De São Lourenço a Cachoeira do Caldeirão em Baependi-MG

Por Tomas Dotti

Minha viagem ruma a Cachoeira do Caldeirão em Baependi começou no carnaval de 2016. Eu havia saído na sexta, então no sábado fui dormir  cedo (sob forte protesto dos amigos que estavam comigo e não se conformaram com o fato de eu estar trocando uma noite de curtição no carnaval do Sul de Minas pelo perrengue de um pedal longo e solitário) pra poder começar o pedal no dia seguinte.

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Foto: acervo pessoal Tomas Dotti

Rumo à Cachoeira do Caldeirão

Saí de casa às 6:20 rumo a Baependi/MG, que fica a 35kms de São Lourenço/MG, cidade onde eu estava hospedado. O dia já nascera quente e lindo, não encontrei qualquer dificuldade em iniciar o pedal.

Rapidamente já havia atravessado a cidade (atraindo olhares curiosos dos que relutavam em voltar para suas casas após uma noite de folia), seguindo pela estrada que separa as duas cidades. Importante ressaltar que todos os veículos que passaram por mim, sem exceção, respeitaram a distância de segurança de 1,5 metros (em alguns casos até mais que isso, provavelmente eram ciclistas também).

Cheguei em Baependi às 8:00 e não resisti a tentação de tirar uma foto do “Bar Fecha Nunca” fechado! Sempre tive esse sonho, mas o bar realmente não fecha – quase – nunca. Feito isso segui para a estrada que vai até a Cachoeira do Caldeirão, que era minha meta. Passei num pequeno mercado pra comprar Gatorade e abastecer minha mochila de hidratação e retomei a pedalada.

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O Bar Fecha Nunca… fechado. Foto: acervo pessoal Tomas Dotti

A estrada é de terra batida, com boa qualidade para pedalar. Rapidamente cheguei a um desvio que levava até a Cachoeira de Itaúna e como eu estava num bom ritmo decidi parar para conhecê-la. Fiquei maravilhado ao chegar pois é uma das cachoeiras mais bonitas que já vi. Aproveitei para comer umas barrinhas de cereais e receber uma massagem nas quedas d’água.

Cachoeira de Itauna em Baependi
Cachoeira de Itauna em Baependi. Foto: acervo pessoal Tomas Dotti

Ao voltar retomar o pedal, seguindo a partir do desvio que eu havia pegado, notei que a estrada até então muito boa foi ficando diferente. A terra batida agora tinha pontos de muita lama e começaram a aparecer morros longos. Numa descida em que me distraí quase caí dentro do rio, pois ela terminava em uma ponte bem numa curva, sobre a qual tinha muita lama, o que fez a roda da frente deslizar e quase sofri um acidente grave. Foi por pouco! Recuperado do susto prossegui.

Encontrei então um morro enorme, com aproximadamente 1km de subida. Quando cheguei no topo perguntei a um senhor que ali estava deitado (afirmou estar descansando para poder prosseguir) se era o caminho certo para a Cachoeira do Caldeirão e ele disse que não, que eu precisava voltar e pegar uma outra entrada. Relutei em acreditar mas voltei. Quando cheguei no pé do morro encontrei e parei um motociclista para pedir informação. Ele era ciclista e disse conhecer bem aquelas trilhas. Me garantiu que eu deveria subir o morro e seguir em frente.

O alto do morro: o melhor lugar pra descansar. Foto: acervo pessoal Tomas Dotti.
O alto do morro: o melhor lugar pra descansar. Foto: acervo pessoal Tomas Dotti.

Subi os mil metros novamente e ao chegar lá em cima encontrei o senhor ainda deitado na posição original e contei que ele estava errado, que pra Cachoeira do Caldeirão eu deveria seguir em frente e não ter voltado. No que ele me respondeu: “mai foi isso mêmo que eu falei, uai!”

Achei por bem não discutir, seria perda de tempo. Joguei uma barrinha de cereal pra ele e segui meu caminho. “@#%&*¥”

Foto: acervo pessoal Tomas Dotti.
Foto: acervo pessoal Tomas Dotti.

A estrada foi ficando ainda mais difícil. Passei por uma longa subida com tanto barro que algumas motos e carros não puderam prosseguir e retornaram. Dali pra frente somente motos e Fuscas conseguiam transitar. Vez outra passavam algumas picapes e moradores locais experientes com veículos de passeio, mas eram exceção.

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Cada vez mais perto. Foto: acervo pessoal Tomas Dotti.

Chegando na Cachoeira do Caldeirão

Minha meta era chegar na Cachoeira do Caldeirão até o meio-dia, nadar, curtir o local até às 14:00 e então voltar. Mas a essa altura já passava das 13:00 e ainda tinha muito chão pela frente. Até pensei em desistir pra não correr o risco de voltar no escuro, mas como sou teimoso decidi que pedalaria até as 14:00. Mas acabei chegando à Cachoeira do Caldeirão quando o relógio já marcava 14:20.

Perdi o fôlego com a visão daquele lugar. Uma queda d’água com 8 metros de altura e um poço com 30 metros de profundidade, cercada por paredões rochosos que ecoam aquela barulheira de água caindo e tornam ainda mais evidente a força da natureza contrastando com sua generosidade em criar algo tão belo.

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A Cachoeira do Caldeirão. Foto: acervo pessoal Tomas Dotti.

Tirei fotos e me obriguei a ir embora rapidamente, o que só consegui com muita dificuldade.

A volta pra casa

Voltei o mais rápido que pude, comendo e enchendo minha mochila de hidratação nos mercadinhos e bares que encontrava pelo caminho. Como minha bike não tinha lanterna e eu estava muito cansado já considerava a hipótese de pegar um ônibus de Baependi para São Lourenço, evitando assim pedalar os 35kms de estrada entre uma cidade e outra. No entanto meu orgulho me impediu de recorrer a essa alternativa e como ainda estava claro decidi continuar o pedal até meu local de inicio.

Nos últimos 10kms a escuridão se fez presente e eu nada podia enxergar à minha frente quando não havia um carro para iluminar a pista. Nas descidas eu rezava para aparecer algum veículo andando bem devagar, pois assim eu podia aproveitar melhor o embalo e poupar esforço.

