Uma aventura de bike na Estrada da Graciosa (PR)

Por Sandro Roberto Pontes

Bom. Minha história não é de uma viagem muito longa, mas cheia de aventuras emocionantes.

Certo dia de verão, eu e mais 3 amigos decidimos fazer uma aventura meio diferente. Tipo, “na loca” mesmo, sem programar nada, com muita antecedência. Nunca tínhamos feito tal aventura assim, de longa distancia.

Aventura de bike na Estrada da Graciosa

Em um domingo, resolvemos descer a Estrada da Graciosa, que liga Curitiba a Morretes, passando por Quatro Barras. Nesse município ela tem o nome também de “Estrada Dom Pedro II”. Com intenção de retornarmos de trem (naquela época a passagem desse trem se comparava à passagem de um ônibus coletivo), saímos cedinho de onde morávamos: Bairro Alto , em Curitiba. Pegamos a BR-116 até Quatro Barras, lá pegamos a Estrada Dom Pedro (Estrada da Graciosa). Hoje essa estrada é toda asfaltada. Mas naquela época, era toda de saibro e pedra.

Fomos pedalando entre muitas curvas, subidas e descidas. Pequenas pausas para um leve descanso debaixo de um sol escaldante, passando por paisagens maravilhosas em Quatro Barras. Chegamos na rodovia de acesso para Estrada da Graciosa, onde terminava a estrada de saibro e pedras e começava o asfalto. Mais algumas subidas e descidas , até chegarmos em um dos vários quiosques que margeiam a estrada da graciosa. Chegamos nesse quiosque , chamado de Eng. Lange. Paramos para fazer um lanche e descansarmos um pouco.

Fizemos nosso lanchinho e saímos. Desse ponto em diante é só descida, são 3km de asfalto e mais 8 de paralelepípedo, em meio a uma vegetação exuberante. Começamos a descer, e a velocidade aumentando, quando na terceira curva para direita, acho que devido ao declive muito acentuado, deve ter me dado alguma “lezera” na cabeça. Eu estava fazendo essa curva bem acentuada para direita e a curva foi se acabando, mas eu continuei a fazer essa curva. Quando fui me dando conta, já estava saindo da pista e entrando em um mato na beira da pista. De repente meu pedal direito bateu fortemente naquelas sinalizadores com + ou- 050cm de altura, que ficam na beira da pista. Quando vi, estava eu voando e bicicleta também voando atrás de mim. Caí na beira de um desfiladeiro e a bicicleta em cima de mim. Só protegi minha cabeça com os braços e senti a “coroa” do pedivela batendo no meu braço. Mas graças a Deus sem ferimentos mais graves, só tivemos que fazer uma corda humana para poder pegar minha bike que foi um pouco morro abaixo.

Conseguimos pegar minha bike e demos sequência na descida. Quando em outra curva acentuada, um colega meu, sem conhecer nada da estrada, foi fazer uma ultrapassagem de um veiculo (que nessa estrada não podem passar de 40 km/h). Só que ele não conseguiu controlar sua velocidade na ultrapassagem e foi direto em um paredão, ficando la estatelado, parecendo uma aranha. Mas graças a Deus , ele também sem ferimento nenhum, só mais um momento cômico.

Passado isso, mais uma vez demos continuidade em nossa aventura e continuamos a descer, e desta vez sem mais nenhum incidente. Percorremos os 3 km de asfalto e os 8 de paralelepípedo, cheios de muitas curvas acentuadas, e lugares magníficos. Terminamos a descida da Estrada da Graciosa, no Recanto Mãe Catira, outro lugar exuberante, com um magnífico rio, onde se pode tomar um banho delicioso. Demos mais uma paradinha nesse local maravilhoso e seguimos nossa aventura.

Dai para frente é só estrada asfaltada e um longo trecho plano. Chegamos em outro lugar maravilhoso chamado Porto de Cima. Lá tem uma ponte de ferro sobre o rio Hundiaquara, onde passa um carro de cada vez, e no verão fica cheio de gente para tomar banho. Nesse lugar também temina uma trilha magnifica, chamada de “Caminho do Itupava”, que também se inicia em Quatro Barras. Essa trilha passa pela mata atlântica fechada por quase 20 km. São + ou – 8 horas de trilha até Porto de Cima.

