Se você acompanha nosso especial sobre as modalidades de ciclismo já aprendeu que o BMX é uma modalidade que surgiu com garotos imitando as corridas de motocross com suas bicicletas, não é mesmo? Pois agora vai tentar entender aqui conosco a relação entre o BMX original e sua variação BMXFlatland, uma espécie de versão freestyle do BMX. Ficou curioso para tentar decifrar esse link? Então confira já nosso post.
Foto: Depositphotos
A modalidade
Explicando primeiramente o termo, Flatland, em inglês, significa piso plano, exatamente o tipo de local onde essa modalidade é praticada. O BMX Flatland é baseado em manobras que são verdadeiras demonstrações de equilíbrio e habilidade, na maioria das vezes sem a utilização de obstáculos, rampas ou pistas mais elaboradas. Muito inusitadamente, a própria bicicleta é usada como obstáculo. Conseguiu imaginar?
As manobras
Diferentemente da maioria dos esportes radicais ou das demais modalidades de ciclismo, o BMX Flatland tem suas próprias manobras, que, muitas vezes, acabam inspirando outros esportes a criarem suas próprias versões. Vamos dar uma olhadinha nas principais manobras dessa modalidade?
O 180 Bunnyhop, por exemplo, é um salto de 180º em que o piloto cai de costas para o sentido original em que vinha pedalando, enquanto o Rockwalk, apesar de muito parecido com o Bunnyhop, é, ao invés de um salto, um giro, feito com a alternância do equilíbrio entre a roda da frente e a de trás, completando uma volta de 360º.
Há também o Backyard, feito com um pé apoiado no eixo traseiro da bike e segurando o guidão com apenas uma das mãos, fazendo com que o piloto gire com o pé livre, de ré, a roda traseira e vá equilibrando a bicicleta enquanto avança em linha reta. Já no Landyard, que se assemelha ao Backyard, troca-se a mão do guidão, fazendo com que a bike siga em círculos em vez de fazer uma linha reta. Mais fácil vendo, certo?
Uma das manobras primordiais do BMX Flatland, conhecida popularmente como Bob, chama-se, na verdade, Endo. Nela o piloto controla a bike com os freios dianteiros, diminuindo a velocidade de forma que a roda traseira seja erguida e fique suspensa, enquanto controla o equilíbrio em movimento. Ufa, parece complexo!
A bicicleta
Para a prática do BMX Flatland, as bicicletas têm formatação bastante similar a outras bikes de BMX, mas possuem quadros de design específico, principalmente quanto à geometria de ângulos e comprimentos dos tubos. Os freios precisam possuir o sistema Gyro, que permite o giro completo do guidão e do garfo sem travar por causa dos cabos de freios.
O cubo traseiro da bike de Flatland conta com um mecanismo chamado de Freecoaster, que permite o giro da roda de trás no sentido contrário sem causar a rotação do pedal para trás, facilitando a execução de manobras como a Backyard, por exemplo.
E aí, curtiu o BMX Flatland? Essa modalidade é muito desafiadora, mas é, sem dúvida, muito prazerosa de se assistir e mais ainda de se praticar. Quer tentar?
Quer conhecer as mais diversas modalidades de ciclismo? Então clique aqui e confira nosso especial!
Mais um vídeo mostrando como é pedalar em datas comemorativas. Desta vez confira o Rolé de Natal:
Ho ho ho!
Ok, o Natal já passou, o ano novo chegou e já estamos indo para a metade da primeira semana de 2015, mas eu , Kiko Molinari, decidi trabalhar (ou melhor, me divertir!) no dia de Natal e mostrar para vocês como ficam as ruas e a “passarela de poodle” com o movimento de turistas na cidade de Itapema, litoral de Santa Catarina.
O video, com mais de 30 minutos de duração, mostra a diferença de movimento nos bairros Meia Praia e Centro. Apreciem 😀
Vídeo feito pelo canal Kiko Molinari Filmsespecialmente para o site.
Se você não viu, o nosso primeiro vídeo, o “Giro da Copa”, clique aqui e veja.
Em setembro de 2014 comecei a pensar sobre o que faria para comemorar meus 50 anos… afinal, meio século devem ser bem comemorados! Queria fazer algo diferente e sozinha. Pensei… que tal uma viagem de bicicleta? E o roteiro? Santiago de Compostela… França… Holanda… Depois de muito pensar, a escolhida foi a França.
