Corpus Christi bikepacking Mantiqueira 2017

Por Daniel Greg

A procura

Pratico MTB desde 2007 e desde então tinha a ideia de fazer cicloturismo, estava procurando algum tipo de viagem para fazer neste ano de 2017, coloquei como meta, pelos menos uma. A procura começou em sites e em conversas com amigos, até que surgiu a viagem CORPURS CHRISTI BIKEPACKING MANTIQUEIRA 2017, no site kalapalo, a proposta era pedalar cerca de 200 km por estradas de terra e trilhas acampando selvagem ao longo do caminho. Uma aventura 100% autossuficiente. De imediato me conquistou a ideia de ser autossuficiente, levar barraca, roupa, sistema de dormir e alimentação na bike e o mais importante, poder  fazer trilhas fechadas, descidas técnicas ou pedalar por qualquer terreno. A partir de então, tive acesso ao blog bikehandling, onde contribui com a impressão do Zine, Manual Brasileiro de bikepacking  e mantive contatos constantes com o Guilherme Cavallari da editora Kalapalo e fechamos a viagem.

Equipamentos

bikepacking mantiqueira
Foto: Daniel Greg

Fiz pesquisas em diversos sites estrangeiros sobre o bikepacking  (no Brasil somente o bikehandling e o site da editora Kalapalo têm boas informações), peguei varias orientações com o Guilherme Cavallari e acabei adquirindo o equipamento completo ( bolsa de selim, quadro e guidão da empresa norte-americana Blackburn ) optei por esta marca por ser de material estanque e facilmente removível do guidão e do selim , além de ter um custo que cabia dentro das minhas possibilidades financeiras. Com relação ao sistema de dormir iria aproveitar o que a expedição estava oferecendo (saco de dormir, saco Bivaque e isolante EVA). Com o Zine, Manual Brasileiro de bikepacking , em mãos, me orientei com relação às ferramentas, kits e outras informações ( devo ter lido umas 10 vezes).

 Preparação física

bikepacking mantiqueira
Foto: Daniel Greg

Sempre fui atleta, pratiquei alguns esportes como futebol, jiu-jitsu, e por último tennis, além da musculação para evitar lesões. Já estava pedalando regularmente em trilhas de BH e cidades próximas como Nova Lima e nos feriados em Três Pontas, sul de Minas.  Participei de trilhões em Pará de Minas-MG e provas como a CIMTB em Congonhas-MG. Estava condicionado, mas para viajar 4 dias, 200 km e carregado, precisava de uma preparação mais forte, comecei a fazer spinning , musculação 4 vezes por semana, pedalar 1 vez por semana na cidade com bike aro 26” e pneu fino em torno de 40 km, além de trilhas no final de semana em torno de 30 km. Estava  bem preparado para enfrentar a maratona.

Preparação psicológica 

bikepacking mantiqueira
Foto: Daniel Greg

Até então a minha experiência mais marcante na bike tinha sido um pedal em dezembro de 2013 quando pedalei durante 1 dia no deserto do Saara no Marrocos passando por vilas Berberes e penhascos na companhia de um francês e apoio de um Marroquino, e o que mais me marcou foi a minha capacidade de interagir e me superar em uma situação completamente adversa, sendo que começamos a pedalar com 11 graus e terminamos com 30 graus, no deserto a sensação do frio e do calor é bem forte. O que eu podia esperar desta nova experiência na Mantiqueira era me superar em todos os sentidos, saber até onde eu podia ir, conhecer os meus limites e medos e ultrapassá-los. Estas situações seriam vencidas com companheirismo e interação dos envolvidos na viagem. Este tipo de pensamento é que me move no meu dia a dia.

A Viagem

Trecho de carro  – Belo Horizonte ao Refúgio Kalapalo, em Gonçalves-MG

TERÇA-FEIRA, 14 DE JUNHO 2017

bikepacking mantiqueira
Foto: acervo pessoal Daniel Greg

Saí de Belo Horizonte, por volta das 11 horas rumo a Gonçalves-MG, chegando as 17:30 no refugio Kalapalo, onde me aguardava o Guilherme Cavallari. Iriamos fazer um treinamento juntamente com o Ricardo, um cliclista experiente de Brasília, para nos inteiramos sobre o bikepacking  e planejamento sobre a viagem. Jantamos juntos, conversamos sobre a vida, desafios, experiências e fomos assistir a um filme de bikepacking no Alasca, papo descontraído, o assunto foi parar em meditação. Fiquei interessado pelo assunto e o Guilherme Cavallari  nos apresentou algumas técnicas. Meditamos juntos por 30 minutos. Não estava na programação, mas foi uma excelente experiência, que espero repetir outras vezes.

Refúgio Kalapalo, em Gonçalves-MG

QUARTA-FEIRA, 15 DE JUNHO 2017

bikepacking mantiqueira
Foto: Daniel Greg

Acordamos cedo, tomamos um café da manha da melhor qualidade e logo começamos a trabalhar. Fomos apresentados aos equipamentos apropriados para Bikepacking e  montamos as nossas bicicletas para a viagem. Cada um de nós teria que levar um sistema completo de dormir, roupa apropriada ao inverno na Serra da Mantiqueira, comida para quatro dias, ferramentas para reparos de emergência nas Bikes, luzes para eventuais pedaladas noturnas, kit de higiene pessoal, kit de primeiros socorros e acessórios. Tudo ultraleve e supercompacto sem interferir no equilíbrio e dirigibilidade de nossas MTB. À noite, chegou o Sergio, ciclista experiente de Campinas e se juntou ao grupo.

A distribuição dos equipamentos e peso na minha bike ficou assim (foto acima): no guidão estavam o saco de dormir, isolante EVA e kit de cozinha, na bolsa do quadro coloquei o kit de ferramenta, parte da comida, câmara de ar e bomba de ar, cartucho tecgas, na bolsa de selim coloquei minhas roupas e toalha compacta, na mochila estava a bolsa de hidratação de 2 litros, kit primeiros socorros, kit higiênico, kit emergência sol da traverse, carregadores de celular, lanternas de cabeça e lanches. Pesamos a bike e a mochila, que estavam com 9 e 5 quilos de bagagem respectivamente.

 Trecho – Refúgio Kalapalo, São Bento do Sapucaí, Campista

QUINTA-FEIRA, 16 DE JUNHO 2017

55 KM pedalados , elevação 1414 metros e máxima altitude alcançada 1650 metros, velocidade média de movimento 12,4 km/h.

bikepacking mantiqueira
Foto: Daniel Greg

Com as Bikes montadas,  saímos depois do café da manhã em direção a Campos do Jordão (SP). Confesso que a adrenalina estava a mil, acho que era a sensação de todos os participantes. Logo na saída notei que apesar de estar carregado a dirigibilidade da bike não comprometia, estava pedalando confortável. A primeira parada foi no mirante do Serrano, onde pudemos apreciar a linda vista e verificar o topo da montanha, a qual chegaria ao final do 3º dia.

