Não tão conhecidas (e talvez não tão charmosas como as grandes voltas), as grandes provas do ciclismo de estrada também guardam seus admiradores e entusiastas. Apesar de acontecerem em apenas um dia, elas não deixam de ser emocionantes, principalmente por quem é apaixonado pelo universo do ciclismo.
Esse é o seu caso? Então veja as 5 grandes provas que selecionamos e saiba mais sobre cada uma delas – e o que as torna tão especiais!
Atenção: nesse artigo separamos as provas que acontecem em etapa única ou em um único dia. Para conferir as grandes voltas (Tour de France,Giro D’Italia, Volta da Espanha etc) temos também um artigo especial sobre 5 Grandes Voltas do Ciclismo de Estrada
1- Paris-Roubaix
Sean Kelly foi um ciclista irlandês que entrou para a história do mundo do ciclismo com a célebre frase: “a prova horrível de correr, mas a mais bonita para ganhar”.
Essa pode ser considerada a síntese do que é a Paris-Roubaix: uma prova dura, longa e exaustiva, mas que é, ao mesmo tempo, um verdadeiro espetáculo do início ao fim.
História
Tudo começou em 1896 com uma prova que se iniciava em Paris e terminava no velódromo de Roubaix. Em 1977, contudo, a cidade de partida mudou para Compiègne, que fica mais ou menos 80km de Paris.
A prova foi idealizada por Maurice Perez e Théodore Vienne que “venderam” a ideia ao Le Vélo, um jornal esportivo da época. Mas eles não sabiam que essa ideia se tornaria um dos eventos mais esperados dentro do calendário ciclístico até hoje.
Pela sua dureza e dificuldade, a prova ganhou um “apelido carinhoso” sendo chamada de Inferno do Norte. O que muitas pessoas não sabem é sobre a origem desse termo que foi usado pela primeira vez na edição logo após a Primeira Guerra Mundial, quando um grupo de jornalistas deixou Paris em 1919 para ver o quanto da rota ainda restava depois de 4 longos anos de bombardeio.
Quando chegaram lá, na estrada que ligava Paris a Roubaix, a cena foi de desolação: árvores queimadas, muita lama e um cheiro putrefato no ar. Nos jornais nos dias que se seguiram a expressão “inferno do norte” foi usada para descrever a cena de terrível destruição.
Percurso
Todos os anos o percurso é alterado. Mas, desde 1977, ele segue um roteiro mais ou menos parecido: saindo de Compiègne os ciclistas seguem uma rota sinuosa de 260km para Roubaix.
O primeiro trecho de paralelepípedos aparece após 100 km de prova. Nos últimos 150 km, os trechos de paralelepípedos somam mais de 50 km. O ápice da corrida acontece nos 750 m pedalados no concreto suave do extenso velódromo ao ar livre de Roubaix.
Em 2018, a prova teve 257 km, com partes do percurso classificados por níveis de dificuldade. Como quase sempre acontece, no topo da lista está a passagem no Arenberg, em Mons-en-Pévèle e no Carrefour de l’Arbre, com 5 estrelas de dificuldade.
Outra característica típica da Paris-Roubaix são os trechos de estrada pavimentadas com paralelepípedos. Graças a essa característica, as bicicletas precisam ser adaptadas e costumam ser desenvolvidas especificamente para a prova, com quadros e rodas diferenciados. Apesar disso, são comuns os problemas mecânicos e os pneus furados que acabam dando ainda mais emoção à competição.
Em termos de vitória, existem dois ciclistas que reinam soberano: Roger de Vlaeminck e Tom Boonen, considerado o senhor do Paris-Roubaix e apelidado de “Tornado Tom”. A Bélgica é o país que mais venceu a prova, com 55 vitórias.
2- Tour de Flandres
Outra que integra o calendário das grandes provas do ciclismo de estrada é o Tour de Flandres, ou Volta de Flandres, que acontece em um só dia na região de Flandres, na Bélgica.
A prova é considerada uma das 5 clássicas Monumento, que ainda conta com: San-Remo, Milão, Paris-Roubaix, Il Lombardia e Liege-Bastogne-Liege.