Uma aventura na França
A partir dessa decisão começou o planejamento da viagem. Primeiro, a pesquisa sobre as ciclovias francesas. Como gosto muito da história da França, decidi pela rota do Vale do Loire e pensando em Joana D’Arc, iniciei por Orléans, analisando a quilometragem e os dias que eu teria disponíveis, optei por pedalar até Angers. Com essa decisão, tudo ficou mais fácil! Continuei minha pesquisa na internet e encontrei agências que alugavam bicicletas e reservavam pousadas. As passagens aéreas pagaria com milhas acumuladas. E ainda, entre tantos lugares lindos e ainda desconhecidos, escolhi onde gostaria de passar meu aniversário e organizei o percurso e o tempo de viagem.
Uma aventura na França: região por onde pedalei
As dificuldades iniciaram quando do envio do dinheiro para a França, uma vez que fazer a viagem através de uma agência sairia 1/3 mais caro. Pesquisei o banco que cobra a menor taxa mas, infelizmente, a burocracia e a ineficiência atrapalharam muito com relação aos prazos de pagamento. Finalmente iniciei minha viagem de férias…o voo de São Paulo me levou a Paris e o trem a Orléans. Em Orléans começou a viagem mais interessante e enriquecedora da minha vida.
Recebi a bicicleta no hotel, e a batizei de “Jolie”. Ela que veio equipada com bolsa de ferramentas, 2 câmaras-reserva, 1 alforge, 1 bolsa acessória para o guidão, 2 coletes reflexivos (1 para usar durante a viagem e outro de presente), capa impermeável, número de telefone para emergências 24 horas e transporte da bagagem de uma cidade para outra. Este transporte teria sido dispensável se eu tivesse levado um alforje maior, mas como não sabia as condições da bicicleta, optei por levar uma mala e somente o indispensável no alforje. Depois cheguei à conclusão que foi a melhor opção, pois um alforje muito pesado impediria o acesso a várias visitas.
Por falta de experiência, levei muita roupa, pois a calefação dos quartos se encarregava de secar a roupa lavada. Levei capas de chuva descartáveis, mas recomendo o uso de capas específicas para esse tipo de viagem. Mesmo tendo chovido um único dia a capa descartável não impediu que eu chegasse ao destino totalmente molhada.
Fixei a bandeira do Brasil na frente da Jolie e qual não foi minha surpresa o fato de apenas cinco pessoas reconhecerem a nossa bandeira em toda a viagem, dois brasileiros, uma francesa recém-casada que possivelmente viria ao Brasil em lua-de-mel, uma adolescente e um senhor que fez menção ao futebol.
Para usar o celular com Wi-Fi e 3G comprei um microchip da Orange, a maior operadora da França e que oferece vários planos com a exigência da apresentação do passaporte na hora da compra.
Importante é levar uma tomada universal, uma bateria acessória para o celular e, se possível, uma régua de energia, pois dependendo do lugar havia uma única tomada elétrica.
Em todas as cidades, os escritórios de turismo fornecem mapas gratuitos, mas é melhor comprar um mapa mais completo, por região, que mostra as condições das rotas cicláveis que são muito bem sinalizadas em todo o trajeto.
A viagem foi tranquila, parando sempre que via algo interessante, sem pressa, mas tendo o cuidado de chegar à cidade de destino antes do escurecer. Como eu ficava pouco tempo nos lugares e não havia frigobar nem algo para aquecer os alimentos, não tinha como preparar a comida, o que encareceu a alimentação. Acordava cedo, tomava o café às 7 horas e voltava para a estrada. Há fontes de água potável nas estradas da França, ou seja, caramanhola sempre cheia de água fresquinha.
