Cicloturismo: de Teutônia a Torres (RS)

Por Carlos Leandro Tiggemann

De Teutônia a Torres (RS)

E OS DIAS… VÃO SE PASSANDO… E O QUE VOCÊ FEZ?

Você já se perguntou o que você poderia fazer de diferente neste ano? Não estou falando daquelas tradicionais promessas, como emagrecer, fazer exercícios, juntar dinheiro e “otras cositas más!” Me refiro aos momentos que realmente mexem na sua vida. As horas, os dias, as semanas, os meses… os anos vão passando, e quando percebemos, num picar de olhos, lá se foram anos de nossas vidas. E o que fizemos? Nossa, esta sensação de ver o tempo esvair entre os dedos, ou melhor, entre os dias, é perturbadora. Então, quem sabe este ano, hoje, ou melhor, após ler este texto, seja o momento de mudança, o seu momento. Quem sabe trocar de emprego? Mudar o rumo dos estudos ou voltar a estudar? (Re) Investir em um relacionamento? Programar uma grande aventura ou viagem?

Para mim, esta foi a grande reflexão que me fiz durante os 300 quilômetros que percorri de bicicleta até Torres com meus amigos Karli Heller e Jorge Petry. Meses de treinamento, de preparação, de expectativas para o grande dia. Saímos de Teutônia do dia 7 de janeiro (2015), percorrendo a Rota do Sol em suas intermináveis subidas, e após 90 km e muito calor, chegamos a Caxias do Sul. No dia seguinte rumamos à Taínhas (distrito de São Francisco de Paula), e mesmo o relevo ter sido mais ameno, a falta de lugar para dormir no local pretendido, nos obrigou a pedalar 120 km até encontrar um “pouso seguro”. E no último dia, fizemos mais 90 km, contornado as curvas da Rota do Sol rumo a Terra de Areia (foto), e muito felizes por esta chegando em nosso destino. Feito, chegamos, 300 km em 3 dias de aventura. Para arrematar nossa aventura, após 2 dias de descanso pedalamos mais um pouco (62 km) até Santa Catarina, Balneário Gaivotas.

Teutônia a Torres
De Teutônia a Torres (RS). Foto: acervo pessoal Carlos Leandro Tiggemann

Este breve relato de nossa viagem, apesar de trazer alguns elementos curiosos e instigantes, está longe, mas muito longe de relatar o que realmente representou. Fisicamente, a necessidade constante de superar o cansaço, as dores, a fraqueza e o mal estar, estava presente em muitos trechos da viagem, nos obrigando sempre estar focado e concentrado nos sinais de nosso corpo. As incertezas dos próximos quilômetros, os vários pneus furados (6 no total), a indefinição do local para dormir, e tantas outras dúvidas que pairavam em nossos pensamentos, sempre geravam uma mistura de angustia e curiosidade, mantendo nos motivados e atentos para andar mais um pouco. No ciclismo existe uma máxima que vale para a vida: ritmo e paciência! Caro amigo, não tenha medo de tentar, você se surpreenderá no quanto longe você é capaz de ir.

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[Bikes com nome de gente] Caloi Aspen Extra Aluminum “Gaby”

Dando sequencia a série, hoje mostraremos a terceira bike da frota: a Caloi Aspen Extra ALuminum Gaby

Esta é Caloi Aspen Extra Aluminum. A sexta bike de alumínio que monto, sendo a segunda para uso em asfalto, e mais uma da Caloi (acho que ficou claro que sou fã da marca né? hehe)

Caloi Aspen“Gaby”: mais uma integrante da (crescente) frota de bikes

Origem do nome:
O nome, ou apelido nesse caso, homenageia uma garota que conheci “nas interweb´s da vida”. Era meados de 2008, e eu tinha acabado de mudar para uma cidade pequena chamada Primeiro de Maio, distante 100 km de Arapongas (minha cidade natal), no norte do Paraná. Era uma cidadezinha pacata onde todo mundo se conhecia, com uma tranquilidade ímpar (que de tão tranquila chegava a irritar… mas ai é outra história.)

