Cicloturismo no Uruguai: pedalando em Canelones

Por José Maria Perez Gamarra

Ando de bike regularmente já fazem 8 anos, por esporte ás vezes, a trabalho outras.

Em 12-12-2014 fui visitar a minha família no Uruguai e como não me deixaram chegar lá de bike, pedi a família me arrumar uma para andar lá. A poucos anos atrás inauguraram uma rodovia nova de 8 pistas que vai do porto de Montevidéu até o Jaguarão na divisa com Brasil, maravilhosa e em perfeitas condições.

Durante o período da minha visita fiquei hospedado em 3 casas diferentes alternadas, sendo uma no Balneário de Atlántida, outra na cidade de Las Piedras, e outra na localidade de Progreso. As 3 cidades no mesmo estado: Canelones.

No dia 31 de dezembro, não tendo muito o que fazer e depois de ter feito diversas viagens curtas por todas as redondezas da região onde me movia, decidi fazer uma visita à capital do estado, situada a 14 km de Progreso, onde me encontrava no momento.

Todas as viagens foram no estilo “Biketurismo” ou a passeio se preferirem. Portanto esta não seria diferente. A 1 km de distância ficava a nova rodovia e fui… apreciando a paisagem parando para bater fotos ,beber água é até descansar aproveitando a sombra ocasional.

Cicloturismo no Uruguai
Cicloturismo no Uruguai. Foto: acervo pessoal José Maria Perez Gamarra

O percurso passa por diversas adegas tradicionais do país, sendo que é essa região que cultiva os vinhos mais premiados no Uruguai. Antes de chegar a Canelones (capital com o mesmo nome do estado), 6 kms antes para ser exato, encontrei a beira da estrada uma venda de frutas e produtos alimentícios regionais chamado “El Almacén Del Ciclista”. O visual dos famosos pêssegos da região me deteve na hora. A propriedade leva esse nome por ser o seu dono um famoso ciclista esportivo premiado largamente em diversas competições e com 28 anos de curriculum nas costas. Recomendo visitar e ouvir dele próprio as histórias.

Chegando à capital, constatei que já era meio tarde é teria de voltar a tempo para a janta de reveillón, sendo assim empreendi o regresso marcando o tempo exato para ter uma ideia do tempo real da viagem. Para minha surpresa, pedalando em um ritmo único (20kms / hora aproximadamente) a volta levou 50 minutos, sem se apressar, sem parar, sem transpirar.

Recomendo visitar essa região com calma é tempo. Fugíndo do olhar familiar foi ATÉ ONDE CONSEGUÍ IR DE BIKE.

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O Jovem Ciclista

Por Gilberto Barbosa Cunha

Aquela canção adoçava meu espirito enquanto o carro descia levemente a Serra de Itaara. Enquanto isso, um jovem subia pedalando a sua bicicleta montanha acima. A cena era interessante e logo me arremessou para outro tempo. Um tempo em que os jovens também eram apaixonados pelos pedais. Então me perguntei: “O que há por de trás dos jovens que amam os pedais?”

Naquele tempo havia uma sede pela liberdade e os jovens, longe do mundo em guerra, procuravam se encontrar com novos ambientes que lhes trouxesse uma nova inspiração de vida. Alegres, desbravavam lugares e venciam distancias, enquanto seus espíritos se purificavam de uma época em que as ideias fervilhavam, da filosofia existencialista de Sartre ao apelo hippie da paz e do amor. Havia uma razão para pedalar, havia o que procurar nas voltas dos pedais…

Mas o que havia naquele jovem que conduzia a sua bicicleta estrada acima? Os pedais rodavam em causa de quem? O que poderia haver de comum entre esse jovem e os jovens do passado?