No total foram +- 140km de pedal: 70 de ida e volta entre Baependi e São Lourenço, e mais 70 de ida e volta na estrada de terra para a Cachoeira do caldeirão.

Enfim cheguei a São Lourenço e para minha alegria me lembrei que era domingo, dia em que meu avós Tereza e Moacir Dotti tradicionalmente fazem uma macarronada italiana sem igual e fui direto pra casa deles. Eram 20:40 e eu pela primeira vez no dia, enfim, comia comida de verdade e de quebra a mais deliciosa que eu poderia escolher.

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Um banquete após um dia inteiro de pedal. Foto: acervo pessoal Tomas Dotti.

Hospedagem em São Lourenço e Baependi

Se você vai pedalar pelas cidades desse roteiro, pode consultar campings, hostels, pousadas e hotéis nos links abaixo:

No hay espacio en Santiago – para Carros

Sede do  5º Fórum Mundial da Bicicleta já se esgota com excessos de carros nas ruas, apesar de baixa taxa de motorização da população em relação a outras metrópoles sul-americanas.

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por Gil Sotero

Palco da próxima edição do Fórum Mundial da Bicicleta o Chile já constava na minha lista para futuras pedaladas. Quando saiu a decisão que o evento seria realizado no pais andino decidi que era hora de ir lá. Preparamos as dobráveis e seguimos.  Ainda no Brasil pesquisei muito sobre o país. Principalmente a cultura da bicicleta em Santiago. No blog Camisa de Chita fiz um relato sobre os preparativos e o que levei na bagagem.

O capital chilena com mais 7 milhões de habitantes e 1,4 milhões de automóveis, como toda grande cidade sul-americana “comprou” o sonho motorizando. Estima-se que até 2025 esse número de automotores duplicará. Durante todos os dias que pedalei por Santiago pude observar engarrafamentos e o estresse dos motoristas santiaguinos. Com 4,5 pessoas por automóvel Santiago aparentemente não devia viver esse gargalo. Essa taxa de motorização é bem menor que cidades brasileiras como São Paulo onde há 1,8 pessoa para cada carro ou BH com 2 para cada 1. A sensação de cidade saturada e que ainda é possível mais carros encontra eco em muitos defensores do aumento da taxa de motorização devido ao fato de apenas 8% do território urbano ser dedicado a vias de trânsito (fonte Vasconcelos).

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Mesmo em dias ensolarados a poluição impede a visão das montanhas de gelo que rodeiam a cidade. Foto; Gil Sotero

A realidade porém é que a capital chilena já  se encontra em situação crítica devido a suas características geográficas e climatológicas que impedem as partículas solidas,  emitidas pelos veículos movidos a combustíveis fosseis, se dissiparem. A cidade como já declarou o jornal El Pais; se afoga em uma nuvem de poluição. Santiago foi de longe a cidade da América do Sul em que a poluição mais me incomodou.  E nem precisa  subir em qualquer ponto alto da cidade em um dia sem nuvens para ter a dimensão do problema. Ele é sentido pelas vias respiratórias. Junte isso ao fato de um grande número de fumantes (também nunca tinha ido a uma cidade com nível tão alto de nicotina na poluição).

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A situação está tão insuportável que o governo chileno já retira 40% do total de automóveis da cidade durante o inverno quando o ar recebe lufadas de poluente devido o uso de lareiras aquecidas a carvão. Já se chegou a suprimir também as lareiras e atividade industrial e as autoridades deseconselha a população a não praticar esportes durante o inverno. Não se assuste ao ver ciclistas pedalando com mascaras.

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Anualmente cerca de 500 pessoas morrem devido a poluição na cidade. Some isso ao fato da cidade ser uma das menos ventiladas desse lado dos trópicos.

Cultura da Bicicleta

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Ciclista com uma bicicleta dobrável no trânsito de Santiago

Vamos falar de coisas boas. Santiago é uma cidade que além de precisar de mais ciclistas é perfeita para pedalar por ser plana na maior parte do território.  Uma grande força tarefa está trabalhando para incentivar cada vez mais cidadãos a usarem a magrela.

E quando se fala em ciclistas urbanos Santiago apresenta números invejáveis; 7% das viagens são na bicicleta. Isso representa  mais de 500 mil viagens diárias em cerca de 400 km de ciclovias que autoridades locais planejam transformar em 800 ate 2022 (incluindo 140 km em áreas rurais próximas). No site Chilebikes há um panorama das ciclovias no país. De fato foi lá também que pude observar uma presença grande de ciclistas no trânsito da cidade. O material rendeu até um registro a parte já que a maioria dos ciclistas utilizam as bicicletas com roupas casuais em suas atividades cotidianas. Elegi Santiago como a capital Cycle Chic da América do Sul. A presença das mulheres na bicicleta é outro fato na bicicultura da cidade. Há vários dados sobre sua quantidade mas eu  considerei por observação que Santiago é também de longe, a capital sul-americana onde mais vi mulheres na bicicleta. Há indicadores que apontam que elas representam 30% entres os ciclistas.

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Foto; Gil Sotero

Uma variedade de iniciativas trabalharam para promover a bicicleta entre as garotas como a Macleta um coletivo de mulheres ciclistas que ajudam outras mulheres a pedalar e até a aprender a dar manutenção nas bikes. Muitas dessas inciativas estão listadas no site Bicicultura

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Duas dobráveis e apenas 6kg de bagagem de roupa. Foi tudo que precisei para viajar pelo Chile por quase 20 dias. Foto Gil Sotero

Antes de levar a minha dobrável pesquisei bastante os preços para alugar bicicletas por lá. Logo desisti de ir sem bike pois para usar o sistema bike share de Santiago o turista desembolsa 50 reais por diária. Um amigo já tinha me alertado no video que fez quando visitou a cidade. Além disso reparei que os terminais não são bem localizados e fáceis de achar. Pedalei por vários bairros de Santiago e era difícil encontrar os terminais. É um sistema feito para a população local, definitivamente.

É importante ficar atento ao entrar com a sua bicicleta no Chile. O país considera a bicicleta como veículo e não como babagem.  Ao entrar a imigração te dará um documento de admissão temporária no país, que deve ser devolvida até 90 dias. Guarde esse papel com o passaporte! Se perdê-lo terá que pagar imposto pela bike. Após esse período eles consideram que se trata de uma importação. Se comprar uma bicicleta no Chile terá também que seguir algumas regras. Consulte-as aqui no site da Aduana do Chile.