Era sábado, dia quente, e lá estava eu usando o computador de minha mãe como de costume, verificando o Orkut, e-mail´s e MSN, e eis que surge uma solicitação de amizade no Orkut. O nome dela era Gabriela, que também mora em uma cidade pequena, no estado de São Paulo. Demorei uma semana pra aceitar a solicitação, já que devido a minha certa popularidade no Orkut e dos altos casos de perfis “fakes” na rede, eu tinha que verificar quem estava me adicionando. Aceitei a solicitação, e alguns dias depois ela me pede pra add no MSN. Pedido feito, pedido aceito.

Caloi Aspen Gaby em Balneário Camboriú, dentro da loja Ciclo Sport (Autorizada Caloi)

Era raro alguma garota pedir pra me add tanto no Orkut quanto no MSN, mas decidi “tentar a sorte”. Começou com um papo tímido, mas logo as conversas foram desenrolando, e naqueles dias quentes (que por sinal me deixa um tanto irritado), eu passava a conversar com ela como se fossemos amigos de infância, onde eu reclamava de tudo na maior parte do tempo, seja da internet via rádio ruim ou do calor que fazia naquela cidade. Ela viu algo em mim que a atraiu, mas só fui me dar conta depois de muito tempo.

Era notório o interesse dela sobre mim, mas custei a enxergar isso. Alguns meses depois acabei me mudando para Santa Catarina, e obviamente ela ficou um pouco chateada com isso, mas essa chateação logo passou quando entrei em contato com ela. Fiquei surpreso com a felicidade dela quando entrei em contato, algo que nunca tinha visto até então. Nossas conversas iam “aos trancos e barrancos”, pois se um dia eu tinha como acessar a internet e ela não, na semana seguinte a situação se invertia.

Caloi AspenUma das várias fotos pós montagem da Gaby

Foram anos de ótimas conversas, de desabafos, de palavras – amigas, enfim, tudo de bom que eu não tinha com pessoas reais mas que tinha com essa pessoa “virtual”. Era tudo perfeito, era…

Em meados de 2012 (fins de Abril, começo de Maio) eu estava em uma situação muito difícil: crises em todos os lados e totalmente perdido com os acontecimentos, e nessa época ela me conta algo que me deixou estarrecido (não entrarei em detalhes). Dentre tantos golpes, o dela foi justamente o mais forte pois veio de quem eu gostava muito. Fiquei um bom tempo sem conversar com ela desde então, e ficava mal com o ocorrido (não só esse, mas com os outros que ocorrerem antes e os seguintes). Desde então fiquei +/- 1 ano sem falar com ela, só voltando a ter contato em junho de 2014. Continuamos amigos, mas sem a mesma intensidade das conversas de antigamente (falta de tempo, e assunto, para ambos é gritante)

 Caloi AspenNo quintal da minha antiga residência

A Caloi Aspen Extra Aluminum:

Esta é a sexta bike de alumínio que monto e a ideia de montar ela surgiu no momento que eu vi o número de componentes sobrando que tinha guardado em casa. Conforme ia fazendo upgrades na “Erika“, eu ia guardando as peças numa caixa e as deixava lá. Em uma das minhas “pesquisas”, comecei a separar os componentes que eram da Erika e alguns outros que já tinha guardado algum tempo antes. Constatei que, para montar mais uma bike “nova” eu precisaria apenas de um quadro!

Caloi Aspen

“Gaby” parcialmente montada, dividindo espaço com a “Juliana” e “Erika”

Logo lembrei de um que tinha na primeira loja de bikes que trabalhei em SC, a J Bike, localizada no centro de Itapema. O quadro é um Caloi Aluminum, linha Aspen Extra (o mais popular da marca e ainda em produção, com pequenas diferenças). O quadro era de cor branca (pintura não original) toda descascada e com a gancheira do câmbio destruída. Era um quadro “condenado” por estar com a gancheira estragada, mas eu tinha uma carta na manga, ou melhor, uma gancheira!