Essas questões me levaram a pensar o que poderia haver no coração daquele jovem. Fui ao encontro do seu próprio coração. No meu diálogo interno não consegui responder se o pedal é que movia o seu coração ou o coração é que o levava ao pedal. Mas o que eu sei é que nos jovens há um eterno desejo: o desejo de procurar um lugar que os tragam para o sentido da vida e que, de preferencia, esse sentido chegue ao seu coração com a brisa mansa em seu rosto, afinal de contas, a brisa do vento é que embriaga a alma de quem se aventura nos mistérios da vida…

Se eu tivesse um filho ciclista eu me daria o direito de duas coisas: que me desenhasse a rota a ser percorrida, ou pelo menos que me fizesse conhecer a sua diagonal e que tentasse me dar as razões do pedalar. Talvez eu pudesse entender o meu sonho de também acionar os pedais…

Foto: André Schetino
Foto: André Schetino

 Enquanto isso, montanha abaixo, eu escutava minhas músicas dos anos sessenta…

Eu e minha bicicleta Helga, por Santa Catarina

Por Luã Olsen

Eu e minha bicicleta Helga, Por Santa Catarina

Havia encontrado um lugar para dormir. Armei a barraca na frente da igreja, deixei as coisas, peguei uma mochila e fui descolar um banho. O banho era a uns três quilômetros, na BR, num posto. Tomei o banho e, pelo trágico fato de ter esquecido a toalha na barraca, tive que me enxugar com a camiseta que utilizei durante o dia todo. Voltei e agora precisava descolar uma janta. Como era domingo, tive a impressão de ter entrado numa cidade de um filme de faroeste: não avistava ninguém nas ruas, o hotel (minha última opção nas cidades em que chegava) estava fechado e tudo o mais, claro, estava fechado. E já havia anoitecido.

Para acender o fogareiro que levava comigo, eu precisaria de álcool. Então fui a um boteco e pedi álcool líquido. Não tinha. Para não precisar comprar uma cachaça (e tentar fazer o fogo com seu alto teor alcoólico) resolvi pedir um lanche ali mesmo. Não tinha lanche. Céus, pedi uma cerveja e me acostumei com ideia de que não iria jantar naquela noite.

Nessa cidade os bares precisam fechar às 22h, e 22:05h uma viatura passou avisando que “tava atrasado”. Então as portas se fecharam, a clientela entrou no bar e uma meia-luz se fez. Ali, no meu canto, depois de contar a história da viagem para o proprietário, a mulher dele veio me perguntar se eu gostaria de jantar com eles. Aceitei e, em um cômodo apertado por detrás do balcão, espremido por uma escada que levava ao quarto, no pavimento superior, sentei-me numa das banquetas e, com o prato no colo, jantei. Jantei emocionado, claro. A mulher sentava-se noutro canto e o filho pequeno pra cima e pra baixo com o prato na mão. O marido cuidava dos beberrões no balcão. Feijão com chuchu, arroz e um pedaço de carne de algum outro dia era o prato da noite.

Uma tentativa frustrada de armar a barraca atrás da igreja foi feita, onde talvez fosse mais seguro, mas a escuridão e as sinistras torres com seus sinos me fizeram optar pela distante, mas eficaz, iluminação pública da fachada principal.

No dia seguinte, fui à prefeitura pedir algum material escrito e impresso sobre a cidade, hábito que adquiri para, de alguma forma, tentar justificar a viagem. Não só ganhei um livro como recebi R$10 para fazer “um lanche, tomar uma Coca-Cola..”. Apesar de não ser esse o propósito daquela visita, não neguei o dinheiro, já que estava precisando mesmo.

Ser confundido com um andarilho vagabundo era uma visão muito comum por onde eu passava, pois muita gente não conseguia entender o porquê de eu estar fazendo uma viagem de bicicleta e não de moto, ou mesmo de carro. Minha explicação, para quem me questionava, era curta e simples: “estou conhecendo meu Estado com minhas próprias pernas!”. Claro que meus motivos iam muito além: eu tinha um quê político comigo, subversivo, era um fora-do-esquema, um contestador no silêncio de minhas pedaladas. Tinha um quê muito pessoal também, de auto-conhecimento físico e psíquico e, por que não, sentimental. Tempo não me faltou para refletir e estive próximo da felicidade, vivendo em meu nomadismo temporário. Além do desapego: foram 32 dias vivendo com os mesmos 25 quilos de bagagem carregados na minha magrela.