Obs; A Receita Brasileira também pode questionar sua bicicleta na volta. Se a bike custou mais de 500 dólares podem te taxar. Se você não possui mais a nota fiscal da bicicleta (para caso te pararem) leve uma bicicleta que tenha comprado que seja abaixo do limite imposto pela receita brasileira (foi o que fiz). Não tive problema algum.

Capacete é obrigatório mas nem todos usam. Eu também não usei. Recentemente o Chile criou novas leis para “incentivar” o uso da bicicleta nos centros urbanos.  Dentre as principais obrigações do ciclista estão;

Pedalar a um metro da calçada. Não andar na contramão. Não pegar estradas, rodovias e tuneis sem ciclovias. Faróis, lanternas, campainha, refletores e capacete são itens obrigatórios. Todas as novas regras podem ser consultadas no site Cultura Vial.

Não é possível sair pedalando do aeroporto até a região central pois no trajeto da autopista não há ciclovias. Em compensação entrei tranquilamente com a minha dobrável no bus e desci na estação central de onde fui até o Cerro Santa Lucia, ponto de referência da  hospedagem, seguindo a ciclovia.

No metrô as bicicletas são proibidas exceto a bicicleta dobrável, aceita dentro da mala bike. Só usei metrô um dia pois também não é barato e de bike chegava a todo lugar que queria ir. Há estacionamentos seguros em várias estações mas são pagos.

A primeira surpresa que tive foi poder entrar com a minha bicicleta no supermercado e deixá-la estacionada praticamente em frente aos caixas! Na verdade os estabelecimentos em Santiago são super bikefriendlys. Quando não havia bicicletários próximo os donos incentivavam a deixar minha bici dentro do local. Não fui barrado em praticamente nenhum lugar que frequentei. Achei fantástico! Leve sua u-lock e não dê bobeira. Uma bicicleta é furtada a cada 5 minutos lá.

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Santiago apresenta uma grande variedade de tipos de ciclovias ainda que muitas não sejam interconectadas. Bidirecionais, unidirecionais, compartilhada, de asfalto, de terra. Para nós bicituristas as vezes pode se tornar uma tremenda confusão e ficamos perdidos pois a sinalização já está um pouco apagada. Porém basta seguir algum ciclista local e já se toma o rumo. Não pense que terá a facilidade das rotas para bicicleta do google maps, o sistema não estava ativado quando fui em janeiro deste ano. Para fazer suas rotas use este mapa. Também não espere gentileza dos motoristas. São tão mal educados e agressivos quanto no Brasil. Há até um estudo que aponta o motorista chileno como o mais violento da América Latina.

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Gosth Bike na capital chilena. Apesar da quantidade de ciclistas motoristas santiaguinos são tão agressivos quanto os de muitas capitais brasileiras. Foto Gil Sotero

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Não é raro encontrar homenagens a vítima do trânsito chileno. Foto Gil Sotero

Comidas e bebidas

O câmbio não está favorecendo mesmo os brasileiros. Um simples pf no centro de Santiago pode custar facilmente R$ 30,00. A principal dica é fazer a troca de moedas na Calle Augustina e pesquisar antes de trocar pois a diferença pode variar bastante! Outra é fugir dos lugares de turistas onde comidas e bebidas são absurdamente caras. Se quer economizar a melhor dica é frequentar o supermercado e preparar algumas refeições. Outra dica é almoçar nos restaurantes chamados de “Picadas” os menus são mais baratos. Há também muitas lanchonetes e comidas de rua próximo ao Mercado Central (não almoçe no Mercado Central se quiser economizar pois é uma das armadilhas para gringo). Por falar em mercado vá ao Tirso de Molina (esse sim um autêntico mercado frequentado por chilenos) que fica quase em frente ao Mercado Central. Lá comprei vários artigos típicos da cultura mapuche (nativos indígenas do Chile com uma história riquíssima).

Se jogue nos pasteis e comida de rua. No Chile é proibido consumir álcool nas ruas a menos que você esteja sentando na cadeira de uma bar na calçada. Legal né? Por isso sempre que saia levava meu “refrigerante”.

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Os “italianos” são uma especie de hotdog andino deliciosos. Experimente. Foto Gil Sotero.

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Se jogue nas comidinhas de rua e seja feliz. Foto. Gil Sotero

Mesmo que você não seja muito apreciador de vinho vá a uma vinícola para degustar vinho e conhecer um pouco da cultura da bebida que é simbolo do Chile. A dica é visitar propriedades menores onde o atendimento é menos comercial. Na Santa Rita é possível chegar de ônibus ou metrô (não recomendo ir pedalando sozinho).  Lá eles possuem o Pedal Bar! Chame os amigos pra se divertir!

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Beber nos bares e pubs também exige pesquisa! Por exemplo; no bairro Itália achei as promoções de happy hour melhores. Mas nada supera comprar bebida no supermercado onde vinhos jovens de 2 litros podem custar menos que 13 reais.

Há muitos lugares para se visitar. Baixe o app tripadvisor e marque todas atrações que deseja. Não esqueça de visitar o Parque Bicentenario e subir o Cerro San Cristobal de bici.

Cerro San Cristobal

 Hospedagem

A melhor região para ficar e aproveitar a cidade com certeza é a região central. Perto de tudo e a noite uma delicia para pedalar. Não ligue para os relatos de medo que alguns fazem sobre o centro. Aliás quem pedala já sabe que não temos medo das regiões centrais!

No geral adorei o Chile. Os chilenos são simpáticos e gostam de brasileiros. Fui muito feliz pelas ruas de Santiago e voltarei assim que puder! Aqui um clipe do meu rolê por lá:

Cicloturismo Paralello: um pedal até o maior festival de música eletrônica da América Latina

Por Jorge Neto

Cicloturismo Paralello

Em 2015 antecipando minhas férias que normalmente é em janeiro, me programei para sair em dezembro para a viagem que faço todos os anos ao maior festival de música eletrônica da América Latina,o Universo Paralello!

Separei 20 trechos que somados dariam 1400 km, com a meta de percorrer dois trechos por dia. Eu sai de casa em Belo Horizonte, sozinho, para pedalar até a praia de Pratigi na Bahia, que fica em Ituberá.