Descemos os 500 m verticais do Serrano, passamos por São Bento do Sapucaí (SP), forrada de tapetes de serragem para a procissão de Corpus Christi, e subimos a Serra do Monjolinho em direção a Campos do Jordão (SP). Essa serra íngreme e longa, de quase 600 m verticais, passa pelos bairros rurais Baú do Meio e Baú de Cima, acompanhando o Rio do Baú quase todo o tempo. A imponente Pedra do Baú decorou o cenário à nossa esquerda boa parte do caminho.

O clima estava perfeito. Céu azul, temperatura amena, sol quente, mas não muito forte e pouco vento. Cada um no seu ritmo, reagrupando a cada tanto, chegamos ao topo da serra e ao bairro Campista, já em Campos do Jordão. Hora de procurar um local para acampar. O Guilherme Cavallari   conhecia um sequência de trilhas em singletrack — caminhos estreitos por onde só passa uma bicicleta por vez —, que liga o Campista à fábrica de água mineral MINALBA, onde um local isolado e apropriado para passar a noite, chegamos por volta das 17:00.

Montamos acampamento às margens do Rio Sapucaí num bosque preservado logo depois que saímos do asfalto do Campista. Montamos as barracas, rede com toldo e saco bivaque, trocamos de roupas e nos agasalhamos, olhei no termômetro do celular e já estava beirando 10 graus, o local era fechado e bem úmido. Cozinhamos polenta com atum, azeitonas verdes e queijo parmesão ralado e pimenta para o jantar ( menu do chef Guilherme Cavallari  rsrs) . Não faltou chocolate de sobremesa e muito chá de camomila para relaxar.

Eu dormi num saco de dormir dentro de um saco de bivaque no avanço da barraca ultraleve para uma pessoa que o Sergio trouxe. PQP!!!  o local que dormir era desnivelado , eu escorregava para fora do avanço e voltava , o isolante  EVA hora estava por baixo, hora de lado e por fim estava sobre a minha cabeça, mas consegui descansar um pouco,  e como era o meu primeiro acampamento, já estava batizado !!. O Ricardo dormiu na rede com toldo em uma árvore meio caída, desenraizada, que parecia firme, mas não era. O resultado foi que no começo da noite a árvore terminou de deitar e a rede de dormir virou saco de bivaque encostado no chão, vá entender!!

Trecho – Campista, Roseta distrito rural de Wenceslau Brás-MG

SEXTA-FEIRA, 17 DE JUNHO 2017

55 KM pedalados , elevação 974 metros e máxima altitude alcançada 1468 metros, velocidade média de movimento 14,4 km/h.

bikepacking mantiqueira
Foto: Daniel Greg

Acordei um pouco resfriado, nariz congestionado, desmontamos os sistemas de dormir, tomamos o café da manhã a base de granola com leite em pó, café solúvel forte, queijo ( uai !) e  biscoito salgados. Arrumamos todo o local de estávamos sem deixar rastros de nada e fomos embora.

Uma sequência de singletracks nos levou do local do primeiro acampamento selvagem até o final do asfalto da estrada na MINALBA. Nesse trecho, o estilo bikepacking mostrou sua eficiência, pedalamos como se não estivéssemos carregando nada nas Bikes, tamanha desenvoltura e equilíbrio.

Descemos por mais de 30 km os quase 550 m verticais até o asfalto da estreita rodovia BR 459, sempre acompanhando o lindo Rio Sapucaí, que foi uma importante referência geográfica constante em nossa mini-expedição. A descida foi maravilhosa tanto pela paisagem, quanto pelo trecho, nele pude descansar um pouco as pernas, deixar a bike rolar e principalmente sentir o vento na cara e aquela famosa sensação de liberdade que vale a pena todo o esforço em cima de uma bicicleta. Claro, parada para as fotos e reaperto do parafuso que segurava o cabo do freio hidráulico dianteiro no garfo.

bikepacking mantiqueira
Foto: Daniel Greg
bikepacking mantiqueira
Foto: Daniel Greg

Quando chegamos ao asfalto e paramos para comer algo, discutimos as possibilidades e mudamos o itinerário. Seguir até Delfim Moreira elevaria demais nossa quilometragem e nós provavelmente não chegaríamos ao ENCONTRO NACIONAL DE CICLOTURISMO a tempo da palestra que seria ministrada pelo Guilherme Cavallari. Um motoqueiro local nos indicou uma estrada que subia acompanhando a margem oposta do Rio Sapucaí e que nos levaria até o fundo e no topo do HORTO FLORESTAL DE CAMPOS DO JORDÃO.

Subimos sem descanso por quase 20 km até Roseta, era subida que não acabava e já estava escurecendo e a estrada tinha muitas árvores o que não deixava o sol iluminar muito, nestes momentos você se faz aquela pergunta “o que estou fazendo aqui !?!?”, mas depois de cada subida, na teoria, tem uma descida e neste caso tinha uma meia descida, pois logo chegamos a Roseta, uma linda vila de pouquíssimas casas onde decidimos passar a noite. Mas havia um detalhe: era aniversário da localidade ou do santo padroeiro, sei lá, e havia um palco montando para um show ao vivo de música sertaneja. Por outro lado, a festa nos possibilitou banho quente no salão paroquial e um banquete de leitoa com macarrão, arroz e farofa que repôs todas nossas energias com sobra. A alternativa era MIOJO com molho pronto de tomate. Rolou até uma cervejinha no jantar. Ninguém reclamou da mudança na programação ou no cardápio.

Montamos o acampamento num local relativamente protegido do som, atrás de um tipo de depósito de produtos agrícolas numa área de charco, neste dia eu o Sérgio montamos a barraca em local mais plano, escolhido a dedo por mim, pois não queria mais escorregar dentro do avanço. Ficamos um pouco na frente da igreja batendo papo até terminar a missa e voltamos para o acampamento, mas, só conseguimos dormir mesmo quando a festa terminou, às 2h da madrugada. Na madrugada a temperatura estava perto dos 8º graus.

Trecho – Roseta distrito rural de Wenceslau Brás-MG, Horto Florestal de Campos do Jordão e espaço Araucária

SÁBADO, 18 DE DE JUNHO 2017

57 KM pedalados , elevação 1993 metros e máxima altitude alcançada 1876 metros, velocidade média de movimento 11,5 km/h.

Foto: Daniel Greg

Novamente acordei resfriado, nariz congestionado, desmontamos os sistemas de dormir, tomamos o café da manhã a base de granola com leite em pó, café solúvel forte, queijo (uai !) e  biscoito salgados. Arrumamos todo o local de estávamos sem deixar rastros de nada, como manda a cartilha e voltamos a pedalar rumo ao Horto Florestal de Campos do Jordão.