Uma aventura na França. Foto: acervo pessoal Miriam Costi Ribeiro
UMA AVENTURA NA FRANÇA: O ROTEIRO
1º dia Orléans / Cléry-Saint-Andre / Meng-Sur-Loire /Beaugency. (55,8km)
Orléans é a mais importante cidade medieval da região pela localização estratégica e proximidade de Paris. É também onde está localizada a casa de Joana D’Arc, uma jovem que se destacou na Guerra dos Cem Anos (que não durou cem anos!). A Catedral Sainte Croix foi construída em 330 DC, mas destruída e reconstruída várias vezes. Seus vitrais são belíssimos, ao lado, o Museu de Belas Artes possui obras maravilhosas. Na Praça Martroi existe uma escultura de Joana D’Arc a cavalo. Os jardins do Parque Louis Pasteur foram construídos com traços regulares, conforme o padrão do século XIX. Em Clery-Saint-Andre existe a Basílica de Clery-SaintAndre em estilo gótico flamboyant e lá se encontra a tumba do rei Louis XI e de sua esposa Charlotte de Savoie. Nesta pequena cidade parei para almoçar e percebi que perderia muito tempo ao fazer as refeições em restaurantes, o que me fez repensar o aproveitamento do dia. Meng-Sur-Loire é a menor cidade medieval e foi sede do colegiado dos bispos de Orléans. Antes de chegar a Beaugency, margeando o rio Loire, consegui molhar minhas mãos nas águas frias do rio. Lá encontrei três pescadores muito pitorescos e a soma da idade deles somaria uns quase 250 anos. Foi difícil fazê-los entender como me fotografar com o celular. Demos boas risadas!
Beaugency é muito interessante, e por suas peculariedades, nos leva a sonhar: a Torre da Idade Média, um dos últimos resquícios da arquitetura militar romana que fazia a proteção da cidade; o Castelo Dunois; as casas cobertas de vegetação; as ruas pitorescas; a Abadia de Notre Dame; a Torre do Relógio…enfim, um sonho! Durante a viagem, se precisava de alguma informação, pedia aos moradores das vilas e cidade que encontrava pelo caminho, pois não havia viajantes ciclistas como eu. Cheguei, então, ao Castelo de Chambord, construído pelo rei Francisco I, um apaixonado pela arquitetura renascentista italiana. Perdi um tempo para achar um local onde poderia deixar a bicicleta.
O castelo é belíssimo, seu ponto alto é uma escada dupla hélice, projeto de Leonardo da Vinci. No pátio encontrei uma senhora e uma moça e quando pedi para me fotografarem entendi que só falavam japonês…fiquei encantada porque mesmo assim este fato não as impediu de estar viajando pelo interior da França. Foi em Chambord, em 1670, que Molière fez sua primeira apresentação do Bourgeois Gentilhomme. No caminho a Blois passei por pequenas fazendas, em uma delas vi um casal de idosos no pomar e entrei para conhecer o lugar. Eles foram super simpáticos, provei as maçãs e peras doces e suculentas e ainda ganhei algumas para o lanche. O Castelo de Blois foi a residência de sete reis e 10 rainhas da França e palco de muitas tragédias que ocorreram nas guerras religiosas. É o castelo que apresenta o maior número de estilos arquitetônicos e o local onde Joana D’Arc foi condecorada. Foi um dos castelos que mais gostei. Durante da Segunda Guerra Mundial Blois foi incendiada e posteriormente reconstruída.
3º dia Blois / Celettes / Amboise (94,3 km)
No início desse trajeto, a rota ciclável era toda asfaltada, encontrei idosos em cadeiras de roda elétricas ou com caminhadores, famílias com crianças passeando de bicicletas e foi o local onde mais encontrei moradores da região.. No caminho encontrei um casal de franceses que andavam de bicicleta, pararam para conversar comigo e me contaram que a idade – ele com 65 anos e ela com 60 anos – não será empecilho para, em janeiro de 2015, fazer uma viagem ciclística pela Argentina e Chile. As horas foram passando e, para minha surpresa, me convidaram para ir até a casa deles caso anoitecesse. Nunca é tarde para começar! Segui meu caminho feliz!
Floresta de Amboise. Foto: acervo pessoal Miriam Costi Ribeiro
4º dia Amboise / Chenonceaux / Tours (72,3 km)
30 de outubro, meu aniversário, 50 anos! O objetivo da minha viagem!