Ficamos em Porto de Cima um tempinho, desfrutando daquele lugar maravilhoso, e esquecemos um pouco do tempo. E depois de curtir de montão aquele lugar, demos inicio ao último trecho de nossa aventura. Mais 6 km até a linda cidade de Morretes, onde pagaríamos o trem , retornando para Curitiba.

Estrada da Graciosa
Aventura de bike na Estrada da Graciosa. Foto: acervo pessoal Sandro Roberto Pontes

Quando chegamos em Morretes, como esquecemos um pouco do tempo em Porto de Cima, havíamos perdido o trem de retorno para Curitiba. Ficamos em um dilema: ou dormiríamos na pracinha em frente a estação de trem , para retornarmos no dia seguinte, ou retornaríamos de bike pelo mesmo caminho que fizemos, ou ainda, subindo a BR-277.

E foi essa a decisão que tomamos, porque seria bem melhor retornar subindo a br 277 do que subir a Estrada da Graciosa. Saímos da estação de trem de Morretes, com destino a BR- 277. Já na BR, eu por brincadeira, fiz um sinal de positivo com minha mão, como se estivesse pedindo carona, e falei para os meu colegas:

– “pô bem q alguém poderia nos dar uma caroninha até Curitiba.”

Ai, meio que “do além”, uma daquelas Kombis caminhonetes passou ao nosso lado e parou logo na nossa frente. Foi muito engraçado nossas caras um olhando para o outro.

Quando desceu o motorista da Kombi e perguntou:

– “vocês estão indo para Curitiba? Querem uma carona ?”

Nós logicamente dissemos que sim, mas o motorista da Kombi nos disse:

-“só que eu só posso levar vocês até no máximo, um pouco antes do posto da P.R.F.”

Logicamente que aceitamos, pois naquele ponto já teriam acabado praticamente todas a subida da serra. Fomos colocando as bikes em cima da carroceria da Kombi, subimos todos na carroceria também, e o motorista falou:

– “só vou cobrir vocês com essa lona, para eu não ter problema, e procurem não se expor .”

Aceitamos, com certeza. Ele nos cobriu com aquela lona, só que logo em seguida, começou a vir um mau cheiro, um fedor mesmo, e logo depois descobrimos que ele tinha levado uma carga de porcos para o Paranaguá. Nossa, o cheiro estava insuportável. Juntou o fedor dos porcos mais um mau cheiro de chulé de um colega que tinha ido conosco. Eu não aguentei: no meio da subida da BR eu peguei um canivetinho suíço que eu tinha levado e cortei um pedaço da lona onde eu estava. Coloquei meu narigão para fora, e fui respirando ar puro. A viagem foi se seguindo, foi subindo a serra, e quando foi se aproximamos do posto da P.R.F. o motorista seguiu acelerando. Ele bateu no vidro traseiro da Kombi, e disse:

– “não se mexam, fiquem quietos ai.”

Ele foi passando o posto da P.R.F. e seguiu viagem até Curitiba, nos deixando em frente a fábrica da Coca-Cola. Descemos rapidamente da carroceria da Kombi, descemos nossas bikes, e agradecemos um montão.

Resolvemos “matar” nosso restante de lanche que tínhamos levado ali mesmo, em frente da fábrica da Coca-Cola, e percebemos também q um pneu dianteiro de uma das bikes de nossos colegas tinha murchado, falamos.

– “vamos comer primeiro, depois veremos o q vamos fazer.”

Nem bem terminei de dizer isso, quando de repente, em uma rua próxima, veio um bando de caras, que começaram a correr em nossa direção com pedaços de madeira nas mãos dizendo:

– “vamos pegar esses caras ai galera, vamos ganhar as bikes deles.”

Não pensamos em nada! Catamos nossas coisinhas jogamos dentro da mochila de qualquer jeito, montamos em nossas bikes e demos no pé dali, mesmo com o pneu murcho de uma das bikes. Mas graças a Deus conseguimos chegar em casa, sãos e salvos.