O dia prometia ser muito longo, com muita quilometragem e muita elevação. A primeira subida foi de 6 Km com inclinação de 14% e mais de 500 metros de verticalização, comecei a sentir o esforço nas pernas e talvez pelo resfriado me prejudicou um pouco, mas ao final da subida fomos brindados com uma paisagem surreal.

Seguimos em direção ao Horto e após a placa de entrada no parque, começou a diversão que todos os Mountain bikers curtem, descida entre mata fechada, não muito íngreme e constante, foi simplesmente sensacional, mais uma vez parecia que eu não estava carregando nada na bike, hora deixava rolar solto, hora segurava um pouco no freio, tudo sob controle. Chegamos à entrada principal do horto e seguimos pelo asfalto rumo a MINALBA, paramos em um café na beira da estrada, tomamos chocolate quente e comemos algo mais substancial e continuamos viagem mais subida e depois mais descida, desta vez pelo asfalto. Após passar a MINALBA, seguimos por terra em direção ao Espaço Araucária, neste trecho fiquei para trás, pois senti um pouco de câimbras na coxa da perna direita, era o meu corpo me avisando do limite, continuei empurrei um pouco a bike e consegui chegar no topo onde o pessoal me aguardava. O Guilherme Cavallari  me avisou que agora era só descida, nele acreditei ! Pois no inicio desta última subida encontrei uma senhora e perguntei se a subida era longa e ela me disse que não, que logo ali em cima terminava e eu acreditei, SQN kkkk, subi mais de 3 km, para quem já tinha pedalado mais de 50 km subido mais 1500 metros de elevação, qualquer 100 metros vira um martírio, xinguei um bocado cada metro que eu subia.!!! Mas a perdoei, com certeza, pois aqui em Minas quando você perguntar a alguma pessoa e ela falar é logo alí, tá chegando, pode se preparar para andar muito….

Começamos a descer os 3km finais e encontramos vários ciclistas que estavam voltando de passeios e participando do ENCONTRO NACIONAL DE CICLOTURISMO neste momento me dei conta que  tem muita gente boa pedalando e fazendo cicloturismo pelo Brasil e pelo mundo. Os ciclistas nos perguntavam sobre o bikepacking  sobre a viagem, sobre os equipamentos que estávamos usando e etc.

bikepacking mantiqueira
Foto: acervo pessoal Daniel Greg

Novamente, montamos as barracas no camping, tomamos um belo banho quente, jantamos junto com os demais participantes do evento e fomos assistir às palestras da noite. Foi bem esclarecedor cada um a sua maneira, Eliana Garcia, fundadora do CLUBE DE CICLOTURISMO DO BRASIL ao lado do companheiro Rodrigo Telles, falou sobre transporte de bagagem em alforjes; Arthur Berberian mostrou o bike trailer que ele mesmo construiu e usa em suas viagens; e o Guilherme Cavallari falou um pouco sobre bikepacking. Três formas eficientes de transporte de equipamento para tipos diferentes de ciclistas.

Após as palestras fomos dormir desta vez o Sérgio me cedeu a sua barraca para que eu pudesse dormir melhor, já que eu estava um pouco febril e precisava descansar mais para me recuperar.

Trecho – Espaço Araucária, São Bento do Sapucaí, Refúgio Kalapalo

DOMINGO, 19 DE JUNHO

44 KM pedalados , elevação 1595 metros e máxima altitude alcançada 1836 metros, velocidade média de movimento 12,8 km/h.

Foto: Daniel Greg

Acordei por volta das 6:30, estava me sentindo um pouco melhor, consegui dormir  bem a noite inteira, tomamos café da manhã juntamente com os demais ciclistas do evento, tomei bastante liquido, pois estava com boca seca. Arrumamos os equipamentos nas Bikes, despedimos do pessoal e seguimos viagem. O Guilherme Cavallari  conseguiu, através de informações do administrador do Espaço Araucária, um atalho por trilhas até o asfalto do Campista que nos economizaria cerca de 20 km. Uma subida forte, mas relativamente curta, porém as minhas pernas já estavam pesadas, o fôlego já não era o mesmo, parava para respirar a cada 200 metros, mas subi na raça, empurrando em alguns trechos, que nos levou até um passo de montanha e, de lá, até o asfalto que liga o Campista com a entrada da Pedra do Baú. O inicio da subida no asfalto foi razoavelmente tranquilo, mas eu parava às vezes para respirar um pouco, no trecho final da subida comecei a sentir câimbras nas duas pernas, fiz alongamentos, mas não adiantou muito. Neste momento passava uma pick-up Strada, que me ofereceu ajuda, prontamente aceitei, coloquei a bike na caçamba e encontrei com o restante da turma antes da descida da Pedra do Baú , conversamos e optamos por eu terminar a descida de carona até a cidade de São Bento do Sapucaí, onde iria esperar o pessoal descer para seguirmos até o Refugio Kalapalo.

Estava na praça de São Bento do Sapucaí, esperando o pessoal chegar, quando surge um casal de ciclista da cidade ( anotei os nomes na agenda do celular, mas não gravei e acabei perdendo os dados, se você lerem este relato entre em contato comigo) , eles ficaram interessados em ver como a bike estava carregada e começamos a conversar sobre bike, viagens e etc.

Ofereceram-me carona até o refugio Kalapalo, pois ainda tinha uns 15 km de pedal e uma elevação de mais de 700 metros em 7 Km, por um breve momento pensei em não aceitar, pois queira terminar pedalando, neste momento pensei na honra, porém, atleta que sou aprendi a respeitar o meu corpo e minha mente. Considerando que eu não estava bem fisicamente por conta das câimbras e com certeza iria empurrar boa parte da subida do Serrano, sendo assim iria demorar umas 2 horas para chegar ao destino final, aceitei a gentiliza.

Lembrei-me do Tripé de equilíbrio que o Guilherme Cavallari  nos ensinou para quem pratica esportes, que é o Ser Humano/ físico-Psicológica, habilidade/conhecimento e equipamentos, todos tem que estar em harmonia, se um destes falhar compromete todo o sistema e foi o que aconteceu comigo, mais um grande aprendizado.

bikepacking mantiqueira
Foto: Daniel Greg.

Pouco tempo depois o pessoal chegou, apresentamos uns aos outros, fizemos uma pequena resenha e colocamos a minha bike em cima do carro deles além da bagagem Guilherme Cavallari e do Ricardo, com exceção das bolsas do Sergio, que não quis saber de moleza e subiu a montanha carregando tudo o que tinha.