O caminho até sair de Minas Gerais foi o mesmo que já fiz com amigos de ônibus de excursões, ônibus de linha, no meu carro e até de carona. Procurando cidades onde tenho amigos e parentes, e as vezes dormindo em pousadas.

Apesar de levar uma barraca de quatro quilos junto a bagagem, eu não acampei nenhuma vez nessa viagem, pois preferia a segurança de dormir protegendo minha bicicleta, e recarregando meu celular e GPS.

Meus amigos conhecem as estradas para a Bahia sempre cheias e com muitos perigos pois sempre passam por la em época de temporada, porém em dezembro a estrada estava vazia e não passei momentos mais tensos do que os que os ciclistas de estrada passam aqui em Minas, e também no resto do Brasil, diariamente em nossos treinos.

Sai acompanhado pelo Beleza, um grande amigo, que pedalou comigo até Caeté, o primeiro trecho, onde furou o único pneu de toda a cicloviagem, e depois escalei sozinho a Serra da Piedade com minha bike pesando 32kg.

Dormi a primeira noite em Itabira na casa do Deiró, outro amigo, que ainda me acompanhou mais um trecho. Daí pedalei sozinho até o litoral, passando pelas montanhas de Minas, as enormes formações rochosas que fazem fronteira com Espírito Santo e Bahia.

Cicloturismo Paralello
Foto: acervo pessoal Jorge Neto
Cicloturismo Paralello
Foto: acervo pessoal Jorge Neto

Fiz amizades com outros cicloturistas como o Saraiva, e conheci atletas numa prova de MTB em Prados, o Viva Bike Prados. O pessoal do Perdidos MTB e o Volpato, grande campeão da sub-23 do campeonato capixaba.

O trecho final foi bem perto do litoral e passei por lugares que já conhecia, Canavieiras, Ilhéus, Serra Grande e Itacaré.

Cicloturismo Paralello
Foto: acervo pessoal Jorge Neto
Cicloturismo Paralello
Foto: acervo pessoal Jorge Neto

Uma viagem de bicicleta solo é incrível! Você sente o cheiro e o vento de cada lugar, ao contrário dos automóveis. Conversa mais com as pessoas em cada parada e se sente livre. Cansado, mas é recompensador.

Cicloturismo Paralello – As fotos da cicloviagem

Cicloturismo Paralello – os vídeos

Dicas de Hospedagem nesse Roteiro

Você pode reservar hotéis, pousadas, hostels e até casas de hóspedes através do Booking.com. Assim terá muitas opções para comparar e escolher a que vai te atender da melhor forma.

Pedalando pela Estrada Real: de Ouro Preto a Barão de Cocais

Por Javert Denilson

Belo Horizonte, 21 de abril de 2005. Quinta-feira, 05h45min da manhã. Eu já estava na entrada da rodoviária de Belo Horizonte esperando pelo colega João Batista. Havíamos combinado o encontro naquele local. João, com sua animação de sempre, rapidamente chegou e resolvemos ir direto para a plataforma de embarque. Luiz Carlos Oliveira, o Lucarol, já estava com sua bike à nossa espera. Descemos as escadas e embarcamos no ônibus da viação Pássaro Verde, às 06 horas da manhã, rumo a Mariana.

Minha “magrela” e a do João foram embarcadas na quarta-feira com destino à garagem da empresa Pássaro Verde em Ouro Preto. João Batista levou uma bolsa enorme em sua garupeira. Digo “enorme” porque minha bolsinha parecia tão diminuta, se comparada com a dele. O Lucarol levou dois alforjes um pendurado em cada lado de sua garupeira. Muito interessante. E eu com minha bolsinha tipo “carregar marmita” e uma mochila nas costas. Nossas passagens estavam marcadas para Mariana, mas descemos em Ouro Preto como combinado.

Pedalando pela Estrada Real: pedal Ouro Preto – Mariana

Assim feito, pegamos nossas bikes e montamos. O João chama sua bicicleta de “coralina”, pois parece uma cobra coral com as cores vermelha, preta e branca. Minha bicicleta e a do Lucarol ainda não foram batizadas e por enquanto nós a chamamos de “magrelas”. Seguimos em direção à Mariana. São 11 quilômetros de descida forte. E foram apenas alguns minutos. Chegando a Mariana pude perceber um aroma diferente: nada de poluição. O ar fresco e gostoso enchia meus pulmões de satisfação.

Em Mariana fomos parar na casa de umas primas do João Batista, a dona Cotinha e a Aparecida. Depois de uma breve conversa, seguimos para a Igreja da Sé para contemplarmos o órgão da Sé. O instrumento foi construído no século XVIII, em Hamburgo, na Alemanha. Um enorme órgão que eu nunca tinha visto antes em minha vida. Depois fomos para a casa do famoso artista plástico Zizi Sapateiro. Ele tem esta alcunha porque era mesmo um sapateiro que, por sorte do destino, estrangeiros se interessaram por seu trabalho como pintor e espalharam sua arte pelo mundo afora. Ele tem trabalhos em todas as partes do planeta. Reportagens em jornais, revistas e até participações na televisão como ator e figurante em minisséries globais. Zizi Sapateiro teve a bondade de nos mostrar seus quadros e explanar sua vida extensa em poucos minutos.

Em seguida fomos para casa de outros parentes do João Batista: tia Cici e tio Filinho. E lá fomos abençoados com um delicioso pudim de milho verde e um saboroso mingau de milho verde. Uma maravilha. Como não podíamos ficar por muito tempo devido ao horário que estabelecemos, partimos rumo a Bento Rodrigues.

De Mariana a Bento Rodrigues

Seguimos pela rodovia até a entrada para Bento Rodrigues. Saímos do asfalto e pegamos estrada de terra. Aliás, pegamos a famosa Estrada Real. E lá fomos nós, os três “bikessauros de BH”, orgulho dos “bikessauros de Varginha” Luizão e Ronaldo, desbravando e admirando a famosa estrada. E já no início não só o ar fresco nos regozijava como também o cheiro de capim e o cheiro de terra e poeira. Tínhamos que tomar cuidado para não passarmos dentro de algum buraco oculto pela poeira, que, e em alguns trechos, mais se pareciam “talco”. João Batista se preocupou em nos mostrar as paisagens identificando as plantas, flores, como assa-peixe, bromélias, samambaias, eucaliptos entre outros. Um “biólogo” e tanto em nossa aventura, já que eu não entendo e não conheço o nome de planta alguma. O Lucarol também reconhecia algumas plantas de nossa vasta flora brasileira. Na Estrada Real há diferentes tipos de flores e dos mais variados tons. Há também muitas aranhas. Aranhas enormes e assustadoras, mas sossegadas em suas teias.