Minha bicicleta, a Helga, com seus mais de dez anos de idade resistiu muito bem, sofrendo reparações aqui e ali: foi comprada em 2000, na cidade de São Bento do Sul, Planalto Norte de Santa Catarina. Recebeu acessórios e revisões antes da viagem, em Florianópolis. Câmbio dianteiro em Rio dos Cedros, câmbio e pneu traseiros em São Cristóvão do Sul, pastilhas de freio em Benedito Novo e em Curitibanos, novos pedais também em Curitibanos, câmara nova em Monte Castelo, remendo em Correia Pinto, caixa dianteira de aros e pneu dianteiro em Urubici, enfim, uma legítima catarinense, uma barriga-verde.

Após ir à prefeitura, nessa cidade misteriosa, visitei uma Escola-Estadual-Modelo de ensino fundamental e médio – há apenas três dessas em Santa Catarina. Em seguida, fui conhecer o velho prédio ao lado da igreja onde acampei e de onde ouvi berros a noite inteira. Trata-se de um edifício de três andares, onde no térreo funciona um hospital médico, no pavimento seguinte um hospital psiquiátrico e no último uma clínica de reabilitação de usuários de drogas. O edifício, que tem atendimento público e gratuito, recebe pacientes do Estado inteiro, mas sua estrutura é muito precária: por fora, roupas eram estendidas em varais improvisados nas janelas; por dentro, corredores frios e vazios. A internação na clínica para usuários de drogas é voluntária, sendo que alguns estavam cumprindo “cadeia” e eram obrigados a estarem ali. Não resisti em conhecer os três andares, e a moça, muito gentil, me levou no meio do pessoal, que logo foi se juntando ao redor, achando que era um novo interno. Quando foram informados que eu estava apenas viajando de bicicleta, um me chamou de “louco” e outro, com brilho nos olhos, quis que levasse um abraço a um parente em outra cidade, pela qual eu passaria. Assim que reencontrei meus óculos de sol, que estavam com o sujeito com faixa amarrada na cabeça (ele, naquele dia, achava que era o Rambo), pude então me despedir.

Voltei ao bar onde me haviam oferecido janta na noite passada. Coincidentemente, a senhora esposa do proprietário trabalha na limpeza do edifício do hospital. Ali no balcão, ouvimos do homem que bebia uma dose, já por volta do meio-dia, a história de um assassinato na noite anterior, com cinco tiros, de um sujeito que namorava a filha de um senhor (esse, o assassino, agora foragido). O motivo era fútil, e envolvia questões de preconceito racial. O atirador sofria de gagueira, e o bêbado imitava, com uma pistola imaginária em cada mão, os tiros dados: “fo-fo-foi co-com um tri-trin-trinta e oi-oioito!!”

Assim que o bebum se afastou, preenchi um cartão-postal da ilha, e na imagem apontei para a senhora que aquela era minha praia favorita, e que deveriam conhecer um dia. Entreguei para eles. Não lembro o que diziam aqueles escritos, mas certamente deixavam aquela família também de alguma forma tocada, ou ao menos aquele “piá”, que estava simplesmente fascinado com a possibilidade de viajar de bike mundo a fora.

Entreguei vários postais de Floripa por onde passei. Era uma forma de retribuir às famílias que me abrigavam ou me ofereciam refeições, ou que apenas me deram palavras de incentivo. Um forte vínculo se criava.

Eu e minha bicicleta
Eu e minha bicicleta Helga, por Santa Catarina. Foto: acervo pessoal Luã Olsen

Fiz alguns contatos, que certamente perdurarão por longo tempo. Tive um objetivo em mente que segui tal qual um religioso fanático: não pagar para dormir pelas vinte e tantas cidades por onde passei. Acabei pagando em duas de 32 noites. Não queria ficar em um hotel, onde eu tivesse que pagar por um serviço e pela comida. Parecia-me algo muito cômodo, coisa que eu estava absolutamente negando. Queria sentir a hospitalidade e a recepção, a boa ação se fosse possível. Pagar para dormir em um hotel seria quase como me abrigar em uma bolha e poderia aqui comparar com o carro, que é, evidentemente, uma bolha, com o qual locomove-se pagando pelo serviço do combustível. No meu caso de trânsito, minha gasolina foram minhas próprias pernas pelo percurso total de 1800km.