Cheguei ao REFÚGIO KALAPALO por volta da 15h00, encontramos mais outro casal de ciclistas, que nos viram na estrada, a bike montada em cima do carro e ficaram curiosos para ver de perto o estilo bikepacking , ficamos conversando sobre o mundo do Cicloturismo e narrei sobre minha viagem que acabara de acontecer, foi sem dúvida uma resenha e tanto com a troca de experiências e informações com os 2 casais de ciclistas, até fizemos uma programação para setembro de 2018, fazer o circuito vale Europeu em Santa Catarina.

Pouco antes das 16:00 começaram a chegar o Guilherme Cavallari , Sérgio e Ricardo, finalizando a aventura, nos parabenizamos pelo sucesso  e  por termos sidos guerreiros.

Desmontei todo equipamento, arrumei as malas, arrumei a bike sobre o carro,  tomei um belo banho quente, despedi dos meus novos amigos e as 17h:30min, liguei o carro e voltei para BH.

Reflexões sobre a aventura

Foto: Daniel Greg

Missão Cumprida ! Este é o sentimento final, como narrado no início do relato esperava me superar em todos os sentidos, saber até onde eu podia ir conhecer os meus limites e medos e ultrapassá-los, foi o que aconteceu, conheci os meus limites, medos? Não tive, pois estava fazendo o que mais gosto e o companheirismo e interação dos envolvidos na viagem, me fizeram mais forte. Como resultado ganhei mais independência, autossuficiência, confiança, conhecimento interior, preciso melhorar, com certeza, mas virão com o tempo em cima da bike, carregado, novas ideias e novos roteiros.

Estou pronto para a próxima jornada !

 O que levei na viagem 

Foto: Daniel Greg

Bike (Bike quadro First Lunix 29’’, suspensão Rock Shox XC30, transmissão dianteira e traseira shimano Deore XT 20 V, relação coroa 22×38 e cassete 11×36, freios dianteiro e traseiro deore XT m8000.)

  • Equipamentos bolsa (bolsa de selim Outpost Seat Pack, bolsa de quadro Outpost Frame e bolsa de guidão Outpost HB roll & Dry Bag todos da Blackburndesign )
  • Sistema de dormir ( saco de dormir exosphere +2 Deuter, saco de bivaque, barraca do Sérgio MSR Hubba NX, isolante EVA)
  • Roupas de ciclismo ( 2 camisas de ciclista, 1 bermuda, 1 balaclava, 1 jaqueta corta vento e impermeável, 1 sapatilha, 1 par de manquito )
  • Roupas de acampamento ( 2 camisas segunda pele, 1 jaqueta fleece, 1 calça segunda pele, 1 calça training forrada, 2 pares de meia de lã, gorro, 1 par de tênis)
  • Kit de reparos e manutenção (1 câmara de ar reserva, remendos, cola, chave multi-uso com chave para corrente, tiras de pneus cortadas, 1 gancheira reserva, 1 power link)
  • Kit de emergência (SOL Traverse Survival Kit e Filtro de água SAWYER MINI, kit farmácia com remédios mais comuns tipo dorflex, aspirina, naldecon, gaze e afins)
  • Kit cozinha ( Kit Odoland completo com caneca, mini fogareiro e cartucho de gás )
  • Kit higiene ( pasta de dente, escova, fio dental, protetor solar, toalha microfibra compacta)
  • Alimentação levada na bagagem ( Polenta em pó, atum, azeitona, miojo, molho de tomate, queijo, granola, café solúvel em pó, leite em pó, chocolate, banana, bolacha salgada, açúcar, sal, pimenta)
  • Referências utilizadas desde o início do processo

    www.kalapalo.com.br (site com diversas informações e livros sobre MTB, cicloturismo , Bikepacking, trekking e outros)

    https://bikehandling.com.br/ ( várias informações e relatos sobre Bikepacking)

    https://www.blackburndesign.com (Empresa norte-americana onde adquiri meus equipamentos)

    ZINE Manual Brasileiro de Bikepacking- 1ª edição

    http://www.bikepacking.com (site americano completo)

    Dicas de Hospedagem nesse Roteiro

    Você pode reservar hotéis, pousadas, hostels e até casas de hóspedes através do Booking.com. Assim terá muitas opções para comparar e escolher a que vai te atender da melhor forma.

    514 km em 7 dias no Circuito Folclórico

    Por Silvio Alves

    514 km em 7 dias no Circuito Folclórico. Viajei de bike durante 7 dias saindo de Campinas. Passei por Joaquim Egídio, uma região cercada de muita natureza e trilhas.

    Pedalando pelo Observatório de Capricórnio no Pico das Cabras a gente se conecta com os encantos do Universo. Um lugar mágico. De lá segui para Morungaba, cidade bem charmosa e com uma culinária maravilhosa.

    Foto: acervo pessoal Silvio Alves

    No dia seguinte adentrei na região bragantina e cheguei em Joanópolis, e fui recepcionado na Associação dos Criadores de Lobisomens. Lá tive uma aula sobre a “fera”, personagem que move o turismo daquela cidade.

    Foto: acervo pessoal Silvio Alves

    No terceiro dia passei pela Cachoeira dos Pretos e após a contemplação da mesma, cruzei a serra da Mantiqueira rumo a São Francisco Xavier. Após belas paisagens e mirantes, descansei na aconchegante “São Chico”, já no Vale do Paraíba.

    Foto: acervo pessoal Silvio Alves

    O quarto dia foi dedicado ao escritor Monteiro Lobato: cruzei uma bela serra até chegar na cidade que leva o seu nome. Visitei o “Verdadeiro Sítio do Pica Pau Amarelo”, onde ele nasceu e teve as inspirações para a criação de seus personagens. Em seguida passei por Caçapava até chegar em Taubaté, sua Terra natal, onde visitei o Museu Monteiro Lobato e até tirei fotos com os personagens do Sítio. Depois segui para Tremembé para dormir.

    Foto: acervo pessoal Silvio Alves

    O quinto dia foi dedicado a Espiritualidade: segui para Aparecida, e depois do almoço fui para um Templo Hare Krishna chamado Nova Gokula em Pindamonhangaba, onde passei a noite.

    Foto: acervo pessoal Silvio Alves

    No sexto e penúltimo dia segui para o município de Lagoinha, cidade pequena com povo hospitaleiro e que segue até os dias de hoje as tradições caipiras através de sua culinária, turismo rural e muitas festas típicas. Ali, dormi na casa de um amigo.

    Foto: acervo pessoal Silvio Alves

    O último dia de pedal foi rumo à São Luiz do Paraitinga, cidade rica em tradições folclóricas, incluindo Festa do Divino Espírito Santo, Carnaval de Marchinhas, Festa do Saci e uma maravilhosa culinária caipira. A noite participei de um Sarau em volta da fogueira com contação de histórias, causos de Sacis e moda de viola, fechando minha cicloviagem com o tema que escolhi para ela, Circuito Folclórico ou Trilha do Saci.