Enquanto eu ainda morava em Arapongas, eu conheci um amigo ciclista que também era especialista em soldas em alumínio, e já fiz vários serviços de solda com ele, e na última (e mais trabalhosa) a missão era implantar uma gancheira de roda em uma T-Type, sendo que tal parte veio de outro quadro do mesmo modelo, e essa peça forjada tinha gancheira de câmbio que depois foi cortada e guardada. Ainda contarei sobre essas “cabritagens” que fazia (ou não…)

Caloi Aspen“Gaby” depois do “batismo na chuva” em uma noite de verão

Voltando a SC… : consegui um contato de um recuperador de rodas com o Jean, dono da J Bike, para poder implantar a gancheira que tinha nesse quadro. Uma semana depois (e 50 pratas a menos) o serviço estava pronto. Nem parece que a gancheira de câmbio havia sido destruída! Quanto a pintura, tentei raspar ela com removedor pastoso que comprei para esse fim (quinta foto). Não deu muito certo e acabei gastando um pouco mais no jato de areia para retirar a tinta do quadro. O quadro acabou ficando áspero, mas nada que alguns polimentos não resolvam (algo que eu não o fiz até hoje 🙁  )

Depois de pronta, a bike se assemelha muito com a “Erika”, sendo que a diferença é o suporte de guidão mais baixo (mais “socado” no garfo melhor dizendo) e o quadro, um pouco mais pesado. A bike foi calçada com pneus IRC Smoothie 26 x 1.25, que garantiu boa agilidade e conforto ao pedalar (primeiras quatro fotos). O primeiro giro longo dela foi até Balneário Camboriú, rodando pouco mais de 40 km naquele dia nublado. Era pra ser só um giro por Itapema, mas acabei encontrando um amigo de pedal e fui acompanhando-o, e quando me dei conta já estava em “BC”, dentro de uma loja de bikes (segunda foto).

Caloi Aspen“Gaby” com pneus Levorin Rua 26 x 1.0: mais arisca e quase indomável!

Pouco tempo depois, a bike herda os pneus Levorin Rua 26 x 1.0 da “Erika”, já que a mesma recebeu pneus e câmaras novos do mesmo modelo. A bike se tornou mais “nervosa e instável”, e não raras as vezes as quase quedas com essa bike (talvez seja um aviso que essa bike me dava para uma “queda” ainda maior, como já citei lá na “origem do nome”).

Assim como a Gaby “virtual”, acabei ficando sem andar com a bike por um longo período, ficando toda empoeirada. De vez em quando eu enchia os pneus para que eles não de deformassem. Recentemente fiz algumas trocas de pneus entre as bikes, e ela recebeu novamente os IRC Smoothie 1.25, enquanto os velhos Levorin Rua 1.0 foram para a “Black Sheep”, uma das últimas bikes que montei (e adivinha? Mais uma Caloi!)

Caloi Aspen“Gaby” e “Erika”, em algum ponto de Itapema.

O fato é que o tempo acabou por cicatrizar essas “feridas”, e quando voltei a pedalar a “Gaby” notava que voltou a ser uma bike ágil e arisca como antes, porém mais dócil e precisa, em especial nas trocas de marchas e freios. Esse é um dos casos onde a bike se torna a personificação de alguém que gostaria que estivesse mais perto. Pode parecer loucura tudo isso que escrevi até agora, e nem tem como explicar mais, o que explica a demora na hora de redigir esta postagem. É algo que só quem é apaixonado por bikes (e por determinadas pessoas) podem entender isso.

Gostaram da história? Então vão se preparando que no próximo post falarei da última bike com nome de gente: “Simone”, minha Caloi Aluminum Extra.

Até a próxima o/

Fotos, texto e edição: Kiko Molinari Originals®

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Cicloturismo: Projeto Reencontros

Por Edson Sorrentino Sespede

Projeto Reencontros

Olá amigos. Durante os últimos meses venho treinando consistentemente pedal nas várias estradas daqui da minha região, sempre pensando em realizar uma cicloviagem mais longa, e agora chegou o momento de fazê-la. Para isso elaborei o Projeto Reencontros.