E assim se foi a primeira de muitas outras aventuras. E olha , naquela época não tínhamos bikes modernas. Eram bem simplesinhas, mas conseguimos realizar nossa aventura, cheia de tombos, banhos de rio e muitos km de diversão. E infelizmente também naquela época não tínhamos nenhuma maquininha de tirar fotos. Para nós essas coisas eram para quem tinha grana, e isso é o que menos nós tínhamos.

Devido a isso, a foto que mandei é mais atual, também de uma descida de bike da Estrada da Graciosa. Desde já grato pela atenção de vocês por lerem essa história .

Dicas de Hospedagem nesse Roteiro

Você pode reservar hotéis, pousadas, hostels e até casas de hóspedes através do Booking.com. Assim terá muitas opções para comparar e escolher a que vai te atender da melhor forma.

Balanço ciclístico de 2014

Mais um ano vai chegando ao fim, e com ele, chega o nosso tradicional “balanço ciclístico”. 2014 foi o ano em que o blog completou 5 anos! É hora de avaliar tudo o que fizemos ao longo desse ano de pedaladas aqui no Até Onde Deu pra ir de Bicicleta.

O blog em números e de cara nova

Faltando 8 dias para o final do ano, os números ainda podem crescer um pouco, mas vamos lá: foram 178.318 visitantes, cerca de 71 % a mais que o ano de 2013, que fechou com 104.323 visitantes! Essa turma toda visualizou 374.572 páginas aqui no blog. Assim como os outros anos, os posts mais visitados foram as nossas dicas para pedalar, que tem feito bastante sucesso.

Além disso o blog passou por uma grande reformulação de layout: o conteúdo agora é dividido em 6 páginas principais, com cores diferentes: dicas para pedalar, bicicletas, cicloturismo, ciclismo (onde ficam as modalidades mountain bike, downhill, estrada, pista etc.), bike no trânsito e bike e arte. Conteúdo melhor organizado e específico para cada tipo de ciclista.

Você em 1º lugar

Lançamos esse ano o projeto Até Onde VOCÊ Foi, nosso banco de histórias e experiências sobre a bicicleta e o ciclismo. Recebemos muitas histórias de ciclistas de todo o país (e alguns de fora do Brasil também!), e estamos realizando o sonho de nos tornarmos o maior acervo de histórias sobre a bicicleta e o ciclismo da internet brasileira. É um espaço feito por ciclistas e para ciclistas. Fiquei impressionado com o tanto de histórias legais que recebi. Convido você a conhecer o projeto, enviar a sua história, ou então a compartilhar essa ideia tão legal com outros ciclistas. Sua história com a bike pode incentivar e inspirar outras pessoas, e de quebra, levar um dos prêmios que sorteamos mensalmente. Fecharemos o ano com 120 histórias publicadas, e para 2015 temos a meta audaciosa de chegar a 500 histórias! Com o tanto que essa galera está pedalando, eu acho que podemos conseguir!

Conteúdo de Qualidade e Gratuito

 

Guia para Viajar de Bicicleta volume 1
Guia para Viajar de Bicicleta – volume 1

O segundo projeto também fez bastante sucesso: o Guia para Viajar de Bicicleta – Volume 1 foi o primeiro ebook lançado pelo blog. Até a publicação desse post ele já tinha alcançado 1753 downloads. Tomara que todas essas pessoas coloquem suas bikes na estrada em 2015, aproveitando tudo de bom que o cicloturismo pode oferecer pra gente. Vale lembrar que o download é gratuito e que vem aí o volume 2 (previsão pra final de janeiro/início de fevereiro de 2015).

Parcerias: Bicicletas e algo mais

Banner RBO3

Outra novidade marcante de 2015 foi o surgimento da Rede de Blogs Outdoor. A RBO é uma organização que reúne proprietários, editores e administrador de sites e blogs com a temática Outdoor. O Até Onde Deu pra Ir de Bicicleta acreditou nessa ideia e é um dos 16 blogs (até o momento) que integra a Rede. Acreditamos que o cicloturismo e a bicicleta podem se integrar muito bem com outras atividades ao ar livre e com estilos de vida saudáveis. Celebrando a parceria com a RBO, o blog escreveu as dicas de bicicleta do Ebook 50 Dicas para suas Aventuras de Verão, que também pode ser baixado gratuitamente nesse link: http://blogsoutdoor.com.br/ebook-50-dicas-para-suas-aventuras-de-verao/

Um time de primeira

Por mais um ano pude contar com a contribuição de duas pessoas fantásticas: os colunistas Kiko Molinari e Gil Sotero colaboraram com ótimos textos para o blog. Veja os textos do Kiko nesse link. E aqui você confere os textos do Gil Sotero. Um agradecimento especial a vocês cumpadres!