A cidade em questão era Bocaina do Sul, no Planalto Serrano. De lá, segui pra Rio Rufino, Urubici, Bom Jardim da Serra, para finalmente, atingir o único ponto que era certo nessa viagem: a mítica e perigosa Serra do Rio do Rastro, que na verdade foi até bem suave.

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Até Onde VOCÊ Foi: coletânea de pequenas histórias nº 6

O projeto Até Onde VOCÊ Foi recebe histórias de todos os tipos e tamanhos, inclusive algumas bem pequenas, mas ainda assim, muito legais. Pensando nisso, resolvemos agrupar algumas pequenas histórias em textos coletivos, para que a leitura fique mais interessante. Confira abaixo 4 histórias.

1 – De Ituverava a Buritizal – Por Alex Aparecido da Silva

Minha caminhada foi curta apenas 24 km, mas foi maravilhoso de minha cidade Ituverava ate a cidade de Buritizal.

No caminho fui em uma queda d’água e na saída dei de cara com uma cobra jiboia. Filmei ela e dei continuidade  ao passeio. Fui até a ponte nova Rio do Carmo, passei também pelos 3 rios, tudo estrada de terra e pedra antes de chegar em Buritizal. E quem disse que Caloi 10 não faz trilha rsrsr. Minha Gezebel aguentou tranquilo (Gezebel é o nome carinhoso de minha speed 10 rsrsr).

Foto: acervo pessoal Alex Aparecido da Silva
Foto: acervo pessoal Alex Aparecido da Silva

Fui e voltei tranquilo, foi uma aventura muito gostosa de se fazer. É isso ai meu amigos um abração a todos.

2 – Pedalando nos Lençóis Maranhenses – Por Gildenor Lima

Nossa viagem se deu no ano de 2004. Saímos de São Luis do Maranhão rumo aos Lençóis Maranhenses, mais precisamente a cidade de Barreirinhas.

Na época a estrada de acesso à cidade tinha sido inaugurada pelo governo do estado, e estava um tapete só. Saímos às três horas da manhã, uma temperatura bem agradável para nossa região.

Toda a viagem foi bem tranquila, pois na época poucas pessoas conheciam o novo caminho e deu pra sentir bastante segurança ao transitá-la. Hoje não sei se teria coragem de fazê-la novamente. A chegada na cidade se deu a noite por volta das 21 horas do mesmo dia. Demorou devido à nossa velocidade que não era constante também pelo clima, que faz com que depois das 10 horas o rendimento caia bastante.

Foto: acervo pessoal Gildenor Lima
Foto: acervo pessoal Gildenor Lima

Mas valeu a pena e quando chegamos fomos direto para o rio e ficamos de molho até a meia noite. Valeu… um abração a todos.

3 – Descobrindo o ciclismo – Por Marcos Roberto

Eu estava muito afim de praticar um esporte mais nuca tive uma afinidade, alguma identidade com qual quer esporte. Aí eu tive contato com o ciclismo que foi se tornando um amor muito grande. Hoje não consigo viver sem pedalar. Já planejo até fazer viagem longas para outras cidades e até outros países. Estou vivendo melhor a cada pedalada e agradeço a Deus e todos que me ajudaram na escolha deste esporte apaixonante.

Foto: acervo pessoal Marcos Roberto
Foto: acervo pessoal Marcos Roberto

4 – De Jordão baixo a Itamaracá – Por Wellington Flank da Silva

Meu grande desafio pessoal foi ir do Jordão baixo até Itamaracá totalizando 112 km. Para quem nunca andou de bike foi um grande desafio. Peguei gosto pela coisa e agora quero ir até Maragogi – Alagoas.