Depois de passarmos por uma ponte de madeira que cruza um rio, chegamos a Bento Rodrigues mortos de sede. Entramos num barzinho que parecia uma cabana e tomamos um refrigerante bem gelado. Continuamos nossa viagem. João Batista teve uma cãibra e em alguns trechos de subida forte teve que empurrar sua “coralina”. Nossas garrafinhas de água já haviam se esgotado e estávamos sedentos de sede, de novo. E como num passe de mágica encontramos uma nascente com água cristalina. Foi a nossa salvação, principalmente porque eu havia levado apenas uma garrafinha.

Saciada a sede e com as reservas de água em ordem seguimos pedalando. E naquele silêncio escutamos um ruído nada agradável: o som de um caminhão vindo a toda velocidade. E o resultado não poderia ser diferente: tomamos nosso primeiro “banho de poeira”. E foi tão intenso que meus óculos de grau precisaram ser limpos. Minha bunda começou a latejar ainda em Bento Rodrigues.

De Bento Rodrigues a Santa Rita Durão

Continuamos a viagem. Chegamos a Santa Rita Durão já com o céu escurecido pela noite. Meus pés e meus pulsos estavam doloridos. E já fomos direto para a pousada que fica em frente à Igreja Nossa Senhora de Nazaré. João Batista foi nosso “relações públicas” à procura de informações e contatos com as pessoas dos lugarejos. A pousada de Dona Cota não é de luxo. Os quartos são individuais e medem, mais ou menos, dois por dois metros, com uma cama, um banquinho e uma janela minúscula. O ambiente estava impregnado pela fumaça dos fogões a lenha que ficam do lado de fora da pousada.

Comecei a esboçar este relatório quando chegamos a Santa Rita, mais precisamente no quarto da pousada de dona Cota. Meu cotovelo direito estava doendo, meu ombro esquerdo estava me matando, além de outras dores localizadas. João e Lucarol dormiam em seus quartos enquanto eu escrevia na calada da noite. Uma tênue luz passava pela janela e iluminava precariamente o quarto. Senti-me como se estivesse numa cadeia, numa cela pequena onde um detento cumpre pena. Com minha caneta em um papel escrevendo memórias aos que estão em liberdade. Voltei à realidade e fiquei feliz. Eu estava no quarto da pousada de dona Cota. E um “bikessauro” como eu, amante da aventura não podia ficar reclamando de detalhes. Não fui pedalar para ficar hospedado em hotel cinco estrelas. E nem posso.

Nunca minha magrela viajara tanto. Nunca estivera tão suja e empoeirada. Ela deve estar sentindo saudades das ruas asfaltadas de Belo Horizonte. Pensei que meu joelho direito ia me dar trabalho, mas não. Ele sobreviveu, pelo menos até agora.

Na manhã de sexta-feira, além dos pés doendo e dos pulsos ardendo, minhas pernas ficaram cheias de feridas. E não era só uma pequena erupção, mas várias feridas como se eu tivesse sido cortado com um canivete. Fiquei assustado. Pensei que me machucara em algum lugar, porém me lembro de que não havia levado tombo ou passado por entre aqueles capins afiados. O colega Lucarol esclareceu minha dúvida: picadas de borrachudos. Ele e João Batista também estavam com suas pernas cheias de feridas. Passamos um pouco de pomada Fenergan para aliviar as coceiras. Incrível que só me picaram nas pernas e deixaram meu rosto intato. Parece que os borrachudos gostam de sangue das pernas. Sangue quente das nossas pernas de ciclistas. Lucarol levou um repelente que eu usei com muito bom gosto.

Tiramos algumas fotos em frente à Igreja Nossa Senhora de Nazaré e da montanha que fica logo atrás dela. E pé na estrada, aliás, pedal na Estrada Real.

Pedalando pela Estrada Real
Pedalando pela Estrada Real

De Santa Rita a Catas Altas

Às 07h30min da manhã já estávamos pegando um pouco de barro em nossos pneus, pois havia chovido de madrugada. E no caminho havia um cachorro. Um cachorro no meio do caminho. E justamente perto do primeiro “marco” da Estrada Real. O animal começou a nos seguir. Nas partes retas ele distanciava de nós. Mas nas subidas ele nos alcançava. Ficou tão íntimo de nós que João Batista o apelidou de “raposinha”, porque se parecia mesmo com uma raposa (alongada e marrom) e era fêmea. Nós parávamos várias vezes para curtir a natureza, deslumbrar o visual verde e azulado da paisagem, observar através do binóculo cachoeiras distantes, esgotar a água de nossas garrafinhas e sendo observados pela “raposinha”.

O animal nos seguiu até Catas Altas. Uma cidade belíssima. Calma e tranqüila. Fomos para a Capela de Santa Quitéria, que fica no alto de uma colina e tiramos muitas fotos, inclusive com a “raposinha”. Então fomos em direção ao centro da cidade. Acho que “raposinha” ficou lá perto da igreja, já que não a vimos mais. Foi nossa companheira por mais ou menos uns cinco quilômetros. Tenho a impressão de que ela mora perto da Capela e ficou por lá.

Chegamos ao centro de Catas Altas por volta das 12 horas. Fomos para um restaurante para tomarmos uma cerveja e comermos lingüiça e mandioca. Afinal de contas ciclista também se delicia com levedo, gordura e raízes, ora bolas! João Batista se encantou com duas senhoras que estavam na janela de um casarão antigo. Uma das senhoras se chama Elvira e a outra… bem, ela que me perdoe, mas não me lembro de seu nome. Ele as fotografou depois de muita relutância as duas senhoras ficaram envergonhadas quando o João pediu para fotografá-las. Lembrei a tradição de certos povos que apregoa o fato de não se deixarem fotografar temendo que suas almas sejam apreendidas pela máquina fotográfica.

