: tinha 15 anos nessa época e via amigos/vizinhos do bairro iniciando no ciclismo. Eu ficava a olhar eles passando em frente a rua de casa e me imaginando no lugar deles. Uma mistura de fascínio e desilusão pois nem em sonho eu poderia ter uma bike daquelas (e nem era uma Speed, mas sim Mountain Bikes adaptadas para rodar no asfalto). Algum tempo depois, numa tarde de inverno (que estava mais pra verão de tão quente e seco que estava para a época) em Junho, recebo meu “primo postiço” e seu amigo em casa. Eles eram da cidade de Primeiro de Maio (cidade esta que vivi por 9 meses, e que também tem alguns “causos” que serão postados em breve) e estavam em Arapongas para participar da regional dos Jogos Escolares, onde a cidade era a sede da regional norte.

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Conversamos muito, desde as novidades da cidade deles até as aventuras passadas nas duas semanas de jogos que aconteciam na cidade. E falando em esportes, o amigo desse meu primo vira pra mim e pergunta: “e você, que esporte pratica?” E eu respondi “faço ciclismo. A bike nem tá aqui, tá lá na oficina fazendo revisão”. Nunca havia mentido tanto em uma frase! Eles ficaram surpresos e me perguntavam algumas coisas a respeito, como se era perigoso antar na rodovia e se eu usava aquelas “roupinhas de gay” (se referindo aso roupas justas de ciclismo). Disse que estava começando e que ainda não tinha todo o equipamento necessário (e mais uma vez mentindo descaradamente!)

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Terminada a conversa, eles voltaram para a escola onde eles estavam alojados, e eu entro pra casa com aquele pensamento: “Mas que m#$% que eu disse?!” Eu ficava a pensar como iria começar no ciclismo, sendo que nem pro lanche da escola o dinheiro sobrava. Nessa época, a única bike que tinha acesso era a Monark Ranger Afrikan do meu pai, mas ele a usava para ir trabalhar e eu raramente andava com ela. Foi uma época sofrida, pois encarava todos os dias o ônibus lotado tanto pra ir quanto para voltar da escola (por várias vezes ia a pé pra escola, chegando poucos minutos antes do ônibus, mas nem sempre era assim), e eu não trabalhava (tinha dois motivos pra isso: não gostava mesmo de trabalhar, e as opções que restavam era vender sorvete empurrando um carrinho de sorveteiro ou capinar. Não tinha muita opção)

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Mais ou menos um ano depois, naquele domingo nublado de inverno (e nesse ano fazia frio de verdade), minha avó materna me disse que seu irmão havia comprado uma bicicleta e iria revender. Naquela época, eu havia conseguido trabalho de aplicador de adesivos publicitários em lixeiras (!!!) e com isso pude juntar alguns trocados. Nessa época também, meu pai já possuía um carro, e eu finalmente abandonei o “busão” pra ir para a escola de bicicleta. Voltando a aquele domingo: um dia antes, quando minha avó falou da bike, cheguei pro meu pai e disse: “Me leva lá pra Rolândia pra pegar a bike?” (Rolândia fica a +/- 15 km de Arapongas), e ele prontamente me levou de carro no dia seguinte.

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Mal chego na casa das minhas “tias” (era como eu chamava as irmãs de minha avó) e pergunto sobre a bicicleta. Elas obviamente não sabiam de nada e ficaram com aquela cara de paisagem. Não era pra menos: eu estava muito ansioso para pegar aquela bicicleta e sair pedalando! Tive que esperar algumas horas até o irmão de minha avó chegar com a bicicleta. Passado esse tempo, escuto o portão se abrindo: era ele! Abro a porta da sala e vejo ele com a tal bike: uma Mountain Bike em aço carbono, toda cromada, e com uma aparência até boa, mas longe do que eu imaginava (muita expectativa achando que seria uma bike em alumínio… #chatiado).

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Enquanto minha avó e ele conversavam, eu fui analisar o produto: o quadro era em aço carbono, caixa de centro 45 mm e direção Standard, de 1 polegada. Olho para as rodas e vejo aros folha simples em alumínio e cubos em alumínio (já achei interessante), mas estava montada com raios grossos, o que deixava a bike pesada. A bike era de 18 marchas, mas os câmbios dianteiro e traseiro eram os Shimano TY22, indexados. Os freios eram cantilever em aço e os manetes em nylon (precisão de frenagem “zero”). Dei uma volta com a bike: não poderia esperar muita coisa dela, mas senti que estava pronta para uma “pequena viagem” (ou seja, ir pedalando de Rolândia até Arapongas com ela). Logo no inicio já notei que o aro traseiro estava avariado, fazendo que a bike pulasse feito um cabrito.