Foto: acervo pessoal Wellington Flank da Silva
Foto: acervo pessoal Wellington Flank da Silva

Cicloturismo: de Olinda (PE) a Gravatá (PE)

Por Tiago Pereira de Matos Moreira

Participava de um grupo de ciclismo aqui em Olinda- Pe, e todos os domingos organizávamos uma pedalada longa.

Um determinado domingo, topamos sair de Olinda até Gravatá, totalizando 100km. Organizamos uma estrutura bem legal, com carro de apoio, água, frutas, e uma turma bastante animada.

No início não foi muito bom, pois o corpo ainda estava frio, e estávamos indo contra o vento, tornando o início um pouco cansativo. Mas depois de uma hora, já estávamos com todo o pique, bastante animados com esse nosso percurso.

Saímos de Olinda, e chegamos em Recife, cidade vizinha, depois tivemos que pegar a BR 232, Já passando pelo terceiro município, que foi Jaboatão. E seguimos com bastante entusiasmo o nosso percurso. O mais legal foi na BR-232, quando os motoristas passavam e buzinavam e falavam palavras de incentivo, tornando a nossa pedalada ainda mais empolgante.

Olinda
Foto: acervo pessoal Tiago Moreira

Já na cidade de GRAVATÁ, fizemos uma parada OBRIGATÓRIA, para todos que chegam a cidade. Seja pedalando, de carro, moto… do que for. Chegamos ao famoso REI DA COXINHA. Lá, nos deliciamos com chocolate quente e as famosas COXINHAS que faz jus o nome do lugar, pois são deliciosas. Após esta pausa, demos uma volta pela cidade e voltamos no carro de apoio.

Foi um passeio muito bom. Sem falar no clima frio que é a cidade.
Quem puder fazer este passeio, pode fazer que não irá se arrepender.

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Cicloturismo: pedalando na Alemanha

Por Jonas Antônio de Carvalho

A minha história começa com um sonho. Como engenheiro sempre pensei em visitar um país reconhecido pela excelência na engenharia. A Alemanha era meu destino preferido para realizar esse sonho e felizmente em 2008 fui capaz, com muita ajuda é claro, de viajar para lá e ficar durante 1 ano. Sempre gostei muito de pedalar e para fazer a viagem tive de vender minha amada mountain bike de quadro Vicini e grupo Alivio que me acompanhou por um ano em diversos pedais por Brasília. Ficou uma tristeza no coração, mas uma determinação na mente: conseguir uma magrela (bicicleta de estrada modelo antigo de preferência) e pedalar o máximo possível na Alemanha.

Conseguindo uma bicicleta na alemanha

Já na cidade onde eu ia morar durante 1 ano, Augsburg, cerca de 70km de Munich, além de não conhecer ninguém diferente das pessoas que me ajudaram a chegar lá, eu precisava fazer alguma atividade nos meus tempos livres. A busca por uma magrela não durou muito. Certo dia fui surpreendido pela visita de um cara mais velho, muito estranho que não entendia nada de inglês. Ele tentava oferecer ajuda para o que eu precisasse. Comunicação na maior parte feita por gestos e claro uma cena cômica. Depois de muita luta pude fazê-lo entender que gostaria de uma bicicleta. Ele entendeu e ficou de me mostrar algo.

No dia seguinte ele apareceu novamente e me trouxe partes de uma magrela exatamente como eu havia imaginado. Estilo antigo, quadro de aço Cr-Mo, trocadores no quadro. Faltavam algumas peças mas resolvi ficar com ela por 90 euros. O próximo passo seria descobrir como eu ia montá-la sem as peças faltando. Teria de buscar uma loja e talvez comprar peça por peça.

Comentei o fato onde estava a realizar um intercambio e por sorte descobri que um dos chefes era fanático por bicicletas. Ele possuia 15 bicicletas e ficou muito feliz de me ajudar a montar aquela. Como ele mesmo disse, quando era mais jovem, ele sonhava em ter uma bicicleta com grupo Dura-ace, o mesmo grupo das peças de bicicleta que comprei. Eu estava com sorte de ter comprado peças muito boas, o quadro é Ciöcc e isso parecia fazer meu chefe ter boas recordações.