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    Pedal MastiGo – Vitória à Marataízes

    Por Thiago Soares

    Essa cicloviagem até a cidade de Marataízes foi realizado através de uma viagem de bicicleta com o “Pedal MastiGo”, um grupo de amigos ciclistas que curtem o cicloturismo da melhor forma possível: pedalando e lanchando!

    Marataízes é uma cidade litorânea do estado do Espírito Santo, com forte presença de pescadores, rica em história local e conhecida como a Pérola do Sul Capixaba.

    A ansiedade por esse pedal era tamanha, justamente porque já havia pedalado com o grupo para Regência em fevereiro desse ano; logo depois, o grupo havia realizado uma cicloviagem para Matilde, mas perdi a trip. Agora, era a vez de conhecer Marataízes e não poderia perder essa chance! Com meses já programado, desejei que nada poderia desse errado.

    E assim, no dia 23 de Junho de 2017 arrumava a Caloi Explorer 20 para mais uma aventura: um bagageiro acoplado ao canote do selim sustentava uma mochila ensacolada. Dentro dela, minhas roupas que usaria nos dois dias de viagem, um saco de dormir e objetos de higiene pessoal. Além disso, instalei a minha bolsa de guidão, onde levaria dois litros de água, quatro biscoitos integrais, dois rocamboles de brigadeiro, uma garrafa de isotônico, duas mini garrafas com 237ml de Pepsi e 50 gramas de chocolate. Na parte da frente da bolsa de guidão, uma câmara de ar furada (eu iria remendar se precisasse!), um kit básico de reparo para a bicicleta, um conjunto de chaves allen e uma tesoura de mão.

    O tempo brincava conosco! Choveu muito durante os dias anteriores!

    Na madrugada do dia 24 de Junho, na qual faríamos nossa cicloviagem, o ideal era ficar em casa e curtir minha confortável cama por horas. No entanto, fui dormir às 00:30 e acordei às 03:30! Ao acordar olhei o grupo do Pedal MastiGO no WhatsApp e percebi que alguns integrantes nem sequer dormiram, comentando sobre o temporal que poderíamos pegar na cicloviagem.

    A vontade de ficar na cama era imensa. Minha bicicleta estava pronta. Todos no grupo do WhatsApp agitados pra sair. Empurrei a bicicleta para fora de casa e, ao mesmo tempo, realizava um check list no meu cérebro, lembrando de tudo que estava levando, pra não esquecer de nada. Nesse turbilhão de coisas, às 04:00h, fui ao encontro de Fernando, ciclista que fazia parte do grupo, e estava conhecendo naquele momento e que mora no mesmo bairro que eu.

    Fechei o portão de casa e nem havia percebido que minhas luvas haviam caído na garagem. Ao pedalar até à casa do Fernando, a bolsa de guidão estava pesada demais e encostava na roda dianteira. Não ia dar certo levar aquela bolsa despencando daquele jeito!

    Encontrei com Fernando e esperamos o Rodrigo chegar com o carro. O planejamento foi termos um carro de apoio onde as bagagens mais pesadas seriam levadas no carro e o essencial conosco. Pra mim, o essencial era a alimentação e o kit de reparo. Por isso, enquanto Rodrigo ajeitava a sua bicicleta no trans bike, retirei o bagageiro e a bolsa de guidão da minha bicicleta e optei por levar a mochila nas costas com a alimentação e o kit de reparo. O resto foi no carro de apoio!

    Com três bicicletas ajeitadas no carro, mais as bagagens de todos no porta malas, fomos motorizados para a casa da Adriana (Drika), que seria a motorista do carro de apoio. Quando estávamos indo ao encontro de Drika, na avenida Vitória, encontramos ciclistas que saíram de Maruípe e encontrariam conosco na Rodoviária de Vitória.

    Buscamos a Drika em sua casa. Ela disse pra mim que tinha uma câmara de ar nova para aro 29, caso eu precisasse. Me senti aliviado caso meu pneu furasse (obrigado Drika!).

    Descarregamos as três bicicletas que estavam no carro na Rodoviária de Vitória e lá conheci os ciclistas que passaram por nós na avenida Vitória: a Márcia, o Luiz, o Tom e o Wallace. Agora, Drika guiava o carro até Vila Velha e nós éramos sete ciclistas em direção à Praça do Ciclista, em Vila Velha para encontrarmos com o restante da galera.

    Chegamos na Praça do Ciclista por volta de 05:45h e encontramos o Leonardo, o Fábio, o Flavio e a Sabrina. Um bate papo rápido e já programada uma parada para o café em Guarapari!

    A rota até Guarapari foi pela clássica Rodovia do Sol: saindo da ciclovia de Vila Velha, seguimos ao sul em direção à Ciclovia da Barra do Jucu, que beira a Reserva de Jacarenema! No acostamento central da Rodovia do Sol, próximo à Interlagos, já era possível observar o sol nascer. E rapidamente o Sol já se mostrava! As nuvens negras estavam discretas, a pista estava molhada e nossa velocidade média estava em torno de 19km/h.

    Eu havia comido chocolate e bebido água. Não estava faminto e nem desidratado. Mesmo tendo uma pequena noite de sono, estava ativo pra pedalar. O alto astral, a disposição do grupo em estar junto e respeitar uma velocidade média ideal para todos, tornava o pedal confortável demais. Mesmo “no giro” era possível conversar e ir se conhecendo aos poucos. Eu mesmo, tive a oportunidade de conversar com o Fábio, amigo fotógrafo do Grupo Cliques, mas era a primeira vez em que pedalávamos juntos!

    Chegando em Santa Mônica, estávamos em fila indiana e ouço gritos. Acredito que os gritos eram de Márcia. Ao parar a bicicleta e olhar pra trás, vejo Flávio caído no asfalto e um ônibus da Viação Alvorada parado próximo à ele. De dentro do ônibus via-se um motorista assustado e um policial, no carona, espantado também com a situação. Ao mesmo tempo, Flávio se levanta tranquilamente e ri com a situação. Por segundos, todos parados e observando a situação de “quase atropelamento”.

    Ele estava bem!

    Flávio vai ao encontro de sua bicicleta e volta a pedalar. Pergunto a ele se havia se machucado e responde pra mim que estava tudo tranquilo. Foi um susto pra todos! Eu não vi o que realmente aconteceu, mas depois descobri que Flávio havia se desequilibrado da bicicleta e caído na pista. Por pouco o ônibus não o atropela!