Atravessei a floresta de Amboise, era outono, época da colheita de champignons, pessoas com cestos e facas selecionavam com muito cuidado os comestíveis, pois são
muito parecidos com os venenosos. Esta floresta é um lugar mágico, mas com muitas encruzilhadas. Como não tenho um bom senso de orientação geográfica e tinha acabado a bateria do celular, me perdi mais de uma vez. Foi o momento mais tenso de toda a viagem porque o sol começou a se por e fiquei com medo do anoitecer e ter de esperar o amanhecer, no frio! Mesmo assim, consegui chegar ao meu destino…física e emocionalmente exausta. Amboise é a cidade onde Leonardo da Vinci viveu seus últimos dias. O Castelo de Amboise, que pertenceu à Dinastia Valois – Orléans, é fantástico, até porque tem acesso a cadeirantes em todos os andares, audioguia adaptado para crianças e surdos, e maquetes táteis para cegos. Em muitos locais do castelo animais são benvindos no colo ou na coleira. Nos jardins paisagísticos está o busto de Leonardo da Vinci no local onde foi primeiramente enterrado, sendo seus restos mortais posteriormente levados para a Capela de São Humberto. O castelo de Clos Lucé, ainda em Amboise, foi a residência de Leonardo da Vinci, o lugar é lindo, com os jardins que ele mesmo projetou e toda a história das suas obras e projetos. As crianças são estimuladas a tocar e fazer funcionar as maquetes. Nas paredes, inscrições como: “Todo o nosso conhecimento tem origem na nossa sensibilidade.” Após o sobe-desce pelas ruas medievais das cidades, cheguei a Chenonceaux com seu magnífico castelo, o Castelo das Damas, alusão à amante, à esposa e às herdeiras do rei Henrique II.
5º dia Tours / Villandry / Azay-le-Rideau (48,9 km)
O Castelo de Villandry é famoso por seus jardins maravilhosos. O Jardim Decorativo é formado por quatro quadrados que constituem os “Jardins d’Amour”, cujos nomes instigam nossa curiosidade: o Jardim Terno, o Jardim Apaixonado, o Amor Volúvel e o Amor Trágico; mais Os Bosques; O Jardim da Água; O Jardim do Sol; O Labirinto que
simboliza o percurso terrestre do homem; O Jardim dos Simples, consagrado às ervas aromáticas, condimentares e medicinais; e A Horta.
6º dia Azay-le-Rideau / Bréhémont / Chinon (39,2 km)
Azay-le-Rideau é uma vila charmosa, situada no coração do Parque Natural regional Loire-Anjou-Touraine. Seu castelo foi construído em uma ilha para proteger a passagem de Tours à Chinon e é famoso pelos reflexos na água. Ainda em Azay se localiza o Castelo de L’Islette onde Camille Claudel e Rodin viveram dias de tórrido amor. Todos os trajetos são lindos, os dias estavam ensolarados e deliciosos para pedalar! De Azay à Chinon as vias cicláveis vão margeando o rio Loire. A Fortaleza de Chinon foi o local onde Joana d’Arc encontrou-se com o rei Charles VII, em 1429. Nesta fortaleza a museografia e a cenografia modernas interagem com maquetes táteis, imagens em 3D e sonorização.
7º dia Chinon / Candes-Saint-Martin / Montsoreau / Samur (47 km)
A caminho de Samur encontra-se Montsoreau, uma antiga cidade de pescadores que foi eternizada por Alexandre Dumas no seu romance “A Dama de Montsoreau”. Para chegar até lá foi um tal de sobe-morro que parecia não ter fim! E a Jolie firme e forte no pedal! Samur é conhecida como a região de excelentes vinhos brancos; mantém intacta em seus domínios o espírito dos grandes cavaleiros, sendo considerada a capital da arte equestre com uma escola de equitação que foi criada em 1815; possui uma grande escola de gastronomia francesa, e é a terra natal da famosa estilista Coco Chanel.
8º dia Samur / Angers (59,1 km)
Início do inverno europeu…e com ele veio uma tempestade de chuva e vento, o que só me permitiu parar para tomar água e comer rapidamente. Cheguei em Angers encharcada pela chuva, onde então, comprovei que as capas de chuva não podem ser as descartáveis, pois não protegem o suficiente.
No dia seguinte, roteiro finalizado! Sonho realizado! Foram 484 km de rotas cicláveis, castelos maravilhosos, florestas, fazendas, vinhedos, pontes, cidades medievais, uma natureza deslumbrante e um povo encantador.
Como não levei relógio, aprendi a ter noção do tempo pela posição do sol. Todos os sentidos se aguçaram. O barulho das folhas secas do outono quebrando sob as rodas da bicicleta foi um dos fatos que me encantou. A natureza é pródiga em cores e no outono as folhas são lindas, indo do verde ao marrom passando por todos os matizes.