Após algum tempo consegui comprar peças usadas que meu chefe conseguiu e ele mesmo fez a montagem da bicicleta. Fiquei muito empolgado quando a vi inteira pela primeira vez e fui feliz de volta para casa pedalando. Era a primeira vez que eu pedalava uma estrada e ainda estava acostumado com a mountain bike. No meio do caminho, fui subir a calçada ainda em movimento e não percebi um ressalto mínimo que havia. Repentinamente virei por cima do guidão e caí com as mãos no chão e a bicicleta foi quicando durante uma distância considerável. Se eu não tivesse os reflexos desenvolvidos durantes meus pedais com certeza eu havia quebrado o punho, braço e talvez mesmo lesionado minha cabeça seriamente. Foi bom essa queda logo no início pois acendeu o alerta. Deveria tomar cuidado ou poderia botar tudo a perder com uma simples queda de bicicleta. Comprei um capacete logo nos dias seguintes.

De posse da bicicleta comecei meus planos. Estabeleci como meta ir e voltar a Munich no mesmo dia. Seriam mais de 140km, algo que jamais tinha feito antes. Comecei meu treino dando voltas ao redor de Augsburg e contabilizando a quilometragem. Não tinha muito o que fazer então grande parte do meu tempo livre passei pedalando. E como é bom pedalar na Alemanha, eu ficava maravilhado todos os dias com as ciclovias e o respeito aos ciclistas. Ficava impressionado também com pessoas muito idosas que mau pareciam andar, mas que pedalavam e pedalavam muito.

Cicloturismo na Alemanha

Já confiante na minha condição física. Fiz minha primeira viagem longa para fora da cidade. Fui ao Amersee, maior lagoa da Bavária. Fora uns 60km de ida, voltei de trem. Achei a experiência fantástica e desenvolvi uma técnica para me guiar. Comprei um mapa e anotava o nome das cidades num papel e colava no quadro de modo que eu podia pedalar e eliminando cada cidade de modo que soubesse que estava no caminho certo. Me perdi inúmeras vezes e para isso o mapa me ajudava. As vezes perguntava a pessoas na rua. Era impressionante como mesmo nos campos mais distantes da cidade haviam pistas perfeitas para se pedalar. Mesmo em pistas de chão batido. É o paraíso para os amantes de pedal.

Depois de fazer mais pedais planejei algo ousado para mim mesmo. Um amigo estava em Regensburg, aproximadamente 140km de distância de Augsburg. Eu não tinha muito dinheiro e queria aproveitar um feriado para conhecer a cidade. Decidi ir e voltar pedalando. Pelo meu ritmo eu iria tomar aproximadamente o dia inteiro, então tive de me preparar. Lanches e bebida para aguentar o caminho todo totalmente sozinho e sem saber como era. Comprei um mapa novo e me informei com meu chefe sobre o percurso. Eu era incapaz de ir e voltar no mesmo dia, então eu tinha de levar uma pequena mochila com roupas para ficar 2 noites. Dentre os ítens, coloquei uma rapadura, pois temia falta de energia do meu corpo durante o pedal e sabia que o açúcar da rapadura podia me ajudar.

Falando com meus chefes um deles duvidou da empreitada pois estava previsto uma chuva para o mesmo dia. Como sou teimoso isso me serviu para me motivar ainda mais. Decidido, peguei um saco de lixo feito de plástico para me servir de capa de chuva. Amarrei a extensa lista de cidades que eu deveria cruzar na bicicleta e preparei o alarme para 4 da manhã. Acordei em total escuridão e um pouco de chuva e mesmo com muito frio, parti para a viagem de mais de 140km.