Este projeto tem como previsão de início a quarta feira de cinzas de 2015 e terminará em aproximadamente 40 dias, isto é nos últimos dias de março de 2015.

Segue abaixo meus objetivos do Projeto Reencontros:

O principal objetivo e pedalar 1.500 km aproximadamente, para rever amigos e parentes, depois de 20 anos sem contato pessoal.

Secundariamente é um treino por estradas paulistas e mineiras, para condicionamento físico-mental e testes de equipamentos instalados numa bike Groove Blues, aro 700c, além de teste da própria bike, para em 2015, ainda em estudos de trajeto e logística, uma cicloviagem muito mais longa (para saber mais sobre este bike ver post do dia 31jan15).

O terceiro objetivo é fazer amigos por onde passar. Este projeto foi elaborado e planejando para ser feito com tranquilidade e parcimônia. Serão 40 dias pedalando, com vários dias de descanso. Para facilitar a compreensão e organização dividi o projeto em três fases, a saber:

Fase I – Jardinópolis/SP ate São Paulo/SP = Neste trecho verei muitos amigos e parentes que não vejo a muitos anos, terá início na Via Anhanguera, passarei pela região do alto Tiete , cruzarei a Via Anhanguera e terminarei em São Paulo, na casa da minha mãe que mora no Tatuapé. Veja o mapa com o percurso planejado.

Fase II – São Paulo/SP – Santos/SP = Este trecho parece pequeno não é verdade? Mas na minha opinião será o de maior adrenalina. Nesta fase terei a companhia de dois grandes amigos, que não vejo a muitos anos, mas que já enfrentamos juntos muitas aventuras no passado. Amanhã estarei divulgando o trajeto e maiores pormenores a respeito do desenvolvimento do projeto.

Fase III – Santos/SP ate Jardinópolis = Estando só novamente e ao nível do mar, terei que retornar ao interior, para isso teremos um pequeno trecho de estrada paralela ao mar ate Caraguatatuba (Caraguá para os íntimos), dali subir uma serra e seguir para os lados dos campos do Jordão, posteriormente adentrar o sul de minas, chegando finalmente em minha terra atual. Na próxima quarta feira estarei divulgando mais informações e imagens do trajeto desta fase.

projeto reencontros

Estou empolgado com esta cicloviagem, pois terei a oportunidade de rever pessoas que amo e ao mesmo tempo, fazer 1.500 km com a força das minhas pernas, tão somente, acho fantástico estas possibilidades. Reencontrar amigos e parentes, conhecer novos amigos, novos lugares, um novo conhecimento de uma forma saudável e prazerosa. Com certeza conto com a companhia de Deus em todos estes momentos.
Na medida do possível estarei divulgando por esta página, fotos e assuntos interessantes, que forem surgindo pelos caminhos. Espero que curtam e compartilhem. Venham viajar comigo através dos textos e fotos, será uma experiência única.

Então não esqueça: dia 18 de março, quarta-feira de cinzas de 2015 começa o Projeto Reencontros. Que Deus esteja comigo e com você também.

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Pedalando em terras mineiras: Estrada Real- Caminho dos Diamantes

Por Caroline de Barba

Nossa aventura começou dia 25 de dezembro após farta ceia natalina. A trupe era composta de 4 intrépidos ciclistas. Sendo eles: Rodri, vulgo ‘preciso beber’; Fábio, vulgo ‘preciso comer’, Clau, vulgo ‘preciso parar’ e eu, Carol, vulgo ‘preciso seguir’.

E assim, com necessidades tão diferentes, percorremos os 415 km de Estrada Real entre Ouro Preto e Diamantina em 7 dias de pedal.

Foto: acervo pessoal Caroline de Barba
Foto: acervo pessoal Caroline de Barba

A promessa era de um pedal pra lá de pedreira. Mas no primeiro dia fomos agraciados por uma longa descida de asfalto até Mariana e uma estradinha brilhante para Camargos. Tudo muito tranquilo em vista do que esperávamos. Chegamos à charmosa Catas Altas transbordando otimismo.