História
A prova foi idealizada por Karel Van Wijnendaele, em 1913. Ele era co-fundador do jornal de esportes Sportwereid.
Até a Segunda Guerra Mundial ela era realizada no mesmo dia da Milão-Sanremo na Itália. Depois da guerra, a prova belga ganhou mais importância e agora é realizada sempre no último domingo de março.
Para os amantes das provas de ciclismo, o Tour de Flandres é considerado um dos mais bonitos, graças a paisagem cheia de montanhas e, claro, aos trajetos de paralelepípedos com alto nível de dificuldade.
Em 2012 o percurso sofreu uma alteração com a modificação da cidade de chegada, que desde 1973 era Meerbeke.
Agora, o destino final dos ciclistas é Oudennarde e a mudança foi feita graças aos incentivos maiores oferecidos aos organizadores e também as melhores condições de transmissão de TV. É também em Oudennarde que os torcedores podem visitar o Centrum Ronde van Vlaanderen, um museu totalmente dedicado à prova.
Os principais recordistas são os ciclistas da casa, com destaque para: Eric Leman, Achiel Buysse, Johan Museeuw e Tom Boonem.
Percurso
Em 2018, a prova teve 267 km e foi considerada uma das mais difíceis já disputadas, graças a presença dos hellingen (colinas) que, embora sejam curtas, têm uma inclinação máxima de 22%, ou seja, são bem difíceis de serem vencidas.
Os torcedores também ajudam a dar o charme à prova, principalmente nos setores de pavés. O primeiro fica localizado a mais ou menos 80 km da largada, porém existem outros em trechos mais difíceis, como Oude Kwaremont, Paterberg e Koppenberg. Afinal, o ciclista que consegue chegar nesses locais têm grandes chances de terminar bem a competição.
O destaque do Tour de Flandres, contudo, vai para o Koppenberg, com uma inclinação máxima de 22% e pedras irregulares, com um papel decisivo na prova e que exige um nível técnico muito grande do competidor.
3- Amstel Gold Race
A Holanda também sedia uma das grandes provas do ciclismo de estrada, o Amstel Gold Race, realizada anualmente nas colinas de Limburgo e patrocinada pela cervejaria Amstel. Desde 1989, a prova integra o calendário do Campeonato Mundial de Ciclismo e agora também é integrante do tour UCI Pro e UCI World Tour.
História
A prova foi criada por Ton Vissers e Herman Krott e a primeira edição aconteceu em 30 de abril de 1966, feriado nacional na Holanda. O plano era começar pedalando em Amsterdã e terminar em Maastricht, no sudeste do país, percorrendo 280 km.
Mas vários problemas aconteceram, já que os criadores ignoraram a presença de inúmeros rios ao longo do trajeto, o que tornou a distância muito maior do que a planejada inicialmente.
Então, o caminho foi alterado várias vezes pelos organizadores até se chegar ao percurso que seria usado na primeira corrida indo de Breda a Meerssen. Apesar disso, em 1967, a partida já teve de ser alterada para Helmond, onde ficava a sede do patrocinador Amstel e a distância total foi reduzida para 213 km.
Em 1991, o final da corrida foi alterado para Maastricht, a capital de Limburgo, e desde 1998 também tem início no mesmo local.
Percurso
Apesar de a Holanda ser conhecida pelas estradas planas, a Amstel Gold Race acontece em um local montanhoso no sul de Limburg, atravessando a paisagem rural. A escalada mais difícil é, sem dúvida, o Cauberg, que costuma ficar nos últimos poucos quilômetros da corrida.
Como você pode notar pela história que contamos, o percurso já foi alterado inúmeras vezes desde a criação da prova, porém, desde 2005, ela é realizada dentro dos limites de Limburg.
Hoje, o percurso possui cerca de 30 subidas curtas que aparecem em sucessão conforme a corrida progride, sendo que 8 delas acontecem nos 45 km finais. Os mais íngremes são Cauberg, Keutenberg e Eyeserbosweg.