Angers. Foto: acervo pessoal Miriam Costi Ribeiro
A temperatura, variando de 9 a 13°C, era agradável para pedalar. Em todo o percurso usei o aplicativo Strava que registrou minha viagem, com exceção dos dois últimos dias, que travou, e o Google Maps. Gostaria de ter aparecido mais nas fotos, porém, foi o resultado de ter viajado sozinha. Por onde passei as pessoas foram receptivas e muitas vezes perguntaram se eu preferia falar em inglês ou espanhol. Procurei optar pelo francês, mesmo enrolando a língua muitas vezes, e a paciência do povo francês interiorano foi inigualável.
A meu ver, sermos ou não bem tratados depende da forma como abordamos as pessoas em qualquer lugar do mundo. Lá todos se cumprimentam com um ‘Jour’, mesmo sem se conhecerem. Dessa forma, não tinha como os meus dias não serem felizes. A Jolie foi uma grande parceira, não precisei fazer qualquer reparo…nem um pneu furou! Sem o amor e o apoio da minha filha, dos meus país, irmãos, cunhada e amigos verdadeiros nada disto teria acontecido de forma tão especial. Retornei ao Brasil com o sonho realizado, muita vontade de pedalar por outros lugares, e …FELIZ!
[Nota do blog:] se você vai pedalar pelas cidades desse roteiro, pode consultar campings, albergues, pousadas e hotéis nos links abaixo:
Não fui muito longe, apenas 35 km – mas foram os 35 km mais importantes que eu já fiz desde que comprei Sora, a minha bicicleta.
A história na verdade começa antes desses quilômetros transformadores: começa no momento em que decidi que, mesmo depois de mais de dez anos sem pedalar, eu não compraria uma bike de passeio, mas sim uma speed, que sempre foi o meu sonho. A resistência foi grande, todos queriam me fazer desistir – apostavam que eu ia cair em uma semana e deixar a vontade de pedalar de lado. Pois eu comprei a speed que eu queria e caí no mesmo dia em que a tirei da loja, mas levantei e continuei firme. Desistir não era uma opção para mim.
Algum tempo depois de estar com ela, quis pedalar com um grupo que sempre via sair de perto da minha casa. Juntei-me a eles, mas, por falta de treinamento, não consegui acompanhá-los em uma subida. Para piorar, ouvi de um dos ciclistas que com uma speed eu nunca conseguiria acompanhá-los, que deveria desistir para não atrasar o restante do pelotão e voltar quando tivesse comprado outra bicicleta. Naquele dia eu desisti e fiquei imensamente triste, mas ali começava o meu desafio pessoal: acompanhar o grupo e nunca mais parar frente a uma subida. E com a minha speed.
Desistir nunca
Comecei a treinar mais. Troquei o cassete da bicicleta por outro melhor. Refiz o trajeto que não consegui naquele dia várias vezes. Pedalei por novas rotas na cidade que incluíssem mais subidas (e aqui em Belo Horizonte isso é fácil!) e fiz questão de não me afastar dos ciclistas daquela turma. Sempre mantive a cabeça erguida e demonstrei vontade de aprender. O desafio que me impus também incluía provar que eu podia ir junto e que a bicicleta não seria uma limitação.
Então chegou o dia de me colocar à prova. Encontrei-me com eles e o percurso seria até uma cidade vizinha. Partimos e, apesar do medo que eu sentia de falhar de novo e dos olhares descrentes de algumas pessoas, fui em frente. Passamos por rodovias, pistas com asfalto ruim, lugares sem iluminação e subidas enormes. Cansei, me senti mal, precisei empurrar a bicicleta em alguns trechos e por várias vezes pensei em desistir, mas em todas elas eu pensava: “você chegou até aqui e trabalhou muito para isso, você pode aguentar mais e ir além” – e fui.
Foram 35 km de muito esforço, mas que compensaram cada metro. Me senti realizada. A sensação de superação foi maravilhosa e ver a surpresa dos colegas que acharam que eu não conseguiria também foi energizante para mim. Eu tinha conseguido. Sem nenhum pneu furado, sem pedir ajuda, sem me machucar nem me separar do pelotão.
Pode parecer pouco, mas quando você tem 34 anos e passou mais de dez sem subir em uma bicicleta, isso é um feito e tanto. A sensação de alegria que experimentei ao chegar em casa naquela noite foi a redenção que eu precisava. Depois disso, nunca mais parei de pedalar e nunca mais olhei para uma subida com medo. Nunca mais aceitei que me dissessem que eu não conseguiria. Como eu disse, desistir não era uma opção, e continua não sendo. Podemos fazer o que quisermos.