De Catas Altas à Santa Bárbara

Seguindo a Estrada Real chegamos a Santa Bárbara às 17 horas. Logo na entrada da cidade encontramos réplica de um antigo casarão num formato parecido com uma “casa de bonecas”. Ficamos numa pousada no Posto Ipiranga. À noite saímos para jantar e encontramos com o Sr. Ronaldo que trabalha na Copasa e sua esposa, dona Raquel. Ambos nos viram em Catas Altas pedalando em “fila indiana” pela histórica cidade. Eles estavam hospedados no famoso Hotel Quadrado. Ficamos conversando a respeito do cicloturismo e o Sr. Ronaldo nos indicou um restaurante para jantarmos. Era o restaurante do Vicente e da Terezinha. Ficamos sabendo que a réplica do casarão pertencia à família deles e que foram indenizados para construção da avenida central da cidade. E no restaurante do Vicente encontrei-me com o Sr. José Geraldo que é de Conceição do Mato Dentro. Disse a ele que sou bisneto de Janjão Rodrigues, o maestro da cidade, e logo se prontificou a sentar em nossa mesa para aquele bate-papo saudável. Trocamos nossos telefones para futuros contatos e visitas. Foi uma noite agradável.

De Santa Bárbara à Barão de Cocais

Saímos bem cedo de Santa Bárbara rumo a Barão de Cocais aonde chegamos às 11h30min. Seguimos para a pousada do Posto BR. Às 14 horas deixamos nossas bicicletas e fomos de ônibus para o distrito de Cocais. Descemos no trevo e seguimos numa caminhada de quatro quilômetros em direção à cachoeira da Pedra Pintada. Atravessamos Cocais e encaramos estrada de terra. A vegetação se parece com o sertão. Dava impressão de que a qualquer minuto Lampião e seu bando surgiriam de dentro daqueles arbustos com suas armas e apetrechos de cangaceiros. Esperava que, se isto ocorresse, com ele também estivesse Maria Bonita, aquela sim, mulé macho sim sinhô!

Chegando à entrada de acesso à cachoeira, mais um quilômetro ladeira abaixo. Descemos correndo, pois chegamos às 16h30min, que é um horário de saída dos visitantes. O Sr. Oliveira, guardião da cachoeira, liberou nossa descida, após ter reparado nosso esforço em chegar ao local. Mas ele nos alertou que a descida era de um quilômetro. João ficou na entrada, Lucarol e eu arriscamos numa descida desenfreada.

E foi uma descida suicida. E quanto mais avançávamos, mais ficava íngreme. Eu levei um escorregão e um tombo, deixei a máquina fotográfica do João cair duas vezes. Ainda bem que não quebrou. Lucarol tem um preparo físico invejável, apesar da idade. Sua pedalada é forte e vigorosa. Seu caminhar é ritmado. Desceu com tranqüilidade a escarpa da montanha rumo à cachoeira.

E quando chegamos o visual deslumbrante nos deixou boquiabertos. Eu me encantei com a beleza e com o perigo. Havia pedras. Muitas pedras. Pedras enormes e escorregadias. E eu descobri que tenho trauma deste tipo de pedra. Tive que quase engatinhar para poder chegar à água. O Lucarol encarou o frio e entrou na água. Eu só molhei as canelas e lavei os braços. O sol já tinha ido embora e fazia um frio… E após tirarmos algumas fotos encaramos a subida de volta. Foi aí que aconteceu o que temia nas pedaladas: meu joelho direito começou a doer (ele sempre dói quando faço muito esforço físico). E sem contar que meu fôlego se esgotou. Subi bufando como um boi cansado.

Chegamos à entrada e fui logo pedindo um refrigerante bem gelado. Refeitas as energias fomos embora. Um cachorro que estava passeando pelo local resolveu nos seguir como fez a “raposinha”. O cachorro era branco e tinha um olho preto e o outro com tom branco azulado. O olho parecia uma pedra de porcelana e foi assim que Lucarol o apelidou: “porcelana”.
Enquanto João Batista e Lucarol caminhavam e conversavam a respeito de mais aventuras, caminhadas, ciclismo e pescaria, eu admirava a natureza. Aos poucos o dia ia ficando cada vez mais azulado e escuro.

À noite o tom das árvores era mais sombrio e lembrei-me da “Lenda do Cavaleiro sem cabeça” (aquela figura sinistra que saía do meio dos arbustos com uma foice). Aquelas árvores sendo balançadas pelo vento, aquele silêncio, mas novamente voltei à realidade e lembrei de que era apenas uma lenda. Mas a lua não deixou os três bikessauros no escuro. Com seu brilho iluminou toda a estrada, nos acompanhando até o centro de Cocais. “Porcelana” nos acompanhou durante os quatro quilômetros até o trevo onde embarcamos no ônibus de volta a Barão de Cocais.

À noite, na hora de dormir, meu ombro, meu cotovelo, meus pulsos melhoraram, mas meu joelho direito e a planta de meus pés estavam desgastadas.
No domingo de manhã fomos para rodoviária, compramos nossas passagens, embarcamos nossas bicicletas no bagageiro do ônibus e voltamos para Belo Horizonte.

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Hospedagem na Estrada Real

Se você vai pedalar pelas cidades desse roteiro, pode consultar campings, hostels, pousadas e hotéis nos links abaixo:

Cicloturismo: quantos km pedalar por dia?

Post atualizado em 17/06/2019

Quantos km pedalar por dia em uma cicloviagem? Essa é uma das perguntas mais feitas pelos leitores do blog, e a vejo com bastante frequência nas listas de emails e grupos da internet.

Se os cicloturistas experientes levaram algum tempo (e muitos quilômetros) para encontrar a resposta, uma coisa é certa: essa é dúvida de praticamente todo cicloturista iniciante.

Pensando nisso, resolvi fazer esse post para tentar responder a essa pergunta. As informações que apresento aqui também estão no Guia para Viajar de Bicicleta – Volume 2. Esse é um dos nossos ebooks com download gratuito que contém mais de 30 dicas para você utilizar nas suas cicloviagens. No final desse post tenho também outros links para artigos relacionados.

Mas agora, a pergunta que não quer calar:

Quantos km pedalar por dia em uma cicloviagem?

cicloturismo: quantos km pedalar por dia
Direitos autorais: aaabbbccc / 123RF Imagens

Quem me dera ter uma resposta exata para isso, mas vou apresentar aqui elementos pra você levar em consideração na hora de obter a resposta ideal para você.