Entre 2001 e 2003 foram realizadas 3 edições da Amstel Gold Race para mulheres, sendo que em 2003 a prova integrava a World Tour da UCI. Depois da terceira edição, contudo, a prova foi interrompida. Só depois de 14 anos ela voltou a ser disputada, em 2017, organizada no mesmo dia da prova masculina, com uma distância um pouco menor.
4- Strade Bianche
A Strade Bianche, ou Estradas Brancas em português, é uma corrida que acontece todos os anos na região de Siena, na Itália. Hoje ela integra a UCI Europe Tour e é considerada uma combinação da Paris-Roubaix e do Tour de Flandres.
História
Perto das demais grandes provas do ciclismo de estrada, a Strade Bianchi é bem nova, já que sua história começou em 1997, em um granfondo para amadores e só em 2007 foi a vez da primeira prova profissional.
De lá para cá, a prova passou a acontecer uma vez por ano sempre no primeiro ou segundo sábado de março. O nome “Strade Bianchi” foi dado devido às históricas estradas de carvalho branco que são consideradas a parte decisiva da corrida, já que mais de 50 km são percorridos nesse terreno.
A primeira vez que foi disputada profissionalmente, em 2007, a prova era chamada de Monte Paschi Eroica, foi vencida pelo russo Alexander Kolobnev e realizada em outubro. Em 2008, ela foi transferida para março, próxima da temporada das provas clássicas da primavera europeia.
Foi nesse ano também que a corrida foi alongada em 9 km, incluindo o setor de cascalho branco.
Desde 2015, a corrida possui uma versão feminina chamada “Strade Bianche Donne” que acontece no mesmo dia da prova masculina e integra o UCI Women’s World Tour, com metade da distância da prova dos homens.
Percurso
A corrida começa e termina no Patrimônio Mundial da Unesco de Siena. A rota possui cerca de 175 km de terreno montanhoso que cruza a província de Siena, no sul da Toscana e nove setores de cascalho, com quase 53 km de estrada de terra.
Os ciclistas finalizam a prova na ilustre Piazza del Campo, em Siena, depois de fazerem uma subida íngreme e estreita na Via Santa Caterina, que é pavimentada, bem no centro da cidade medieval.
5- Milano-San Remo
Também chamada de Milão-Sanremo ou a “Clássica da Primavera”, essa é uma das grandes provas do ciclismo de estrada que acontece em um percurso que liga as cidades de Milão e Sanremo, na Itália.
Ela é considerada uma das provas mais longas do ciclismo profissional, com 298 km.
História
A primeira edição dessa corrida aconteceu em 1907, organizada pelo então diretor da Gazzetta dello Sport, Eugenio Costamagna e pelo editor de ciclismo Armando Cougnet. A vitória foi de Lucien Georges Manzan, conhecido como Lucien Petit-Breton, que levou 11h 04m15s.
As primeiras provas eram um verdadeiro desafio para os ciclistas porque uniam péssimas estradas, mau tempo e uma distância enorme. Na década de 1940, a prova foi marcada pela disputa entre dois grandes ciclistas: Fausto Coppi e Gino Bartali.
Em 1960, um novo desafio foi adicionado ao percurso: a escalada do Poggio, com 3km na parte final, deixando a disputa ainda mais complicada.
Percurso
Como essa é uma das provas mais longas do ciclismo de estrada, ela é, sem dúvida, um grande desafio de resistência para os ciclistas.
Em 2018, a prova percorreu a rota que liga Milão à Riviera di Ponente, passando por pontos como: Varazze, Savona, Albenga, Imperio e San Lorenzo al Mare, onde se situa a clássica sequência do Capi, com a presença das duas subidas adicionadas à corrida nas últimas décadas: Cipressa e Poggio di Sanremo.
A subida do Poggio se inicia nos 9 km de antecedem a linha de chegada e possui quatro curvas fechadas já nos primeiros 2 km. A descida é bastante técnica, em estrada de asfalto e bem estreita. A parte final entra no Sanremo e os últimos 2 km são pedalados em estradas urbanas longas e retas.
Como você viu, além de muita dificuldade, as grandes provas do ciclismo de estrada são marcadas por questões históricas, curiosidades e desafios.
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