Era um dos invernos mais frios dos últimos tempos. Mas a previsão era de dias ensolaradamente lindos! Meu nível de estresse era estratosférico e eu precisava pedalar. Convenci minha irmã gêmea a me acompanhar no Circuito das Araucárias (região norte de SC). Novidade para nós duas. A vida dela não andava muito mais doce que a minha e ela topou na hora. Iniciamos o pedal no dia 27 de julho e terminamos no dia 30 de julho de 2013. Foram 250 km pedalados em 4 relaxantes dias, ou quase isso…
A aventura ficou por conta de a rota ser desconhecida e seres femininos, famosos por sua grande falta de senso de localização, estarem no comando de toda operação. Por mais que eu estude os mapas, consigo fazer bobagens homéricas e quilométricas (para mais, claro).
Dia 1 de pedal. O Circuito das Araucárias não é tão molezinha assim.
No primeiro dia faríamos apenas 50 km de bike. Por isso, acordamos tarde. Colocamos as bikes e alforjes na minha Doblô e partiu aventura. O dia estava lindo como previsto. Deixamos o carro num posto de gasolina no centro da cidade de Corupá.
Fomos até a prefeitura, onde tem o km 0 do trecho e começamos o Circuito das Araucárias. Já perto das 11 horas. Faríamos dois trechos: trecho 3 e trecho 4. O primeiro trecho foi muito tranquilo: estradinha de terra boa, com bananeiras e muita paz. Foram apenas 13 km. A chegada era no Parque das Aves, pelo qual passamos direto: queríamos pedalar! Até esquecemos o carimbo…
Então começou o trecho mais duro do circuito: as serras. Os 50 km não seriam assim tão fáceis não! Mas o visual era lindo! Cruzamos os trilhos de trem várias vezes no percurso.
Na localidade de Rio Vermelho achamos um barzinho com uma placa de Pepsi mais antiga que eu e um baleiro giratório que nos fez voltar no tempo. Chegamos a 1049 m de altitude e começamos a descer para a cidade de Campo Alegre. Tivemos que colocar mais roupas.
A cidade é conhecida como a cidade das ovelhas. Muito fofo o lugar. Demos uma voltinha pelas ruas e fomos procurar o Hotel. Primeiro baile de desorientação das meninas… A bodega estava fechada!!! Mas há “malas que vão pra Belém”. Achamos um café colonial fantástico para jantar. E a recepção era feita por uma vira- lata com roupinha de lã.
Dia 2 de pedal. Montanha russa nas pedras.
Levantamos 8h. A serração estava levantando conosco… Que frio. Passamos na padaria e compramos o café da manhã que carreguei no alforje. Ainda não tínhamos fome.
Hoje, nosso percurso seria o trecho 5 e 6 do guia. Apesar de não haver nenhuma serra longa, estávamos sempre subindo ou descendo. E isso foi quebrando as pernas das ciclistas. Foram 50 km numa montanha russa pedregosa.
Passamos pela antiga estrada de terra Dona Francisca. Muitas fazendas abertas para visitação turística, inclusive de ovelhas. Lindo visual de planalto! Começou o trecho que dá nome ao circuito: muitas araucárias pelo caminho! Atrapalhamos-nos deveras nos cruzamentos de asfalto. Mesmo com as placas novinhas, perdíamos muito tempo tentando entendê-las. E como o circuito era relativamente novo, ninguém entendia o que estávamos fazendo.
Chegamos ao fim do trecho 5 às 11h. Resolvemos tomar nosso café da manhã na beira da estrada. Sentamos em pedras e saboreamos nossos sandubas de queijo e chocoleites.
A estrada só piorou… Muitos “cala-bocas” e muitas pedras soltas. Cruzamos com alguns cavalos xucros soltos na estrada. Passá-los ou não passá-los eis a questão! Vimos uma plantação de pinheirinhos e comecei a cantar “meu piiiiinheirinho está lindoooooo” apesar de o natal estar bem longe. Mas eu estava tão feliz!
Chegamos a Pousada Ponte de Pedra ás 16h. Entramos porque a porteira estava aberta. Mas não havia ninguém lá. Pensei: ahhhhh, de novo não. Conhecemos a famosa ponte de pedra feita em 1884, ainda em uso. E matutamos como sobreviveríamos pelos 100 km do dia seguinte. O jeito seria sair junto com o sol. E torcer para chegar com ele. Naquele frio… Ai, ai…
Circuito das Araucárias. Foto: acervo pessoal Caroline de Barba
Dia 3 de pedal. Um dia muito longo.