Quando vamos decidir o quanto pedalar por dia temos que levar em conta essas 4 variáveis, que se relacionam entre si.

1 – Quantos km pedalar por dia x Seu condicionamento físico

Direitos autorais: mihtiander / 123RF Imagens
Direitos autorais: mihtiander / 123RF Imagens

Esse é o principal ponto. O seu nível de condicionamento vai interferir diretamente no seu planejamento de distância diária percorrida. Por isso, não tente se desafiar muito além do que está acostumado a pedalar / treinar normalmente.

Se você já pedalou um máximo de 80 a 100km em um dia, pode estabelecer metas diárias de até 60km por dia, por exemplo. No nosso canal do YouTube temos um vídeo com dicas sobre treinamento para cicloturismo que pode te ajudar.

Você deve imaginar que vai pedalar com a bicicleta carregada, e talvez em mais dias seguidos do que costuma pedalar normalmente.

2 – A altimetria do percurso

quantos-km-pedalar-por-dia
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Imagine dois trechos com a mesma distância: 30km, por exemplo. O primeiro trecho é totalmente plano, enquanto o segundo apresenta metade da distância (15km) de subidas alternadas. O segundo percurso vai exigir mais do seu condicionamento e levará mais tempo pra ser percorrido.

Por isso é importante que você estude a altimetria do percurso para definir quantos km pedalar por dia.

3 – O tipo de terreno

cicloturismo em estrada de terra
Eu em cicloviagem por Gonçalves (MG). Estrada de terra batida em ótimo estado. Foto: Marcos Adami.

Além da quantidade de subidas, é claro, o terreno. Eu classificaria a dificuldade de cada tipo de terreno na seguinte ordem, do mais fácil para o mais difícil:

1º – Asfalto

2º Estrada de terra – variando do estradão de terra batida até estradas com buracos/cascalho/pedregulhos etc;

3º Trilhas mais estreitas e técnicas ou estradas com muita lama (no caso de pedalar na chuva)

4º Areia da praia

Neste caso, vale a mesma regra usada para a altimetria: estude o tipo de terreno que você vai pedalar para calcular quantos km pedalar por dia. É claro que muitas cicloviagens podem combinar vários tipos de terrenos. Então atenção: se for tudo por asfalto, você pode pedalar uma distância maior. Se for combinando ou por outros terrenos, vá diminuindo a distância.

4 – O número de dias da cicloviagem x opções turísticas x descanso

Paraty - chegada da Estrada Real
Paraty – chegada da Estrada Real

Parece uma equação matemática! Você deve fazer uma relação entre o número de dias da sua cicloviagem, levando em conta as suas opções turísticas (o que quer visitar, por onde quer passear…) e é claro, a sua necessidade de descanso!

Por isso, se você vai viajar por muitos dias, eu aconselho colocar dias de descanso intercalando alguns dias de pedal. Isso vai depender do seu condicionamento físico e também das opções turísticas que você fez.

Você pode pedalar 2 ou 3 dias, por exemplo, e descansar um dia (ou mais) em uma cidade que mereça um tempo maior de visita, que tenha alguma atração que você queira ver, ou parentes e pessoas queridas para visitar.

Se você tiver pouco tempo e precisar pedalar todos os dias, sugiro distâncias menores, para chegar cedo ao seu destino do dia e ainda ter um tempinho para descansar e aproveitar o local aonde você estiver.

Uma proposta de quilometragem diária para o cicloturismo

No início do post eu disse que os cicloturistas experientes levaram muitas viagens e muitos quilômetros para saberem qual distância diária percorrer. Vendo o tanto de variáveis que devem ser levadas em consideração fica claro que a experiência é fundamental. E a cada viagem você irá aprimorando o seu planejamento!

Mesmo assim, eu separei pra você uma proposta que você pode adaptar para sua cicloviagem, levando em conta as 4 varáveis acima.

Sugestão do André: eu gosto muito de aproveitar os locais que visito, tanto quanto pedalar. Levando em conta o meu condicionamento físico e minha distância de referência, eu faço minhas cicloviagens observando a seguinte programação:

  • Asfalto: entre 50 e 100km, dependendo da altimetria.
  • Terra: entre 40 e 70km, dependendo da altimetria
  • Não pedalar o seu máximo (no meu caso, 100km) por dois dias seguidos

Dessa forma, saindo cedo para pedalar e calculando um tempo entre 4 a 8 horas de pedal por dia (dependendo da distância e da dificuldade), eu chego na próxima cidade ou localidade a tempo de me instalar no hotel/pousada/camping etc. e ainda curtir aquele dia na cidade, passear, tirar fotos etc.

[Nota do blog]: Essas dicas e mais de 30 páginas com tudo o que você precisa saber para viajar de bicicleta estão no Guia para Viajar de Bicicleta – Volume 2. O download é gratuito!

Seguro de viagem para cicloturistas: entenda porque você deve considerá-lo no seu planejamento de viagem

Atualizado em 17/06/2019

Nesse artigo vamos falar de seguro de viagem para cicloturistas, um assunto pouco comentado e que muitas vezes é deixado de lado.

Se preferir pode conferir nosso conteúdo em vídeo:

Se você ainda não conhece esse tipo de serviço, ou que já ouviu falar mas ainda tem dúvidas se vale a pena ou não contratar, é só ficar ligado nas dicas e informações desse post.

Além disso, vou também dar umas dicas que você deve considerar ao pensar na sua segurança nas viagens de bike, e na contratação do seguro, caso seja a sua decisão. Vamos começar então pelo básico e principal:

O seguro de viagem para cicloturistas

seguro de viagem para cicloturistas
Direitos autorais: naumoid / 123RF Imagens

O seguro de viagem para cicloturistas é um serviço que contratamos junto a algumas seguradoras para nos assegurar a devida cobertura no caso de acidentes e imprevistos durante nossas viagens de bicicleta.

Este ainda é um assunto pouco comentado no Brasil. Seja porque ainda temos pouca oferta desse tipo de serviço, ou mesmo porque não gostamos de falar do assunto, que envolve o planejamento contra imprevistos em nossas viagens de bicicleta.