No segundo dia saímos da Estrada Real para conhecer a RPPN Caraça, já que Dom Pedro II assim recomendava. O sol estava de rachar o côco. O calor era dos infernos. Mas a promessa era de que chegaríamos ao céu. Após subirmos 10 km escaldantes chegamos ao Santuário. Porém não tínhamos forças para conhecer muita coisa. O céu para nós naquele momento se chamava banho e cama!

No terceiro dia de pedal a Estrada Real mostrou sua verdadeira face. Subidas intermináveis, descida em trilha, areia fina nos parcos planos e muita pedra solta. O senhor ‘preciso comer’ nos fez almoçar cedo e a tarde foi longa demais. Chegamos exaustos e imundos em Senhora do Carmo. Dona Maria nos recebeu muito bem na pousada e lavou nossas emporcalhadas roupas na mão. Filamos a janta que ela havia feito para os outros hóspedes. Não tínhamos energia para mais nada.

Assustados com o dia anterior, resolvemos partir cedo. “Para miiiiiiinha alegriaaaaaa…”. Parece que já sabíamos: seria o pior dia da viagem. O calor castigava logo cedo. As paisagens eram belíssimas! Mas a mãe natureza cobrava seu preço para quem quisesse desfrutá-la. Andamos no topo do mundo! Que visual incrível! Porém, nenhuma sombra… Sem qualquer vivente por perto, passamos sede. Chegamos a Morro do Pilar estrupiados. E tivemos que encarar mais uma morreba para conseguir almoço. Parecíamos refugiados de guerra agarrando litros de refri ao entrrar, mas éramos apenas fugitivos do sol. Meu Garmin chegou a marcar 52,2º Célsius! Descansamos bastante no belo restaurante. Acho que Fábio chegou a cochilar no sofá. 15h partimos anestesiados acho, e chegamos a Conceição do Mato Dentro na hora do rush. Comemos pizza antes de ir para a Pousada. Porque sabíamos que de lá só sairíamos no dia seguinte.

Esgotados fisicamente fomos de táxi conhecer a Cachoeira do Tabuleiro. O pedal ficou para o fim do dia, num clima abençoadamente freso de pós-trovoada. Percorremos 20 deliciosos e planos quilômetros até Córregos. Onde passamos a virada do ano dormindo ao som dos festejos da cidade. Não sem antes jantar na casa de uma vivente dali. Façanha conquistada por nosso querido ‘preciso comer’.

Primeiro dia de 2015. Acordamos cedo. Mas todos pareciam querer dormir até mais tarde hoje. Foi difícil pagar a conta no mercadinho que o senhor ‘preciso beber’ fez ontem ao chegar à cidade. Foi difícil acordar o moço responsável pelo carimbo em Tapera. Todos apareciam sonolentos, ainda tchucos da festa de ontem. A paisagem continuou deslumbrante e o calor escaldante. Numa dita “rodovia”, comemos quilos de pó vermelho: era nosso Coloral, pois assávamos lentamente. Chegamos esgualepados a Serro. Saímos para comer pulando de sombra em sombra tamanha ferocidade dos raios ‘ultraviolentos’.

Último dia na Estrada Real! E a altimetria mais difícil: foram 65 km com 2.000 m de acumulado. Chega-se praticamente escalando em Milho Verde. Até lá existe asfalto, mas a cidade é toda de areia e terra. Hã? O clima era de pós Woodstock. Havia muita gente e muitos carros zanzando nas ruas poeirentas… Logo partimos para São Gonçalo, onde o senhor ‘preciso comer’ nos fez almoçar. Muito pó, muitos carros e muita gente novamente. Com o feijão a meio caminho do estômago, partimos novamente. Mas não fomos muito longe. O calor de matar nos fez parar 6 km à frente num botequim num local chamado Vau. A estrada continuava casca grossa e o Fábio conseguiu quebrar o bagageiro… Rodri deu uma de Magaiver e conseguiu consertar. Ufa!