Levantamos 5h 45 min. Fazia um frio danado e a cama estava tão quentinha… O céu estrelado anunciava mais um dia fantástico. 6h 50min partimos junto com os primeiros raios de sol. A alegria durou pouco. Havia sol somente nas partes mais altas, nas baixadas havia uma forte serração gelada! Meu Garmin marcou 4 graus!
Ainda bem que pegamos um longo planalto. A serração ficou lá embaixo, criando um visual incrível lá em cima! Passamos outra vez por um trecho da Estrada Dona Francisca, enfiada no meio de um reflorestamento. A estrada ainda mantém seu calçamento original de pedras. Pensa como nossos bagageiros pularam morro abaixo.
A paisagem do trecho 8 era deslumbrante, de tempos em tempos me pegava com um sorriso besta na cara amando estar ali. Só saia do meu transe quando, no topo de um morro, o celular de minha irmã tocava. Era um marido deveras preocupado com a aventura da esposa e sua irmã, famosa pelas “desmiolices”.
Paramos numa igrejinha para fazer um lanchinho e descansar. Que delícia de lugar cheio de araucárias e grama cortadinha. Tínhamos sandubas que fizemos com o pão caseiro no café da manhã e uma barra de chocolate. Tive que dar uma de vândala para conseguir água ali.
Subindo a última serra começamos avistar a cidade de São Bento do Sul. Nosso destino. Jantamos um delicioso rodízio de pizzas (na frente do hotel!). Com cara de cansada e vestida elegantemente de meias grossas e chinelos de dedo, eu parecia uma doente em fase terminal…
Dia 4 de pedal. O que era para ser melzinho na chupeta, virou pezinho na lama.
Último dia de pedal. Eu estava bem cansada do dia anterior. Mas, o dia prometia ser fácil. Iríamos descer tudo o que subimos no primeiro dia. O guia falava em 10 km de descida suave. Oba! Seriam os trechos 1 e 2 do circuito, cerca de 50 km. O céu já estava azul logo cedo e os vidros escorrendo indicavam que a noite havia sido fria.
Subimos um pouco e logo chegamos à famosa descida. Que decepção! A estrada estava muito ruim. Havia muitos trechos com deslizamento de terra e muita lama. Aquilo não rendeu como esperado. A estrada parecia uma trilha enfiada no meio do mato. O que seguiu foi igualmente tenebroso. Grandes tobogãs cheios de pedras. As pernas esfriavam descendo e ardiam subindo. Que canseira!
Após cruzarmos um trilho de trem haveria a última serra do dia com 6 km. Eu já não aguentava mais. Minha moral estava no zero e eu parei. Simplesmente achei que não daria mais para seguir. Minha irmã me deu seus três últimos BCAAs. Foi a minha salvação. O “viagra para as pernas”, como costumo chamá-lo carinhosamente, fez efeito imediato. Consegui, me arrastando lentamente, subir os 6 km!
Que euforia chegar de volta em Corupá e ver minha Doblô nos esperando! Enfiamos tudo lá dentro e comemoramos o sucesso da viagem nos embriagando com bombons de licor. Bem coisa de menina!
Você pode reservar hotéis, pousadas, hostels e até casas de hóspedes através do Booking.com. Assim terá muitas opções para comparar e escolher a que vai te atender da melhor forma.
Sempre pedalamos com um grupo de amigos. Um certo dia, propus aos colegas uma pedalada diferente, já que só fazíamos trilhas em estrada de chão com muita poeira e barro. Disse para fazermos uma pedalada de 150 quilômetros de asfalto de Guarapuava – onde moramos – até a cidade de Ponta Grossa. Foram caras e bocas (rsrs) e o desencorajamento foi muito grande:
– “Nossas bikes são pra trilhas e não asfalto, não conseguiremos, teremos que sair muito cedo…”
E aí um dos colegas falou a frase que mais deu força para fazer essa aventura:
– “Vocês não conseguem”
Partindo desta frase começamos a preparação. De 12 amigos ficamos em apenas 2 mas seguimos nosso objetivo. Com fé em Deus e pressão no pedal fomos até lá! Rimos muito , por ter dado certo, de todos que duvidaram.