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A empolgação era tanta que o “bocó” aqui esqueceu de trazer a grana pra pagar o tio, mas minha vó disse que resolveria o caso. De posse da minha primeira bike, pego o rumo da BR 369 sentido Arapongas e sigo em frente. Já na reta do bairro Vila Nova, ainda em Rolândia, avisto um garoto com uma Mountain Bike semelhante. ao me ver, ele aperta o passo e tenta abrir vantagem, mas eu não me daria por vencido e acelerei, o que foi uma boa oportunidade para ver o comportamento da bike em velocidades elevadas. Quando me dei por conta, havia distanciado consideravelmente e mantendo um ritmo bom, mas a bike não ajudava muito e chegando a me dar um susto: os pneus da bike, um par de Pirelli BM85 Demon, estavam altamente desgastados e o pneu traseiro soltou uma lasca , fazendo com que a lona ficasse aparente! (e só notei isso já em casa, muitos quilômetros depois!).

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Chegando em casa, meus colegas e amigos, (que sempre ficam na rua mesmo em dias frios por não ter o que fazer no domingo) me viram chegando com a nova bike. Logo já vieram a mim perguntar se era minha, quanto paguei e de onde estava vindo com ela. Muitos se espantaram assim que disse que tinha vindo de Rolândia pedalando (o curioso é que, ao menos metade deles nesse momento, estavam de posse de suas respectivas bicicletas, infinitamente melhores se comparado a bike que comprei. Talvez seja esse o espanto: vir de tão “longe” com uma bike ruim!)

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Bom, esse “causo” termina aqui, mas a história está apenas no começo…

Texto e edição: Kiko Molinari Originals® 

Foto – William Souza

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Pista livre: de bicicleta nos corredores para ônibus em Belo Horizonte

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Sabemos como obras no trânsito das cidades causam diversos transtornos para a população.

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Mas como a maioria das coisas da vida tem seu lado negativo e positivo, os ciclistas de Belo Horizonte tem aproveitado bastante. É que com as obras para implementação dos sistema de ônibus BRT, as principais avenidas da cidade estão com pistas interditadas ao trânsito. É muito comum ver ciclistas trafegando tranquilos pelos futuros corredores para ônibus das Avenidas Antônio Carlos e Cristiano Machado.

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Abaixo uma foto que tirei na Av. Cristiano Machado, no último dia 09 de fevereiro, quando eu ia para o 4º Ciclo Bazar de Rua.

Pista livre pra bike na Av. Cristiano Machado (e olha um ciclista lá em cima na passarela!)
Pista livre pra bike na Av. Cristiano Machado (e olha um ciclista lá em cima na passarela!)

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Parte das obras já estão prontas, outras ainda atrasadas, o que nos indicam 2 coisas:

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1 – Cumprimento de prazo e cronograma de obras é coisa rara aqui em Belo Horizonte.

2 – Os dias de alegria e trânsito livre dos ciclistas nas avenidas estão contados.

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Quando for inaugurado o sistema de ônibus BRT, as faixas ficarão ocupadas. Mas enquanto isso, vale a pena pedalar tranquilo e rapidamente por essas avenidas feitas pra muitos, muitos carros. Se em cada uma delas tivéssemos uma pista pequena, separada para uma ciclovia, seria um ganho enorme para a população da cidade.

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Quem sabe um dia?

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A luta é antiga, e continua sempre. Vale lembrar esse post de 2009, quando ciclistas fizeram um pedal manifesto, pedindo uma ciclovia na Avenida Antônio Carlos.

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Cicloturismo na Itália: Roma Bike Tour

Atualizado em 22/02/2018

Continuamos nossa série de posts sobre cicloturismo na Itália, e agora chegamos a Roma! Vou mostrar como foi o bike tour que fiz pela cidade, além de algumas dicas legais para pedalar na cidade.

Pedalando por Roma

A cidade é belíssima, fiquei realmente encantado, e poder conhecê-la de bike foi ainda mais especial. Havia pesquisado antes na internet e um serviço de aluguel de bicicletas e bike tour bem famoso na cidade é oferecido pela Bici & Baci. Eles oferecem o serviço de aluguel e também de citytour em bicicletas e também em vespas (as pequenas motocicletas muito populares na Itália).

Bikes para alugar em Roma...
Bikes para alugar em Roma…
... na Bici & Baci
… na Bici & Baci

Eu pensava em alugar uma bike e explorar a cidade, mas ao chegar na loja faltavam 10 minutos para o citytour sair. Não sou muito fã dessas visitas guiadas, mas pensei: por que não?

Foi a melhor coisa que fiz. Como tinha apenas 2 dias na cidade, preferi conhecer o máximo possível, mesmo que de forma mais rápida, e depois voltar e ficar mais tempo nos lugares que mais gostei.

Como funciona o Bike Tour em Roma

O bike tour dura 3 horas, e passa por muitos dos principais pontos turísticos de Roma. O atendimento é realmente de primeira. As bikes são urbanas (rodas 700, paralamas, farol) em modelos masculino e feminino,  muito confortáveis.  Os bike tours custam 35 euros (mais uma taxa de 8 euros ) e podem ser feitos em inglês ou em holandês (devido à grande procura). Quando eu fui saíram 2 grupos grandes, cada um com um  guia falando uma língua. Muito legal mesmo.

Os dois grupos do bike tour em frente ao Palácio Presidencial
Os dois grupos do bike tour em frente ao Palazzo Quirinale

Você pode reservar a sua bike antes pela internet no site da Bici & Baci, mas são muitas bikes e é bem difícil faltar. Eu, por exemplo, cheguei e aluguei uma na hora.