O céu ficou apocalíptico quase chegando à Diamantina. Esperamos São Pedro se acalmar e chegamos sequinhos como todo santo dia da viagem. Essa foi a única chuva real que pegamos… Cheguei empurrando a bicicleta sem pompa nenhuma. Oh “calçamentozinho” ruim. Mas daí foi só alegria! Banho, pizza e taxi para buscar o certificado de conclusão da Estrada Real- Caminho dos Diamantes.

Encontramos alguns diamantes? Sim! Muitos! Fomos muito bem recebidos em todos os lugares por onde passamos. Pousadas, restaurantes, botecos, pontos de carimbo, mercadinhos, etc. Todo dia uma alma bondosa lavou nossas encardidas blusas brancas. E não pagamos nadinha por isso, mesmo quando insistimos. Não pegamos nenhum dia de chuva ou tempo feio. Não furamos nenhum pneu! 8 rodas, 415 km e nenhum pneu furado! Até a empresa de ônibus nos tratou bem na hora de embarcar as 4 bikes no bagageiro para voltar!

Encontramos muitas pedras também, mas essas, somente no chão das estradas que formam a Estrada Real.

Essa e outras histórias estão no livro “Cicloviagens 2014” disponível em: https://clubedeautores.com.br/book/181848–Cicloviagens_214#.VOyOvel0yHt

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Cartagena Cycle Chic

Por Gil Sotero

A forma mais romântica de conhecer Cartagena das Índias, a cidade que inspirou um dos maiores escritores latino-americanos, sem dúvida, é de bicicleta. Como sempre recorro a literatura para planejar um roteiro. Na verdade eu amo combinar livros e bicicletas. Já ouvi que ambos são itens de design perfeitos e concordo. Quando comecei a pesquisar sobre meu destino: Cartagena das Índias escolhi a minha Monareta Dobramátic de 1972. Por ser aro 20 (que acho perfeito para os centros urbanos), por ter uma mecânica simples e estrutura resistente para suportar o “trato” das cias aéreas. Além disso sou fotografo e a escolha também foi estética. O resultado me surpreendeu.

Pedalando em Cartagena

"...os fracos não entram jamais no reino do amor, que é um reino impiedoso e mesquinho..." Gabo. O Amor nos Tempos de Cólera. Foto: W. Odilon
“…os fracos não entram jamais no reino do amor, que é um reino impiedoso e mesquinho…” Gabo. O Amor nos Tempos de Cólera. Foto: W. Odilon

Cartagena das Índias, ou “Lá Heroíca” foi fundada em 1566 e batizada em homenagem a Cartagena, na Espanha. O centro histórico é conhecido como a cidade fortificada, (cidade amuralhada) e foi declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco, em 1984. A população da cidade chega a quase 1 milhão de pessoas, mas durante os meses de dezembro e janeiro pode chegar a dois.

Pedalar pela colorida “La Heróica” como é conhecida a cidade histórica de Cartagena das Índias,  é reviver os livros do escritor colombiano Gabriel Garcia Marques. As ruas “aprisionadas” entre as muralhas  parecem um labirinto mágico onde o amor e a “loucura” se encontram encarnadas pelas palavras de Gabo em cada  esquina. Foi aqui o cenário do romance de Fermina Daza e Florentino Ariza, personagens do livro “O Amor nos Tempos de Cólera”. O livro me inspirou a andar tranquilamente pelas ruas de Gabo mas antes de se aventurar e se perder pelas ruelas a grande dica é baixar o áudio guia “La Cartagena de Gabo” da Tierra Magna (disponível para smartphones e tablets) e fazer o tour seguindo os passos de Gabriel García Márquez.