Eventos

Esse ano estive em Curitiba para o Fórum Mundial da Bicicleta. Lá fiz uma apresentação sobre a bicicleta e as mídias digitais, falando um pouco sobre minha experiência com o blog e outros movimentos ciclísticos nas redes sociais. Passei também  por São Paulo na Adventure Sports Fair, pra ver o que a feira reservava para as bicicletas e as atividades outdoor em geral. Duas experiências muito legais.

Tive a oportunidade de cobrir por mais um ano o Bike Cana, um evento de Cicloturismo e Mountain Bike que reúne mais de 150 ciclistas em um pedal muito bacana na região da Zona da Mata Mineira

Além disso o blog registrou algumas ações da BH em Ciclo – Associação dos Ciclistas Urbanos de Belo Horizonte – da qual sou associado e me orgulho de fazer parte. Abaixo uma foto da Oficina de Ciclo Rotas.

Foto: André Schetino
Foto: André Schetino

 

E as pedaladas?…

Digo sempre que são as pedaladas que movem o blog, e esse ano não poderia ser diferente. Infelizmente elas ficaram restritas aos deslocamentos para o trabalho (muitos não sabem, mas o blog não é minha principal ocupação), e a passeios próximos a Belo Horizonte, cidade onde vivo.

Pela primeira vez desde 2009 não fiz uma viagem maior de bicicleta, pois estive muito ocupado para encerrar um projeto que se iniciou 4 anos atrás: concluí um doutorado em História! Estou extremamente satisfeito, pois minha formação “acadêmica” e “bicicleteira” se misturam e fazem parte do meu modo de escrever e do que apresento aqui no Até Onde Deu pra Ir de Bicicleta.

Projetos para 2015

Então pra compensar, tenho algumas cicloviagens programadas para 2015! Além disso, você verá por aqui muitas histórias de ciclistas, textos de qualidade e mais material especialmente feito pra você, como ebooks, palestras e muito mais!

Em 2014 o blog completou 5 anos de vida, e como parte desse “balanço”, fiz um plano pros próximos 5. Se conseguir fazer apenas uma parte de tudo o que planejo, vem coisa boa por aí. Me alegra muito tocar esse site e trocar experiências com vocês. Muito obrigado a cada um dos mais de 178 mil visitantes que passaram por aqui em 2014.

Desejo a vocês um Feliz Natal e um 2015 com muita saúde, paz e pedaladas!

Foto: Felipe Baenninger - Projeto Transite
Foto: Felipe Baenninger – Projeto Transite

André Schetino

Criador e Editor do Até Onde Deu pra Ir de Bicicleta

P.S. – Apesar da mensagem de final de ano, o blog continua com suas publicações normalmente durante dezembro e janeiro

P.S. 2 – Que ver como foram os balanços ciclísticos dos anos anteriores? É só clicar:

Balanço ciclístico de 2013

Balanço ciclístico de 2012

Balanço ciclístico de 2011

Balanço ciclístico de 2010

Ebook 50 Dicas para suas Aventuras de Verão

A RBO – Rede de Blogs Outdoor lançou o Ebook 50 Dicas para suas Aventuras de Verão. A dicas estão divididas em 6 categorias: Atitude e Vida Saudável, Trekking, Bike, Camping, Mergulho e Dicas Gerais. São 78 páginas escritas em linguagem simples e com informações práticas para os amantes das atividades ao ar livre aproveitarem a estação mais quente do ano.

Foto: Rede de Blogs Outdoor
Foto: Rede de Blogs Outdoor

As dicas sobre bike foram escritas pelo Até Onde Deu pra Ir de Bicicleta, que faz parte da Rede de Blogs Outdoor junto com outros 15 blogs.

Para baixar o seu ebook gratuitamente, basta clicar neste link: 50 Dicas para suas Aventuras de Verão.