Outro ponto acertado que serviu pra quebrar mais um preconceito que eu tinha: a nossa guia era nota 10! Seu nome era Julie, super animada, conduziu a turma toda com muita alegria, dando dicas sobre o trânsito da cidade, falando da bike naquele lugar, e dando claro muitas informações sobre a história da cidade, seus monumentos etc.

Outra coisa bem legal: o bike tour não é fechado. Como Roma tem muitos lugares para conhecer e as 3 horas não dão conta de tudo, a guia pergunta ao grupo sobre as preferências, dá algumas opções de escolha e os participantes podem escolher. No nosso caso, por exemplo,  optamos por não passar pelo Coliseu e Foro Romano, já que todos iram passear por lá depois. Pudemos então seguir para outros lugares, como o Teatro di Marcello, o bairro judeu entre outros.

Outro ponto positivo para o biketour: pedalar em grupo. Você pedala com pessoas que curtem bike, de culturas diferentes e pode rolar uma empatia bem legal. O grupo era grande, mais ou menos 12 pessoas, e tinham casais, senhoras, escoceses, alemães, italianos (do interior). Poder pedalar, conversar e trocar idéias com um grupo tão diverso como esse é uma bela experiência,  alem de uma oportunidade que não se tem todo dia. Mais um ponto pra bike e pro citytour!

Separei abaixo algumas fotos, além do vídeo na abertura do post.

Bicicletas no Coliseu. Foto: André Schetino
Bicicletas no Coliseu. Foto: André Schetino
Teatro di Marcello. Foto: André Schetino
Teatro di Marcello. Foto: André Schetino
Piazza del Popolo. Foto: André Schetino
Piazza del Popolo. Foto: André Schetino
Bikes próximas a Piazza de Spagna. Foto: André Schetino
Bikes próximas a Piazza de Spagna. Foto: André Schetino

Dicas de Hospedagem em Roma

Eu fiquei hospedado em um “bed and breakfast” chamado Residenzia Cola di Rienzo. Você pode ver boas opções de hostels e hotéis em Roma neste link.

Quer mais opções de cicloturismo na Itália?

Aqui no blog temos um ebook gratuito de cicloturismo na Itália (clique para baixar). São 4 roteiros nas regiões da Toscana, Emília Romana, Dolomitas e Puglia. Todos com muitas fotos e detalhes técnicos de distância e altimetria em cada dia.

Se você preferir, pode receber um roteiro personalizado de cicloturismo, trainning camp ou Granfondo na Itália. Basta pedir o seu clicando no link!

Espero que possa te ajudar a planejar o seu pedal pela Itália.

O bicicletário e a medida da felicidade

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Hoje gostaria de dividir com vocês uma experiência bem legal que tive ontem. Na verdade, foi  uma bela surpresa, que me encheu de alegria após um dia difícil de trabalho. Ao terminar o expediente, fui pegar minha bicicleta e me deparei com a cena abaixo, devidamente registrada em foto:

Foto: André Schetino
Foto: André Schetino

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É o bicicletário que fica no meu trabalho. Uma instituição de ensino, onde guardo minha bicicleta há uns 5 anos, mais ou menos. Durante esse tempo, ela esteve sozinha por lá na maioria das vezes. De tempos em tempos, era acompanhada pela bicicleta de algum aluno, vez ou outra de um funcionário. Mas eis que o número foi aumentando, e ontem, justo ontem, “a ficha caiu”.

Antes e depois!
Antes e depois!

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A montagem que fiz acima tem uma foto do ano passado, usada nesse post, onde falo sobre o bicicletário do trabalho. Junto com ela a foto de ontem, com ele lotado.

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Eu já havia escrito anteriormente um texto falando um pouco sobre a bicicleta como meio de transporte em Belo Horizonte, cidade onde vivo. Falava de como eu via mais bicicletas nas ruas hoje do que há 13 anos atrás, quando comecei usá-la como meio de transporte. Estive também no último Fórum Mundial da Bicicleta, em Curitiba, e pude conversar com amigos de todo o Brasil, que também me falaram sobre o aumento do uso da bicicleta em suas cidades.

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Mas ver aquele bicicletário lotado me deixou muito feliz. Quando se está muito mergulhado em algo temos que permanecer atentos, pois podemos nos esquecer de olhar o que está ao nosso redor. De tanto pedalar, escrever e conversar com pessoas ligadas às bikes, eu me desliguei por um momento do que estava próximo de mim. O bicicletário lotou, ficou pequeno, finalmente!

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Antes era apenas Joelma, minha querida bicicleta. Neste início de ano tem sido 8, 10. E ainda são tão poucas, comparadas ao potencial para o uso das bicicletas nas cidades.

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Ontem o bicicletário cheio foi a medida da felicidade. O momento é de celebrar as “pequenas grandes vitórias”. Se você também acredita que a cidade pode ser melhor quando seus habitantes podem escolher como se locomover, este texto é pra você.

Que os ciclistas cada vez mais ganhem as ruas das cidades. Que venham mais bicicletários e bicicletas!

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