    Continuamos e, na parada para o café em Perocão, em Guarapari, o Fábio se despediu de nós. Ele já havia dito que participaria de apenas uma parte do pedal conosco porque tinha um compromisso de trabalho e sua bicicleta era uma speed, e andar com ela pelas ruas horrorosas e esburacadas do Centro de Guarapari não seria uma boa idéia. Já era mais de 08:30h e o trânsito já se apresentava instável na Cidade Saúde.

    A travessia por Guarapari foi pelo centro urbano. Sendo assim, tivemos que ter bastante cuidado para fugir do transito intenso. Mesmo pedalando nas vias e no mesmo sentido dos carros, ainda é nítido o desrespeito no trânsito entre motoristas e ciclistas.

    A rota voltava a ficar tranquila quando chegamos à ciclovia que existe em Nova Guarapari, em direção à Meaípe. Dali em diante, continuaríamos pelo asfalto da ES-060, numa reta que nos levaria até a cidade de Piúma. Durante esse caminho, encontramos a Drika no carro de apoio, tirando fotos de nossa cicloviagem.

    Realizamos uma parada para fotos em Anchieta, próximo à Lagoa Maimbá (ou Mãe-Bá) e lanchamos mais um pouco. A Márcia e o Tom foram os que mais aproveitaram para tirar foto da galera! No nosso retorno do dia seguinte, com certeza iríamos tirar uma foto próximo ao Santuário de São José de Anchieta. Subir até o Santuário já seria outro desafio!

    Não estávamos cansados e o vento estava nos ajudando bastante a atingir nosso objetivo de almoçar em Marataízes. Já passava de meio dia e até Iriri eu já conhecia a estrada.  O resto do caminho, era uma surpresa pra mim, mais já sabia seriam mais quilômetros avançados para o sul do estado de bicicleta. Dessa vez, deu pra vislumbrar mais o Monte Aghá e a paisagem atlântica à sua frente.

    A paisagem do litoral de Itaipava até Itapemirim era única: do nosso lado esquerdo, o mar; e do nosso lado direito, a vegetação litorânea. Uma estrada na qual avistávamos Itapemirim. A fome já atingia nossos cérebros durante a pedalada até Itapemirim e confundir essa cidade com Marataízes era apenas um detalhe para ciclistas que já ultrapassavam os 100km pedalados em um dia.

    Chegando em Marataízes, por volta de 14h, uma pausa para o almoço no Bom Sabor Restaurante, que é um self service com churrasco.

    Após algumas conversas, decidimos ir até o Pier I para tirar mais fotos da cidade. No píer também há um poste de madeira com diversas setas coloridas que indicam as distâncias dos diversos lugares do litoral de Marataízes e um relógio solar. Saindo do píer, levei um leve banho de mar, já que as ondas quebram com grande velocidade nas pedras embaixo do píer.

    E assim, retornamos para Iriri, em Anchieta. Ainda em Marataízes, mas já saindo da cidade, fizemos uma parada para fotos nas Ruínas do Trapiche, no Porto da Barra.

    O Trapiche foi construído pelo Barão de Itapemirim entre 1860 e 1883, com o objetivo de armazenar os produtos agrícolas da região e desenvolver as atividades portuárias. A obra possuía 2 pavimentos e com o uso das estações ferroviárias e estradas de rodagem, caiu em desuso, sendo desativado nos anos 50. Mesmo parecendo estar abandonado pelo Poder Público ficamos um bom tempo por lá e tiramos uma foto oficial do passeio.

    O pedal nesse dia resultou em uma cicloviagem de mais de 150km, passando por belas praias e admirando um pouco da história da cidade de Marataízes.

    Chegamos em Iriri por volta de 17:30h, com o sol já se pondo! Da casa do Fernando, dava pra ver o mar. E a Drika já nos aguardava! Ela havia comprado refrigerantes e água para todos.

    O corpo agradecia pelo pedal! A Caloi Explorer 20 estava com as correntes secas e precisa de óleo para a sua volta de 100 km.

    Nesse dia havia feito novos amigos! Que venha mais MastiGo!

    Dicas de Hospedagem nesse Roteiro

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    Cicloturismo com carro de apoio: 5 coisas que você deve saber antes de experimentar

    Post atualizado em 17/06/2019

    Fazer cicloturismo com carro de apoio é para muitos um assunto polêmico, causando até arrepios nos cicloturistas mais radicais e adeptos da autossuficiência.

    Mas eu sempre disse aqui no blog que existem diversos estilos de cicloturistas e de cicloviagens.

    Eu faço a maioria das minhas cicloviagens de forma autônoma, mas já experimentei um roteiro na Itália com carro de apoio e gostei muito. Tudo depende da proposta, do grupo, do estilo da viagem.

    Então eu decidi escrever esse artigo não para alimentar polêmicas, mas para apresentar o cicloturismo com carro de apoio como uma possibilidade para suas viagens de bicicleta.

    Se preferir, assista a esse conteúdo em vídeo:

    Vou mostrar os tipos de pessoas, viagens e situações para as quais considero vantajosa a utilização de carro de apoio. No final, gostaria de saber a sua opinião (lá nos comentários): você curte viajar com carro de apoio? Por que?

    Como funciona uma cicloviagem com carro de apoio?

    Van equipada para apoio a cicloturistas na Croácia. Fonte: http://www.meridienten.com/page/sag-wagon-van-rental/27

    Para quem ainda não conhece o serviço, o carro de apoio funciona de maneira bem simples.

    Geralmente, ele é utilizado para transportar as bagagens e ferramentas do ciclista pelo trajeto. Pode dispor também de alguém especializado em mecânica de bike e pequenos reparos.

    A idéia geral é dar apoio ao ciclista para que ele cumpra todo o trajeto pedalando. Mas, no caso de uma eventual quebra ou problema técnico mais sério no percurso, pode também resgatar o ciclista.

    A ação do carro de apoio vai depender da distância e das necessidades no percurso a ser pedalado:

    1. Ele pode andar atrás do grupo, “varrendo” o percurso.
    2. Pode parar em locais específicos para lanche e apoio.
    3. Ou ainda, pode apenas levar as bagagens para o destino final do dia e esperar pelos ciclistas, sendo acionado somente no caso de alguma eventualidade.

    5 vantagens do cicloturismo com carro de apoio

    1 – Pedalar com carro de apoio é ótimo para iniciantes

    Eu considero uma excelente opção para cicloturistas iniciantes. Pedalar com carro de apoio vai te dar a segurança necessária para você se concentrar apenas nas pedaladas, sem se preocupar com outros aspectos da autossuficiência.

    2 – Pedalar com carro de apoio pode aumentar o número de cicloturistas

    Cicloturismo com carro de apoio
    Direitos autorais: skypicsstudio / 123RF Banco de Imagens

    Nem todos possuem o preparo e a disposição para uma viagem autossuficiente e com muito peso. Por isso, o carro de apoio é uma estrutura que colabora para a inclusão de mais pessoas no cicloturismo.