E se você conhece amigos que curtam os esportes e atividades ao ar livre, não deixe de indicar esse belo material!

Histórias curtas de uma longa viagem

Por Guilherme Tolotti

Fui até onde deu pra ir de bicicleta. A percepção de distância pode variar dependendo do protagonista da experiência. Eu tinha preparo, boa bicicleta, bons equipamentos, tempo disponível e confiança suficiente para afirmar a todos que cumpriria o trajeto escolhido, que seria desafiador para muitos.
Porém, fui somente até onde deu pra ir. Eu não contava com os imprevistos, e no meu caso o imprevisto determinante foi o fator psicológico, ou seja, o stress mental e o despreparo em lidar com ele.
Este é meu primeiro texto neste interessante projeto, e inicialmente apresento apenas algumas anotações diárias, com reflexões significativas para mim, escritas durante um curto período dessa viagem. Eu as reeditei, pois as escrevi com poucas condições, a época insuficientes para tornar o texto agradável à leitura.

Foto: acervo pessoal Guilherme Tolotti
Foto: acervo pessoal Guilherme Tolotti

O psicopata

Estávamos Nelson e eu na estrada. Passamos por um homem que vinha pelo acostamento empurrando um carrinho com seus objetos, e logo mais tivemos que parar devido a um pneu furado. Quando o homem nos alcançou, travamos uma curta conversa. Em determinado ponto, quando o homem falava sobre caminhoneiros que não lhe davam carona, inflamou-se e afirmou: “Se eu pudesse matava um deles”. Queixou-se, também furiosamente, do tempo de chuvas. Pediu-nos café, dissemos que não tínhamos, e ele foi-se. Ficamos aliviados, pois seu comportamento revelava os distúrbios que sofria. Cada frase que dizíamos, por mais simples que fosse, era recebida com um olhar inquiridor, carregado daquele mesmo ódio já exposto, acompanhado do seu silêncio.
Depois desse encontro, ficamos torcendo para que nenhum caminhoneiro oferecesse-lhe carona.

Não liga que meu pai é pastor

Nelson tratava com Estevão detalhes do encontro a porvir, e Estevão revela-lhe: “Não liga, que meu pai é pastor. Quando você estiver aqui em casa verá algumas bíblias e livros religiosos, e como você é estudante de história, quis avisa-lo.” Suponho que Estêvão e a sua família já tenham sofrido preconceito devido à religião, mas Nelson e eu fomos respeitosamente conhecer a sua casa e lá nos hospedamos por um dia. Foi tempo suficiente para conhecer pessoas simples, educadíssimas, e participantes de obras sociais como deveriam ser todos, e não somente os religiosos. Conhecemos uma realidade muito diferente do estereótipo apresentado nos “shows da fé”, ou por profetas que ficam nas praças com uma bíblia na mão tentando nos convencer que a sua religião é a melhor.

O dinheiro é a minha religião

Partimos cedo no dia seguinte, Nelson, Estevão e eu. Tínhamos o objetivo de parar em Atibaia para o almoço na casa de uma amiga de Estevão, que havia nos convidado para o almoço. Deveríamos chegar às 13.00hs, e assim o fizemos, porém com um pequeno atraso pela dificuldade de localizarmos o condomínio. Ao chegarmos, ficamos todos surpresos com o local, que era muito diferente da simplicidade que eu esperava, pois ele conhecera a menina num encontro relacionado à igreja.