A principal diferença entre um seguro para cicloturismo e um seguro de viagens normal está na cobertura, que deve ser mais ampla. Ou seja, o seguro deve cobrir não só os aspectos referentes à viagem, como também a prática esportiva (veremos que as seguradoras consideram o cicloturismo dentro dessa categoria).

Em alguns casos pode se assemelhar bastante à seguros utilizados por praticantes de montanhismo e trekking, como veremos a seguir.

3 motivos para contratar um seguro para a sua cicloviagem

1 – Para cuidar de você

Direitos autorais: mihtiander / 123RF Imagens
Direitos autorais: mihtiander / 123RF Imagens

Quem viaja de bicicleta sabe que devemos planejar alguns imprevistos. Existe um peso que o cicloturista leva em sua bagagem que eu chamo de o peso da segurança. São coisas que ele leva esperando não usar: ferramentas, câmaras de ar reserva, kit remendo e etc.

E aí vem a pergunta:

Se levamos peso extra e cuidamos tão bem de planejar os imprevistos com a bicicleta, por quê não investir na cobertura de eventuais imprevistos com o cicloturista?

Fazer um seguro para uma cicloviagem geralmente é deixado de lado porque envolve a parte chata, de pensar em algo que não desejamos que aconteça. Mas é, sem dúvida, um investimento na nossa segurança (veja o motivo 3). Um investimento que esperamos não usar, é claro. Mas no caso de necessidade estaremos cobertos.

2 – Para tranquilizar os parentes e amigos queridos

criar roteiros de cicloturismo
Direitos autorais: wavebreakmediamicro / 123RF Imagens

Eu já comentei isso em outros posts sobre cicloturismo aqui do blog. Muitos cicloturistas enfrentam a resistência de familiares (parentes próximos, esposas, maridos etc.) com relação às suas viagens de bike. É algo normal e esperado, pois são pessoas que gostam de nós e se importam com a nossa segurança. Porém, é muito chato quando o medo e a resistência de outras pessoas nos impede de fazer o que gostamos.

Nesse caso, fazer um seguro para sua cicloviagem é uma atitude que ajuda a tranquilizar e ganhar a confiança das pessoas queridas.

Lembre-se: você não faz por eles. Você faz por você em primeiro lugar(basta ler o motivo 1). E por eles também, pois são pessoas queridas e é uma atitude que sem dúvida vai refletir entre as pessoas queridas próximas a você.

3 – Para aumentar a sua sensação de segurança

Esse é um ponto muito interessante. Ter um seguro para a sua cicloviagem não vai diminuir o risco de acidentes, mas vai aumentar a sua sensação de proteção, no caso de algum imprevisto.

Isso no caso de viagens (de bike ou não) é bem perceptível. Isso porque estamos longe de casa (talvez em algum lugar onde inclusive a língua é outra) e podemos precisar de algum atendimento médico etc. E o fato de estarmos cobertos nessa hora sem dúvida nos deixa mais tranquilos.

Como escolher um seguro para sua cicloviagem

Se você se decidiu por fazer um seguro para sua cicloviagem, deve entender as coberturas que ele deve oferecer.

Além das coberturas de um seguro de viagem normal (despesas médicas, extravio de bagagem etc), o seguro de viagem para cicloturistas deve ter mais duas atividades cobertas:

1 – Prática esportiva

As seguradoras entendem o cicloturismo como prática esportiva (elas também cobrem participações em competições). Portanto, você deve conferir se o seguro possui esse tipo de cobertura, e ficar atento também com relação ao valor da cobertura (veja exemplos abaixo)

2 – Busca e salvamento

Essa é uma opção também muito utilizada por montanhistas e praticantes de trekking. No cicloturismo ela é importante caso você vá pedalar por locais mais remotos (trilhas, por exemplo) e que demandem resgates complicados.

DICA: compare vários tipos de seguro de viagens para cicloturistas e escolha a melhor opção

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Procurando por empresas que fornecessem o seguro de viagem para cicloturismo eu encontrei a Real Seguro Viagem. Ela faz uma comparação de preços em diversas seguradoras e apresenta uma lista de opções de acordo com nosso destino e data da viagem. E o que é melhor: com opções que cobrem a prática do cicloturismo.

Como contratar o seguro de viagem para cicloturismo em 3 passos

1º passo – Digite na caixa abaixo o seu destino e as datas de partida e chegada e clique no botão “COMPARAR” (irá abrir um link em um outra janela).

2º passo – Aparecerá uma lista de seguradoras e de tipos seguros. Essa é a hora importante para o cicloturista. Você deve escolher os seguros que possuem cobertura de pática esportiva, que estão sinalizados com a palavra “Esportes” (no detalhe da foto abaixo). São eles:

  • GTA Full Sports: um dos mais indicados para cicloturismo, especialmente se for pedalar por trechos de difícil acesso. Assistência médica de até U$ 60.000, e a cobertura é total para busca e salvamento.
  • GTA Euro Sports: Assistência médica de até U$ 30.000. A cobertura inclui busca e salvamento até o valor de U$ 30.000.
  • Vital Card MultiSports: assistência médica de até US$ 50.000 e sem valor para extravio de bagagem. Não possui busca e salvamento.
seguro de viagem para cicloturistas

Clicando em “ver coberturas” você tem acesso a todos os valores e coberturas de cada tipo de seguro. Abaixo você confere as coberturas do GTA Euro Sports e Full Sports

Cobertura GTA Euro Sports. Atenção para os itens em vermelho, importantes para cicloturismo.
Cobertura GTA Full Sports. Atenção para os itens em vermelho, importantes para cicloturismo.

3º passo – Preencha seus dados e prossiga a contratação.

Atenção para os detalhes da cobertura para cicloturistas

  • Para ter direito à cobertura, o cicloturista deverá utilizar equipamentos de segurança (inclusive capacete) em suas viagens.
  • O seguro também cobre a prática de esportes, como provas de mountain bike, granfondos etc.

[Nota do blog]: esse não é um post patrocinado.

Nós do Até Onde Deu pra ir de Bicicleta utilizamos o serviço da Real Seguro Viagem e somos seus parceiros. Isso que dizer que, quando um leitor faz a contratação do seguro através do blog (seja clicando em um banner ou link), nós recebemos uma comissão, sem que o leitor pague nada a mais por isso.

Uma boa forma de você viajar com segurança e apoiar o Até Onde Deu pra Ir de Bicicleta!

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