    Conheço algumas pessoas que só conheceram o cicloturismo porque tiveram a experiência de uma viagem com carro de apoio.

    3 – O carro de apoio te permite cobrir maiores distâncias com mais conforto

    pedalar longas distâncias

    Essa é uma vantagem mais voltada ao desempenho. Menos peso na bike resulta em menos esforço na pedalada. Com isso, o ciclista ganha a possibilidade de percorrer uma distância maior em suas cicloviagens.

    4 – Pedalar com carro de apoio te permite também curtir mais o trajeto.

    Pausa merecida para os ciclistas. Foto: André Schetino

    A situação é a mesma do item 3. Mas ao invés de pensarmos no desempenho, vamos pensar no turismo! Menos peso na bike = menos esforço na pedalada. Você pode aproveitar então para fazer uma jornada mais tranquila, com paradas para fotos, lanches etc;

    5 – O carro de apoio é ideal para roteiros internacionais

    Região da Puglia – Caminho entre Cisternino e Ostuni. Foto: André Schetino

    Isso porque a logística de uma viagem internacional costuma ser diferente. Se não vamos fazer uma viagem internacional exclusivamente dedicada a um roteiro de cicloturismo, vamos levar uma boa quantidade de bagagens, com itens que são necessários em uma viagem internacional, mas desnecessário durante os pedais.

    Como organizar uma logística que envolve a bicicleta (seja levada daqui ou alugada no exterior), malas, roupas etc. Se for uma viagem de 3 a 4 semanas, sendo que apenas 1 semana de pedal?

    Nesse ponto acho uma grande vantagem a utilização do carro de apoio.

    Maratona das Dolomitas 2017: percurso da prova e informações

    [ATUALIZAÇÃO 10/05/2017 às 10:20hs]: Acabamos de realizar o sorteio da inscrição para a Maratona das Dolomitas 2017! Fizemos o sorteio ao vivo pelo YouTube e você pode acompanhar como foi no video abaixo.

    O vencedor foi o Leandro Pessi, de Araranguá, Santa Catarina! Parabéns Leandro! Vamos entrar em contato com você!

    Fizemos também uma lista de espera com mais 9 nomes. Caso o Leandro não possa ir, vamos chamando na sequência da lista abaixo.

    LISTA DE ESPERA:

    1 – ALEXSSANDRO DO CARMO
    2 – ALINE CRISTINE DA SILVA AMORIM
    3 – RICARDO CASTILLO
    4 – ANDRÉ FELIPE PINTO DUARTE
    5 – WIRAN
    6 – MAURY SOARES VIVAS FILHO
    7 – VINICIUS SARMENTO FONSECA
    8 – BRUNO CABRAL
    9 – EDUARDO LEANDRO SOUZA DE PAULA

    Muito obrigado a todos que participaram. Nosso agradecimento também à Italy Bike Tour, que nos leva sempre pra Itália e descola esses presentões pra sortearmos aqui no blog!

    —–

    A Maratona das Dolomitas é uma das provas de ciclismo mais concorridas do mundo. Nesse artigo você confere todas as informações sobre a prova deste ano. Se quiser saber tudo sobre a história desta prova que vai para a sua 31ª edição, pode conferir nosso artigo:

    [icon size=”medium” name=”e-info-circled”] Maratona das Dolomitas: tudo sobre uma das maiores provas de ciclismo do mundo

    E no final desse post tenho uma ótima surpresa pra você que acompanha o Até Onde Deu pra Ir de Bicicleta e pensa em pedalar em uma das provas mais tradicionais do ciclismo italiano. Confira!

    A Maratona das Dolomitas 2017

    Maratona das Dolomitas 2016

    A Maratona vai acontecer no dia 02 de julho de 2017, e o tema deste ano é “Amor”. Essa é conhecida como “a Rainha dos Granfondos da Itália”. É uma das provas mais concorridas, e aqui está o motivo: para esse ano serão cerca de 9000 vagas, e o número de inscritos promete ultrapassar os 35.000. As vagas são sorteadas entre os inscritos.

    Neste video da edição do ano passado você pode conferir as belezas do percurso e a grandiosidade da prova. É muita gente pedalando junto!

    Os Percursos

    Como nos anos anteriores, temos 3 percursos para a prova. Abaixo você confere cada um deles, com as informações de distância e altimetria. Os gráficos e informações são do site oficial da Maratona das Dolomitas.

    Percurso Maratona

    Distância: 138 km

    Desnível: 4230 m

    Maratona das dolomitas 2017
    Maratona das Dolomitas 2017. O percurso longo (maratona) – 138km

    Percurso Medio

    Distância: 106 km

    Desnível: 3130 m

    Maratona das dolomitas 2017 - percurso medio
    Maratona das dolomitas 2017 – o percurso medio

    Percurso Selaronda

    Distância: 55 km

    Desnível: 1780 m

    Maratona das Dolomitas 2017 - Percurso curto (sellaronda)
    Maratona das Dolomitas 2017 – Percurso curto (sellaronda)

    Que tal pedalar a Maratona das Dolomitas 2017?

    Ficou com vontade de experimentar essa prova? Pois nós estamos sorteando uma inscrição gratuita para a Maratona deste ano!

    A nossa parceira Italy Bike Tour disponibilizou uma inscrição para a prova. Para participar do sorteio, basta clicar neste link.

    Quer saber mais sobre os Granfondos na Itália?

    Se você quiser saber mais sobre os Granfondos na Itália – como a Maratona das Dolomitas e outros – confira nossos conteúdos especiais nos links abaixo. E se quiser receber dicas sobre ciclismo, cicloturismo, trainning camp e provas na Itália, é só preencher o formulário abaixo. Te enviaremos conteúdo exclusivo e informações pra você programar o seu pedal na Itália.

    [icon size=”medium” name=”e-info-circled”] Clique aqui e baixe o nosso infográfico sobre Granfondo na Itália: As 32 provas do Calendário Oficial Italiano apresentadas de uma forma muito especial.

    [icon size=”medium” name=”e-info-circled”] Granfondo na Itália: O Guia Completo – todas as provas organizadas por região, distância e altimetria do percurso.

    Quer mais roteiros de cicloturismo na Itália?

    Aqui no blog temos um ebook gratuito de cicloturismo na Itália (clique para baixar). São 4 roteiros nas regiões da Toscana, Emília Romana, Dolomitas e Puglia. Todos com muitas fotos e detalhes técnicos de distância e altimetria em cada dia. Espero que possa te ajudar a planejar o seu pedal pela Itália.