Aguardamos por alguns minutos na portaria, fomos recebidos e embarcamos em um carro em direção ao interior do condomínio, que mais parecia um bairro de luxo. Andamos talvez uns quatro quilômetros em um carrão SUV pilotado pela irmã mais velha da menina, que não disfarçava o incômodo que nossa presença lhe causava. Durante esse trajeto falou duas ou três frases, incluído o “olá” inicial. Quando chegamos ao destino, deparamo-nos com um ambiente que não pode ser descrito como suntuoso, mas era impressionante. No interior do imóvel, nos aguardavam, em uma mesa posta, a anfitriã (mãe da menina), e mais duas pessoas de idade, uma a cada lado dela. O homem, que estava de costas, ignorou a nossa presença, enquanto a mulher, de frente, apenas nos observou sem nada falar. A anfitriã cumprimentou-nos e perguntou se queríamos tomar um banho antes da refeição. Por respeito aos anfitriões, fomos tomar banho. Quando retornamos para o almoço, já nos sentindo pouco à vontade, nos sentamos mais à ponta da mesa, e assim que o fizemos, o homem e a mulher que lá estavam se levantaram. Quando iniciávamos a refeição, fomos informados pela dona da casa que em alguns minutos a família toda teria que sair, e que fôssemos breves. Durante essa refeição apressada, fomos bombardeados com perguntas bizarras que eram respondidas entre as rápidas garfadas. Fomos inquiridos sobre a origem de nossos recursos para realizar nossa viagem. Eu não perguntaria a ela de onde arranja dinheiro para pagar as contas da sua magnífica residência, todos sabemos que a educação não vem obrigatoriamente atrelada ao dinheiro que a pessoa possui.

Terminamos o almoço muito rapidamente para que a família pudesse dar andamento à sua rotina. O constrangimento máximo foi seguirmos com essas pessoas, em seus automóveis, até a portaria, pois as nossas bicicletas tiveram que ficar lá. Embora eu não tenha me sentido humilhado, pois achei até engraçado o ridículo da situação, essa experiência gerou muitas reflexões. Também não soubemos identificar o pensamento daquelas pessoas. A impressão que tivemos, é de que pensavam que éramos vagabundos ou mendigos. Fico pensando… qual a ideia desse convite? para ter algum assunto? para nossa anfitriã chegar à noite e dizer para o seu marido “sabia que enquanto você está trabalhando tem uns vagabundos andando por aí de bicicleta?”.
Minha conclusão do episódio é: seja cuidadoso quando te oferecem algo, pois nem todos fazem isso para apoiar.

Vou receber o candidato com água fervente

Após passarmos pela Serra da Bocaina, chegamos a Cunha. Fui o primeiro a chegar, enquanto aguardava meus companheiros, sentei-me ao meio-fio na entrada da cidade. Ali perto, uma mulher recolhia recicláveis, e ao me ver, aproximou-se e falou “vou receber o próximo candidato com água fervente”. Contou-me que tem duas crianças, e possuía um emprego já à doze anos, como gari da prefeitura. Quando assumiu o novo prefeito, ela foi mandada embora para que em seu lugar fosse contratado um partidário. No meio do ruído dos caminhões que passavam sequer pude saber o seu nome, mas ainda assim eu pude afirmar-lhe que escreveria contando a sua história.

Dicas de Hospedagem nesse Roteiro

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Até Onde VOCÊ Foi – Coletânea de pequenas histórias nº 01

O projeto Até Onde VOCÊ Foi recebe histórias de todos os tipos e tamanhos, inclusive algumas bem pequenas, mas ainda assim, muito legais. Pensando nisso, resolvemos agrupar algumas pequenas histórias em textos coletivos, para que a leitura fique mais interessante. Confira abaixo 4 histórias

1 – Bicicleta e caminhão juntos – Por Marcelo Gomes

Sou caminhoneiro e carrego minha magrela pra onde vou!!!! Fico muito tempo esperando para carregar ou descarregar nesses intervalos aproveito para conhecer os arredores.

Foto: acervo pessoal Marcelo Gomes
Foto: acervo pessoal Marcelo Gomes

2 – Pedalando pela Europa – Por Paulo Hungria

3 mil km da França a Portugal, passando Espanha e dois caminhos que ligam a Santiago de Compostela.

Mas tenho uma aventura ainda mais especial para mim, saí de casa rumo ao mar. Moro a 240 km de Iguape, uma das cidades mais antigas do Brasil, fui e voltei em 24 horas de Mountain Bike! 480 km sem dormir e com apenas um desejo, voltar para casa em paz e com saúde!

Foto: acervo pessoal Paulo Hungria
Foto: acervo pessoal Paulo Hungria

3 – De Santo André à Biquinha (Santos) – Por Carlos Alberto Toniati

Fizemos um pedal com percurso longo pra nós(Carlos 54 anos e Guilherme 14 anos) que fomos peja primeira vez em um passeio longo, mas para os demais 19 ciclistas foi maneiro. De Santo André até Biquinha em Santos. Pedalamos também pela estrada da manutenção na Rodovia Imigrantes. Muito bom!
Hoje participamos do Passeio Noturno de Santo André com 20 KM todas as segundas feiras… Show.