"Era ainda jovem demais para saber que a memória do coração elimina as más lembranças". Gabo. Amor nos Tempos de Cólera. Foto: Gil Sotero
“Era ainda jovem demais para saber que a memória do coração elimina as más lembranças”. Gabo. Amor nos Tempos de Cólera. Foto: Gil Sotero

O passeio guiado começa e termina na Plaza Santo Domingo exatamente onde fica a famosa escultura do artista Fernando Botero. Dalí você segue para a Plaza Santa Tereza, onde há uma das entradas da cidade, sempre apreciando a arquitetura peculiar dessa jóia do Caribe. Tudo pode ser feito em um dia mas o ideal é dividi-lo pelo menos em dois. Afinal são 35 pontos. O guia é em espanhol claro e inteligível. As bicicletas são muito incentivadas na parte interna da cidade. Mesmo que você não tenha tanta prática é muito seguro deslizar e parar a cada instante. Não tenha pressa pois pedalando você conhecerá muito mais do que a pé e pode estacionar em vários lugares.

"... não se passou um só dia sem que se escrevessem e em certa época até duas vezes por dia, até que tia Escolástica se assustou com a voracidade da fogueira que ela própria ajudará a atear" . Gabo. O Amor em Tempos de Cólera. Foto: W. Odilon
“… não se passou um só dia sem que se escrevessem e em certa época até duas vezes por dia, até que tia Escolástica se assustou com a voracidade da fogueira que ela própria ajudará a atear” . Gabo. O Amor em Tempos de Cólera. Foto: W. Odilon

Fora da cidade muralhada a cidade continua plana e perfeita para a bicicleta! Pedalar entre os carros é mais tranquilo do que em muitas cidades brasileiras. Isso por causa das Zonas 30, onde carros precisam trafegar a velocidades menores.   Mas  nem tudo são flores. Cartagena ainda é bem carrocrata. A parti das 17h motoristas disputam espaço com os pedestres e o excesso de táxis nas ruas, enquanto buzinam a todo instante, chega a irritar quem procura paz e tranquilidade. Fora do centro histórico os pedestres não tem prioridade. Carros estacionam em calçadas e quase não existem semáforos. Ciclovias também são poucas. Mesmo assim vale muito e você se arrependerá se não levar sua bici. A noite vários bares e restaurantes são um convite a uma parada conteplativa enquanto você experimenta os excelentes cafés e drinques e escolhe sua agitação. A maioria dos turistas alugam bicicletas e precisam ficar rodando bastante para não perder tempo. Já quem leva sua bici pode “perder” o tempo que quiser e ficar despreocupado.

"No temos WI-FI hablen entre ustedes" Marzola - Melhor restaurante argentino de Cartagena. Foto: Gil Sotero
“No temos WI-FI hablen entre ustedes”
Marzola – Melhor restaurante argentino de Cartagena. Foto: Gil Sotero

Viagem

Saí de BH para SP, de SP para Bogotá e de lá para Cartagena. Não foi fácil para as bicicletas. A cia aérea Avianca é bike friendly mas não sabe cuidar das magrelas. Apesar dos pequenos arranhões as duas dobráveis chegaram intactas.

Hospedagem em Cartagena

Como era alta estação em janeiro a hospedagem estava pelas alturas. Mas encontramos um bom flat no bairro Boca Grande que ficava há 2km da entrada da cidade antiga. Como o prédio era novo e tinha garagem 24h, lugar para as bicis, água quente e piscina no último andar. Valeu demais! No site de Booking você encontra uma lista com muitas opções de hospedagem em Cartagena.

DICAS:

A – Se não levar sua bike é possível alugar. Há várias locadoras no centro histórico e até fora dela. O custo médio da diária pode variar ente R$25 a R$50. Prefira levar se puder assim você gastará com outras coisas.
B – Estacionar a bicicleta não é problema, desde que tenha seu cadeado. Vários restaurantes e bares são amigáveis. No Hard Rock por exemplo pude entrar com a minha dobrável e deixei-a sem dobrar, estacionada na parte inferior do estabelecimento. Na verdade não tive problemas em nenhum lugar em que fui de bici
C – Prefira pedalar pela manhã na cidade. Antes das 9h30 o trânsito é tranquilo e quase não há carros. É lindo pedalar a noite mais tarde. Porém entre 17 e 21h a cidade lota de turistas, carros, buzinas com paciência se passa em todas ruas e há aquelas que são mais tranquilas.
D – O Código de Trânsito Colombiano obriga o uso do capacete. Mas quase ninguém (incluindo os cartageneiros) usa.
E – Pontos turísticos vá a todos. No Café Del Mar os preços são bem salgados para o espetáculo momentâneo que é o pôr-do-sol. Do lado dele você pode apreciar tudo sem precisar gastar rios.
F – É possível ir ao Castelo de San Felipe de Barajas de bike.
G – Praias: não há praias bonitas em Cartagena mas você pode pegar um barco para Playa Blaca, compre a passagem no Porto que fica em frente ao Torre do Relógio, fora da cidade amuralhada. Você verá a aglomeração. Leve uma capa de chuva o mar não é brincadeira  principalmente na volta e não esqueça de tomar um remédio para enjôo antes de embarcar. Apesar de bonita Playa Blanca é bem farofa. Os pacotes até incluem comida mas lá não tem muita coisa. O mar é bonito mas se você quiser mais estrutura passe o dia em Coco Liso. ATENÇÃO! não queira ir ao oceanário senão irá perder preciosos tempo da praia. Os barcos retornam às 15h e não as 16 como muita gente escreve por ai.
H – O mais importante: você não precisa de roupas especiais para pedalar em Cartagena. Vá com seu estilo e se prepare para lindas paisagens e visões.
I – Você quase pode gastar o quanto quiser para comer. Há restaurantes na parte amuralhada que servem menu do dia a população local e os mais requintados para turistas. Escolha aquele que mais te agradar mas não esqueça de ir ao Restaurante Argentino Marzola.

Conheça mais da bela Cartagena nessa galeria de fotos

Um bando sobre duas rodas

Por Carlos Timm

Aos 44 anos ainda é possível fazer algo inédito.

No último final de semana, pela primeira vez, participei de um pedal em grupo. Gente acostumada a percorrer grandes distâncias em trechos difíceis. Coisa complicada para quem ainda é um novato no mundo dos biker’s. Mas aceitei o convite do amigo Regis. A experiência foi enriquecedora.

Marcamos encontro com o pessoal junto a um supermercado. Houve atrasos mas ninguém partiu antes da chegada de todos. Depois, outro detalhe me chamou a atenção. Ao acompanhar o grupo na última posição, não tinha a visão ideal dos obstáculos. Assim, os que estavam à frente alertavam os demais com gestos e gritos, a fim de evitar acidentes.

O Regis fez o papel de anfitrião. Preocupado se eu seria capaz de aguentar a dureza do percurso, a cada pequeno trecho olhava para trás para ver se eu não estava ficando distante. Volta e meia, desacelerava e vinha conversar, para ver como eu estava indo. Ainda bem que tive fôlego para acompanhar.

Ao sairmos do asfalto e entrarmos na trilha, uma desagradável surpresa: o pneu da minha bike começou a murchar. Um colega percebeu e alertou. Eu não tinha levado outra câmara e sequer reparos. Pior: nem sabia como fazer para desmontar a roda. Eis que imediatamente um colega, vendo que se tratava de um neófito, tirou a roda. Outro trouxe as ferramentas. Outro disse: Eu tenho uma câmara. Outro igualmente se prontificou a ceder a sua câmara reserva. O Régis ajudou localizando o furo. Assim foi possível consertar.

Seguimos por uma trilha complicada até uma lagoa, onde pudemos tomar um banho agradável. Foram 54 quilômetros de uma aventura sensacional. Lembrei da animação A Era do Gelo. Os personagens fugiam de uma situação de risco. Aí um deles se machucou. Todos pararam. O que havia se machucado disse: ‘Fujam! Podem seguir sem mim, se não vocês estarão em risco também!’ Foi quando alguém falou: ‘Não vamos embora sem você. Somos um bando. E, em um bando, uns cuidam dos outros.’

Os biker’s são um bando também. Um bando sobre duas rodas

Um bando sobre duas rodas
Um bando sobre duas rodas. Foto: acervo pessoal Carlos Timm

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