    Pedal de Cunha até Angra dos Reis

    Por Tomás Dotti

    144km De Cunha/SP até Angra dos Reis/RJ pra passar o carnaval em Ilha Grande/RJ

    Saí mais tarde do que eu havia planejado. Passei a noite tentando arrumar o freio da minha bike, pois o da frente não funcionava e os dois estavam agarrando na roda. Acabei não conseguindo e decidi ir assim mesmo. Meus freios são hidráulicos, usam óleo e algumas vezes começaram a funcionar depois de algumas bombadas.

    Já passava das 8:30 quando comecei a pedalar e era preciso chegar em Angra dos Reis até as 15:30, horário de saída da balsa pra Ilha Grande, onde eu passaria o carnaval. Eu teria que andar bem rápido e fazer poucas paradas pra dar tempo.

    Como Cunha já é uma cidade 900 metros acima do nível do mar pensei que não teria tanta elevação antes de começar o trecho de descida. Ledo engano. Rodei muitos quilômetros na marcha mais leve, evitando olhar pra cima, porque sinto que quando vejo o tamanho do morro dou uma desanimada. Prefiro focar nas minhas pernas pra ver se a técnica está boa e enxergar no máximo uns 5 metros à frente, só pra não cair num buraco ou algo do tipo.

    Depois de muito suor e cansaço cheguei a Pedra Macela (não foi erro de digitação, é Macela mesmo). Um lugar maravilhoso, onde a estrada é cortada por uma cachoeira lindíssima e que marca o inicio do trecho de descida. Lá encontrei um grupo que vinha de Paraty e me alertaram sobre os perigos à frente. Disseram que em alguns pontos só passava um carro por vez e que não havia proteção separando a estrada das ribanceiras que a flanqueiam.

    Me despedi deles agradecendo pelas dicas e apreensivo porque eu teria apenas o freio de trás pra brecar, o da frente, mesmo depois de muitas bombadas, continuava sem funcionar. Mas não tinha o que fazer se não lidar com a situação da melhor forma possível.

    Quando voltei pra bike um susto: a sapatilha clipou sem eu querer e me desequilibrei logo em seguida. Caí como um lego grudado numa outra pecinha. Minha bike, no caso. Bati o joelho numa pedra e doeu bastante (o ego e o joelho). Foi meu primeiro tombo depois de começar a usar sapatilha e entre os ciclistas existe a crença de que uma hora isso acontece, é só questão de tempo. Mas justo hoje? Fiquei com medo de não conseguir continuar a aventura por conta disso. Talvez fosse pra evitar algo mais grave. Eu ainda não estava confiante de que conseguiria descer mais de 20 kms de ladeira só com o freio de trás.

    Me sentei na pedra que acertei com o joelho torcendo pra não ter fraturado um osso. Estava sangrando, mas não foi um corte, a pele abriu pela pancada mesmo. Rapidamente a dor foi diminuindo. Fiquei animado, seria frustrante demais ter que desistir. Montei na bike, clipei a sapatilha (dessa vez por vontade própria) e continuei.

    Pouco antes de começar a descer dei mais umas bombadas no freio da frente e pra minha surpresa ele funcionou. O quê? Dei um grito de felicidade! Se um joelho arrebentado seria um sinal de que eu não deveria prosseguir, o fato do meu freio ter voltado à vida metros antes do inicio da descida só podia significar: Tomás, tamo junto, parceiro! Você vai chegar no seu destino e essa viagem vai ser das melhores que você já fez!

    Percorri todo o trecho de descida maravilhado. A estrada ficou ainda mais bonita que antes, repleta de árvores, borboletas, pássaros e a falta de proteção nas laterais acaba por criar diversos mirantes. Queria ter podido passar mais tempo nesse trecho. Mas a descida é tão íngreme que fica difícil reduzir a velocidade.

    Chegando em Paraty decidi buscar uma bicicletaria pra um reparo rápido nos freios. Eles continuavam pegando nas rodas, parecia que eu estava carregando alguém comigo. Pedi informação pra três ciclistas que encontrei pelo caminho e todos recomendaram a Bicicletaria do Aladin, que pra minha sorte ficava numa saída da Paraty-Cunha, então nem precisei sair da minha rota. Fui atendido por um ajudante do Aladin que em menos de 10 minutos (e por apenas R$ 5,00) resolveu o problema. Parecia que eu tinha trocado minha MTB por uma speed.

    Algumas horas depois, quando eu vi uma placa de um restaurante que servia pato assado a fome apertou e resolvi parar. O joelho estava doendo bastante e aproveitei pra colocar gelo enquanto aguardava meu prato. Coloquei minha motivação à prova depois de terminada a refeição. É bem difícil voltar a pedalar de estômago cheio, embaixo de sol forte e ainda bem longe do destino. Mas bastou pensar nas belezas e nos amigos de Ilha Grande pra preguiça ir embora.

    Já era fim de tarde e eu estava bem cansado quando decidi parar e ver no celular quantos kms faltavam pra chegar a Angra dos Reis. Eu não usei o Strava porque fiquei com medo de acabar a bateria e por isso estava um pouco confuso. Apesar disso tinha a convicção de que precisaria pedalar mais no máximo uns 20 kms. Entretanto pra minha surpresa e decepção eu estava a 45 kms do objetivo. Fazendo os cálculos notei que chegaria à noite e teria que contar com a sorte pra encontrar transporte pra Ilha Grande.

    Dali em diante foi pura superação. Peguei uma baita chuva, um trecho com muitas subidas e pista estreita. Pensei várias vezes em parar e pegar um ônibus porque não aguentava mais pedalar. Mas nessas horas a frase “a dor é passageira, mas desistir é pra sempre” não sai da minha cabeça e foi ela que me deu forças pra continuar.

    O relógio marcava 19:40 quando enfim cheguei a Angra. Dei mais um grito. Dessa vez bem mais forte que quando meu freio voltou a funcionar. A chuva abafou um pouco, mas as pessoas que estavam por perto não entenderam muito bem. Quis muito poder mostrar pra elas (e pra todos os outros que me chamaram de louco quando contei que faria essa viagem) num telão as imagens de tudo que eu havia passado até aquele momento. Lembrei que preciso de uma GoPro.

    Eu saí mais tarde que o planejado e muitas coisas aconteceram sem que eu pudesse prever. Mas em nenhum momento tive a pretensão de que tudo ocorresse de acordo com minhas expectativas. Se aventurar rumo ao desconhecido pode parecer assustador e talvez seja mesmo, mas é também uma forma de meditação, de se conectar com o presente e consigo mesmo.

    De Cunha até Angra dos Reis
    Foto: acervo pessoal Tomás Dotti

    Na foto meu amigo Paulo (que mora na Ilha Grande há 10 anos e que me hospeda sempre que vou pra lá), seu filho Jorge e eu.

    Dicas de Hospedagem nesse Roteiro

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