Foto: acervo pessoal Carlos Alberto Toniatti
Foto: acervo pessoal Carlos Alberto Toniati

4 – De São Paulo a Argentina – Por Élcio Thenório

No final de 2011 eu fui de São Paulo a Assunção do Paraguai, e dali ao norte da Argentina, pedalando 2200 km. Pelo caminho aproveitei para fazer reportagens sobre todas as boas ideias sobre sustentabilidade que encontrava. Foi muito emocionante. Levei muita gente na garupa, através do blog que mantive ativo durante toda a aventura, o http://www.rodaslivres.com.br/, que ainda está no ar e encerra o que foi o dia a dia na estrada. Visite!

Foto: acervo pessoal Elcio Thenório
Foto: acervo pessoal Elcio Thenório

Granfondo – Aventuras de bicicleta na Itália

Por Gustavo Souto Maior (engenheiro, ciclista tardio mas apaixonado)

Como eu poderia imaginar que uma viagem a Copenhague pudesse modificar radicalmente a minha vida? Em dezembro de 2009 eu integrava a delegação brasileira que participou da Conferência do Clima (COP-15). Passei 15 dias na cidade, entupida de gente, presentes delegações de 192 países, toda a rede hoteleira absolutamente lotada. Mas o que mais me impressionou na viagem não foram os debates, as exposições, tudo o que rolava no Bella Center, estrutura montada para abrigar a Conferência. O que mais me chamou a atenção foi que não vi um único congestionamento na cidade, uma única “fila dupla” (agora até “tripla” aqui em Brasília…) de carros estacionados nas ruas de Copenhague. Qual a mágica? Muito simples: um sistema de transporte público fantástico (trem, metrô e ônibus), numa cidade onde 40% da população se desloca por meio de… bicicletas! E nas ciclovias de Copenhague circulam mulheres e homens, ricos e pobres, velhos e jovens, operários e executivos.

Voltei de Copenhague com uma decisão na mala: quando chegasse ao Brasil compraria uma bicicleta e voltaria a pedalar, algo que não fazia há mais de 25 anos…

E aí teve início uma verdadeira revolução na minha vida, já aos 55 anos de idade. Primeiro, comprei uma bicicletinha bem simples, dessas que são vendidas em supermercados. Hoje são três bicicletas, todas equipadas com componentes de ponta. Inicialmente pedaladas de 15 km por dia, duas/três vezes por semana. Hoje em média 1.000/1.200 km de pedal por mês, mais academia (aulas de spinning), nutricionista, planilhas de treino, giros praticamente diários.

Mas a revolução não parou por aí. Uma das primeiras lojas de bicicletas que conheci em Brasília foi a Lazzaretti, cujo dono, Romolo Lazzaretti, treinador da equipe brasileira paraolímpica de ciclismo, é de família tradicional no ciclismo italiano, proprietária de uma das mais antigas fábricas de bicicleta italianas, fundada em 1916. E, de uma bela amizade com o Romolo, surgiu o que chamo o ápice da minha breve carreira de ciclista: a participação em Granfondos, provas amadoras que acontecem por toda a Itália e contam com o envolvimento de milhares de ciclistas e uma organização de fazer inveja (em tempos de Copa do Mundo no Brasil…): apoio mecânico, alimentação, serviço médico, feiras de material ciclístico, etc., fora os visuais cinematográficos dos percursos.

Primeiro me aventurei no Granfondo Roma, em outubro de 2013. Já imaginaram 5.500 ciclistas concentrados em frente ao Coliseu? É de arrepiar… Junto com mais dezenove ciclistas de Brasília, participei dessa aventura, em um dos maiores eventos da modalidade no mundo, que ocorre, sempre em outubro, na capital italiana. Ansiedade e empolgação, nesse caso, se misturam em proporções superlativas. Um maratonista sonha em correr a Maratona de Nova York ou a São Silvestre. Para o ciclista amador, o Granfondo Roma pode ser a cereja do bolo. A Itália é o berço do ciclismo, de onde saíram os melhores do mundo. E Roma… Com certeza, uma oportunidade única de conhecer melhor o ciclismo, em uma das cidades mais belas do globo. Sem dúvida, uma experiência inesquecível, em todos os sentidos.