Os primeiros quilômetros foram tranquilos pois conhecia o caminho. Os quilômetros seguintes foram desafiadores pois desde as 5 da manhã eu estava sob chuva. Por volta do quilômetro 90, já completamente molhado, comecei a perceber que eu estava muito lento e não raciocinava direito. Acredito que com o frio eu estava começando a ficar meio afetado. Decidi parar e movimentar meu corpo alongado e fazendo polichinelo. Resolvi devorar a rapadura para ter certeza que tinha açúcar no meu sangue que poderia me dar um “gás”. Feito isso pensei em desistir, mas não tinha como, eu já estava no meio do campo perto de uma cidade minúscula, não fazia nem ideia de como eu voltaria para casa sem dinheiro para pagar um ônibus ou um trem. O jeito era continuar por mais 50, 60 quilômetros, também não sabia ao certo a distância porque sempre me perdia um pouco no caminho.

Durante a viagem observei muitas coisas bonitas, os campos de trigo, rios, plantações de lúpulo e as charmosas cidades da Alemanha. Casas pequenas e aconchegantes que parecem vinda de uma caixa de brinquedos. Quando já era de manhã me senti a vontade de parar em algum lugar e pedir um café. Já eram por volta de 9 ou 10 da manhã então haviam alguns estabelecimentos abertos. Foi ótimo receber o café quente no corpo. Me senti renovado e pude continuar tranquilamente. Fiquei muito feliz quando identifiquei que alcançara as margens do rio Danúbio. O mesmo cruza a cidade de Regensburg, portanto era um sinal que bastava seguir a margem que chegaria na cidade. O sol finalmente aparecera e meu corpo começou a se secar. Agora estava confiante que chegaria na cidade e impressionado com a beleza do caminho.

Por fim, após quase 9 horas pedalando sendo que maior parte foi sob chuva, cheguei a Regensburg. Tomei uma cerveja com meu amigo e fiquei surpreso que não adoeci, meu corpo estava realmente saudável. Depois de curtir a cidade e passar mais um dia voltei para Augsbur no terceiro dia. A volta foi inteiramente com sol e portanto o pedal muito menos penoso. Como sabia onde eu estava indo, me senti livre de forçar mais o pedal de modo que percorri a mesma distância com 2 a 3 horas a menos. Só fui prejudicado por um pneu furado no meio do caminho. Até hoje foi a melhor viagem de bicicleta que já fiz.

Foto: acervo pessoal Jonas Antônio de Carvalho
Foto: acervo pessoal Jonas Antônio de Carvalho

Como forcei nessa viagem longa senti um pouco o joelho e comecei a maneirar nos meus pedais. Por um tempo pedalei muito pouco. Ainda tinha o objetivo de ir e voltar a Munich em um dia. O inverno estava chegando e mesmo sabendo que não estava na mesma forma de antes quando pedalei os 140km para Regensburg, resolvi ir no último final de semana antes do início do inverno. A ida foi um pouco tranquila, me perdi um pouco. Cheguei em Munich mas estava com cara de que ia começar a chover. Então dei uma descansada, lanchei e resolvi voltar para não correr o risco de pegar a chuva. A volta foi um pesadelo. Diferente da ida em que há sinais claros indicando a direção de Munich a volta não possuía muitas indicações da direção de Augsburg de modo que me perdi várias vezes e após pedalar mais de 30 kilômetros. Estava ficando tenso pois viria a chuva e eu não estava pronto para enfrentar o frio que ela trazia. Tive de pedalar muito forte e me cansei bastante. A paisagem do caminho não era bonita como a outra viagem e portanto não foi muito prazeroso. Consegui retornar de Munich e fiquei muito feliz de ter realizado o tão esperado desejo. Mau podia acreditar que eu havia visualizado o que acabava de fazer. Me senti completamente realizado.

Depois de 1 ano em Augsburg consegui trazer minha bicicleta para o Brasil. ela me traz grandes satisfações. Infelizmente não consegui manter um ritmo de pedal forte onde moro agora, Petrópolis. Ainda penso em voltar a pedalar forte. Eu quero pintar a bicicleta e limá-la bem para guardá-la como recordação. Ainda hoje mantenho algum contato com o Georg, meu chefe que me ajudou a montar a bicicleta. Espero que algum dia eu possa pedalar ao lado do meu filho com a mesma bicicleta.

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