Mas as aventuras ciclísticas não pararam em Roma. Incentivado novamente pelo Romolo, decidi participar, em maio, do Granfondo Nove Colli. É o Granfondo mais antigo realizado na Itália, esta última foi a sua 44ª edição. Se você gosta de pedalar, já tem um preparo razoável e quer “respirar” ciclismo, bicicletas, e conhecer uma região belíssima, essa é a sua oportunidade. Com largada e chegada na charmosa Cesenatico, região da Emilia Romagna, terra natal de Marco Pantani, ciclista mais reverenciado na Itália e considerado um dos melhores de toda a história, é uma prova extremamente bem organizada. São duas as alternativas de percurso: o longo, com 205 km, com nove morros a serem superados (entenderam a razão do nome do Granfondo?), e o curto, com 133 km, com “apenas” quatro morros.

A estrutura de Nove Colli envolve 13 pontos de apoio médico com ambulância, 10 pontos de abastecimento de água/alimentação e 12 pontos de apoio mecânico, ao longo de ambos os percursos. Todos os inscritos recebem um chip para cronometragem de seus tempos e ao final ganham uma bela medalha de participação.

Foto: Acervo pessoal Gustavo Souto Maior
Foto: Acervo pessoal Gustavo Souto Maior

Muito bem. Agora alguém pode perguntar: por que tanta “estrutura”, numa mera prova de bicicleta, que nem conta pontos para campeonato algum? A resposta é dada a partir de outra pergunta: sabem quantos ciclistas alinharam na largada da Nove Colli? 12.000 ciclistas!! Sim, 12.000, nunca havia visto tanta bicicleta na minha vida! São quilômetros de ciclistas alinhados, num cenário que jamais vou esquecer. Lindo, empolgante, eletrizante, emocionante. Os números de Nove Colli são realmente impressionantes.

Mas a intenção nesse tipo de prova é não só estimular a prática do ciclismo, mas também incentivar o cicloturismo e criar entre os participantes um clima de amizade e união, tendo o Granfondo como pano de fundo. E assim aconteceu. Nessas duas oportunidades fiz ótimas amizades e interagi com diversos ciclistas de outras nacionalidades (principalmente italianos, claro). E a partir de Roma surgiu a “Squadra Lazzaretti”, grupo de ciclistas brasileiros que se conheceram indo para Roma, cuja amizade e camaradagem se consolidou em Cesenatico, formando um grupo de amigos que pedalam juntos sempre que possível e se encontram para trocar experiências em torno do ciclismo – e também para degustar bons vinhos italianos!

Cabe também ressaltar a estrutura montada pela Lazzaretti para dar o máximo de conforto aos ciclistas brasileiros que participaram dos dois Granfondos, Roma e Nove Colli. A começar pelos hotéis, sempre muito bem localizados (o da Nove Colli com uma vista deslumbrante para o mar Adriático) e com espaços específicos para guardar as bicicletas e fazer todo tipo de ajuste mecânico necessário. Outro ponto de suma importância: não precisa levar bicicleta na mala! Sim, isso é uma enorme comodidade, pois, se carregar malas em avião já é algo não muito agradável, imaginem carregar bicicletas. Em ambos os Granfondos foram colocadas à disposição bicicletas excelentes (marca Lazzaretti, em Roma, e Pinarello, em Cesenatico), mecânicos à disposição para se fazerem os ajustes e consertos necessários. Fora isso, antes das provas foram realizados treinos para reconhecimento de parte dos percursos, tendo sempre à frente um experiente ciclista italiano como guia.

E como a ideia não é só pedalar, mas também conhecer a região do Granfondo, sua cultura, sua gastronomia, sua história, duas vans são colocadas à disposição dos ciclistas para passeios durante o dia e saídas noturnas. Assim conheci Maranello (a terra da Ferrari), Bolonha e Rimini. E não foram poucos os vinhos e massas de excelente qualidade que tive o prazer de saborear.

Granfondo, uma aventura que recomendo a todos os que estão pedalando. Bicicleta vicia, e Granfondo também!

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